Discurso no Senado Federal

COMEMORAÇÃO DO TRIGESIMO NONO ANIVERSARIO DE BRASILIA.

Autor
Luiz Estevão (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/DF)
Nome completo: Luiz Estevão de Oliveira Neto
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • COMEMORAÇÃO DO TRIGESIMO NONO ANIVERSARIO DE BRASILIA.
Aparteantes
Edison Lobão, Maguito Vilela.
Publicação
Publicação no DSF de 21/04/1999 - Página 8600
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM, ANIVERSARIO, CAPITAL FEDERAL.
  • HOMENAGEM, AUTORIDADE, POPULAÇÃO, CONSTRUÇÃO, BRASILIA (DF), DISTRITO FEDERAL (DF).

O SR. LUIZ ESTEVÃO (PMDB-DF. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente desta sessão do Senado da República; meu caro amigo Vice-Governador de Brasília, ex-Deputado Benedito Domingos; caros colegas Senadores; líderes políticos presentes; nobre amigo Presidente do PSDB do Distrito Federal, Gustavo Ribeiro; Presidente do Ibama do Distrito Federal, Salviano Guimarães; meu caro Ildeu de Oliveira; Secretário de Segurança Pública do Distrito Federal, Dr. Paulo Castelo Branco; Secretário de Planejamento do Distrito Federal e ex-Senador Leonel Paiva; demais lideranças políticas aqui presentes; senhoras e senhores; meus caros amigos estudantes do Distrito Federal, nova geração de brasilienses que vai tomar conta da nossa Capital na entrada do próximo século, bem-vindos a esta sessão de homenagem à cidade que tanto amamos.  

Ainda ontem tive oportunidade, na Câmara Legislativa do Distrito Federal, de dar seguimento a uma das ações que mais me gratificaram durante os quatro anos em que desempenhei, por delegação do povo do Distrito Federal, o mandato de Deputado Distrital. Refiro-me à sessão solene da Câmara Legislativa que homenageou, com a outorga do título de Cidadão Honorário de Brasília, por minha iniciativa, quando ainda Deputado, aquele que ocupa com muito destaque o lugar de honra na Mesa Diretora desses trabalhos, o nosso querido Toniquinho.  

E quem é Toniquinho?  

Quero aqui continuar a explanação feita pelo caro colega, Senador José Roberto Arruda, autor, juntamente comigo e com o Senador Lauro Campos, do requerimento que enseja a realização desta sessão de comemoração dos 39 anos da nossa cidade. E quero dar um destaque muito especial ao Toniquinho, para mostrar a importância muitas vezes do incidente ou do acidente ou do fato acidental na trajetória de um político, na trajetória de um país. Porque a idéia de interiorizar a Capital do Brasil não era nova nem datava dos últimos cinqüenta anos. Na verdade, datava de mais de 200 anos, quando começaram a ser propostas mudanças da Capital do litoral para o interior do Brasil. Em verdade, interior do Brasil, conquistado pela audácia dos homens brasileiros desde o início da nossa colonização, já que, à luz da lei e do Tratado de Tordesilhas, o nosso País se encerrava aqui. Mas foi o arrojo do povo brasileiro, foi o desafio de procurar superar dificuldades que proporcionou ao Brasil a construção desse território extraordinário que o coloca como um dos quatro países de maior extensão territorial do mundo.  

E essa idéia já estava presente na Constituição do Brasil desde mais de cem anos. Mais do que isso, diversas missões demarcatórias do sítio onde deveria situar-se a Capita do Brasil já haviam sido realizadas - a mais notável delas, a empreendida por Luiz Cruls.  

