Discurso no Senado Federal

HOMENAGENS POSTUMAS AO MINISTRO DAS COMUNICAÇÕES SR. SERGIO MOTTA.

Autor
Paulo Hartung (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/ES)
Nome completo: Paulo César Hartung Gomes
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • HOMENAGENS POSTUMAS AO MINISTRO DAS COMUNICAÇÕES SR. SERGIO MOTTA.
Publicação
Publicação no DSF de 20/04/1999 - Página 8567
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM POSTUMA, SERGIO MOTTA, MINISTRO DE ESTADO, MINISTERIO DAS COMUNICAÇÕES (MC), ELOGIO, ATUAÇÃO, AMBITO, GOVERNO, POLITICA PARTIDARIA.

SR. PAULO HARTUNG (PSDB-ES) - Sr. Presidente, Srªs. e Srs. Senadores, há quatro anos, quando o engenheiro Sérgio Motta assumiu o Ministério das Comunicações, os brasileiros sabiam pouco ou quase nada sobre ele. Basicamente, pelo o que estava sendo divulgado na época, que era empresário, amigo e sócio do Presidente Fernando Henrique Cardoso e que havia sido o coordenador financeiro da campanha presidencial. Mas não demorou muito tempo para que todos, especialmente no cenário político, percebessem que estavam diante de um dos mais fortes pilares do novo Governo.  

Durante os três anos em que ficou à frente do Ministério das Comunicações, administrando um orçamento anual de bilhões de reais, mostrou-se um homem determinado, apaixonado por suas convicções e decidido a dar sua contribuição para fazer o Brasil avançar social e economicamente. Revelou-se um grande operador político e um excelente gerente. Carinhosamente, passou a ser chamado de "trator" por seus companheiros e amigos. Hoje, um ano após a sua morte, não há como deixar de registrar a saudade que deixou e de reverenciar sua trajetória política.  

Figura inegavelmente controvertida, Serjão, como todos se acostumaram a chamá-lo, começou a militar na política no início da década de 60, fazendo campanha para o amigo José Serra, que disputava a presidência da União Nacional dos Estudantes. Filho de um técnico de raio x de origem portuguesa e criado na Mooca, ele cursava, na época, engenharia industrial na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. Em 1962, ajudou a formar a Ação Popular (AP), movimento de esquerda nascido da Juventude Universitária Católica (JUC). Ele foi o secretário-geral da organização. Foi na AP que Motta conheceu a mulher com quem se casou: dona Wilma, com quem teve três filhas.  

Em 1968, com a prisão de boa parte dos dirigentes da AP, Motta assumiu informalmente seu comando. No início da década de 70, já como sócio de uma empresa de projetos de engenharia, a Hidrobrasileira, tornou-se um importante sustentáculo da esquerda brasileira, que havia sido esmagada pelo regime militar. Prestava ajuda financeira a militantes de diferentes organizações, que estavam sendo perseguidos pela ditadura.  

Como empresário, ele também apoiou, durante seis anos, um dos principais veículos de comunicação de oposição da época: o importante jornal Movimento. Em 1981, quando a publicação fracassou, Motta acabou assumindo a negociação com os credores e com os prestadores de serviço. Foi nessa época que ele conheceu aquele que viria a se transformar em um de seus melhores amigos: o sociólogo Fernando Henrique Cardoso, que colaborava com o semanário.  

Motta foi um dos principais cabos eleitorais de Fernando Henrique, quando este disputou sua primeira eleição, em 1978, como candidato ao Senado, tendo alcançado a segunda colocação e garantido, assim, a vaga de suplente do Senador Franco Montoro. Dessa época em diante, eles não se separaram mais. Militaram juntos no antigo MDB, no PMDB e depois no PSDB. Quando se elegeu Presidente, Fernando Henrique o nomeou ministro das Comunicações, colocando em suas mãos um invejável orçamento e sob sua tutela três das maiores empresas estatais do mundo: a Telebrás, a Embratel e os Correios.  

Como ministro, Motta - contrariando interesses no poder público e na iniciativa privada - revolucionou as telecomunicações. Elaborou toda a reestruturação da área de telecomunicações, profissionalizando e dinamizando o setor. Implantou o sistema de licitações para TV e Rádio. Baixou o preço dos telefones nas grandes cidades; abriu a banda B ao capital privado, garantindo celular barato à população; retomou os investimentos nos Correios; e preparou o caminho para a privatização do sistema de telecomunicações do Brasil, formado pela holding Telebrás e suas 27 operadoras nos Estados.  

