Discurso no Senado Federal

SOLIDARIZANDO-SE COM ARTISTAS POPULARES QUE SOFRERAM SEQUESTRO EM SUAS FAMILIAS.

Autor
Eduardo Suplicy (PT - Partido dos Trabalhadores/SP)
Nome completo: Eduardo Matarazzo Suplicy
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
SEGURANÇA PUBLICA.:
  • SOLIDARIZANDO-SE COM ARTISTAS POPULARES QUE SOFRERAM SEQUESTRO EM SUAS FAMILIAS.
Aparteantes
Luiz Estevão, Maguito Vilela.
Publicação
Publicação no DSF de 17/03/1999 - Página 5641
Assunto
Outros > SEGURANÇA PUBLICA.
Indexação
  • SOLIDARIEDADE, ARTISTA, VITIMA, SEQUESTRO, MEMBROS, FAMILIA.

O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT-SP. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, quero aqui externar a minha solidariedade aos irmãos Zezé di Camargo, Luciano Camargo, Emanuel Camargo, com respeito à tragédia envolvendo Wellington Camargo, de 26 anos, portador de paralisia infantil desde os dois anos de idade, seqüestrado há 90 dias em Goiânia. Seu desaparecimento está causando extraordinária preocupação a seus familiares. Sr. Presidente, o agravante foi o fato de os seqüestradores terem cortado um pedaço da orelha de Wellington, um ato de desumanidade que certamente causa indignação a todos os brasileiros.

Gostaria de transmitir uma palavra ao Zezé di Camargo, ao Luciano, ao Emanuel, que inclusive virão a Brasília na próxima sexta-feira, ocasião em que deverão visitar o Senado Federal.

Conversei há pouco com o Zezé di Camargo. Acredito que serão recebidos pelo Presidente Antonio Carlos Magalhães e por nós Senadores. Seria próprio inclusive que ele pudesse ser recebido no Plenário do Senado, para que os seqüestradores de Wellington ouvissem a respeito da importância de repensarem sobre o grave ato que cometeram.

Sr. Presidente, o apresentador Ratinho, nesses últimos dias, tentou ajudar. Entretanto, causou ainda maior preocupação à família de Wellington Camargo, porque colocou no ar a expectativa de se colherem fundos para pagar o resgate. Qual foi o resultado disso? Ainda que a família de Zezé di Camargo já tivesse quase concluído o entendimento para ter o seu irmão de volta para o lar, o fato concreto é que, com essa ação de Ratinho, suspenderam-se as negociações e, agora, os seqüestradores querem negociar com o próprio Ratinho para ver quanto é que ele conseguem obter com o “0900”.

O SR. PRESIDENTE (Carlos Patrocínio) - Senador Eduardo Suplicy, permita-me interromper V. Exª para prorrogar a sessão por mais três minutos, para que V. Exª possa concluir o seu pronunciamento.

O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT-SP) - Sr. Presidente, quero aqui transmitir aos seqüestradores de Wellington Camargo um apelo no sentido de que repensem em profundidade sobre a gravidade do ato que cometeram. Diante do agravamento, do que foi realizado, do corte da orelha de Wellington, creio que é muito importante que pensem e repensem se não é o caso de simplesmente desistirem de qualquer resgate e de transmitirem a Zezé di Camargo, a Luciano e a Emanuel o final desse tipo de procedimento.

É importante que aqui mencionemos nossa solidariedade também à mãe do cantor Salgadinho, que por alguns dias foi seqüestrada e felizmente voltou ontem. Houve muitos outros episódios em anos recentes, como os seqüestros dos Srs. Abílio Diniz, Gir Aronson, Luiz Salles e tantos outros, cujos familiares e eles próprios sofreram muito com a situação.

Transmito aos seqüestradores que se avaliarem que seja importante o diálogo com alguma autoridade do Poder Legislativo, os próprios senadores, gostaria de dizer que nós, aqui no Senado, também nos dispomos certamente a procurar dialogar, da maneira que for possível, a fim de acabar com o sofrimento de Wellington e de seus familiares.

           O Sr. Maguito Vilela (PMDB-GO) - V. Exª me permite um aparte, Senador Eduardo Suplicy?

           O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT-SP) - Pois não, Senador Maguito Vilela.

