Discurso no Senado Federal

REGOZIJO COM A INAUGURAÇÃO DO PRIMEIRO TRECHO DA FERRO-NORTE, ONTEM, EM SOLENIDADE REALIZADA NA CIDADE DE CHAPADÃO DO SUL-MS.

Autor
Ramez Tebet (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/MS)
Nome completo: Ramez Tebet
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA DE TRANSPORTES.:
  • REGOZIJO COM A INAUGURAÇÃO DO PRIMEIRO TRECHO DA FERRO-NORTE, ONTEM, EM SOLENIDADE REALIZADA NA CIDADE DE CHAPADÃO DO SUL-MS.
Aparteantes
Blairo Maggi, Ney Suassuna.
Publicação
Publicação no DSF de 02/06/1999 - Página 14151
Assunto
Outros > POLITICA DE TRANSPORTES.
Indexação
  • COMENTARIO, IMPORTANCIA, INAUGURAÇÃO, TRECHO, FERROVIA, LIGAÇÃO, MUNICIPIO, CHAPADÃO DO SUL (MS), APARECIDA DO TABOADO (MS), ESTADO DO MATO GROSSO DO SUL (MS), VIABILIDADE, REDUÇÃO, PREÇO, FRETE, PRODUÇÃO AGRICOLA, DESTINAÇÃO, PORTO DE SANTOS, AUMENTO, CONCORRENCIA, MERCADO INTERNACIONAL.
  • HOMENAGEM, OLACYR DE MORAES, EMPRESARIO, EMPENHO, CONSTRUÇÃO, FERROVIA.
  • CUMPRIMENTO, ANTONIO MACIEL NETO, PRESIDENTE, CONSORCIO, RESPONSAVEL, CONSTRUÇÃO, FERROVIA, ESTADO DO MATO GROSSO DO SUL (MS).

O SR. RAMEZ TEBET (PMDB-MS. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, para quem há algum tempo não ocupa esta tribuna, neste plenário, envolvido que estamos com a responsabilidade de presidir a CPI do Judiciário, não poderia iniciar o pronunciamento sem agradecer ao Senador Tião Viana pela gentileza de permitir que, em seu lugar, por cessão, eu pudesse matar a saudade desta tribuna. E faço isso para festejar um momento auspicioso neste País, um momento que vivemos ontem no Centro-Oeste, particularmente em Mato Grosso do Sul, na região denominada Bolsão Sul-Mato-Grossense, mais precisamente no Município de Chapadão do Sul, no meu Estado, o Estado de Mato Grosso do Sul.  

Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, ontem, nós deixamos de comparecer e de presidir a reunião da Comissão Parlamentar de Inquérito, porque entendíamos - e o nosso coração pediu - que deveríamos estar em Mato Grosso do Sul. Até não compreendo como o fato vivido ontem não está amplamente noticiado na imprensa nacional, tamanha a importância econômica e social para o desenvolvimento deste País.  

Sr. Presidente, Srªs. e Srs. Senadores, lá no Chapadão do Sul, estiveram presentes o Ministro Eliseu Padilha, os Governadores de Mato Grosso do Sul, José Orcílio dos Santos, e de Mato Grosso, Dante de Oliveira, deputados federais, prefeitos da região, este Senador que ocupa a tribuna e o Senador Blairo Maggi. Esse conjunto de pessoas, juntamente com a população daquela região, pôde viver, ontem, um instante muito emocionante, ao assistir a um cortejo de 120 vagões, cada um deles com 6.000 toneladas de soja, empurrados por duas locomotivas, tudo dentro da mais absoluta técnica e da mais absoluta modernidade, inaugurando, assim, o primeiro trecho da Ferro-Norte. São cerca de 310km de trilhos de estrada-de-ferro já construídos, partindo da cidade que mais produz grãos em Mato Grosso do Sul, que é o Chapadão, e chegando a Aparecida do Taboado, para ali atravessar uma ponte rodoferroviária de quase 3 km, a maior obra de engenharia em matéria de ponte neste País; e do lado de lá, em Rubinéia, no Estado de São Paulo, encontrar-se com a Fepasa. Ali, o produto do trabalho dos agricultores pode chegar ao Porto de Santos com redução no preço do frete da ordem de R$21,00 por tonelada, tornando, portanto, os nossos produtos mais competitivos no mercado internacional e gerando mais divisas para o País.  

Sinceramente, não posso compreender como é que um evento dessa grandeza não esteja sendo comemorado pelo Brasil, este País carente de desenvolvimento e cujo desenvolvimento tem que partir do interior, como temos afirmado reiteradas vezes aqui desta tribuna.  

