Discurso no Senado Federal

APOIO AO PROGRAMA DE REVITALIZAÇÃO DE COOPERATIVAS DE PRODUÇÃO AGROPECUARIA-RECCOP.

Autor
Iris Rezende (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/GO)
Nome completo: Iris Rezende Machado
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
COOPERATIVISMO.:
  • APOIO AO PROGRAMA DE REVITALIZAÇÃO DE COOPERATIVAS DE PRODUÇÃO AGROPECUARIA-RECCOP.
Aparteantes
Luiz Otavio.
Publicação
Publicação no DSF de 05/06/1999 - Página 14556
Assunto
Outros > COOPERATIVISMO.
Indexação
  • REGISTRO, RECEBIMENTO, DOCUMENTO, ORGANIZAÇÃO DAS COOPERATIVAS BRASILEIRAS, REFERENCIA, ANALISE, SITUAÇÃO, MODERNIZAÇÃO, DESENVOLVIMENTO, ATIVIDADE, SETOR, PRODUÇÃO AGROPECUARIA.
  • APOIO, IMPORTANCIA, PROGRAMA, REVIGORAÇÃO, COOPERATIVA, DESENVOLVIMENTO, PRODUÇÃO AGROPECUARIA, AUMENTO, MELHORIA, DISTRIBUIÇÃO DE RENDA.

O SR. IRIS REZENDE (PMDB-GO. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, ocupo a tribuna do Senado Federal, nesta manhã, para tratar de um dos mais relevantes temas da economia e da agricultura de nosso País: as cooperativas de produção agropecuária.  

Recebi da Organização das Cooperativas Brasileiras - OCB um importante documento que apresenta uma análise do setor, compreendendo a modernização, saneamento financeiro e desenvolvimento das atividades das cooperativas brasileiras.  

O Programa de Revitalização das Cooperativas de Produção Agropecuária - Recoop - prevê a manutenção de empregos e a geração de 34 mil novos postos de trabalho, desde que assegurados os investimentos globais estimados em R$838 milhões.  

No atual momento de crise por que passa a economia brasileira, com altos níveis de desemprego, com sucessivas crises cambiais e grande dependência de recursos externos, a imediata execução do Programa de Revitalização de Cooperativas de Produção Agropecuária contribuiria para dinamizar a economia incipiente de muitos dos nossos municípios, para aumentar o nível e melhorar a distribuição de renda dos nossos agricultores e para um maior desenvolvimento de nossa agricultura.  

Sr. Presidente, Srs. Senadores, consoante dados coletados pela Organização das Cooperativas Brasileiras - OCB, as cooperativas agropecuárias brasileiras, em 1998, tiveram um faturamento total equivalente a US$20 bilhões e exportaram, no mesmo período, US$877 milhões.  

Com a implantação do Programa de Revitalização de Cooperativas de Produção Agropecuária, as exportações das cooperativas brasileiras poderão ultrapassar US$1,2 bilhão e elevar o faturamento para US$24 bilhões. Ao mesmo tempo, o programa também prevê metas de modernização das cooperativas, tais como maior profissionalização dos quadros administrativos e de direção, elevação dos níveis de produção e produtividade, maior integração do setor e operação com maiores ganhos de escala produtiva.  

Com esse importante programa de desenvolvimento de cooperativas, teremos possibilidade de conquistar novos mercados no exterior, com ampliação dos canais de comercialização e utilização de tecnologias mais modernas, com melhor desempenho do sistema cooperativista em todo o Brasil.  

É interessante salientar que o cooperativismo mundial tem sido um elo entre inúmeros segmentos dos mais diversos países sobre a face da Terra. Permanentemente estão as lideranças de cooperativas nacionais reunidas, unindo-se em quase todos os Continentes, tratando de questões de interesse do setor e, ao mesmo tempo, promovendo um entrelaçamento, uma aproximação entre essas lideranças e facilitando o relacionamento para a importação e a exportação de produtos entre os produtores de todo o mundo.  

A valorização do cooperativismo, pois, é como um imperativo, por parte do Governo, em emprestar o seu apoio, emprestar a sua colaboração para que o cooperativismo realmente solucione as grandes dificuldades que vem enfrentando no momento.  

