O SR. LUIZ ESTEVÃO (PMDB–DF) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, gostaria de juntar minha voz às manifestações de solidariedade, admiração e alegria não só da comunidade católica de Brasília, mas de todas as demais forças vivas de nossa cidade, pelos 50 anos de ordenação sacerdotal de Sua Eminência, o Cardeal-Arcebispo Dom José Freire Falcão.  

Diante do lema de seu apostolado, In Humilitate Servire ("Servir com Humildade"), pergunto-me quem escolheu e quem foi o escolhido; se foi Dom José que escolheu a legenda para pautar sua ação pastoral, ou se foi a legenda que escolheu a Dom José para converte-se em realidade concreta e em presença de amor, paz, esperança e caridade no dia-a-dia dos brasilienses.  

Seja como for, coube a Brasília, cidade predestinada desde o sonho de Dom Bosco, o nobre e feliz destino de servir de cenário ao coroamento da missão e vocação de Dom José. Missão a também que ele estava predestinado antes mesmo do seu nascimento, tal como a capital sonhada por Dom Bosco, e que teve seu primeiro grande momento há exato meio século. Foi na cidade de Limoeiro do Norte, daquele Ceará, berço de tantos brasilienses, famosos ou anônimos, que construíram e ainda constróem a grandeza de nossa cidade, como é o caso de nosso querido arcebispo, nascido em Ererê.  

A mesma Limoeiro do Norte tornaria, vários anos mais tarde, a ser referência marcante em sua trajetória, pois lá foi ordenado bispo, em 1967.  

Antes e depois disso, as atividades de Dom José Freire Falcão ramificaram-se por vários outros locais e esferas, sempre norteadas pelo seu compromisso inabalável de servir à humanidade por amor a Deus, servindo a Deus por amor à humanidade: professor do Seminário Menor, vigário paroquial, assistente da Ação Católica, diretor artístico da Rádio Educadora Jaguaribana, assessor do Regional Nordeste-1 para liturgia, arcebispo de Teresina, membro da Comissão Episcopal de Pastoral da CNBB, membro do Pontifício Conselho da Pastoral para os Agentes da Saúde, membro da Sagrada Congregação para a Doutrina da Fé, segundo vice-presidente do Celam, participante de suas conferências em Medellin (1968), Puebla (1979) e Santo Domingo (1992), bispo de Brasília desde 1984, criado cardeal pelo Consistório de 28 de junho de 1988 -- para mencionar tão-somente algumas da principais tarefas que assumiu nesses 50 anos de Sacerdócio incansável e profícuo.  

O exemplo desse homem de Deus devotado a "Servir com Humildade" sem dúvida contribuiu para o aumento das vocações sacerdotais verificado em Brasília nos últimos tempos. No primeiro ano de Dom José nesta cidade, foram ordenados tão-somente dois padres. Apenas neste ano – jubileu de ouro de seu sacerdócio, já são 27 diáconos, futuros padres.  

Por isso, dedicou-se Dom José à duplicação do Seminário Nossa Senhora de Fátima, na QI 17 do Lago Sul, obra recentemente concluída.  

Sensível ao espírito de generosidade brasileira e também universal em que Brasília foi sonhada, concebida e edificada, Dom José também orienta e inspira o trabalho do Seminário Redemptoris Mater , onde estudam novos padres, que, depois de dois anos de serviço no Distrito Federal, são enviados em missão a qualquer parte do Brasil ou do mundo.  

A atenção generosa de nosso Cardeal se volta igualmente àqueles padres idosos ou doentes que, quase sempre longe de suas famílias, necessitam de assistência especial em justo reconhecimento de seus duradouros labores pastorais. Daí o empenho de Dom José na construção da Casa do Clero, na 601 Norte, onde aliás encontra-se internado um de seus principais colaboradores até há pouco tempo, o bispo-auxiliar Dom Francisco de Paula Vítor, vítima de derrame cerebral.  

Sua atitude entusiástica e aberta à participação do laicato materializou-se na instalação do Curso Superior de Teologia, com três anos de duração.  

Já a sua permanente preocupação em expandir e consolidar o respeito aos direitos humanos e sociais da cidadania manifesta-se na coordenação dos múltiplos projetos e atividades da Comissão de Justiça e Paz, que ele próprio criou em Brasília e que é responsável pelas anuais Campanhas da Fraternidade.  

Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, a fidelidade existencial de Dom José Freire Falcão ao lema de "Servir com Humildade" é cotidianamente testemunhada e compartilhada por todos, desde os seus três outros bispos-auxiliares Dom Raimundo Damasceno Assis (hoje secretário-geral da CNBB), Dom Jésus Rocha, Dom Evangelista Terra, passando pelos párocos do Plano Piloto e das Cidades-Satélites, aos quais confere ampla autonomia no atendimento aos problemas específicos de seus respectivos rebanhos, aos fiéis de Brasília e a todas as pessoas que, necessitadas de seu amparo, de seu conselho e de sua atenção, têm a ele fácil acesso, sem qualquer formalidade ou pompa inibidora.  

Por fim, eu não poderia concluir esta homenagem sem o depoimento pessoal da amizade que me une a Dom José Freire Falcão desde sua chegada a Brasília: amizade com que ele me distinguiu ao celebrar o batismo de meus filhos Luiz Eduardo e Luiza; amizade que proveu o sustentáculo emocional e espiritual de que eu, minha mulher e toda a minha família tanto necessitamos no período angustioso e amargo do seqüestro de nossa Cleucizinha.  

Desde aqueles dias de interminável provação, atei à minha memória a sábia e profunda reflexão de Dom José: "O sofrimento passa, mas o ‘ter sofrido’ não passa nunca"...  

É, pois, para homenagear esta figura ímpar de ser humano e de sacerdote, que vivência a cada instante o lema de "Servir com Humildade", minorando os sofrimentos de nossa humana condição pela maior glória de Deus, que eu divido agora a todos os meus ilustres pares esta comemoração ímpar. Tive a oportunidade de participar, no último sábado, da solenidade realizada no Ginásio Nilson Nelson, em homenagem ao Jubileu de Ouro da ordenação sacerdotal de Dom José Freire Falcão, onde juntamente com quase 10.000 pessoas pudemos assistir a ordenação de 27 novos padres e nos regozijar a Deus pela oportunidade de convivermos em nossa cidade, com este baluarte da fé cristã.  

Muito obrigado!  

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