Discurso no Senado Federal

EXPECTATIVAS NO SETOR ECONOMICO RURAL DECORRENTES DO NOVO REGIME CAMBIAL.

Autor
Mauro Miranda (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/GO)
Nome completo: Mauro Miranda Soares
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
AGRICULTURA.:
  • EXPECTATIVAS NO SETOR ECONOMICO RURAL DECORRENTES DO NOVO REGIME CAMBIAL.
Publicação
Publicação no DSF de 19/03/1999 - Página 5903
Assunto
Outros > AGRICULTURA.
Indexação
  • ANALISE, SITUAÇÃO, AGRICULTURA, EFEITO, DESVALORIZAÇÃO, REAL, AUSENCIA, COMPENSAÇÃO, PERDA, PERIODO, ESTABILIZAÇÃO, PLANO, ECONOMIA, REDUÇÃO, PREÇO, PRODUTO EXPORTADO, SIMULTANEIDADE, AUMENTO, INSUMO, UTILIZAÇÃO, DOLAR, CORREÇÃO, DIVIDA AGRARIA, APREENSÃO, PRODUTOR RURAL, PAIS, ESPECIFICAÇÃO, ESTADO DE GOIAS (GO).
  • DEFESA, IMPORTANCIA, AGRICULTURA, INSTRUMENTO, VIABILIDADE, SOLUÇÃO, CRISE, PAIS, ATRAÇÃO, INVESTIMENTO, CRIAÇÃO, EMPREGO.

O SR. MAURO MIRANDA (PMDB-GO) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, setores que não têm intimidade com o dia-a-dia da agricultura e com os problemas crônicos da economia rural estão vendendo uma expectativa excessivamente otimista para o futuro do agricultor brasileiro. Não quero dizer que esse mundo cor de rosa é inteiramente irreal, para não ser injusto, mas ele é construído sobre meias verdades. De acordo com as versões correntes nos meios oficiais, o novo regime cambial vai operar milagres na melhoria da renda agrícola, na criação de empregos, no aumento da produção e na ampliação das exportações.  

Tudo isso seria uma conseqüência natural das novas realidades cambiais do país, não fossem algumas distorções crônicas que em alguns casos foram até agravadas nas últimas semanas. A esperança de que nossos produtos agrícolas ficarão mais competitivos no mercado internacional ainda está para ser confirmada pelos fatos, e essa é a opinião corrente que tenho recolhido nos contatos com os produtores do meu Estado.  

Desde os primórdios do Plano Real o nosso produtor tem sido fortemente prejudicado com a perda de renda. Os preços médios dos produtos agrícolas foram reajustados em apenas 20 por cento na média, enquanto os indicadores inflacionários mostravam uma ascensão em torno de 60%. Os custos do dinheiro no sistema Finame chegaram aos níveis escorchantes de 159,11%. A cesta básica, que amparou a política de estabilização e ganhou o título honroso de "âncora verde" do real, subiu apenas 19,23%. Com a concorrência das importações e a ausência de políticas para o setor, o leite foi a maior vítima de todas as cadeias produtivas do campo, com um crescimento negativo de 9,52%.  

Com a desvalorização do real, reclamada consensualmente por todos os setores da economia brasileira, esperava-se que a agricultura seria recompensada por esse longo período de sacrifícios acumulados. Mas o fato é que as nossas primeiras impressões não são favoráveis. Os preços em dólar dos principais produtos exportáveis cairam a níveis de 13 a 22%, e, ao mesmo tempo, os insumos importados sofreram reajustes lineares, pelo câmbio do dia, mesmo os estoques antigos. Em algumas regiões do país, por exemplo, a vacina contra a febre aftosa foi majorada em 100%.  

Outra questão relevante são as dívidas em dólar que foram contraídas antes do plantio, e que também foram corrigidas linearmente pelo câmbio do dia. São estes os problemas que mais afligem os produtores rurais do meu Estado de Goiás. Os preços perderam todos os referenciais de paridade com o passado e com as expectativas criadas pela livre flutuação do câmbio. Quanto às dívidas em dólar, a situação chega a ser dramática em muitos casos. O sistema de leasing na aquisição de máquinas agrícolas, por exemplo, tem sido cruel nos seus efeitos. O fantasma da inadimplência volta a rondar as nossas fazendas, e, se isso acontecer novamente, o plantio da próxima safra estará comprometido.  

Os custos de produção agrícola sofreram grandes elevações no último mês de fevereiro. Para os plantadores de milho, o aumento dos insumos importados elevou os custos do plantio em 32%. É fácil imaginar os efeitos dessa distorção na produção de proteínas de origem animal, e as repercussões inevitáveis na inflação. A redução das alíquotas de importação, já admitida pelo governo, é fundamental. Mas não basta. É importante que o Ministério da Agricultura faça funcionar a sua rede de fiscalização, para identificar e punir os especuladores.  

É imperativo que todos os setores do governo, comprometidos ou não com o setor, assumam definitivamente a consciência de que a agricultura, como instrumento para o reequilíbrio das contas externas, é a grande via para tirar o país da crise, garantir a retomada da credibilidade externa, atrair novos investimentos e criar empregos. A meta de 11 bilhões de dólares de superávit só poderá acontecer através de um grande movimento de convergência em benefício da agricultura, com o envolvimento de todas as áreas ligadas ou não ao campo. A maior de todas as responsabilidades do governo, neste momento em que o acordo com o FMI amputa investimentos em todas as direções, é a de promover uma mudança radical de rumos na atual desordem de nossas prioridades. Recuperar rodovias, modernizar os corredores intermodais de exportação, retomar a preferência dos investimentos para os grandes eixos de desenvolvimento, como a duplicação da rodovia Goiânia-São Paulo, são necessidades que devem ser atacadas imediatamente. Sem isso, esse superávit não passará de um sonho. Como será um sonho reduzir as grandes multidões de famintos que gravitam em torno dos grandes centros urbanos, como advertiu em seu belo discurso de hoje o Senador Maguito Vilela.  

Era o que eu tinha a dizer, Sr. Presidente.  

Muito obrigado.  

 

 Ø


Este texto não substitui o publicado no DSF de 19/03/1999 - Página 5903