Sr. Presidente, sempre fui, sou e continuarei a ser um ardoroso defensor do cooperativismo, pois acredito na união de forças de homens e mulheres para ultrapassar dificuldades, vencer barreiras e enfrentar crises.  

O cooperativismo, em sua origem, aparece como uma resposta a uma crise de desemprego na Europa, em decorrência da Revolução Industrial, que destruiu empregos nas atividades de fiação e tecelagem.  

No Brasil de hoje, com desemprego, com crise cambial, com juros altos e com desestímulo à produção agrícola, também podemos dar uma resposta tão efetiva quanto aquela dos primeiros associados de uma cooperativa de tecelões em Rochdale, na Inglaterra.  

Minha fé no cooperativismo não decorre apenas de ele representar historicamente um caminho viável entre o crescimento econômico e o desenvolvimento social, aproveitando o que havia de bom no capitalismo e no socialismo.  

Minha fé no cooperativismo decorre de minha experiência pessoal, que sempre acreditei na capacidade de participação e na solidariedade que existe entre pessoas.  

Participei pessoalmente da construção de milhares de casas populares pelo sistema de mutirão, que se baseia nos mesmos ideais e na mesma filosofia do cooperativismo: melhorar o nível de vida das pessoas pela cooperação e pela solidariedade, pela união de forças positivas.  

Não acredito naquela idéia de que o brasileiro é arredio ao cooperativismo. Não. Sempre que existe o estímulo, sempre que existem as condições para o seu desenvolvimento, o brasileiro é capaz de se organizar, de se unir, de cooperar para a construção de uma vida melhor.  

Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, a globalização da economia, a liberalização dos mercados, a introdução de novas tecnologias, a informática, a telemática, as comunicações modernas, tudo isso contribui para novos parâmetros econômicos.  

O cooperativismo também não pode fugir à regra de modernização, de adaptação aos novos tempos de mundialização econômica. E principalmente o Brasil, um País em desenvolvimento, um País com profundas distorções na distribuição da renda, um País que conta com milhões de brasileiros ainda vivendo sérias dificuldades e em condições de pobreza absoluta. Esse setor importante da nossa população jamais terá realmente melhoria nas suas condições de vida se não viver esse sentimento de participação, de solidariedade, enfim, viver o associativismo, o cooperativismo.  

No Centro-Oeste, por exemplo, os pequenos produtores rurais sentiram que, isoladamente, eles não seriam capazes de realizar um trabalho que pudesse acudir às suas necessidades e às de suas famílias. Não é possível a um pequeno produtor rural, isoladamente, adquirir um trator, máquinas e implementos agrícolas. Mas, associado a cinco, seis, dez, quinze ou vinte, isso já se torna possível - e é o que tem acontecido. Cito como exemplo o Estado de Goiás, que conta hoje com mais de 300 associações de pequenos trabalhadores rurais. Nessas associações, eles desenvolvem trabalhos importantíssimos. Faço essa observação para chamar a atenção do Governo nesta hora, a fim de que ele possa voltar suas atenções, seu poderio ao setor do cooperativismo de nosso País.  

Por isso mesmo, quero aqui apresentar meu integral apoio ao Programa de Revitalização de Cooperativas de Produção Agropecuária - Recoop, que representa um importante passo nessa importante tarefa de construção do cooperativismo e de sua modernização.  

As cooperativas brasileiras muito poderão fazer por nossa economia - como já têm feito -, por nossa agricultura, pela melhoria das relações de trabalho, pela geração de novos empregos, pela geração de renda e pelas exportações.  

Em todas as áreas da atividade humana em nosso País, o cooperativismo está presente. Na verdade, ele é o responsável pelos grandes avanços experimentados pelo povo brasileiro.  

Falo, sobretudo, do cooperativismo na área da agropecuária. Darei um exemplo, Sr. Presidente, do cooperativismo em outras áreas, como na da colonização.  

Quanto dinheiro o Governo tem gasto para o assentamento de trabalhadores?  

Surgiu, no Estado de Mato Grosso, mais especificamente no norte do Mato Grosso, um grupo de gaúchos que constituíram uma cooperativa e passaram a adquirir grandes áreas de terras rurais e a distribuí-las e vendê-las a trabalhadores, sobretudo, os sem-terra do Rio Grande do Sul. E ali surgiram três cidades importantes: Água Boa, Canarana e Querência, fruto do trabalho de pessoas que se integraram em cooperativas e realizaram o trabalho com mais competência do que o próprio Poder Público.  