Mas foi na noite de 04 de abril de 1955 - portanto, há 44 anos - que o Presidente Juscelino Kubitschek, querendo iniciar sua campanha à Presidência da República justamente pelo interior do Brasil, e tendo escolhido a pequena mas ilustre e honrada Cidade de Jataí - terra natal no nosso companheiro, Senador Maguito Vilela - para o seu primeiro comício, foi surpreendido por um inacreditável temporal, que frustrou a realização da festa e fez com que o comício do candidato a Presidente se realizasse em cima de um caminhão para um público que se aglomerava debaixo de um precário galpão. E foi nessa conversa íntima - talvez, se tivesse havido a festividade programada não teria acontecido -, foi pela intimidade daquele ambiente que foi possível a um jovem advogado, no atrevimento e no arrojo da sua juventude, formular a pergunta que iria mudar a história do Governo Juscelino e a história do nosso Brasil: Toniquinho pediu a palavra e perguntou ao Presidente - como foi dito aqui - se ele cumpriria a Constituição mudando para o interior do Brasil a Capital da República.  

E quem diz é o próprio Juscelino, que foi tomado de surpresa pela pergunta, porque, embora tivesse conhecimento do dispositivo constitucional, jamais, em sua plataforma de governo, havia pensado na interiorização da capital e na construção de Brasília. Refeito do susto, grande político e grande estadista que era - e é, na memória de todos nós - respondeu-lhe que sim, que a partir daquele momento o desafio de construir uma nova Capital passaria a ser a grande meta do seu Governo. E dedicou-se de corpo e alma à obra que o tornaria o grande Presidente de todos os tempos: a construção da nossa Capital, a interiorização do desenvolvimento do Brasil.  

Meu caro Toniquinho, acredito que Brasília tenha sido provocada por suas palavras. Talvez ocorresse mais tarde, pois ninguém poderia discordar da vinda da capital para o interior, mas certamente podemos dizer que, se não fosse a sua intervenção naquele momento, talvez a História fosse outra.  

Para falar da criação de Brasília, busquei algumas frases ditas pelos notáveis brasileiros que foram os grandes comandantes dessa tarefa. A primeira delas é de Israel Pinheiro, que, junto com Ernesto Silva, junto com o Coronel Afonso Heliodoro e com outros bravos brasileiros, foi o grande comandante do processo de construção da cidade. Disse Israel Pinheiro: "O espírito de Brasília é tudo o que há de contrário ao derrotismo sistemático em nosso País". Frase de profunda sabedoria, que deveria ser repetida a todo momento para todos os brasileiros, porque é preciso que o Brasil compreenda que foi graças ao empenho de Juscelino em vencer o derrotismo sistemático que o País pôde dar aquele salto de qualidade, de tecnologia, de inserção no mundo moderno, de industrialização, de ocupação de seu território, de liberdade, de direitos humanos - exemplo imorredouro da maneira como o País foi governado naquela época.  

É preciso que essas palavras estejam vivas, principalmente, no coração da juventude - juventude que é assoberbada e atropelada todos os dias pelas notícias de crise, de inviabilidade do País, de impossibilidade de dar ao Brasil o destino que, sem dúvida alguma, a História lhe reserva.  

Grande equívoco. O nosso País, apesar daqueles que duvidam dele, muito em breve - tenho confiança nisso e partilho essa confiança com todos os colegas Senadores -, pelo esforço do nosso povo, num regime democrático, aberto, transparente, haverá de se transformar na Nação que todos almejamos.  

Tomo aqui uma frase do grande idealizador do modelo de convivência humana no Distrito Federal...  

O Sr. Edison Lobão (PFL-MA) - Permite-me V. Exª um aparte?  

O SR. LUIZ ESTEVÃO (PMDB-DF) - Escuto, com muita satisfação, o aparte do Senador Edison Lobão.  