Ontem, Sr. Presidente, Srª e Srs. Senadores, vimos um sonho tornar-se realidade. E dizíamos lá que, quando um sonho fica só com uma pessoa, ele não vira nada, mas quando esse sonho passa a ser de muitas pessoas, então ele se torna realidade. Euclydes da Cunha, em sua famosa obra Os Sertões , já previa, já decantava a necessidade dessa interligação, já falava nessa ligação ferroviária, saindo de Cuiabá e chegando até o Porto de Santos. E nós vivemos esse instante, Srs. Senadores, com muita emoção, porque vi ali um ex-Senador por Mato Grosso, Vicente Vuolo, que fez dessa luta a sua bandeira nesta Casa, nos oito anos que aqui esteve, lutou ferrenhamente para que esse sonho se tornasse realidade. E prestamos a nossa homenagem ali e queremos reiterar desta tribuna a nossa homenagem ao empresariado brasileiro, nessa obra representada pela audácia, pelo tino administrativo e pelo sentimento cívico do empresário Olacyr de Moraes, que ali estava, Sr. Presidente e Srs. Senadores, festejando aquela obra que ele sonhou, incialmente, em fazer sozinho e, depois, infelizmente, não conseguindo esse intento, acabou sendo realizada por um consórcio.  

Então, Sr. Presidente e Srs. Senadores, ocupo esta tribuna para fazer esse registro. Foi emocionante ver aqueles 120 vagões carregados e perceber que as coisas podem andar - e estão andando - e que o interior produz. Vi nos rostos dos agricultores daquela região a felicidade, brasileiros vindos do Rio Grande do Sul, do Paraná, de Santa Catarina, que adentraram o território sul-mato-grossense e, lá no Chapadão do Sul, com a sua técnica , com o seu arrojo, tornaram aquela região, antes inóspita, numa grande produtora de grãos. Agora, mais incentivados e estimulados a prosseguirem nessa grande tarefa, porque esse é o primeiro trecho que está sendo inaugurado, com 310km de um total de 1.200Km, que chegarão em Alto Taquari, em Mato Grosso, chegarão em Cuiabá e unirão, portanto, a Amazônia Legal e o Centro-Oeste ao restante do nosso País, favorecendo a agricultura brasileira, ajudando os nossos agricultores, o nosso progresso e o nosso desenvolvimento.  

O Ministro Eliseu Padilha lá estava - S. Exª que tantas vezes tem visitado o nosso Estado - representando o Presidente da República, ao lado de Governadores, ao lado de Deputados Federais, e, pelo Senado da República, estava o Senador Blairo Maggi e este orador que está nesta tribuna.  

Lembro-me, Sr. Presidente, que quando aqui cheguei, em 1995, em um dos meus primeiros pronunciamentos, pedi ao Governo Federal que liberasse recursos para a construção da ponte rodoferroviária ligando São Paulo a Mato Grosso do Sul, através dos Municípios de Rubinéia à Aparecida do Taboado; essa ponte, repito, é um verdadeiro orgulho para a engenharia nacional. Estamos vendo a concretização de um sonho de muitos brasileiros, de agricultores. Para observarmos a importância dessa obra, quando estiver inteiramente pronta, basta dizer que 50 milhões de hectares serão incorporados ao setor produtivo nacional, gerando riquezas e empregos e trazendo, portanto, mais justiça social a este País tão carente.  

Por isso, Sr. Presidente, ocupei esta tribuna, para festejar esta obra em um País tão carente, onde se estabelece uma disputa pelo desenvolvimento ou pelo não desenvolvimento. Eu prefiro acreditar que não existe essa disputa, mas existe a oportunidade entre economistas da hora apropriada para incrementar o desenvolvimento do nosso País. Vejo que o Brasil não pode esperar mais.  

Quão importante foi ver, Sr. Presidente, tal obra, e como isso mexeu com o nosso sentimento de brasilidade, principalmente em nós que sabemos que o País vive em crise em todos os setores de atividade. Mas quando enxergamos, contudo, uma obra daquele porte, daquela grandeza, não temos dúvida do progresso, do desenvolvimento do Brasil e voltamos animados para o trabalho, para continuar a luta em levar recursos para essas regiões que podem dar resposta, como é o caso da região Centro-Oeste do Brasil, que é a região que está pronta para dar resposta aos grandes problemas que a Nação brasileira enfrenta.  

O Sr. Blairo Maggi ( -MS) - Nobre Senador, V. Exª me permite um aparte?  

O SR. RAMEZ TEBET (PMDB-MS) - Com muita honra, Senador.  

