Discurso no Senado Federal

DISCURSO INAUGURAL DE S.EXA., PRESTANDO HOMENAGENS AO EX-SENADOR LEVINDO COELHO.

Autor
José Alencar (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/MG)
Nome completo: José Alencar Gomes da Silva
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
ATUAÇÃO PARLAMENTAR. HOMENAGEM. POLITICA ECONOMICO FINANCEIRA.:
  • DISCURSO INAUGURAL DE S.EXA., PRESTANDO HOMENAGENS AO EX-SENADOR LEVINDO COELHO.
Aparteantes
Arlindo Porto, Ramez Tebet, Roberto Freire.
Publicação
Publicação no DSF de 05/03/1999 - Página 4406
Assunto
Outros > ATUAÇÃO PARLAMENTAR. HOMENAGEM. POLITICA ECONOMICO FINANCEIRA.
Indexação
  • AGRADECIMENTO, POPULAÇÃO, ESTADO DE MINAS GERAIS (MG), ELEIÇÃO, ORADOR, REPRESENTANTE, SENADO.
  • COMENTARIO, ATUAÇÃO PARLAMENTAR, ORADOR, APREENSÃO, SITUAÇÃO, PAIS, AUMENTO, TRANSFERENCIA, RENDA, SETOR, PRODUÇÃO, BENEFICIO, SISTEMA FINANCEIRO INTERNACIONAL.
  • HOMENAGEM, LEVINDO EDUARDO COELHO, SENADOR, ESTADO DE MINAS GERAIS (MG), ELOGIO, ATUAÇÃO, VIDA PUBLICA, ESPECIFICAÇÃO, ATUAÇÃO PARLAMENTAR, SENADO.
  • INCLUSÃO, ANAIS DO SENADO, ARTIGO DE IMPRENSA, JORNAL, GAZETA MERCANTIL, ESTADO DE SÃO PAULO (SP), REFERENCIA, LUCRO, BANCOS.

O SR. JOSÉ ALENCAR (PMDB-MG. Pronuncia o seguinte discurso.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, não há como negar a multiplicidade de sentimentos que toma conta de quem, pela primeira vez, ocupa esta Tribuna. Entre eles, a emoção de representar Minas Gerais no Senado da República; o privilégio de integrar uma Casa que, mais do que qualquer outra instituição nacional, simboliza e sintetiza o espírito federativo que norteia nossa prática republicana; a consciência de protagonizar um momento histórico singular no qual, a despeito da crise, estão dadas as condições para a construção de uma Pátria justa, fraterna e próspera; a necessidade de reafirmar a crença inabalável nos valores mais altos da democracia, da justiça e da liberdade.

Assim sendo, que minhas primeiras palavras sejam de agradecimento ao povo mineiro, que me fez seu representante no Senado, reiterando meu compromisso de tudo fazer para corresponder à confiança que me foi depositada. Ao manifestar meu respeito pelo trabalho aqui desenvolvido pelos que me antecederam, expresso meu sincero desejo de que não me faltem forças para que, nos próximos oito anos, possa honrar as mais caras tradições de um povo que soube construir sua História com dedicação, princípios, trabalho e dignidade.

São imensos os desafios do tempo presente. Na condição de grande fórum do debate político brasileiro, cabe ao Senado Federal a intransferível responsabilidade de se debruçar sobre a realidade de nosso País, debatendo nossas mais candentes questões, refletindo e propondo soluções. Sendo uma instituição visceralmente democrática e pluralista, esta Casa tem todas as condições para oferecer ao País alternativas e caminhos que lhe permitam superar as dificuldades.

Com a humildade de quem tem muito a aprender, mas com a experiência de quem aprendeu a identificar no trabalho produtivo a forma adequada para a conquista do efetivo desenvolvimento, quero participar desse esforço - que há de ser coletivo e solidário - de construção de um Brasil melhor para todos. Desse modo, inscrevo-me nas fileiras de todos os comprometidos com a grande causa nacional, que o momento presente torna inadiável: fazer o País voltar a crescer, optando nitidamente pelo estímulo à produção, fortalecendo a economia nacional, como meio para que se alcancem os objetivos sociais.

