Discurso no Senado Federal

HOMENAGEM AOS 90 ANOS DE DOM HELDER CAMARA.

Autor
Ramez Tebet (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/MS)
Nome completo: Ramez Tebet
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • HOMENAGEM AOS 90 ANOS DE DOM HELDER CAMARA.
Publicação
Publicação no DSF de 25/03/1999 - Página 6282
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM, ANIVERSARIO DE NASCIMENTO, HELDER CAMARA, ARCEBISPO, IGREJA CATOLICA.

O SR. RAMEZ TEBET (PMDB-MS) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, estava inscrito ontem para homenagear D. Hélder Câmara e não tendo tido a oportunidade de fazê-lo, faço-o agora, como um tributo a um grande brasileiro.  

É jovem quem tem uma razão para viver, disse Dom Hélder Câmara, que agora completa noventa anos.  

E a sua vida foi sempre uma expressão do que a juventude tem de mais valoroso: amor desinteressado, abnegação às causas que abraça, destemor ante o perigo que ameaça seus ideais.  

Pelo amor, Dom Hélder entregou-se ao sacerdócio, tomando votos aos 22 anos de idade.  

Com abnegação, colocou-se ao lado dos pobres, dos desvalidos da sorte, fazendo-se irmão de todos.  

Com destemor, enfrentou os poderosos, lutando em defesa de quantos estiveram ameaçados pela ação repressora do regime militar e, sem levantar críticas a quem quer que fosse, empenhou-se na propagação das idéias de não-violência, como caminho a ser trilhado para as conquistas sociais.  

Possuidor de uma inteligência brilhante, viva e inquiridora, Dom Hélder, sem sair da simplicidade evangélica, ampliou sua voz para alcançar a consciência dos povos e governos dos países mais ricos, chamando-lhes o sentido de responsabilidade que deveriam ter para com o destino dos menos desenvolvidos.  

"A fome dos outros condena a civilização dos que não têm fome ", advertiu ao mundo Dom Hélder.  

Com todas essas características, a vida de Dom Hélder Câmara não poderia ter deixado de despertar polêmicas: "Se eu dou comida aos pobres, eles me chamam de santo. Se eu pergunto porque os pobres não têm comida, eles me chamam de comunista", constatou ele mesmo, sintetizando as razões que provocaram as discussões a seu respeito.  

Uso o verbo em tempo passado, Sr. Presidente, porque Dom Hélder, tendo persistido em suas posições, conquistou o respeito de todos e a compreensão da maioria: o passar dos anos deixou evidente a sinceridade de seus gestos e palavras, evidenciando a grandeza do seu coração.  

Prova disso são os testemunhos que eminentes figuras do nosso país deram ao longo dos anos sobre Dom Hélder, alguns dos quais trarei à lembrança neste momento, na convicção de que representam não apenas a minha opinião e o meu sentimento sobre Dom Hélder, mas a opinião e o sentimento da maioria dos brasileiros.  

"Dom Hélder tem percorrido o mundo para pregar a superação da violência e do racismo; o fim das guerras e das desigualdades sociais. Tem mostrado o absurdo de se gastar em armas o dinheiro que seria suficiente para alimentar as multidões do terceiro mundo. Alerta sobre o respeito à natureza, o direito à vida e às exigências de justiça. Consegue despertar nos jovens a vontade de viver e de fazer o bem. Colocou em muitos corações a fome e a sede de Deus. Sabe unir na mesma amizade pobres e ricos. Não critica ninguém". (Dom Luciano Mendes).  

"Defensor dos pobres, incompreendido pelos poderosos e amado pelos pequenos, comunista para uns, conformista para outros, o profeta da esperança e do amor". (Dom Marcelo Pinto Cavalheira).  

"Sua presença magnética é extensão de sua luz". (Ziraldo)  

"Talentoso e destemido, sacerdote grande justo renome, reconhecimento internacional pela sua atuação cristã, dignificadora dos direitos humanos". (Ulysses Guimarães)  

..."Nunca perdeu a fé em seu povo, mesmo nos tempos mais difíceis, em sua luta por paz, liberdade e justiça social. Suas palavras, seu exemplo, a força daquilo que praticou ao lado da nossa gente mais pobre, nunca faltaram quando era maior a repressão em nossa terra." (Miguel Arraes )  

"Hélder é um homem que passará à História como uma das figuras mais notáveis que a Igreja teve." (Sobral Pinto)  

"Acolhendo a diversidade das situações históricas e sociais, Dom Hélder ultrapassou, afinal, os limites de sua Arquidiocese e se tornou o profeta do Terceiro Mundo. Foi além. Visitou as Américas e a Europa pregando em favor do desenvolvimento dos povos ainda escravizados à injustiça e ao domínio dos mais fortes. Suscitou questionamentos de nações e de governos sobre a pobreza de muitos, por causa da riqueza de poucos. Sacudiu as consciências e sequer se foi dando conta de que se tornava o bispo dos cristãos e dos não cristãos". (Tasso Jereissati).  

Pastor da paz e da promoção humana, personificação da consciência social, do sentimento de justiça e de esperança entre os povos do chamado Terceiro Mundo". (Fernando de Mello Freyre)  

"Tudo é interessante quando se está com Dom Hélder; principalmente o abraço. Temos sempre o que aprender com ele..." (Milton Nascimento.).  

"...Anos sempre dedicados aos mais altos valores ecumênicos da paz e da não-violência, contribuindo para diminuir o sofrimento dos injustiçados e, principalmente, pela sua coragem na defesa dos nossos irmãos nordestinos que têm sido vítimas da insensibilidade e da insensatez de tantos por tanto tempo". (Leonel Brizola).  

E para concluir esse momento, Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, destaco as palavras com que o Papa João Paulo II, em visita a Recife, referiu-se a Dom Hélder:  

"Irmão dos pobres e meu irmão".  

Com essa pequena coletânea, espero ter trazido uma visão, ainda que modesta, sobre a importância do papel desempenhado por Dom Hélder durante o seu apostolado, que esperamos seja ainda longo e profícuo, para o bem dos brasileiros. A presença de Dom Hélder entre nós, em dias tão difíceis para a nação, representa sempre um estímulo à boa luta e a esperança em dias melhores e mais justos para todos.  

Que esse pronunciamento, Sr presidente, registre, no momento em que Dom Hélder Câmara completa noventa anos de idade, a minha mais sincera admiração e respeito por esse brasileiro que honra o nosso país e por esse sacerdote que enobrece a missão da Igreja no mundo.  

Era o que eu tinha a dizer.  

 

P


Este texto não substitui o publicado no DSF de 25/03/1999 - Página 6282