O Sr. Edison Lobão (PFL-MA) - Senador Luiz Estevão, a minha intervenção dirá respeito à frase de Israel Pinheiro. Antes, porém, quero cumprimentar V. Exª e os seus colegas do Distrito Federal, José Roberto Arruda e Lauro Campos, pela iniciativa que tiveram. Brasília merece esta homenagem, e Juscelino sobretudo, pela coragem que teve, pela competência com que administrou a construção e a mudança da capital. Sou um brasiliense e me orgulho disso - dos 39 anos de vida da cidade, aqui vivo há 37 anos. Quanto a Israel Pinheiro, quando Juscelino decidiu construir Brasília, sabia que precisava de alguém da têmpera de Israel Pinheiro, sem o que o seu projeto não iria adiante. Israel Pinheiro era, então, Deputado Federal e Presidente da Comissão Mista de Orçamento do Congresso Nacional. À época, essa comissão tinha grande importância, importância maior até do que a que tem hoje, porque podia alterar inteiramente a proposta do governo e fazer um orçamento novo, algo que hoje não é possível. Juscelino desejava convidar Israel Pinheiro, mas temia que ele dissesse não, exatamente pelo fato de ser Deputado Federal e Presidente daquela Comissão - ele teria que renunciar ao mandato de Deputado para aceitar a missão de construir Brasília. Juscelino decide então convidar Israel para ir a Minas, a Belo Horizonte - estavam no Rio de Janeiro. Sentaram-se lado a lado no avião. O avião levantou vôo, ambos silentes, sem ter o que conversar um com o outro. Juscelino, então, vira-se para Israel Pinheiro e lhe diz: "Israel, eu tinha vontade de lhe convidar..." Ao que ele respondeu: "Está aceito. Faz muito tempo que estou esperando este convite". Foi uma gargalhada geral no avião. Todos acharam aquilo muito interessante, abraçaram-se dentro do avião. E foi assim que Juscelino convidou e foi assim que Israel Pinheiro aceitou a tarefa hercúlea de construir a nova Capital do País. E aqui está Brasília: aos 39 anos, já conta com dois milhões de habitantes, servindo de pólo de integração nacional. Não fosse Brasília e o Brasil não seria o que é hoje: esta grande nação econômica e social. Cumprimentos a V. Exª.  

O SR. LUIZ ESTEVÃO (PMDB-DF) - Muito obrigado ao ilustre Senador Edison Lobão, brasiliense, verdade, desde os primeiros momentos (Palmas). Um jornalista que dedicou grande parte de sua vida a escrever a história da nossa cidade. S. Exª lembra o extraordinário desafio entregue a Israel Pinheiro: o de construir uma cidade em apenas três anos, de 1957 a 1960 - tarefa que, talvez, se tivesse sido confiada a outro, não teria sido cumprida com o sucesso do qual todos nós somos testemunhas, graças a Deus!  

Quero falar ainda sobre outro grande brasileiro, responsável pelo modelo de convivência que é hoje, na minha opinião, a maior qualidade da nossa cidade: quero falar aqui de Lúcio Costa. Lúcio Costa é, na minha visão, aquele que deu a Brasília todas as características que a diferenciam das outras cidades do mundo. Brasília já era, desde a sua concepção, muito antes do recente movimento que se observa para realçar a importância da natureza e da ecologia, uma cidade-parque. Já era uma cidade com o maior número de metros de área verde por habitante de todo o planeta. Assim foi porque Lúcio Costa, no limiar do aparecimento da indústria automobilística no Brasil, fez de Brasília, antevendo o futuro, uma cidade planejada em função da interação do automóvel e do ser humano, do automóvel como meio de transporte e como meio de vida para milhares de pessoas.

 

Ditas por esse extraordinário brasileiro, destaco duas frases. A primeira delas: "Concebi, assim, a capital: na escala de um Brasil definitivo".  

E onde é que vejo o Brasil definitivo de Lúcio Costa? Eu o vejo nos grandes espaços, no verde, na natureza e na possibilidade da existência das organizações comunitárias - se hoje o mundo inteiro se volta, cada vez mais, para prestigiar as pequenas associações, as pequenas prefeituras, as comunidades de bairro, Lúcio Costa foi o grande pioneiro disso, com a criação das superquadras e das unidades de vizinhança do Distrito Federal.  