O Sr. Blairo Maggi ( -MS) - Sr. Presidente, Senador Ramez Tebet, de acordo com o pronunciamento de V. Exª, fica claro como é difícil a divulgação das coisas boas, das obras úteis que são realizadas neste País. A imprensa nacional costuma trazer em manchetes os fatos negativos que ocorrem em qualquer parte do Brasil, por mais remota que seja; os fatos ruins afloram com uma velocidade inacreditável. Agora, os objetivos pelos quais o País luta tanto, atrás dos quais corre tanto - como é o caso da inauguração dessa grande obra que acompanhamos - não têm ressonância na mídia brasileira; essa mesma obra, cuja inauguração acompanhamos ontem, uma obra tão importante para o País, que vem sendo discutida desde o tempo de Euclides da Cunha, que passou pelo Senador Vuolo, hoje o Sr. Olacyr de Moraes teve a coragem de encarar e levar adiante. Ela vem reduzir os custos da produção de Mato Grosso do Sul e de Mato Grosso na ordem de mais de 30% do transporte ferroviário. Comparado com o transporte rodoviário, ela não tem a dimensão ou não tem o respaldo da imprensa nacional que deveria ter. Esse é um dos males, Senador, que, a meu ver, tem o nosso País. Os fatos ruins têm uma vitrine muito maior. Parece que o Brasil é pautado no sentido de que a desgraça deve ser colocada na vitrine, enquanto que o que é produtivo e bom demora muito para ser compreendido; demora muito para que a sociedade perceba. Creio que, neste País, por mais que tenha sido criticado, por mais que digamos que não se tenha desenvolvido, ocorre o contrário. Quem andou pelo interior como andamos ontem, nobre Senador, percebeu, quando olhou para o rosto das pessoas que lá estavam, a emoção de ver aquele trem. Como dizem os mineiros, um trem mesmo, com 120 vagões, partindo para o Porto de Santos. Isso foi uma emoção muito grande. Fiquei muito feliz de poder presenciar esse fato ao seu lado e de poder presenciar a felicidade que corria nas veias e na alma do Dr. Olacyr de Moraes, quando viu o seu sonho realizado; um sonho de muitos anos. Não é muito fácil encontrar empresários desse naipe e dessa qualidade, que encaram um projeto e o levam adiante com todas as dificuldades que o País atravessou nos últimos anos. Portanto, eu gostaria de parabenizá-lo pelo seu pronunciamento e dizer que nós, de Mato Grosso, estamos ansiosos para que essa ferrovia chegue efetivamente em Rondonópolis na época e no prazo programados: 2001. Assim, poderemos ajudar o Brasil a crescer. Entendemos também, como V. Exª, que o crescimento vem pela agricultura, vem pelo interior, haja vista que, enquanto a indústria tem um PIB negativo, enquanto a sociedade pensa que o País está indo mal, ocorre o contrário com a agricultura. Embora o agricultor esteja indo muito mal neste momento, a agricultura como um todo vai bem e mostra a sua potencialidade. Quero, repito, parabenizá-lo pelo seu pronunciamento e dizer que sou solidário com essa questão do desenvolvimento. Sou pelo desenvolvimento e não abro mão disso, porque não acredito que outro caminho resolva o problema do nosso País. Muito obrigado.

 

O SR. RAMEZ TEBET (PMDB-MS) - Senador Blairo Maggi, em verdade, esse aparte só enriquece o meu pronunciamento porque vem de V. Exª, um empresário do ramo da agricultura que conhece o sofrimento do agricultor, que tem consciência do que a agricultura pode trazer de divisas para este País, o quanto a agricultura pode gerar de empregos.  

V. Exª falou bem quando mencionou a emoção dos que estavam ali presentes. Sabe por quê? Falando numa linguagem muito simples, inauguração de ferrovia, de trens, 120 vagões modernos! Garanto, Sr. Presidente, Srs. Senadores, que 90% dos Senadores que estão aqui nunca presenciaram a inauguração de uma ferrovia. Por quê? Porque a ferrovia foi relegada ao esquecimento. O transporte mais barato que existe praticamente é o transporte ferroviário.  

Temos uma rede ferroviária federal que foi privatizada, e a concessão recaiu no Grupo Novoeste, que, agora, passou sua concessão para um outro grupo, de Bauru, no Estado de São Paulo. A Corumbá, em Mato Grosso do Sul, não deu em nada, piorou. Acabou o trem de passageiros, piorou o transporte de cargas.  

