Pronunciamento de Nabor Júnior em 25/06/1999
Discurso no Senado Federal
COMENTARIOS AS NOTICIAS VEICULADAS PELOS JORNAIS A GAZETA, A TRIBUNA E O RIO BRANCO, DO ESTADO DO ACRE, SOBRE A FALTA DE RELACIONAMENTO ENTRE O GOVERNADOR JORGE VIANA E O PRESIDENTE FERNANDO HENRIQUE CARDOSO.
- Autor
- Nabor Júnior (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/AC)
- Nome completo: Nabor Teles da Rocha Júnior
- Casa
- Senado Federal
- Tipo
- Discurso
- Resumo por assunto
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ESTADO DO ACRE (AC), GOVERNO ESTADUAL.:
- COMENTARIOS AS NOTICIAS VEICULADAS PELOS JORNAIS A GAZETA, A TRIBUNA E O RIO BRANCO, DO ESTADO DO ACRE, SOBRE A FALTA DE RELACIONAMENTO ENTRE O GOVERNADOR JORGE VIANA E O PRESIDENTE FERNANDO HENRIQUE CARDOSO.
- Publicação
- Publicação no DSF de 26/06/1999 - Página 17200
- Assunto
- Outros > ESTADO DO ACRE (AC), GOVERNO ESTADUAL.
- Indexação
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- COMENTARIO, NOTICIARIO, IMPRENSA, ESTADO DO ACRE (AC), CONFLITO, GOVERNO ESTADUAL, GOVERNO FEDERAL, ESPECIFICAÇÃO, DECLARAÇÃO, EDVALDO MAGALHÃES, DEPUTADO ESTADUAL, LIDER, GOVERNO, ASSEMBLEIA LEGISLATIVA, FALTA, DIPLOMACIA, COBRANÇA, RECURSOS, PRESIDENTE DA REPUBLICA.
- REGISTRO, HISTORIA, POLITICA, ESTADO DO ACRE (AC), PARTICIPAÇÃO, ORADOR, QUALIDADE, CONGRESSISTA, GOVERNADOR.
- DEFESA, DIALOGO, ESTABILIDADE, POLITICA, OBJETIVO, DESENVOLVIMENTO, ESTADO DO ACRE (AC).
O SR. NABOR JÚNIOR
(PMDB-AC. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, o Estado do Acre está vivendo, nos últimos meses, um acirramento de ânimos e de posições que talvez somente tenha experimentado no auge do regime arbitrário. E a imprensa de Rio Branco tem refletido esse clima com fidelidade, narrando os fatos e veiculando as pressões, de modo a manter a sociedade a par de tão grave contexto.
O noticiário estampado ontem, nas edições dos jornais A Gazeta, A Tribuna e o Rio Branco, é o melhor exemplo da situação a que me refiro - quando chamo de "preocupante" o clima estabelecido -, porque vem atestar a existência e, mais ainda, a importância do problema.
João Roberto Braña, de A Gazeta , assinou reportagem sobre fatos ocorridos na sessão de quarta-feira da Assembléia Legislativa, na qual o Líder do Governo, Deputado Edvaldo Magalhães, perpetrou uma incrível injúria contra o Presidente da República, quebrando, até mesmo, os padrões de hospitalidade e de racionalidade que caracterizam o povo acreano - desconhecendo, ainda, que nada se realiza à margem do autêntico diálogo construtivo e do bom senso administrativo.
Dizendo em voz alta, em público, o que vinha sendo repetido privativamente nos bastidores dos palácios estaduais, Sua Excelência radicalizou as exigências que a atual administração faz sobre a União. A reportagem de A Gazeta dá detalhes a respeito da posição explicitada pelo Líder do Governo na Assembléia Legislativa do Acre: "Sobre o relacionamento do Governador Jorge Viana e o Presidente FHC, Edvaldo lembrou que o Governo acreano condicionou a vinda de Fernando Henrique à liberação de recursos para as BRs do Estado". E, segundo a matéria, afirmou textualmente o Deputado Edvaldo Magalhães: "O Governo já disse que se for para o Presidente vir ao Acre e não ajudar com recursos, é bom ficar em Brasília mesmo".