Sr. Presidente, Srs. Senadores, este meu pronunciamento tem como objetivo precípuo uma homenagem que gostaria de prestar ao Senador Levindo Eduardo Coelho, da minha terra. Antes, porém, de iniciar as palavras à sua memória dirigidas, não poderia deixar de trazer a esta Casa uma grave preocupação que hoje domina o sentimento de todos os que estão empenhados em soluções legítimas para os legítimos interesses do País.

Há poucos dias, na Comissão de Assuntos Econômicos, debatemos com o novo Presidente do Banco Central e com vários dos atuais diretores daquele grande órgão. Naquela ocasião, tive a oportunidade de dizer da minha preocupação com a enorme transferência de renda do setor produtivo nacional em benefício do sistema financeiro internacional que se verifica em nosso País. E esta mesma preocupação tive a oportunidade de colocar durante todo o tempo de minha campanha para chegar a esta Casa.

Já, ontem, pela imprensa, examinando um dos jornais de circulação nacional, mais precisamente a Gazeta Mercantil, edição do dia 03/03, deparei-me com a seguinte manchete no caderno “Finanças & Mercados”: “Bancos lucraram em janeiro além do esperado”. Um deles chegou a ter ganhos oito vezes superiores aos obtidos em todo o ano de 1998. Outros dobraram o resultado do ano passado. Janeiro foi um grande mês para os bancos. Muitos obtiveram, no mês, lucros muitas vezes superiores aos obtidos em todo o ano passado. Foi o caso do Morgan Guaranty Trust, banco comercial filial do norte-americano J.P. Morgan, que lucrou, em um único mês, R$275.959 mil - oito vezes o resultado de 1998. O Banco Múltiplo, do mesmo grupo J.P. Morgan, teve, em janeiro, o dobro do lucro do ano passado, com R$193.492 mil.

Segundo balancete divulgado pelo Sistema de Informações do Banco Central - Sisbacen, totalizam as duas instituições R$469 milhões de lucros apenas no mês de janeiro. Outros bancos ganharam quatro vezes o lucro de um ano inteiro apenas em janeiro: o Chase Manhattan, com R$310 milhões; o Citibank, com R$258 milhões; o Citibank N/A, que saiu do prejuízo de 1998 para um lucro em janeiro de R$135 milhões; e por aí afora.

Está claro, a meu ver, Sr. Presidente, que não podemos, no nosso País, deixar de aplaudir o lucro - e sempre aplaudi o lucro; mas, de onde provêm esses lucros? Esses lucros provêm de reservas nacionais que foram vendidas para fazer face à demanda daqueles dias de crise. Muitos contratos foram de futuro, praticados pelo Banco do Brasil por ordem do Banco Central. Então, essa lucratividade enorme, verificada no mês de janeiro, representou, na mesma proporção, o prejuízo que os cofres públicos tiveram durante aquele mesmo período. Este, um fator altamente relevante, porque, quando nos preocupamos com problemas sociais, temos de estar atentos ao fato de que este agravamento, notadamente do desemprego, como de resto todos os problemas sociais, advém do empobrecimento do País.

O Sr. Arlindo Porto (PTB-MG) - Permite V. Exª um aparte?

O SR. JOSÉ ALENCAR(PMDB-MG) - Com muito prazer, Senador Arlindo Porto.