Lembro outra frase de Lúcio Costa. Um dia, quando provocado por um daqueles que diziam que Brasília era uma cidade inóspita porque não tinha mar, do alto de sua extraordinária sabedoria e simplicidade, ele respondeu: "Olhe para cima. O mar de Brasília é o céu".  

Qualquer um de nós que olhe para cima perceberá a extraordinária beleza desse céu do Planalto Central. Mais do que isso: se perder a vista nos limites do horizonte, vai perceber aquilo que Brasília traz como mensagem para todos nós: a mensagem do infinito. A mensagem de saber que nesta cidade todo sonho é possível, porque, assim como o horizonte, todo sonho é infinito.  

Quero lembrar aqui outro grande brasileiro, Oscar Niemeyer, que até hoje, graças a Deus, debruçado sobre sua prancheta, contribui com o seu traço para a construção de grandes monumentos no Distrito Federal, começando pelo prédio que - ainda há trinta dias ele me dizia - é sua obra-prima, que é o Congresso Nacional. Nessa conversa, Oscar Niemeyer disse-me também da satisfação que sentia todas as vezes em que era chamado novamente para um pequeno retoque, para uma pequena atualização da sua obra monumental. Relatava-me, a propósito, que há poucos dias havia estado com o Presidente Antonio Carlos Magalhães para, justamente, tratar de pequenas adaptações nesta Casa que nos abriga e que abriga a plenitude da democracia do povo brasileiro.  

Disse Oscar Niemeyer: "Brasília foi criada para que possam viver aqui homens mais próximos, mais amigos, iguais principalmente". Comunista desde a sua juventude e ainda hoje, Oscar Niemeyer tinha como grande meta da sua arquitetura para Brasília a igualdade entre os homens. E assim fez: criou uma cidade na qual ele pretendia que convivessem senadores, ministros, deputados, funcionários públicos, motoristas e serventes, todos morando da mesma maneira, nos mesmos prédios, nas mesmas superquadras. Infelizmente, isso não foi possível, porque a pressão econômica e as desigualdades sociais acabaram, de certa forma, fazendo com que aquelas pessoas mais humildes não conseguissem permanecer no Plano Piloto.  

E aqui é preciso que se faça um registro. Quando se construiu Brasília se fez uma cidade administrativa, mas não se fez uma cidade onde deveriam ficar aqueles que vieram do Brasil inteiro para construir a nossa cidade. E daí começaram a surgir as cidades-satélites do Distrito Federal, que têm nesse motivo toda a sua origem.  

Na medida em que o governo não conseguia dar solução à questão urbanística da moradia, principalmente para baixa renda, foram criadas Taguatinga, Gama, Guará, Ceilândia e todas as cidades-satélites do Distrito Federal. E nunca é demais lembrar aqui que a Ceilândia, hoje com 450 mil habitantes, um dos maiores municípios brasileiros, tem o seu nome originário da palavra CEI, Campanha de Erradicação de Invasões, que possibilitou e forçou a construção daquela cidade, para abrigar aqueles brasileiros, como muitos de nós, que tiveram o direito de buscar em Brasília aquilo que Andre Malraux, ex-Ministro da Cultura da França e um dos maiores pensadores deste século, denominou de Capital da Esperança.  

Se Brasília foi esperança para mim, que era um estudante de 16 anos no Rio de Janeiro, teria que ser também a esperança para milhares e milhares de brasileiros, independente da sua condição cultural e social, que tiveram e têm o mesmo direito que eu e muitos de nós de buscar aqui uma melhor oportunidade de vida.  

Brasília esteve e estará sempre de braços abertos, como é a concepção do Plano Piloto, de Lúcio Costa, para dar aquilo que Oscar Niemeyer pensou fazer com a sua obra: ser uma cidade onde os homens possam viver mais próximos, mais amigos e, principalmente, iguais.  