O que acabo de citar, repito, é um trecho da reportagem assinada por João Roberto Braña, fazendo a cobertura, com a habitual objetividade, com a elegância isenta de sempre, dos debates da Assembléia.
Na coluna que assina diariamente, na mesma A Gazeta , ele retornou ao assunto, desdobrando suas repercurssões. E não fugiu ao dever de opinar sobre as ocorrências que relatava, comentando, na nota intitulada "Realidade", o grave fato: "O Presidente Fernando Henrique jogou o País no fundo do poço. Disso, a maioria hoje não tem dúvida. Mas uma relação institucional entre o Governo do Acre e o Poder Central tem que haver. Se der algum lucro, melhor".
Outro matutino acreano, o veterano O Rio Branco, também se dedicou ao assunto, na edição de ontem. E o fez com firmeza e serenidade, em artigo de fundo, cujos principais tópicos passo a ler, para registrá-los nos Anais do Senado Federal:
"Aqui não é Kosovo.
Dividir a sociedade acreana em dois lados, apenas dois - o do bem e o do mal -, parece ter sido a mais inoportuna e infeliz idéia dos atuais detentores do nosso poder político. Claro que não existem provas que determinem que esteja sendo promovida pelo Governador Jorge Viana, mas é bem verdade que seus agentes são pessoas de íntimas ligações com o próprio, o que não nos permite inocentá-lo. Mas pouco importa. O importante, neste caso, é que o Governador Jorge Viana precisa colocar freios neste divisionismo irresponsável."
E prossegue, advertindo:
"O Acre, pelas próprias características, não pode ser transformado num Kosovo. A intranqüilidade precisa dar o fora do nosso convívio e o ódio precisa procurar outro terreiro. Aqui, não!"
Com louvável serenidade, sempre repudiando as acusações insultuosas e gratuitas, acentuou o editorial do jornal O Rio Banco que, "na condição de comandante dos nossos destinos políticos, pelo menos nesta quadra, o Governador Jorge Viana precisa dar um basta nisso. É estéril a discussão para saber se Jorge Viana está atrás disso. Ele precisa, isso sim, tomar a dianteira e determinar a seus aliados que esse não é o melhor caminho. Não se governa com ódio nem com a casa dividida, pois dela desertam a compreensão e o amor. A reconstrução do Acre, compromisso de Jorge Viana e desejo nosso, só será alcançada com muito espírito público".
Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, hoje, como sempre, falo de coração aberto e ânimo positivo; não me impulsiona qualquer sentimento menor, de crítica gratuita ou ressentimento voltado para a devolução de agravos sofridos. Minhas palavra se voltam, única e exclusivamente, para o bem do povo do Estado do Acre, para o progresso social dessa comunidade que sempre foi mantida à distância das riquezas do Centro-Sul; gente sofrida, denodada em sua obstinação de quebrar as cadeias da miséria e do isolamento.
Procuro crer que a atual Administração estadual também seja movida por sentimentos desse matiz, porque o ódio, a agressão isensata, a calúnia, a acusação imotivada, a insinuação viperina - nada disso constrói!
Durante o regime militar, fomos perseguidos como poucos. Nossa Assembléia Legislativa sofreu os mais cruéis e violentos castigos; nosso primeiro Governador, eleito pelo voto direto, foi levado à morte pelas infâmias cometidas contra sua pessoa e pela tentativa de desmoralização de seus projetos administrativos; para impor o arbítrio, a chamada "revolução" não hesitou em cassar bancadas quase inteiras na Assembléia, ou em mutilar seriamente a nossa representação federal.
Permitam-me V. Exªs usar a primeira pessoa do singular, mas isso hoje é inevitável.