O Sr. Arlindo Porto (PTB-MG) - Eu queria, inicialmente, dar as boas-vindas a V. Exª . Nós, como representantes de Minas Gerais, e eu já há quatro anos nesta Casa, sinto-me orgulhoso de estar aqui neste momento ouvindo o seu pronunciamento, saudando o Senador Levindo Coelho, figura exponencial de Minas Gerais. V. Exª vem de uma região montanhosa do nosso Estado, na divisa com o Espírito Santo; é um homem do interior, mas soube, com determinação, com coragem, como empreendedor que é, tornar-se um dos maiores empresários do nosso Estado, chegando à condição de Presidente da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais, a FIEMG. Coloca-se, agora, à disposição do nosso povo como homem público, com a extraordinária votação obtida nas últimas eleições. V. Exª, com a experiência de cidadão, com a experiência do empresário, vem agora consolidar-se na condição de homem público. Levanta um tema da maior importância, o de que a especulação não pode prevalecer sobre a produção. O capital deve ser integrado ao trabalho para gerar emprego, gerar renda, gerar riqueza. Este é o momento em que esse tema merece sobretudo um aprofundamento. Hoje mesmo eu estava inscrito para fazer um pronunciamento. Seguramente o farei na terça ou quarta-feira, chamando a atenção das autoridades governamentais em relação aos sistemas tributário, financeiro e econômico nacional. Quero louvá-lo pela abordagem que V. Exª faz no seu primeiro pronunciamento, chamando a atenção de todos nós e, seguramente, a atenção desta Nação. Estamos confiantes de que Minas Gerais, mais uma vez, estará aqui sendo bem representada por V. Exª, que vem substituir a grande Senadora Júnia Marise, que, ao longo da sua vida, deu parte substancial na contribuição do desenvolvimento, especialmente na área social, do nosso Estado. Que V. Exª possa continuar abrilhantando esta Casa com posições firmes, corretas, mas ponderadas, como é o seu perfil. Que tenha muito sucesso e que possamos, sempre, bem representar o nosso Estado de Minas Gerais, e nós, mineiros, nos orgulhemos de ter aqui o Senador José Alencar. Parabéns pelo pronunciamento, pela vitória e felicidades na tarefa de representar o nosso Estado.

O SR. JOSÉ ALENCAR (PMDB-MG) - Fico muito agradecido, Senador Arlindo Porto, pelas palavras generosas a mim dirigidas.

Estávamos abordando questões de preocupações sociais, especialmente o desemprego.

O Brasil tem convivido muito com o contrabando, uma atividade fora da lei. Não preciso sair da Zona da Mata mineira para chegar ao Senado da República trazendo essa informação, porque a televisão tem mostrado, constantemente, até mesmo armas e munições pesadas e sofisticadas que passam pela Ponte da Amizade, ingressando no Brasil. Certamente, essas armas estão nas mãos do crime, nas grandes cidades, nas grandes Metrópoles brasileiras. Todos sabemos, que a Ásia, como um todo, é muito especialista em fazer ingressar noutros mercados, inclusive nos mercados ocidentais, mercadorias contrabandeadas.

Pois bem. Agora, a China está preocupada com o contrabando. Permito-me, Sr. Presidente, Srs. Senadores, ler aqui uma notícia da Agência Reuters sobre a China, cujo título é “China cria força especial para deter o contrabando”:

“A China organizou uma poderosa força policial anticontrabando, com 6 mil homens, como parte da batalha de vida ou morte contra a entrada ilegal de produtos no País. Outros 4 mil homens se unirão à força no final de junho, noticiou o China Daily. “A luta contra o contrabando é uma importante questão política e econômica”, declarou Luo Gan, Membro do Conselho de Estado. “O contrabando pode arruinar a economia, destruir o partido, os militares e mesmo o país”, acrescentou.”

Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, temos que realmente aproveitar esta grande crise que ameaça nos assolar para mudarmos os rumos do nosso comportamento.

Confesso, Sr. Presidente, que esta Casa exerce singular fascínio sobre corações e mentes de quem abraça a vida pública, com a preocupação de servir ao povo, ajudando-o a construir a Pátria de seus sonhos. Nesse sentido, esta tribuna é o símbolo maior da vocação democrática de nossa gente. Ocupá-la com honra e dignidade é um sagrado dever cívico, até mesmo como forma de reverenciar a memória de tantos personagens ilustres que, ao longo do tempo, dela fizeram uso para projetar pensamentos, conceitos, propostas e lições que ajudaram na condução de nossos destinos como Nação soberana.