Em suma, o transporte ferroviário, que é uma das soluções para este País, sempre foi relegado. Vemos inauguração de ferrovias no cinema, nos filmes antigos, quando os americanos procuravam desbravar seus territórios incorporando trilhos ao chão.  

Ontem, por exemplo, a emoção que V. Exª sentiu eu senti também, assim como toda população e a classe política que lá se encontravam. Veja como esse interior pode gerar realmente riquezas para o nosso País. Falo, por exemplo, do meu Mato Grosso do Sul, que tem a hidrovia do Tietê-Paraná já funcionando.  

Hoje, se não fossem os afazeres, porque faltei ontem ao Senado da República, eu estaria com o Ministro dos Transportes numa cidade pequenina de Mato Grosso do Sul, chamada Porto Murtinho, para a inauguração do seu porto fluvial com um carregamento de açúcar.  

É algo fantástico o transporte intermodal que existe na Região Centro-Oeste. O que falta, então? Além de festejarmos isso, falta só pedir que o crédito para quem planta seja mais acessível e mais barato. Aí, então, não tenho dúvida nenhuma de que não somente o Centro-Oeste como outras regiões do País vão dar mais do que estão dando para o nosso progresso e para o nosso desenvolvimento.  

O que vimos ontem em Chapadão do Sul, portanto, é um fato histórico. Como V. Exª acabou de falar, estamos vendo crises em todos os setores, mas, ontem, pôde-se demonstrar que ainda há um punhado de brasileiros que acreditam. E é para esse punhado de brasileiros que quero prestar a homenagem mais sincera ao agricultor brasileiro.  

Antes de encerrar a minha fala, quero cumprimentar todo o grupo, o Consórcio da Ferronorte, na pessoa do seu Presidente Executivo, Antonio Maciel Neto. Cumprimentando-o, cumprimento todos aqueles que ajudaram e estão ajudando nesse empreendimento, que está inconcluso, que ainda vai ser concluído para chegar no Alto Taquari, no Mato Grosso, e, assim, interligar a Amazônia Legal e o Centro-Oeste ao restante do Brasil, ao Porto de Santos e, portanto, ao mundo.  

O Sr. Ney Suassuna (PMDB-PB) - V. Exª me concede um aparte?  

O SR. RAMEZ TEBET (PMDB-MS) - Concedo o aparte ao Senador Ney Suassuna.  

O Sr. Ney Suassuna (PMDB-PB) - Senador Ramez Tebet, ouvia V. Exª pela televisão do meu gabinete e desloquei-me para cá exatamente para me solidarizar com V. Exª. Essa conclusão a que V. Exª se referiu, há poucos minutos, de que a agricultura merece ter crédito mais farto, mais fácil, é uma verdade. Concordo com ela em gênero, número e grau. Não fosse a agricultura, a crise brasileira estaria muito mais séria neste momento. É a agricultura que, apesar de todas as dificuldades, está fazendo com que cumpramos todos os índices que foram programados e até os superemos. Acredito que não há nenhuma área que responda tão rápido quanto a agricultura. O Governo deveria ter mais carinho pela nossa agricultura. Muito obrigado.  

O SR. RAMEZ TEBET (PMDB-MS) - Agradeço o aparte de V. Exª, Senador Ney Suassuna, que, de outra região do País, do Nordeste, reconhece também e acredita que a agricultura é uma alavanca propulsionadora, impulsionadora do progresso, do desenvolvimento, com geração de empregos e com geração de rendas para o nosso País.  

Assim, quero dizer, encerrando o meu pronunciamento, que, no dia 26 de junho de 1995, estive nesta tribuna para fazer um apelo ao Governo Federal, no sentido de que ajudasse esse grande projeto, a construção da ferrovia Ferronorte. Voltei depois à tribuna para dar conhecimento do andamento das obras. Hoje, estou aqui para anunciar a esta Casa, porque ninguém sabe - é isso, Senador Ney Suassuna, o que estava reclamando e reclamei no início do meu pronunciamento -, de uma obra dessa envergadura, cuja inauguração passou quase despercebida no cenário nacional. Positivamente, como homem público, isso me parece incompreensível. Mas eu dizia que foram inaugurados 310 km da ferrovia. Outros quilômetros, cerca de 900 ou 950km, terão que ser concluídos até chegarem a Alto Taquari. E, se Deus quiser, haveremos de retornar a esta tribuna para festejar a conclusão total dessa importante obra para o desenvolvimento da Amazônia Legal, do Centro-Oeste e do Brasil.  

Sr. Presidente, muito obrigado.  

 


Este texto não substitui o publicado no DSF de 02/06/1999 - Página 14151