Discurso no Senado Federal

HOMENAGENS POSTUMAS PELO TRANSCURSO, HOJE, DO PRIMEIRO ANO DO PASSAMENTO DO EX-SENADOR HUMBERTO LUCENA.

Autor
Ronaldo Cunha Lima (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/PB)
Nome completo: Ronaldo José da Cunha Lima
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • HOMENAGENS POSTUMAS PELO TRANSCURSO, HOJE, DO PRIMEIRO ANO DO PASSAMENTO DO EX-SENADOR HUMBERTO LUCENA.
Aparteantes
Bernardo Cabral, Eduardo Siqueira Campos, Ney Suassuna, Pedro Simon.
Publicação
Publicação no DSF de 14/04/1999 - Página 7998
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM, ANIVERSARIO DE MORTE, HUMBERTO LUCENA, SENADOR, ESTADO DA PARAIBA (PB).
  • ELOGIO, ATUAÇÃO, VIDA PUBLICA, HUMBERTO LUCENA, EX-DEPUTADO, EX PRESIDENTE, CONGRESSO NACIONAL, SENADOR, ESTADO DA PARAIBA (PB).

O SR. RONALDO CUNHA LIMA (PMDB-PB. Pronuncia o seguinte discurso.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, devo, preliminarmente, manifestar o meu agradecimento ao Senador Eduardo Siqueira Campos pelo gesto generoso de me ceder o tempo que lhe era reservado, permitindo-me este pronunciamento, porque era inadiável.  

Hoje, Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, faz um ano - exatamente um ano - que faleceu um dos maiores homens públicos do meu Estado e deste País. Faz um ano que a Paraíba perdeu um dos seus maiores líderes e faz um ano que este Senado perdeu aquele que, durante duas Legislaturas, foi seu Presidente; aquele que estava cumprindo o seu terceiro mandato consecutivo de Senador. Refiro-me ao saudoso Senador, meu amigo, conterrâneo, Humberto Lucena.  

No dia 13 de abril do ano passado, em São Paulo, esse grande companheiro, esse grande amigo, de uma vida pública das mais ilustradas, deixava-nos. Mas, ao mesmo tempo, deixava para esta Casa, para o País, o exemplo de uma conduta política retilínea a servir de motivação, de inspiração, de força para aqueles que agora queiram iniciar-se na vida pública.  

Humberto Lucena foi Deputado Estadual duas vezes, foi Deputado Federal quatro vezes, foi Senador três vezes, duas vezes Presidente desta Casa e cinco vezes Líder de Oposição ou de Governo na Câmara dos Deputados e no Senado Federal. Foram, Sr. Presidente, quarenta anos de vida pública de um homem que, ao falecer, deixou apenas os exemplos do seu civismo, altivez, paciência, lealdade e correção. Humberto Lucena morreu pobre.  

Um homem público com as suas virtudes, com a sua grandeza, com a sua história merece meu registro.  

Sr. Presidente, tive o privilégio de conviver com ele. Confesso, jogando a modéstia de lado, que ele tinha por mim um carinho muito especial. Tratava-me com afeto, porque a sua afabilidade era genérica; mas a mim, quantas vezes, em depoimentos e manifestações públicas, desdobrava-se em elogios e agradecimentos.  

Humberto Lucena foi um homem profundamente injustiçado. Acompanhei a sua amargura, a sua angústia, quando grande parte da imprensa nacional passou a lhe fazer acusações porque teria publicado um calendário com a sua foto; como se, nesta Casa, quase todos os Senadores não tivessem feito o mesmo. Mas somente ele respondeu a esse processo. E com que grandeza! Dirigia-se a todos nós para pedir que não viéssemos a esta tribuna para defendê-lo, nem permitiu sequer, quando orientado por seus advogados, que arrolassem os nomes dos outros que procederam de forma igual. Ele se recusou.  

Acompanhei a sua angústia, Sr. Presidente, exatamente no instante em que disputava, ao meu lado, a candidatura, mais uma vez, ao Senado Federal. Ele veio a Brasília para cuidar juridicamente do processo, e eu lhe disse que cuidava dos seus passos na Paraíba. Lembro-me - permitam-me o detalhe -, de que, quando as pesquisas ali revelavam que ele se situava em terceiro lugar entre os vários disputantes ao Senado, dirigi-me de coração e de alma aos meus conterrâneos, em um grande comício na minha cidade, e pedi para que votassem em mim duas vezes, e quem quisesse votar em mim duas vezes, que votasse em mim e em Humberto Lucena; mas quem quisesse votar em mim apenas uma vez, que votasse em Humberto Lucena. Essa foi a temática do meu discurso, uma, duas, dez vezes. E ele se mostrava surpreso por esse gesto, não muito comum entre candidatos e concorrentes.  

