O SR. FERNANDO BEZERRA (PMDB-RN. Para uma comunicação inadiável. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, venho à tribuna desta Casa para comunicar - o que talvez todos já saibam - que, ao final da tarde de ontem, recebi, do Excelentíssimo Senhor Presidente da República, um honroso convite para que eu assumisse, nesta Casa, a Liderança do Governo.  

Confesso que, quando as primeiras sondagens em torno do meu nome foram feitas, hesitei em aceitar, não em desapreço ao Governo, não em desapreço ao Presidente da República, pois tenho por Sua Excelência a mais profunda admiração e o reconhecimento pela grande obra que faz pelo nosso País. Não fosse, assim, o meu Partido, o PMDB, não seria um dos Partidos que integram a base de sustentação do Governo. Havia uma decisão do próprio Governo de que a Liderança, nesta Casa, devesse ser exercida por um Senador que fizesse parte do Partido, que é majoritário, o meu Partido, o PMDB.  

Sei que, dentro do meu Partido, nomes da mais elevada expressão tenham, com certeza, condições de exercer essa difícil tarefa em condições muito melhores do que eu. Entretanto, as circunstâncias em que foi posta essa questão, fizeram-me com que aceitasse - e o faço com a mais absoluta convicção de que empenharei todo esforço da minha capacidade, da minha inteligência, para suprir essas deficiências e atender ao chamado do Senhor Presidente da República. Hesitei, porque, na condição de Presidente da Confederação Nacional da Indústria, podia parecer aos empresários ou aos Senadores que isso pudesse se constituir na possibilidade de um conflito no exercício da Liderança do Governo nesta Casa. No entanto, posso assegurar, depois de auscultar os meus Pares, empresários na Confederação Nacional da Indústria, de pesquisar em profundidade a moderna agenda da indústria brasileira, que é coincidente com a agenda do País e com agenda do Governo, nunca, enquanto exerci a Presidência da Confederação Nacional da Indústria, uma agenda corporativa com objetivos menores, que não fossem os objetivos de melhoria do nosso País.  

Atendi ao apelo do Líder do meu Partido, que generosamente me escolheu entre tantos nomes que certamente - repito - possuem melhores condições do que eu para o exercício desse cargo.  

A agenda do Governo é pautada pelo desenvolvimento econômico, pelo qual tenho lutado permanentemente nesta Casa e fora dela. Luto para que este País consiga o desenvolvimento econômico sustentado, a partir de certos pressupostos.  

Tenho lutado pela reforma tributária, que não é uma prioridade dos empresários, mas da sociedade brasileira. Não seremos capazes de reduzir as profundas desigualdades sociais em que vivemos se não tivermos a capacidade de alavancar, de forma sustentada e definitiva, o desenvolvimento econômico capaz de gerar emprego e renda.  

Ouvi ontem uma frase do Professor Affonso Celso Pastore, que coincide com o ponto de vista que também tenho defendido, ou seja, de que é preciso ter tolerância zero em relação ao ajuste fiscal, que aqui nesta Casa votei, compreendendo o enorme sacrifício que se impunha ao setor produtivo brasileiro, mas no pressuposto de que, a partir dele, teria o nosso País condições de alcançar o desenvolvimento sustentado.  

Outras propostas virão: a reforma do judiciário, a reforma política - tão importante e em andamento nesta Casa -, a reforma da legislação trabalhista, o complemento da reforma da Previdência. Precisamos aprovar a lei de responsabilidade fiscal.  

Esses são tópicos de uma agenda da indústria brasileira, mas também de uma agenda da sociedade brasileira, da classe política e do Governo Fernando Henrique Cardoso, que tenho a honra de, a partir de hoje, liderar nesta Casa.  

A recuperação econômica do Brasil não foi apenas um lance de sorte que surpreendeu o mundo e os brasileiros; foi fruto de um trabalho precedido pelas privatizações, pela abertura, pelos ganhos de produtividade fantásticos que teve o setor produtivo brasileiro, pela integração regional com o Mercosul e pela desindexação.  

Portanto, Srs. Senadores, não existe a menor possibilidade de conflito. Se essa possibilidade existisse, não teria eu a coragem de assumir - como faço agora com toda a humildade - a Liderança do Governo.  

De um modo particular, agradeço a confiança do meu Partido, que me indicou ao Senhor Presidente Fernando Henrique Cardoso. Contudo, em primeiro lugar, agradeço a Sua Excelência pela confiança em mim depositada para exercer tarefas tão graves e responsáveis neste instante da vida pública do País.  

É preciso que eu conte com o apoio dos meus Pares nesta Casa, dos Líderes dos Partidos: do PSDB, Senador Sérgio Machado; do PFL, Senador Hugo Napoleão; do Líder do meu Partido, Senador Jader Barbalho; do Líder do PPB, Senador Luiz Otávio; do Líder dos Partidos todos da base de sustentação do Governo e também da Oposição.  

Preciso da compreensão da Oposição para que possamos estabelecer um diálogo elevado, pois não tenho a menor dúvida de que ela também contribui de forma definitiva para o desenho de um País que seja menos desigual e que possa efetivamente ser motivo de orgulho para todos os brasileiros pelo grau de desenvolvimento que demonstraremos ser capazes de alcançar.  

Reconheço mais uma vez, humildemente, as minhas deficiências. Reconheço que, dentro do meu Partido e fora dele, na base de sustentação do Governo, certamente há nomes com muito mais experiência, muito mais capacidade, muito mais vivência política do que eu. Tentarei suprir todas essas deficiências pelo esforço que farei e certamente pela convicção que tenho de que contarei com as Lideranças do Governo nesta Casa e contarei sempre com a compreensão da Oposição, para um diálogo que se deve orientar pelos interesses maiores deste País.  

Muito obrigado, Sr. Presidente.