Ao render minhas homenagens a esses vultos do passado, reporto-me a um brasileiro muito especial que esta tribuna acolheu e de quem esta Casa recebeu lições de prudência, caráter e de entranhado humanismo. Falo da figura nazarena, impoluta do Senador Levindo Eduardo Coelho.

Na primorosa e irretocável definição de Gustavo Capanema, brilhante homem público e intelectual que Minas deu ao Brasil, Levindo Coelho era “um varão de Plutarco”, na mais correta acepção do termo. Ao traçar-lhe o perfil de mestre da política, exaltando suas qualidades de homem público e de cidadão, Capanema destacou algo que seria definidor da personalidade de Levindo Coelho: “A sua filosofia era uma árvore plantada no terreno da fé irredutível. O primado pertence às razões morais”.

Como diz a canção, “a minha arma é o que a memória guarda”. Em Minas, reverenciamos a memória do Senador Levindo Coelho por tudo o que sua trajetória de vida representou: uma luminosa peregrinação cívica, sempre assentada em princípios cristãos e humanistas. Particularmente, sinto-me, de certa forma, tributário de seu legado e a ele pretendo ser fiel.

Além dos laços de amizade com seus descendentes, de que me orgulho, outro ponto a nos unir é a identificação com nossa querida Ubá, sua gente generosa, sua rica cultura, sua História tão plena de vida. Em Ubá, ambos recebemos o mais carinhoso acolhimento. Lá, pudemos sonhar nossos melhores sonhos e fazer de muitos deles reluzente realidade. Lá, tivemos o direito de viver nossas mais puras utopias, que tanto sentido dão à vida. Exatamente por isso, o velho Senador não se cansava de repetir: “Em nossa casa pode ter faltado o lume; nunca, porém, o calor do povo ubaense!”

O Sr. Ramez Tebet (PMDB-MS) - Permite-me V. Exª um aparte?

O SR. JOSÉ ALENCAR (PMDB-MG) - Pois não, com o maior prazer.