Finalizando, quero-me reportar, aqui, a um grande brasileiro, ainda vivo, a quem tive a oportunidade também de conceder o título de Cidadão Honorário de Brasília, o ex-Governador José Aparecido de Oliveira, porque Brasília muito lhe deve, já que teve a iniciativa de inserir o projeto urbanístico do Plano Piloto na UNESCO, como Patrimônio Cultural da Humanidade. Graças a essa iniciativa do ex-Governador José Aparecido de Oliveira, podemos ter hoje Brasília preservada para as futuras gerações, porque é o mínimo de dever que temos para com esta cidade, ou seja, entregá-la àqueles que nos sucederão da maneira como a recebemos: íntegra, limpa, organizada na sua forma urbanística e com a preservação dos espaços, para que os brasilienses possam, permanentemente, crescer em contato com a natureza e com a liberdade.  

O Sr. Maguito Vilela (PMDB-GO) - Permite-me V. Exª um aparte?  

O SR. LUIZ ESTEVÃO (PMDB-DF) - Com muita alegria, ouço o aparte do Senador Maguito Vilela.  

O Sr. Maguito Vilela (PMDB-GO) - Sr. Senador Luiz Estevão, também quero associar-me a V. Exª, ao Senador José Roberto Arruda e ao Senador Lauro Campos, cumprimentando-os pela brilhantíssima idéia de prestar esta homenagem a nossa Capital Federal, Patrimônio da Humanidade, uma cidade realmente que empolga a todos que aqui residem e a todos que aqui acorrem. Quero agradecer a V. Exª, bem como ao Senador José Roberto Arruda, pela citação da minha queridíssima cidade de Jataí, quando Juscelino Kubitschek lá aportou, no dia 4 de abril de 1955, e fez o compromisso histórico de trazer a Capital da República para o Planalto Central. Quero agradecer, em nome da minha família, principalmente da minha irmã, que é esposa do Toniquinho, que fez a célebre pergunta para o Presidente, naquela tarde chuvosa a que V. Exª se referiu, se ele cumpriria o dispositivo das Disposições Transitórias da Constituição que determinava a transferência da Capital para o Planalto Central, sonho antigo de Dom Bosco e também de muitos brasileiros. Quero apenas fazer um registro: quando Governador de Estado, fiz questão de colocar um marco no local onde Juscelino Kubitschek iria fazer o seu pronunciamento, a praça Tenente Diomar Menezes - inclusive a Márcia Kubitschek, na época, esteve lá presente, representando toda a sua família -, mas, em função das chuvas, Juscelino e os líderes jataienses transferiram o seu pronunciamento para uma oficina mecânica da Studbaker - não sei se todos conheceram aqui, V. Exª é muito novo e talvez não tenha conhecido o caminhão Studbaker, o GMC. Foi numa oficina da Studbaker e, salvo engano, na carroceria de um caminhão, não sei se Studbaker ou GMC, que Juscelino Kubitschek fez o seu pronunciamento. E o Toniquinho, jovem ainda, no meio da multidão, levantou-se, encorajado pelo seu idealismo, e fez a célebre pergunta a JK, e ele não vacilou. Quero informar, Senador Luiz Estevão, que tenho a fotografia daquele exato momento em que o Toniquinho fazia a pergunta a Juscelino Kubitschek. Guardo essa fotografia comigo, como acho que outros brasileiros que a possuem também o fazem. Gostaria ainda de dizer que Jataí - poucos sabem disso e é importante para a nossa História - foi escolhida por Juscelino, em primeiro lugar, porque havia um médico que se formara com ele em Belo Horizonte e que era, à época, o maior líder político de Jataí, o Dr. Serafim de Carvalho. O segundo motivo pelo qual JK escolheu a minha cidade foi porque, proporcionalmente, no Brasil, era o maior reduto pessedista deste País. Por isso, ele lá esteve, iniciando a sua campanha política. Depois de Juscelino, outros Presidentes passaram por Jataí. De forma que é uma cidade que dá sorte. Aqueles que quiserem ser Presidente têm que passar por Jataí. Quero agradecer muito a citação de V. Exª ao meu cunhado, Toniquinho, marido da minha irmã mais velha, e dizer que o meu pai, vivo e lúcido com 96 anos de idade, participou também daquele memorável pronunciamento de JK. Naquela época, em 1955, já tinha 52 anos de idade. Portanto, em nome da minha família e em nome de todos os jataienses, agradeço muito a citação feita por V. Exª e pelo digno e ilustre Senador José Roberto Arruda. Muito obrigado pelo aparte.  