Eu mesmo, como Deputado Estadual e Deputado Federal, sempre na Oposição, vivia sob permanente ameaça de cassação, de perda dos direitos políticos. Ao final do meu primeiro mandato na outra Casa do Congresso Nacional, em 1977, enfrentei os riscos e as trevas do chamado "Pacote de Abril", que praticamente regeu o quadriênio seguinte - mas isso não me impediu de cumprir, com dignidade e coragem, os mandatos recebidos dos cidadãos acreanos. Uma confiança que resultou na minha eleição, em 1982, para a cadeira de José Augusto, como Governador do Estado, pelo voto secreto e livre dos cidadãos, vitoriosos em sua resistência à ditadura que, durante quase vinte anos, pairou sobre a Nação brasileira.
Mesmo agonizante, aquele regime tenebroso ainda ameaçava e reprimia seus adversários - mas isso não me impediu de participar ativamente da grande aliança que restabeleceu o poder civil no País, com a eleição de Tancredo Neves, que abriu caminho para a instalação da Assembléia Nacional, que deu ao País sua primeira Constituição democrática em mais de duas décadas. Foram tempos difíceis, em que o Estado do Acre reafirmou sua determinação libertária, liderado por um Governador que jamais escondeu divergir, de maneira franca e aberta, das restrições institucionais vigentes.
E, mesmo assim, na condição de Governador civil, convivendo com o regime militar, a que sempre fiz oposição, jamais deixei de buscar o diálogo franco, aberto, democrático e altaneiro com o Poder Central. Recebi, com a tradicional hospitalidade dos acreanos, todas as autoridades que nos procuraram ao longo do mandato, inclusive Ministros de Estado.
As paixões partidárias ou as mágoas, calcadas na truculência que se abatia sobre alguns dos mais importantes líderes acreanos, jamais tiveram qualquer influência no ânimo com que o Governador negociava, em todos os níveis, os reais interesses do Estado.
Talvez essa seja a razão da confiança que meus concidadãos têm reiterado neste humilde filho de Tarauacá, vitorioso em todos os pleitos a que se candidatou, dentro das soberanas regras da democracia.
A firmeza dos princípios administrativos e a defesa das propostas político-eleitorais não são incompatíveis com o respeito, no diálogo entre os que se contrapõem, na vida pública. Ao contrário, só com essas premissas pode ser alcançado o sucesso desejado por todos quantos se dedicam ao futuro, à construção de uma sociedade mais justa e mais humana.
O homem público, inevitavelmente, tem adversários. Mas não transformar esses adversários em inimigos odiados e odientos deve ser a primeira preocupação de quem se investe das funções construtivas. Porque a ciência de governar é justamente corrigir, construir, reformar. E, ao dizer que nessa obra o acirramento das paixões é um ingrediente nefasto, não me arrogo a dar lições a quem quer que seja - cito os formadores da ciência social, para quem o ódio e a virulência contaminam mortalmente o trabalho de qualquer líder ou administrador.
O povo acreano, que conheço tão bem e cujas aspirações tenho buscado defender ao longo de toda a minha vida, precisa de um trabalho sério e sereno para superar os obstáculos que se multiplicam em seu caminho. Cumprir essa tarefa não pode implicar na omissão ou no abandono de convicções - mas, por mais legítimos que sejam esses princípios, não é lícito transformá-los em armas que agridem mais a sociedade do que as pessoas visadas por sua violenta utilização.
Concluo, Sr. Presidente, expressando minha certeza de que a sociedade acreana, usando seus legítimos veículos, como a imprensa, continuará lutando pelo progresso e pela estabilidade político-institucional; não abrirá mão do debate, do choque de idéias, das lutas eleitorais que constituem o cerne da democracia — mas não aceitará o estabelecimento de uma situação em que ódios e rancores afetem as tradições de dignidade, de respeito e de construtiva obstinação em defesa da liberdade, que pontuam, com orgulho, as páginas gloriosas de sua história.
Muito obrigado, Sr. Presidente.
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