Discurso no Senado Federal

REGOZIJO COM A CHEGADA DAS CHUVAS NO ESTADO DA PARAIBA, RESSALTANDO A NECESSIDADE DE TRANSPOSIÇÃO DAS AGUAS DO RIO SÃO FRANCISCO.

Autor
Ronaldo Cunha Lima (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/PB)
Nome completo: Ronaldo José da Cunha Lima
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
DESENVOLVIMENTO REGIONAL.:
  • REGOZIJO COM A CHEGADA DAS CHUVAS NO ESTADO DA PARAIBA, RESSALTANDO A NECESSIDADE DE TRANSPOSIÇÃO DAS AGUAS DO RIO SÃO FRANCISCO.
Aparteantes
José Eduardo Dutra.
Publicação
Publicação no DSF de 18/03/1999 - Página 5790
Assunto
Outros > DESENVOLVIMENTO REGIONAL.
Indexação
  • SAUDAÇÃO, CHUVA, ESTADO DA PARAIBA (PB), MELHORIA, SITUAÇÃO, SECA, ANALISE, NECESSIDADE, TRANSPOSIÇÃO, AGUA, RIO SÃO FRANCISCO, OBJETIVO, PREVENÇÃO, CALAMIDADE PUBLICA.
  • INFERIORIDADE, CUSTO, OBRA PUBLICA, RIO SÃO FRANCISCO, GASTOS PUBLICOS, AUXILIO, POPULAÇÃO, CALAMIDADE PUBLICA, SECA.

O SR. RONALDO CUNHA LIMA (PMDB-PB. Pronuncia o seguinte discurso.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, e Deus se apiedou de nós. Choveu. E está chovendo na Paraíba inteira. Os rios refazem os seus caminhos, e os açudes que pareciam mortos se reanimam com o abraço das águas novas.

Sorrisos se abrem, substituindo as fisionomias fechadas da angústia e do desespero. A chuva, enfim, chegou, já na proximidade do prazo fatal para a sua espera: se não chove até o dia 19 de março, Dia de São José, não chove mais.

Graças a Deus, choveu e chove o suficiente para de novo molhar as esperanças do sertanejo crente e para cultivar a crença do nordestino que não perde a fé. “São as águas de março fechando o verão e as promessas de vida do seu coração”, como na canção de Tom Jobim. Ou será o céu transbordando em chuva as lágrimas do choro compadecido de Deus?

Chove no litoral, e as barragens de Gramame/Mamoaba já se recompõem. Chove no sertão, e o fantasma da seca se dilui ou se evapora. Chove no Cariri, e os rios correm apressados, com aquela pressa de quem socorre os que estão agonizando. No Curimataú está chovendo. Já não existe mais à beira das estradas o espetáculo triste das mães famintas e das mãos pedintes. No Brejo, onde a rigor a água não chegou a faltar, também não faltou chuva. E em Campina Grande? Ah! Em Campina Grande, onde o açude Boqueirão minguava a olhos vistos, caindo dos seus 536 milhões de metros cúbicos para menos de 80 milhões de metros cúbicos, há um alívio com relação à catástrofe que parecia iminente. O alívio foi geral. Até os que duvidavam e os que se omitiam estão aliviados. Choveu e está chovendo em todo o Estado da Paraíba, e há informação de que chove em toda a região nordestina. O clima, até há pouco tempo de quase desespero, já se faz hoje de muita esperança, graças à chuva que está chegando às vésperas do Dia de São José, meu padroeiro.

Mas, Srªs e Srs. Senadores, não é porque choveu às vésperas do Dia de São José que vamos adiar as obras do São Francisco. A seca que nos ameaçou até agora, a seca que nos castigou até agora deve agora, agora mais do que nunca, merecer cuidados que implicam decisões imediatas e definitivas. Que o governo contabilize o que gastou com os flagelados e o que gastará para impedir o flagelo. A transposição das águas do São Francisco, obra de urgência, custa menos que a emergência. Com água para beber e terra para plantar, com uma política agrícola socialmente justa, o nordestino não terá razões para deixar suas terras. Serão reduzidas as desigualdades regionais e, de certo, diminuirão as favelas e as palafitas das cidades grandes. Já se fala em privatização da CHESF, mas não se decide sobre a transposição das águas. E a Represa de Itaparica, como fica? E Sobradinho, vai sobrar? Como disse hoje o Senador Fernando Bezerra, em reunião com a Bancada do Nordeste e o Superintendente da Sudene, Aloísio Sotero: “ou o Nordeste se une ou perde a perspectiva de futuro.” Que as águas do São Francisco sejam as bênçãos dessa união. Não seria uma forma de homenagear a base da nacionalidade brasileira?

