Pronunciamento de Carlos Patrocínio em 22/04/1999
Discurso no Senado Federal
TRANSCRIÇÃO DA MATERIA 'MILHARES DE TESES ESQUECIDAS NAS ESTANTES', PUBLICADA NA REVISTA BRASILEIRA DE QUESTÕES ESTRATEGICAS, DE JANEIRO/FEVEREIRO, DE 1999, SOBRE A DIFUSÃO DO CONHECIMENTO PELAS UNIVERSIDADES.
- Autor
- Carlos Patrocínio (PFL - Partido da Frente Liberal/TO)
- Nome completo: Carlos do Patrocinio Silveira
- Casa
- Senado Federal
- Tipo
- Discurso
- Resumo por assunto
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ENSINO SUPERIOR.:
- TRANSCRIÇÃO DA MATERIA 'MILHARES DE TESES ESQUECIDAS NAS ESTANTES', PUBLICADA NA REVISTA BRASILEIRA DE QUESTÕES ESTRATEGICAS, DE JANEIRO/FEVEREIRO, DE 1999, SOBRE A DIFUSÃO DO CONHECIMENTO PELAS UNIVERSIDADES.
- Publicação
- Publicação no DSF de 23/04/1999 - Página 8725
- Assunto
- Outros > ENSINO SUPERIOR.
- Indexação
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- COMENTARIO, FALTA, UTILIZAÇÃO, PESQUISA CIENTIFICA, UNIVERSIDADE.
- COMENTARIO, SOLUÇÃO, BUSCA, UNIFORMIDADE, REDUÇÃO, DISPARIDADE, CRIAÇÃO, REFORÇO, SISTEMA, INTERCAMBIO CIENTIFICO, COOPERAÇÃO, INSTITUIÇÃO EDUCACIONAL, ENSINO SUPERIOR.
- SOLICITAÇÃO, TRANSCRIÇÃO, ANAIS DO SENADO, DOCUMENTO, ASSUNTO, REGIÃO AMAZONICA.
O SR. CARLOS PATROCÍNIO (PFL-TO) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, trago, hoje, à reflexão deste Plenário, um paradoxo que me tem intrigado: a universidade brasileira, embora vivendo na chamada "era da comunicação", não consegue difundir, com a amplitude e a celeridade necessárias, o conhecimento produzido por intermédio das atividades de pesquisa.
De Norte a Sul do Brasil, centenas ou, talvez, milhares de teses de doutorado e dissertações de mestrado jazem nas estantes das universidades. Raras são as obras que conseguem transitar no próprio circuito acadêmico, para não falar daquelas, pouquíssimas, que conseguem difusão fora dos limites universitários. Trata-se, em geral, de obras que abordam temas ou autores polêmicos, ou que foram produzidas por pesquisadores que já desfrutam de alguma notoriedade.
É verdade que, com o advento da Informática e da INTERNET, já se pode colocar em rede pelo menos os títulos de muitos desses trabalhos, para serem, eventualmente, aproveitados. Entretanto, o acesso à INTERNET não pode ser considerado a única forma de promover o intercâmbio de informações e a socialização do conhecimento.
Diariamente, centenas de textos produzidos por estudantes e pesquisadores de todo o Brasil são esquecidos em gavetas sem que ninguém tome conhecimento de sua existência. Esses textos representam o esforço de seus criadores, um trabalho de pesquisa que, apesar de parecer meramente temporário, é um registro vivo das idéias e da capacidade de cada um.
Essa grande parcela desprezada do conhecimento humano não pode ser simplesmente taxada de insignificante e esquecida, ela é uma grande fonte de informações que deve ser divulgada o mais amplamente possível, para que não se perca e para que contribua com a formação de novos textos e, quem sabe, com o surgimento de novas idéias.
Não é exagero afirmar que a estrutura universitária brasileira tornou-se pesada demais para responder a contento às necessidades de democratização do saber e de agilidade na divulgação das informações.
Entretanto, Srªs e Srs. Senadores, a disfunção da universidade em relação à democratização do conhecimento parece não causar incômodo algum. Sabe-se que, de uns tempos para cá, grassa em certos seguimentos da burocracia estatal a crença de que, em face da disponibilidade crescente de tecnologia internacional, a geração de ciência própria pode ser pretensão demasiada - quiçá dispensável - a países como o Brasil.
Grave equívoco desdoura esse princípio, tão devastador quanto apressado. É a pesquisa que propicia a algumas de nossas universidades manterem algum padrão de compatibilidade internacional em certas áreas de Física, da Química, das Engenharias e das Ciências Biológicas. E somente um sistema de divulgação dessa pesquisa permitiria estabelecer-se um sistema de qualificação das universidades emergentes a partir de redes de intercâmbio com as instituições mais experientes e melhor aparelhadas, propiciando, assim, a criação de nichos regionais de produção científica e tecnológica por meio do desenvolvimento de projetos temáticos de pesquisa e de programas conjuntos de pós-graduação.
É preciso ter em conta que das 2.000 teses de doutorado produzidas no País, por ano, cerca de 80% saem do eixo São Paulo-Rio, realidade absolutamente oposta, por exemplo, à dos Estados Unidos, que têm uma produção científica de 200.000 teses ao ano, sem que, entretanto, nenhuma universidade norte-americana ultrapasse o patamar do milheiro anual.
A busca de maior homogeneidade e a redução das disparidades regionais só se fará, com certeza, dotando-se as universidades emergentes de capacidade para a pesquisa, e não destituindo-as dessa prerrogativa universalmente desejável.
Parece claro, Srªs e Srs. Senadores, que isso se conseguirá somente a partir de um grande e programático esforço de ajuda mútua e de aproximação das qualidades, e não do aprofundamento das diferenças do sistema.
A criação e o fortalecimento de sistemas de intercâmbio e cooperação entre as instituições de ensino superior e entre essas e a sociedade é uma estratégia relevante para permitir à universidade o melhor desempenho de sua função precípua.
Uma primeira razão de ser da Universidade é trazer a debate questões atinentes ao interesse da sociedade. A Universidade é uma instituição que visa formar consciências, desenvolver a cidadania, não podendo ser reduzida a mera agência de preparação de mão-de-obra. Assim, a Universidade não pode manter o seu conhecimento confinado em suas impenetráveis "torres de marfim".
A comunicação, hoje, é um fenômeno complexo e global que envolve todos os seres humanos, em suas múltiplas dimensões, pessoais e sociais. Não basta, portanto, à Universidade formar apenas difusores de comunicação. Vivendo no mundo da comunicação, a função da Universidade implica em formar profissionais capazes de fazer comunicação, mas também ser, ela mesma, um centro de comunicação por excelência, gerador e difusor de conhecimento.
Sr. Presidente, solicito que conste dos Anais a matéria intitulada: "Amazônia: a próxima guerra?"
Muito obrigado.