Em reunião com lideranças, quando havia alguma restrição ao seu nome, era eu que pedia para que se transferisse essa restrição para a minha candidatura, e não para a dele. Ele venceu as eleições, nós a vencemos juntos. E quantas vezes manifestou de público o seu reconhecimento por essa atitude, agradecendo à Paraíba por tê-lo reconduzido mais uma vez ao Senado Federal!  

Durante quarenta anos de vida pública, apenas durante um mandato, um período, uma legislatura, Humberto Lucena deixou de exercer cargo público, quando foi derrotado em 1970. Nesse período, comportou-se e portou-se com a altivez, com a dignidade dos grandes homens, sem nada reclamar, sem buscar culpas nem encontrar culpados, porque Humberto pautou a sua vida, acima de tudo, pela dignidade e pela correção.  

Humberto, eu diria, Senador Bernardo Cabral, foi um político que fez política por sacerdócio, e não como aqueles que a exercem como negócio. Humberto foi político por vocação, porque se integrava, se doava e se dava por inteiro à causa pública, nos imensos exemplos que transmitia.  

Foi Presidente do Diretório Estadual do PMDB da Paraíba, e com que elevação, com que grandeza, com que desprendimento ele se conduziu! Por duas vezes, renunciou à sua candidatura a Governador de Estado. Eu próprio o lancei, defendi seu nome em dois instantes diferentes, em dois momentos, e ele recusava, renunciava, dizendo que o fazia em função da unidade do Partido.  

Mais recentemente, fui mal-entendido, malcompreendido, mal-interpretado, porque, uma vez mais, dizia que a Paraíba ainda estava devendo muito a Humberto Lucena. Ele sempre se portou assim e assim se conduziu até o final da sua vida, procurando fortalecer o Partido, fortalecer os companheiros, honrar os compromissos e nunca estimular deserções nem estimular traições.  

Morreu e não viu - ainda bem que não viu - o Partido no seu Estado, ou alguém do Partido no seu Estado, segmentos partidários, modificarem a história do PMDB. Práticas que se supunham abolidas desde 1930 pareciam ressuscitar, renascer, ressurgir; práticas que foram do aliciamento ao confinamento. Humberto não chegou a ver. Deus não permitiu que ele sofresse essa angústia na alma, essa violência no seu espírito, na sua história, de ver o seu Partido maculado por processos absolutamente aviltantes e degradantes na vida política nacional.  

Hoje, quando se registra um ano do seu passamento, este seu companheiro, este seu amigo vem fazer um modesto pronunciamento para homenagear a sua memória e a sua história. E o faço sem esconder nem disfarçar a minha emoção pela saudade e pela falta do amigo, pela ausência do companheiro, porque Humberto Lucena faz falta. Faz falta na Paraíba, no seu comando; faz falta aos companheiros, que ficaram, de certa forma, órfãos da sua liderança, da sua chefia.  

Humberto era conciliador; transigia, mas não permitia a prática de determinados processos, porque, como disse, ele fazia política por sacerdócio e não a exercia como negócio. Seu exemplo pode ser mirado e contemplado por aqueles que hoje se iniciam na vida pública e encontraram um homem que, ao longo de quarenta anos seguidos, dedicou-se à Paraíba, ao Nordeste, ao Brasil.  

Sem ambições pessoais e materiais maiores, viveu sem ostentação e morreu pobre, mas se firmou no cenário nacional como um homem público permanentemente engajado nas causa populares, sem ceder a pressões, seja como Líder, como foi, de Oposição, seja, depois, como Líder de Governo, mantendo sempre a mesma linha de coerência, de lealdade, de fidelidade, marcas principais de sua história.  

O Sr. Eduardo Siqueira Campos (PFL-TO) - Permite-me V. Exª um aparte?  

O SR. RONALDO CUNHA LIMA (PMDB-PB) - Senador Eduardo Siqueira Campos, com muita honra concedo o aparte a V. Exª.  