O Sr. Ramez Tebet (PMDB-MS) - Senador José Alencar, intervenho no seu pronunciamento. Tive a felicidade de conhecê-lo na campanha eleitoral. Em Minas Gerais, eu o conheci pessoalmente e, naquela oportunidade, já pude sentir o homem que o Senado iria receber para representar o Estado de Minas Gerais. Posteriormente, numa reunião do nosso partido, o PMDB, pude constatar que não me enganara naquela oportunidade, porque, ao ouvir as ponderadas, judiciosas e conseqüentes considerações sobre a reunião que realizávamos - e a reunião se referia aos rumos do nosso País -, pude sentir que aqui no Senado da República V. Exª iria dar - como vai dar, com toda certeza -, uma grande contribuição para a federação brasileira. Hoje, V. Exª me surpreende nesta tribuna por um outro ângulo, porque V. Exª a ocupa num gesto de generosidade, num gesto de grandeza, porque V. Exª está ocupando esta tribuna não para retratar propriamente o Brasil, mas mais do que isto, eu sinto que V. Exª ocupa esta tribuna para reverenciar a memória de um conterrâneo seu, que dignificou a tribuna do Senado da República. V. Exª está aí a reverenciar a memória de Levindo Eduardo Coelho, Senador da sua terra natal, e que eu vejo que V. Exª o está escolhendo como paradigma da sua atuação aqui no Senado da República. Isso é muito importante num homem público, seguir o exemplo, seguir as pegadas de quem ele admira e sobretudo de um conterrâneo. Senador José Alencar, eu também venho de uma cidade pequena como a sua. Se V. Exª vem de Ubá, uma cidade que não deve ter mais que oitenta ou cem mil habitantes, eu venho lá de Mato Grosso do Sul, de Três Lagoas. Só que a sua Ubá tem um Levindo e eu, na minha cidade, tenho uma grande responsabilidade, porque sou o primeiro filho de Três Lagoas, a cidade onde eu nasci, a estar aqui no Senado da República. Lá eles indagam a respeito da minha atuação e quero fazer força aqui no Senado da República para que meus conterrâneos, os conterrâneos da minha aldeia, não venham no futuro a se decepcionar com a minha atuação aqui no Senado da República. Os homens quando olham o Brasil através da sua aldeia, como V. Exª olha, através do seu torrão natal, como V. Exª olha, tenho a plena convicção que o fazem com aquele sentimento do cheiro da terra. É através do cheiro da terra, do nosso torrão natal, que devemos nos inspirar para ajudar a resolver os destinos da Federação brasileira, os destinos desse nosso Brasil. Quero cumprimentá-lo e vou ficar no aguardo de outras considerações, aquelas primeiras impressões que recolhi de que esta Casa tem um homem que pensa grande, porque V. Exª tem apontado, nós todos temos apontado que a crise nesse País só pode ser resolvida por meio do processo produtivo, do crescimento. V. Exª manifestou isso sempre naquela reunião a que me referi dos nossos companheiros do PMDB. Manifestou recentemente no encontro que mantivemos com o Governador Itamar Franco. E, rapidamente, daí dessa tribuna, não é o tema principal, mas também V. Exª passou por isso como que indignado por ver que, em vez de o sistema produtivo estar predominando neste País - e está apontando e mostrando que está errado - estão predominando os lucros excessivos de instituições financeiras. E perdoe-me, teve que enrolar a língua, porque não são as instituições financeiras nacionais que estão ganhando com essa crise do nosso País. São instituições que estão aqui no Brasil, outras estão fora, mas nenhuma é genuinamente brasileira. Não é por intermédio das finanças que vamos resolver os problemas deste País. O que está faltando aqui é o que V. Exª tem afirmado: está faltando iniciativa para trabalharmos o processo produtivo deste País. Hoje só se pensa em resolver o problema do Brasil tomando dinheiro emprestado, aumentando a receita através de tributos, aumentando a receita através de uma política de cortes no setor de pessoal, quando deveríamos estar voltados para aumentar esta receita através do processo produtivo do Brasil, que tem um território muito extenso, que não tem vulcão, que não tem terremoto, que não tem nada que nos atrapalhe. Quero cumprimentá-lo e pedir desculpas pelo meu aparte extenso, mas é porque realmente estou confiando no seu trabalho aqui no Senado da República. Muito obrigado, muitas felicidades, e parabéns a Minas Gerais, ao povo de Minas Gerais, que teve a capacidade de enviá-lo aqui como seu representante para, ao lado de outros Senadores - e estou aqui ao lado do Senador Arlindo Porto - contribuir efetivamente para Minas Gerais e para o Brasil.

O SR. JOSÉ ALENCAR (PMDB-MG) - Nobre Senador Ramez Tebet, eu fico realmente muito agradecido pela forma com que V. Exª se dirige a mim. Eu tenho visto, desde o momento em que cheguei a esta Casa, a lhaneza com que me recebeu e as atenções com que me homenageia . Fico muito agradecido por isso.

De fato, precisamos voltar ao trabalho. O Brasil é aquilo que V. Exª falou: é um País maravilhoso, pela sua extensão territorial, pelas suas bacias hidrográficas, pelo seu clima, pela grandeza do seu povo, bom, pacato, ordeiro, trabalhador, inteligente e versátil. O Brasil é realmente um dos melhores países do mundo e não merece ser levado a essa situação que tem-se agravado nos últimos tempos. O Brasil tem potencialidades de recursos naturais e humanos para levantar a cabeça e crescer com soberania e consultar seus interesses legítimos.