A obra não é cara, já o dissemos muitas vezes aqui, e é socialmente justa e economicamente viável. Dados técnicos da obra, divulgados recentemente pela Secretaria Especial de Políticas Regionais, informam que são 6 milhões de pessoas beneficiadas diretamente com a obra.

O Sr. José Eduardo Dutra (Bloco/PT-SE) - V. Exª me concede um aparte, Senador Ronaldo Cunha Lima?

O SR. RONALDO CUNHA LIMA (PMDB-PB) - Com muito prazer.

O Sr. José Eduardo Dutra (Bloco/PT-SE) - Gostaria apenas de fazer uma pequena correção ao pronunciamento de V. Exª e registrar nossa indignação com o fato. V. Exª fez referência a uma reunião da Sudene com a Bancada do Nordeste. Realmente essa reunião deveria ter acontecido com a Bancada do Nordeste, mas, infelizmente, os convites foram restritos aos Senadores da base governista do Nordeste. Eu e a Senadora Heloisa Helena não recebemos esse convite para o qual, se tivéssemos recebido, teríamos participado, porque entendemos que esses assuntos têm que transpor a mera discussão partidária. Aproveitei o aparte para registrar a minha insatisfação com a Sudene, não com V. Exª, claro, mas com a Sudene, que não teve a iniciativa de nos convidar. Muito obrigado.

O SR. RONALDO CUNHA LIMA (PMDB-PB) - Eu me solidarizo com V. Exª e com a Senadora Heloisa Helena. É profundamente estranho que numa reunião que se marcava para um debate sobre o problema do Nordeste tenha havido a exclusão de Senadores ou de representantes daquela região nesta Casa ou na Câmara dos Deputados. Se assim ocorreu, solidarizo-me integralmente com V. Exªs.

Prosseguindo, eu dizia que as águas do rio São Francisco vão suprir os açudes de Orós e Castanhão, no Ceará; Armando Ribeiro Gonçalves e Santa Cruz, no Rio Grande do Norte; Chapéu, Poço da Cruz e Entremontes, em Pernambuco; e Coremas e Boqueirão, na Paraíba.

Dois dos principais reservatórios d´água de cada Estado teriam garantido o seu abastecimento, e nunca mais o flagelo da seca, a ameaça da sede seria um fantasma na paisagem desolada do Nordeste.

O que falta, meu Deus, para começar a obra? Outra seca? Uma catástrofe? Mais crianças mortas? Mais fome e mais miséria? Será que as imagens mostradas esta semana pela televisão têm que ser repetidas?

O nordestino tem sido paciente e resignado. Já não sei quanto tempo mais continuará esperando, passivamente esperando e conformadamente sofrendo.

Um dia, e não estará longe, um grito se libertará e outros gritos se sucederão, dando eco às vozes do desespero e da inconformação.

Lembro-me que ainda Prefeito, Senador Tião Viana, em reunião da Sudene, realizada em Campina Grande, encerrei minhas palavras, como faço de novo agora, com um soneto que é, a um só tempo, apelo e advertência:

      Quando o grito de dor do nordestino

      Unir-se à voz geral do desencanto,

      Esse eco, de repente, faz um canto

      E o canto de repente faz um hino.

      E puro como um sonho de menino

      Será cantado aqui e em qualquer canto,

      Como símbolo, estandarte, como manto

      De um povo que busca o seu destino.

      Quando esse hino, pleno de ideal,

      Canção de um povo em marcha triunfal,

      For lançado ao sabor de seu destino

      Aí se saberá sem ter espanto

      Que um eco de repente faz um canto

      E um canto de repente faz um hino.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 18/03/1999 - Página 5790