O Sr. Eduardo Siqueira Campos (PFL-TO) - Eminente Senador Ronaldo Cunha Lima, desde ontem, quando falamos pelo telefone - e V. Exª me revelou a sua intenção de vir a esta tribuna fazer este depoimento emocionado, sincero e legítimo, que traz a voz do povo da Paraíba na data de um ano do falecimento do eminente Senador Humberto Lucena -, quero trazer ao pronunciamento de V. Exª apenas um depoimento, que considero pessoal e familiar. Pude ter a honra de conhecer o eminente Líder Humberto Lucena ainda quando Deputado Federal e quis o destino que nossas famílias se unissem, já que um de meus irmãos acabou por se casar com Thais Lucena. Fruto desse casamento, o jovem Leonardo Lucena, hoje com 18 anos de idade, permitiu-nos, a nós, os Siqueira Campos, um convívio com Humberto Lucena e com toda a sua família. Dentro de todos os depoimentos que sei que esta Casa e o Congresso Nacional podem dar, quero somar este meu, simples, modesto, mas reconhecendo principalmente uma das maiores características daquele grande homem público: a sua simplicidade, a vida modesta que levava com a sua família, que continua ainda a levá-la nos dias de hoje. Trago a minha solidariedade, a minha palavra à D. Ruth, sua esposa, às filhas Lisle e Iraê, hoje Deputada Estadual na Paraíba, a Humberto Lucena Júnior, a Thais, aos netos, a todos os familiares, e a esta Casa, nosso reconhecimento pelo relevante serviço prestado por Humberto Lucena à Câmara dos Deputados, ao Congresso Nacional, à Paraíba e ao País. Muito obrigado.  

O SR. RONALDO CUNHA LIMA (PMDB-PB) - Senador Eduardo Siqueira Campos, agradeço a V. Exª e o faço de forma renovada. Ontem, encontrava-me em João Pessoa e, por telefone, pedi a V. Exª, sabendo que estava inscrito entre os primeiros oradores desta sessão, para fazer este pronunciamento. Ao dizer-lhe os motivos e qual seria o pronunciamento, V. Exª de pronto alegou razões de ordem familiar, de ordem sentimental, acrescidas das razões que o levam, como a todos nós, a admirar Humberto Lucena. Incorporo seu aparte ao meu modesto pronunciamento e renovo a V. Exª os meus agradecimentos.  

O Sr. Bernardo Cabral (PFL-AM) - Permite-me V. Exª um aparte?  

O SR. RONALDO CUNHA LIMA (PMDB-PB) - Concedo o aparte ao Senador Bernardo Cabral.  

O Sr. Bernardo Cabral (PFL-AM) - Senador Ronaldo Cunha Lima, V. Exª, na orquestra sinfônica da amizade, é um maestro imbatível. Os homens públicos jamais recebem o reconhecimento dos seus contemporâneos; quando muito, os pósteros daqueles pesquisam a vida dos que já se foram há muitos anos para registrar-lhes as decências, as dignidades. Mas V. Exª faz agora, neste instante, um retrato de corpo inteiro, sem retoque, do que foi Humberto Lucena. Isso me fez ir ao passado, quando os três fomos fundadores do MDB. Enquanto Humberto e eu éramos Vice-Líderes de Mário Covas, em 1967, V. Exª se encontrava na Prefeitura da sua grande cidade, da qual V. Exª sempre diz que traz no peito a honraria, Campina Grande. Reporto-me ao lado histórico, quando V. Exª e eu fomos cassados, com o nosso mandato de Deputado Federal tendo sido levado e dez anos de nossos direitos políticos tendo sido suspensos. Humberto Lucena, que não tinha sofrido o rigor da cassação, estava afastado da política e trabalhava em um escritório de um dos paraibanos sérios como advogado, Samuel Duarte, que tinha sido Presidente da Ordem dos Advogados do Brasil. Semanalmente, reuníamo-nos em um restaurante chamado Ianque e, geralmente, nesses almoços havia uma testemunha ocular, que era o Sebastião Nery, o nosso grande Sebastião Nery. Naquelas reuniões, V. Exª já sabia que, um dia, chegaria ao Governo. Humberto dizia que viria para o Parlamento junto comigo. Os três acabamos nos encontrando no Parlamento. É apenas triste saber que este registro de lealdade, sinceridade, mais do que de um conterrâneo, mas de um homem público do quilate de V. Exª, a uma figura como Humberto Lucena, apenas diz bem quem é Ronaldo Cunha Lima. Se me fosse lícito, pedir-lhe-ia que me desse a honra de fazer com que eu pudesse me juntar ao seu discurso e que V. Exª o pronunciasse também em meu nome.