           O Sr. Maguito Vilela (PMDB-GO) - Agradeço muito pela tolerância da Mesa e do Senador Eduardo Suplicy. Tenho convivido diuturnamente com a família de Zezé di Camargo. Desde o primeiro dia do seqüestro, estive visitando o Zezé, o Luciano, os seus pais, o Sr. Francisco, e todos os seus irmãos. Realmente a família tem sofrido bastante e tem feito tudo, naturalmente, para ver resgatado o filho querido, com deficiência física, que é o Wellington. A comunicação de V. Exª é da maior importância para o Brasil. Trata-se do irmão de uma dupla sertaneja laureada, que tem canta as origens, as raízes, as emoções do povo brasileiro. E essa dupla, naturalmente, tem sofrido abalos terríveis. Depois veio o seqüestro da mãe do Salgadinho. Isso começa a inquietar o mundo artístico brasileiro, porque é muito sério, muito grave. Ainda ontem, visitei a mãe do Leonardo, que se submeteu a uma cirurgia, e vi a família toda perplexa e impaciente não só com o problema do Wellington ou com o problema do Salgadinho, mas também, agora, vendo-se aterrorizada com esses problemas. De forma que é importante a comunicação de V. Exª, a vinda do Zezé aqui ao Senado, para que possamos dialogar e buscar - sei que é a intenção de V. Exª - uma solução para esse grave problema. Muito obrigado, em nome de todos os goianos.

           O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT-SP) - Agradeço ao Senador Maguito Vilela. Dispomo-nos a colaborar em tudo que pudermos, no Senado Federal, para que não haja mais esse tipo de procedimento e que possa Wellington voltar para o seio de sua família. Agradeço seu aparte e as notícias que nos traz do Sr. Francisco e de toda a família de Zezé di Camargo e Luciano.

           O Sr. Luiz Estevão (PMDB-DF) - V. Exª me permite um aparte?

           O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT-SP) - Ouço com prazer V. Exª.

           O Sr. Luiz Estevão (PMDB-DF) - Nobre Senador Eduardo Suplicy, parabenizo V. Exª por ter trazido à discussão, nesta Casa, no Senado da República, esse drama inacreditável que sofre a família de Zezé di Camargo, Luciano, Emanuel e Wellington, com esse seqüestro que já se aproxima dos 100 dias. E não bastasse ser o seqüestro um crime hediondo, ainda é agravado com a recente prática de mutilação do corpo do seqüestrado, da qual o público tomou conhecimento no último fim de semana. Infelizmente, tenho na minha vida -- há pouco mais de um ano -- a tristeza de ter passado por uma experiência semelhante, com o seqüestro da minha filha, amplamente noticiado, que, graças a Deus, teve um final feliz. E quero dizer que realmente não há experiência pior, não há dor maior que possa atingir um ser humano e sua família do que a angústia, a incerteza, o drama e, principalmente, a covardia de um seqüestro, agravada mais ainda quando se trata de seqüestro contra uma menor, como no caso da minha filha, ou contra uma pessoa que sofre de deficiência física, como no caso do Wellington. Aproveitando a oportuna menção de V. Exª sobre este assunto nesta Casa, indago se não seria o caso de discutirmos uma adaptação das providências tomadas na Itália, que acabaram redundando numa considerável redução do número de seqüestros. Trata-se de uma legislação que torna imediatamente indisponíveis os bens dos familiares das vítimas de seqüestro, deixando claro aos seqüestradores que há impedimentos legais para a viabilização do pagamento do resgate, pondo fim a essa indústria abominável, criminosa e hedionda do seqüestro, que cada vez cresce mais no nosso País. Talvez a única possibilidade de contribuirmos para solucionar o problema seja trazer, para discussão e aprovação no Senado, uma lei que impeça que esses criminosos vejam no seqüestro uma possibilidade de enriquecimento desonesto, cruel e sem causa. Parabéns a V. Exª, mais uma vez, e muito obrigado pelo aparte que me concedeu.

O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT-SP) - Agradeço o aparte, Senador Luiz Estevão, que assim pôde dar seu testemunho da dor e sofrimento pessoal pelo seqüestro de sua filha, compartilhado pelas famílias que passam pelo mesmo problema.

Avalio que o Projeto de Lei do então Senador Maurício Corrêa pode ser examinado, ainda que tenha havido nas reuniões da Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania alguma dúvida sobre sua constitucionalidade.

Senador Luiz Estevão, podemos oferecer solidariedade a todas as famílias que, como a de Zezé de Camargo e Luciano, tiveram um ente seqüestrado, pensando no que podemos fazer para modificar o quadro de crescimento da criminalidade. E o que está ao nosso alcance é dedicarmo-nos à erradicação da fome, da miséria, da falta de condições de cidadania, conforme propôs a Senadora Heloisa Helena hoje. Devemos nos preocupar com projetos que garantam emprego às pessoas ou uma renda suficiente para aqueles que não conseguem emprego, para que ninguém chegue ao limite do desespero, a ponto de realizar ações tão desumanas quanto o seqüestro, agravado ainda pela mutilação ou pelo assassinato.

Fazemos essa reflexão e propomos aos seqüestradores que simplesmente pensem, que sejam humanos e desistam de qualquer pagamento de resgate pela família ou por quem quer que seja. Fica aqui nosso apelo para que deixem Wellington José de Camargo voltar para casa, ao seio de seus familiares.

Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 17/03/1999 - Página 5641