O Sr. Luiz Otávio (PPB-PA) - V. Exª me concede um aparte?  

O SR. IRIS REZENDE (PMDB-GO) - Com muito prazer e com muita honra, concedo um aparte ao ilustre Senador Luiz Otávio.  

O Sr. Luiz Otávio (PPB-PA) - Senador Iris Rezende, V. Exª traz, nesta manhã, um assunto de grande importância para o País, principalmente para a agricultura e a pecuária. V. Exª, quando fala das cooperativas e do corporativismo que podemos ter com a união dessas cooperativas, não só da agricultura como da pecuária, mas a forma como V. Exª apresenta e da experiência que tem, inclusive de já ter construído habitações, melhorando as condições de vida, gerando empregos e renda para o nosso povo, demonstra, mais uma vez, que, realmente, são as cooperativas a solução para o grande problema brasileiro. E mais: V. Exª traz também, nesta manhã, a solução que temos ouvidos nos quatro cantos do País: o BNDES, uma instituição financeira que tem influência no desenvolvimento do setor social do País, tem argüido que, sempre, as dificuldades encontradas - no tocante a linha de crédito para qualquer atividade econômica do País - são no que diz respeito ao aval. Com as cooperativas, com certeza, o problema será solucionado, porque o fundo de aval que o BNDES propõe - certamente será uma lei que aprovaremos no Congresso, tanto no Senado como na Câmara Federal - já existe. As cooperativas, unidas, darão o fundo de aval para que as operações financeiras possam ser feitas. Fico satisfeito e orgulhoso ao ver V. Exª, da tribuna, preocupado em trazer soluções para o povo brasileiro.  

O SR. IRIS REZENDE (PMDB-GO) - Muito obrigado, nobre Senador Luiz Otávio. Permita-me inserir ao meu pronunciamento o aparte de V. Exª, que vem enriquecer a tese que defendemos nesta manhã.  

Indiscutivelmente uma pessoa dotada de poder econômico é capaz de, isoladamente, solucionar seus problemas, caminhar e produzir. Mas para aqueles desprovidos de recursos materiais é muito difícil, principalmente em uma época de desemprego como a que vivemos, avançar, buscar soluções e viver com dignidade. Isso só é possível através da associação, da cooperativa e da participação.  

Reafirmo: acredito no espírito participativo do povo brasileiro.  

Quando Prefeito de Goiânia anunciei a realização do primeiro mutirão - prática rural da minha origem - e toda a minha assessoria se colocou contrariamente, afirmando que isso é coisa de zona rural. "Não, isso é coisa de povo brasileiro, que é participativo", dizia eu. "O povo brasileiro é participativo - diziam eles - lá na roça, na cidade não irá ninguém".

 

Fizemos o primeiro mutirão. Milhares de pessoas participaram: roçavam, consertavam ruas, pintavam prédios públicos municipais, as mulheres participavam no preparo da comida - ao lado da minha mulher -, as crianças distribuíam água aos trabalhadores. Foi o primeiro mutirão realizado na cidade. Isso justamente em abril de 1966.  

Dali surgiu a idéia do mutirão para o Brasil, prática que hoje se institucionalizou. De forma que, dali para a construção de casas, vilas, sistemas de água nos bairros, sistemas de esgoto foi um passo. Muito fizemos em Goiás graças ao aproveitamento do espírito participativo do nosso povo.  

Por isso, preocupa-me e peço aqui ao Governo uma atenção muito especial para as cooperativas agropecuárias nesse momento de dificuldades.  

Tenho a convicção, pois, Sr. Presidente e Srs. Senadores, de que o Senado Federal dará integral apoio ao Programa de Revitalização de Cooperativas de Produção Agropecuária, por sua importância social e econômica e, principalmente, pela sua capacidade de distribuição de renda no campo, uma das grandes necessidades do Brasil de hoje.  

Era o que eu tinha a dizer, Sr. Presidente.  

Muito obrigado.  

 


Este texto não substitui o publicado no DSF de 05/06/1999 - Página 14556