 

O SR. RONALDO CUNHA LIMA (PMDB-PB) - Senador Bernardo Cabral, V. Exª, que adorna sua personalidade tão rica de generosidade, mas muito mais pelos imensos dotes culturais e intelectuais que ostenta, tem-se posicionado também pela largueza dos gestos e até pelas frases com que procura distinguir um modesto companheiro. Na orquestra sinfônica a que V. Exª se refere e, na generosidade do brado, da qual eu pudesse até ser o maestro, creio que, de minha parte, apenas existe uma nota: a nota da sinceridade, o acorde da gratidão, o solfejo da homenagem. Dentro dessa sintonia musical, existe também a identidade espiritual dos sentimentos que se juntam, que se irmanam para compor uma só paisagem, porque assim eu e Humberto fizemos. Evoco, Senador Bernardo Cabral, momentos vividos, revividos, lembrados, guardados e sentidos, como se fossem cenários perpétuos aos nossos olhos, na visão permanente de quem quer contemplar o horizonte e só encontra o azul pela frente.  

Eu, Humberto Lucena e Mariz fomos três companheiros, irmãos, numa luta solidária em que cada um buscava mais apoio para o outro do que para si próprio.  

O próprio slogan , para aqueles que não acompanharam a eleição da Paraíba do dia 3 de outubro, era: "No dia três, vote nos três". E Mariz pedia mais por mim e por Humberto, como eu pedia muito mais por Humberto, por Mariz do que por mim. Foi uma campanha bonita, marcada por gestos solidários. Quando Humberto teve que se ausentar para vir a Brasília acompanhar o seu processo, nos multiplicávamos naquela luta.  

Registro, Senador Bernardo Cabral, seu aparte. Até pediria permissão para incorporá-lo ao meu pronunciamento.  

O Sr. Ney Suassuna (PMDB-PB) - V. Exª me permite um aparte?  

O SR. RONALDO CUNHA LIMA (PMDB-PB) - Concedo um aparte ao Senador Ney Suassuna.  

O Sr. Ney Suassuna (PMDB-PB) - Serei breve, Sr. Presidente. Conheci Humberto em Bananeiras. Eu era ainda garoto, e ele, candidato a Deputado Estadual. Nunca imaginei que seríamos colegas, companheiros no Senado Federal. Foi uma honra muito grande e motivo de orgulho ter Humberto como nosso guia no PMDB. Quanta falta faz ele hoje! Acompanhei a vida de Humberto de perto, como bem V. Exª o fez. É difícil encontrar alguém como Humberto. Contemporâneo de Tancredo e de Ulysses, Humberto recebeu inúmeras vezes chamamentos para fazer parte do governo, mas preferiu ficar na Oposição. Foram vinte anos de Oposição, lutando contra a força, contra o poder, mas de bem com a sua consciência, de bem com os seus princípios. É uma pena que Humberto não esteja entre nós. Ouvindo seu tão bonito pronunciamento, solidarizo-me com V. Exª no que se refere ao seu gesto. Convido V. Exªs para, hoje à noite, assistirmos à missa dedicada a Humberto Lucena na Catedral, às 19h15. Prestaremos uma homenagem àquele que ocupou por duas vezes a Presidência desta Casa. Não sendo ele de um Estado forte, mas de um Estado pequeno, pobre, a Paraíba fazia-se grande através das ações de Humberto Lucena. Muito obrigado.  

O SR. RONALDO CUNHA LIMA (PMDB-PB) - Muito obrigado, Senador Ney Suassuna. Permita-me, Sr. Presidente, ao registrar o agradecimento ao Senador Ney Suassuna pelas suas palavras e seu gesto solidário em relação ao discurso, dizer que realmente Humberto faz muita falta. Sem nenhuma intenção de trocadilho, diria que, na Paraíba, enquanto alguns cometem faltas, Humberto faz falta. Falta-nos sua liderança, sua chefia, para não permitir alguns gestos e atitudes ali praticadas. Mas o Senador Ney Suassuna lembrava o período em que Humberto Lucena, durante vinte anos, portou-se com altivez na Oposição. Lembro-me inclusive de que em 1969, quando fui atingido pelo AI-5 - fui cassado 42 dias depois de ter sido eleito Prefeito de Campina Grande e cumpri exílio na própria Pátria -, conheci, no Rio de Janeiro, Bernardo Cabral, e recebi de Humberto Lucena testemunhos solidários renovados, repetidos, de gestos de coragem e amizade, como também os recebi do Senador Rui Carneiro. Lembro-me das inúmeras vezes em Humberto Lucena e Rui Carneiro compareceram a auditórios na TV Tupi para prestigiar o modesto companheiro cassado, que respondia em programa de televisão. Humberto Lucena se locomovia de onde estivesse para prestigiar um companheiro.  