Eu não venho aqui para fazer críticas. Nós estamos conscientes de que o nosso Partido, o PMDB, está no Governo. Nós temos três Ministros de Estado no Governo. Nós temos muitos companheiros nossos no segundo e terceiro escalão do Governo. Nós somos Governo, mas essa deve ser a principal razão pela qual teremos que alertar este Governo de que fazemos parte, dos rumos a que está sendo levada a economia brasileira. Pode ser até o que costumo chamar de ingenuidade negocial, pode ser ausência de cultura negocial. Hoje, na era da globalização, temos que estar atentos à defesa dos interesses nacionais, porque as fronteiras estão escancaradas, e de forma até incoerente. Houve um momento em que o Governo deu 70% de proteção aduaneira para as montadoras de automóveis e 2% para a indústria de autopeças que, àquela altura, era, ainda, a verdadeira indústria automobilística nacional. Coloquei o verbo no passado, porque várias delas foram desnacionalizadas.

No Brasil, Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, passou a ser o sentimento nacional, nacionalismo, patriotismo, coisa de dinossauro, objeto de chacota. Todos os países que se prezam são nacionalistas. Nós, por exemplo, gostaríamos de ver o nosso Ministério das Relações Exteriores, que possui tradições importantíssimas, tais como o princípio da não-intervenção e da autodeterminação que o Itamaraty sempre defendeu, mas é preciso que façamos com que cada embaixada e cada consulado nosso, onde quer que estejam, seja um posto avançado de defesa dos interesses comerciais do Brasil, como fazem os Estados Unidos da América, como faz a Inglaterra e todos os outros países. Não podemos, de forma alguma, nos dar ao luxo de manter embaixadas e consulados apenas para festas. Enquanto não fortalecermos os negócios nacionais, não teremos como alcançar os objetivos sociais. Cada empresa nacional é uma fração da economia; e a economia não é fim; a economia é meio para a consecução de objetivos sempre sociais.

Estamos aqui, Sr. Presidente, Srs. Senadores, prestando homenagem ao Senador Levindo Coelho, e podemos sentir o conselho que daria, com toda sua coragem, seu espírito cristão e seu espírito de família - era um brasileiro acima de tudo. Tenho certeza absoluta de que o Senador Levindo Coelho está aplaudindo o meu posicionamento diante do quadro da economia brasileira.

O Sr. Roberto Freire (Bloco/PPS-PE) - V. Exª me permite um aparte?

O SR. JOSÉ ALENCAR (PMDB-MG) - Com muito prazer, Senador.

O Sr. Roberto Freire (Bloco/PPS-PE) - Nobre Senador, é fato interessante que V. Exª estréie na tribuna do Senado prestando homenagem a um Senador da sua terra. Quando estreei no Senado, quatro anos atrás, também prestei homenagem ao primeiro e único Senador comunista, Luiz Carlos Prestes. Com posições talvez divergentes do seu homenageado, identifica-nos V. Exª: e eu a forma de estrear no Senado da República. Faço este aparte para dizer da minha alegria em vê-lo aqui. Estivemos juntos na campanha em Minas Gerais e posso colocar na minha biografia que ajudei-o em parte - uma pequena parte, evidente - a que se candidatasse num momento de complicação do PMDB de Minas Gerais. Era outra realidade que não a da Nacional, quando Itamar Franco sofreu agressões. De qualquer forma, havia dificuldades na articulação política. Quero dizer agora da minha admiração por encontrar um empresário com preocupações políticas, preocupações essas que podem nos aproximar na discussão da questão brasileira com uma visão de política econômica que não seja voltada para a especulação, para o monetarismo, esquecendo o fundamental: o homem e a mulher. Sua visão é da economia da produção, da distribuição de bens e serviços, uma economia que produza riquezas e que permita discutir como melhor distribuí-las. Encontramos isso em V.Exª - evidentemente esse é outro tipo de identidade, não mais na forma, mas no conteúdo. Daí minha satisfação de estar aqui junto com V.Exª.