Como forma de garantir vantagens para a União no processo, Motta decidiu licitar a banda B do serviço celular privado, que não existia, antes mesmo de oferecer ao mercado as teles e a banda A. A transação foi um sucesso. No leilão da banda B na Grande São Paulo, o consórcio liderado pela empresa americana Bell South e pelo banco Safra venceu a disputa, com uma oferta de R$ 2,6 bilhões.  

O lance ficou 341% acima do preço mínimo fixado pelo Governo e R$ 1 bilhão além do que ofereceu o segundo colocado. O preço ultrapassou todas as projeções mais otimistas feitas pelos analistas especializados. A gestão dele, inquestionavelmente, gerou resultados positivos para o país. Estima-se que até 2003 a iniciativa privada terá investido cerca de US$ 95 bilhões em telefonia no Brasil.  

Motta também organizou o processo de privatização das teles brasileiras. Mas, infelizmente, não teve tempo de executar o que projetou. A execução ficou a cargo de um de seus grandes amigos e seu sucessor no Ministério das Comunicações, Luiz Carlos Mendonça de Barros, que, sem dúvida, realizou o trabalho com uma enorme competência. O resultado financeiro da venda desse importante ativo é uma prova disso: a União arrecadou mais de R$ 20 bilhões com a operação.  

Motta, no entanto, não foi eficiente apenas no âmbito administrativo. Respeitado e temido, foi uma das figuras centrais do Governo Fernando Henrique Cardoso também na esfera política. Comprou briga tanto com os adversários quanto com os aliados. Além do mais, era um dos únicos, senão o único, com coragem suficiente para romper a conveniência de dizer ao Presidente apenas o que ele gostaria de escutar.  

Doze dias antes de morrer, minutos antes de ser transferido para a Unidade de Terapia Intensiva (UTI) e perder a consciência, Motta escreveu uma carta ao Presidente. Em fax manuscrito, disse ao amigo palavras que merecem ser agora repetidas: "Não se apequene. Cumpra seu destino histórico. Coordene as transformações do país. Não são processos conjunturais que deverão alterar ou afetar nossas políticas de transformação do Brasil."  

Motta, como já disse, era um bom operador político e um gerente exemplar. Com ele, o PSDB e o Governo - justiça seja feita - pareciam ter mais alma. Eram muito mais vigorosos. E essa constatação leva-me a repetir um alerta que fiz pela primeira vez, por ocasião de meu primeiro discurso nesta Casa: "Estamos perigosamente nos afastando do objetivo de um Estado democrático moderno, forte e eficiente. Precisamos corrigir o rumo do país enquanto há tempo."  

Encerrando o meu pronunciamento, gostaria de repetir ainda as palavras ditas, logo após a morte de Serjão, por duas das mais importantes lideranças políticas do país: o Presidente Fernando Henrique Cardoso e o Governador de São Paulo, Mário Covas. De Covas, ouvimos: "Motta era um homem de imensa coragem. Um exemplo de conduta pública e pessoal a ser seguida. Se envolvia de corpo inteiro em todas as empreitadas. Tomava partido, com convicção e empenho, se envolvendo até mais do que o interessado." Neste instante, tomo como minhas as declarações desse grande líder. Motta era exatamente isso.  

Já o Presidente disse: "A memória de Sérgio vai servir, sempre, de inspiração para todos nós que acreditamos que é possível mudar as coisas para melhor; que é preciso ter um compromisso com o país e com o povo." Não tenho dúvidas de que Motta, saudoso e dileto amigo, gostaria de ser lembrado justamente dessa forma. Ou seja, como alguém que lutou - de corpo e alma - pela redemocratização e pelo desenvolvimento sustentado do Brasil. Por isso, estou convicto de que as homenagens póstumas não devem se limitar às palavras. A melhor maneira de homenagearmos o nosso Serjão é avançar na aprovação das reformas no Congresso Nacional e implantar , com coragem, uma agenda que recoloque o país no caminho do desenvolvimento econômico e social.  

Muito obrigado.  

 

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Este texto não substitui o publicado no DSF de 20/04/1999 - Página 8567