O Sr. Pedro Simon (PMDB-RS) - V. Exª me permite um aparte?  

O SR. RONALDO CUNHA LIMA (PMDB-PB) - Ouço V. Exª com prazer.  

O Sr. Pedro Simon (PMDB-RS) - É com muito respeito que aparteio V. Exª ao se referir a uma das grandes figuras desta Casa: o Senador Humberto Lucena. Não há como deixar de reconhecer que o Senador Humberto Lucena foi um homem de bem, simples, humilde; vivia do salário que recebia. Foi um homem sem pompas, que não possuía absolutamente nada, a não ser sua vida pública. Em quase 50 anos de vida política, sem nenhuma outra atividade, não tinha casa ou apartamento. Houve um momento em que sua esposa, que tinha uma loja de venda de animai, conseguiu construir uma casa, que Lucena vendeu para manter sua família. O que se fez com Lucena é imperdoável. O que a imprensa fez com Lucena, aquilo a que assistimos ser feito com Lucena foi um crime. Muitas e muitas vezes vim à tribuna para defendê-lo, para lhe dar o meu voto favorável, porque espalhou-se que o Lucena se elegeu Senador da República fazendo a sua propaganda na Gráfica do Senado. E isso o machucou muito. Lembro-me de que a sua filha, no Programa Jô Soares , deu um depoimento fantástico, de grandeza de espírito público, contando a vida e o sofrimento da sua família, esclarecendo aquele triste incidente. O Lucena fez o que a imensa maioria dos Senadores e Deputados fazem: imprimiu mensagem natalina na Gráfica. Alguns fazem um cartão; outros, como ele, um calendário do ano seguinte. A verdade é que aquilo - e falo com tranqüilidade, nunca usei a Gráfica do Senado para nada, senão para publicação dos meus trabalhos, mas respeito o restante - apareceu como se ele tivesse feito toda a campanha na Gráfica do Senado. E ele morreu com essa mágoa, com esse sentimento. Com todo carinho e respeito que tenho pelo Tribunal Superior Eleitoral, nunca entendi o gesto daquela Corte. Está certo que se diga que a Justiça é cega e que julga o que está nos autos, e o que estava nos autos era uma folhinha que mostrava a mensagem. Em primeiro lugar, naquela folhinha não aparecia a expressão "candidato a Governador", nem "candidato a Senador". Só dizia: "Humberto Lucena deseja um Feliz Ano Novo ao povo da Paraíba". E o Tribunal sabia. E se não soubesse, que baixasse diligência e verificasse dezenas e dezenas de casos semelhantes àquele. Tudo isso ele suportou com caráter e com dignidade. Lucena foi o homem dos grandes gestos nesta Casa: Líder do Partido, Líder do Governo, Presidente do Senado Federal por duas vezes. Ele era um homem simples, humilde, digno. E lembro-me de que várias vezes ele nos chamava para debater e discutir com todas as lideranças. Nas horas mais difíceis estava ali, com sua voz mansinha, falando baixo, com singeleza, sem aparecer nas manchetes, sem se preocupar com isso. Era o homem que estava sempre presente nas horas difíceis. Faço questão de trazer aqui - e acredito que a Mesa solidariza-se neste momento - um gesto de homenagem ao injustiçado e ao querido amigo Humberto Lucena.  

O SR. RONALDO CUNHA LIMA (PMDB-PB) - Muito obrigado nobre Senador Pedro Simon V. Exª disse tudo. Humberto angustiou-se muito e morreu com essa mágoa da profunda injustiça que se lhe cometeu.  

Agradeço, Sr. Presidente, pela atenção.  

Era essa a manifestação do meu coração ao amigo que me faz falta, ao Presidente do PMDB que faz falta. Sob seu comando o PMDB era unido e solidário. Não constrangia companheiros, nem os discriminava. Detestava a subserviência e repelia a deslealdade. As convenções eram limpas. Como Humberto está fazendo falta.  

 


Este texto não substitui o publicado no DSF de 14/04/1999 - Página 7998