O SR. JOSÉ ALENCAR (PMDB-MG) - É uma grande honra para mim, Senador Roberto Freire, receber o aparte de V. Exª. Confirmo que sua ajuda foi decisiva na minha campanha em Minas Gerais, pelo prestígio, pela respeitabilidade, pela honorabilidade de V. Exª e por tudo aquilo que representa...

O Sr. Roberto Freire (Bloco/PPS-PE) - Isso foi mínimo. Permita-me dizer que apenas incentivei a campanha de V Exª. Voto em Minas, quem tem é V. Exª.

O SR. JOSÉ ALENCAR (PMDB-MG) - Repito - permita-me - que seu apoio somente engrandeceu nossa campanha. Engrandeceu não só a minha campanha, mas também a do nosso Governador Itamar Franco. Foi relevante o trabalho realizado pelo Partido de V. Exª em Minas Gerais. Muito obrigado.

Continuo a leitura:

De minha parte, encontro fundadas razões na caminhada empreendida pela vida afora, para tornar minhas estas palavras de reconhecimento ao povo ubaense.

Em minha eleição para o Senado, as urnas de Ubá deram-me quase 90% dos votos - para ser exato, 88%. Entre os numerosos e aguerridos colaboradores

              Entre os numerosos e aguerridos colaboradores na campanha eleitoral, tive a ventura de poder contar, durante todo o tempo, com os descendentes do Senador Levindo Coelho - uma família admirável. De uma filha, dona Maria de Lourdes Coelho Vale, a Tia Ude, como é conhecida pela família, de 90 anos de idade, veio o mais comovedor registro de adesão que um aspirante a cargo público jamais sonhara receber. A palavra dessa ilustre dama exerceu fortíssima influência em minhas ações no decorrer da campanha. Era como se, por suas palavras, eu pudesse ouvir - animando-me, impelindo-me nas posições e nos compromissos assumidos - a própria voz serena do Senador Levindo Coelho.

              Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, Levindo Coelho foi um autêntico sábio. A propósito, vale recordar o depoimento de Nertan Macedo, expressando sua admiração pelas idéias defendidas pelo mestre em seus pronunciamentos, assim como por suas ações, sempre empreendidas na busca infatigável de soluções para os problemas comunitários, levados ao exame da Câmara Alta. Certa feita, Nertam Macedo comparou-o a um membro da Câmara dos Lordes, “pela compostura e pela serenidade”. Ao recordar a brandura de seus gestos, o espírito preso às coisas eternas, o permanente compromisso com a defesa dos mais legítimos interesses da comunidade, o autor resumiu em frase lapidar a imagem lisa e sem retoques do valoroso Senador: “Homem no velho estilo de Minas, modelo antigo da Província que tanto deu para a glória do Brasil, em ouro das suas entranhas e em virtudes de seus filhos”.

              Levindo Coelho foi um genuíno humanista e um extraordinário líder. Sabia dosar com perfeição o conhecimento, fruto do esforço intelectual, com a experiência humana da vida cotidiana, empregando o equilíbrio e o bom senso nas decisões e nas ações. Médico renomado, devotou-se à causa dos humildes, deles recebendo veneração e carinho.

              Sua carreira política foi marcada por uma sucessão de conquistas importantes, com as quais se pôde construir a saga empolgante de sua vida lendária. Foi Senador Estadual por Minas Gerais, de 1915 a 1930. Nesse ano (1930), foi eleito Deputado Federal, licenciando-se para assumir a Secretaria da Educação e Saúde, no Governo Olegário Maciel. Em 1933, foi novamente eleito Deputado Federal, exercendo o mandato até 1937, ocasião em que, no Estado Novo, foi nomeado Prefeito de Ubá. No dia 2 de dezembro de 1945, foi eleito Senador da República, com a maior votação do País. Exerceu as funções de Senador até 1954, quando se despediu da vida pública.