O SR. LUIZ ESTEVÃO (PMDB-DF) - Muito obrigado pelas palavras, Senador Maguito Vilela, que teve a oportunidade de enriquecer e muito esse pronunciamento acerca dos 39 anos de Brasília, lembrando o quanto Brasília deve a Goiás, já que é de parte de seu território que se compõe todo o território do nosso Distrito Federal.  

Mas Brasília não é só obra. Brasília não é só urbanismo. Brasília não é só um modelo novo de desenvolvimento para o nosso País. Brasília são os jovens. Brasília são aqueles que vieram para cá e levaram o nome de nossa cidade para o mundo inteiro, enchendo o Distrito Federal, o Brasil e os brasileiros de glória.  

Falar de Joaquim Cruz, um menino pobre da Ceilândia que se tornou um campeão olímpico representando o Brasil. Falar de Carmem de Oliveira, uma moça pobre de Sobradinho que é uma das maiores corredoras de fundo de nosso País. Falar de Nelson Piquet, filho de um ex-Parlamentar do Congresso Nacional, tri-campeão mundial de Fórmula 1. Falar de Oscar, que até hoje pratica o basquete, que se tornou uma das grandes glórias do esporte brasileiro e mundial. Vamos falar de arte. Vamos falar de Oswaldo Montenegro. Vamos falar de Cássia Eller e, principalmente, de Renato Russo e da sua Legião Urbana. Vamos falar da medicina, do Dr. Aloysio Campos da Paz. A Medicina muitas vezes tão criticada em Brasília e que tem nesse nome uma das grandes glórias da Medicina no País e em todo o mundo. Por sinal, um médico pioneiro, contemporâneo do Dr. Ernesto Silva na nossa cidade.  

Minhas senhoras, meus senhores, como o Senador Arruda, como eu, muitos brasilienses e brasileiros ficaram profundamente magoados com o que ouviram no programa do Jô Soares ontem à noite. Quero dizer que precisamos, mais do que nunca, que as pessoas conheçam Brasília, conheçam seu povo, sua luta, sua importância na interiorização e no desenvolvimento do Brasil, antes de criticá-la. A nossa cidade tem defeitos e problemas, como tudo o que o ser humano construir na vida terá defeitos e terá problemas. Aliás, Deus nos fez com as imperfeições. E se quisesse, com a Sua onisciência, com a Sua onipresença, com a Sua onipotência, poderia ter feito a todos perfeitos. E se fôssemos perfeitos, nossas obras talvez fossem perfeitas. Mas se fôssemos perfeitos, seríamos tão egoístas que não precisaríamos nem uns dos outros e nem dEle.

 

Portanto, quero responder a Jô Soares, pedindo-lhe que conheça Brasília, seja justo com a nossa cidade e que não esqueça nunca das palavras de Juscelino Kubitschek, com as quais encerro essa oração.  

Disse Juscelino:  

"Deixemos entregues ao esquecimento e ao juízo da História os que não compreenderam esta obra".  

Muito obrigado. (Palmas)  

 


Este texto não substitui o publicado no DSF de 21/04/1999 - Página 8600