Tinha uma lúcida visão cristã da aventura humana, como explicou, certa feita, um ilustre descendente - seu filho Ozanam Coelho, Governador mineiro de saudosa memória. Isso foi o que, certamente, levou o Papa Pio XII a localizá-lo em seu refúgio ubaense para agraciá-lo com a Comenda da Ordem de São Gregório Magno, honraria que, à época, bem poucas personalidades mundiais tiveram o privilégio de poder colocar no peito.

Filho de família humilde, o Senador Levindo Coelho nasceu em Catas Altas da Noruega, uma pequena cidade nas montanhas de Minas, passando a infância na companhia de uma tia, Custódia Coelho, residente em Ubá. Foi Professor de Inglês na juventude. Prestou vestibular para Farmácia, tornando-se catedrático em Farmacologia. Ingressou depois na Faculdade de Medicina da Bahia.

Foi em Ubá que Levindo Coelho encontrou a “Canaã de sua vida”, na feliz expressão de seu filho Élcio Levindo Coelho. Foi na acolhedora Ubá que a Providência Divina apontou-lhe aquela que seria, pela vida inteira, a dedicada companheira, mãe de seus 13 filhos, anjo tutelar de sua vida: dona Antonina Gonçalves Coelho, a dona Tonica.

Da abençoada união nasceram: Antonina da Conceição Coelho Martins de Oliveira, que era casada com o Desembargador João Martins de Oliveira, ambos já falecidos; Maria de Lourdes Coelho Vale, que era casada com Geraldo Alves do Vale, este já falecido; Maria Aparecida Coelho Abelha, viúva do Professor David Lopes Abelha Sobrinho; Levindo Ozanam Coelho, que foi Governador de Minas e que deixou viúva a senhora Cybele Pinto Coelho, hoje também falecida; Eduardo Levindo Coelho, ex-Secretário de Estado do Governo, casado com dona Teomar Pinto Coelho, ambos de saudosa recordação; Maria Helena Coelho Toledo, casada com Heitor Peixoto Toledo, ambos falecidos; Maria da Piedade Coelho Paoliello, que era casada com o Desembargador Lindolfo Paoliello, já falecidos; Maria de Loreto Coelho Toledo, viúva do Juiz João Peixoto de Toledo; Adoremus Levindo Coelho, advogado do Banco do Brasil, já falecido, casado com dona Zilda Cardoso Coelho; Maria da Glória Coelho Diniz, casada com Mauro Diniz, ambos já falecidos; Dora Coelho Sachetto, casada com o empresário Carlos Junqueira Sachetto, esse casal ainda vive em Ubá; Hélcio Levindo Coelho, Procurador de Justiça de Minas Gerais, casado com dona Maria Luiza Tamm Fortini Levindo Coelho.

O Senador Levindo Coelho educou os descendentes dentro das virtudes e vivência cristãs, apanágio de sua rica personalidade. Laureado na estima dos contemporâneos, foi festejado sempre no apreço de tantos quantos com ele conviveram, tanto nas altas esferas quanto nas camadas mais humildes da sociedade. Faleceu em Ubá, a 06 de junho de 1961.

Assim, Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, ao chegar a esta Casa com a sagrada missão de representar Minas Gerais, busco no exemplo do Senador Levindo Coelho a inspiração maior para o meu trabalho. Certamente, na mensagem que sua atuação simboliza e traduz, retirarei as lições que me auxiliarão nas lutas que me aguardam.

Faço-o por saber que dele vem mensagem de esperança; de claridade em meio a esse nevoeiro de dificuldades que o País enfrenta; de sabedoria, a trazer consigo a mais elevada consciência política, o mais arraigado sentimento democrático, a mais intransigente defesa da dignidade humana.

Que Deus não me desampare jamais neste propósito!

Sr. Presidente, peço que conste dos Anais as duas matérias de jornais as quais me referi anteriormente, lendo pequenos trechos.

Muito obrigado, Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, e a todos que ainda estão a essa altura presentes nesta Casa.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 05/03/1999 - Página 4406