Pronunciamento de Arlindo Porto em 25/06/1999
Discurso no Senado Federal
ALERTA PARA A INDEFINIÇÃO DA POLITICA NUCLEAR BRASILEIRA. (COMO LIDER)
- Autor
- Arlindo Porto (PTB - Partido Trabalhista Brasileiro/MG)
- Nome completo: Arlindo Porto Neto
- Casa
- Senado Federal
- Tipo
- Discurso
- Resumo por assunto
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POLITICA NUCLEAR.:
- ALERTA PARA A INDEFINIÇÃO DA POLITICA NUCLEAR BRASILEIRA. (COMO LIDER)
- Publicação
- Publicação no DSF de 26/06/1999 - Página 17214
- Assunto
- Outros > POLITICA NUCLEAR.
- Indexação
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- CRITICA, FALTA, DEFINIÇÃO, POLITICA NUCLEAR, AMEAÇA, CONTINUAÇÃO, PESQUISA, CENTRO DE DESENVOLVIMENTO, TECNOLOGIA, COMISSÃO NACIONAL DE ENERGIA NUCLEAR (CNEN), PREJUIZO, BRASIL, UTILIZAÇÃO, ENERGIA NUCLEAR, SAUDE, INDUSTRIA, AGRICULTURA.
- SOLICITAÇÃO, LIDERANÇA, GOVERNO, SENADO, APOIO, MELHORIA, CONDIÇÕES DE TRABALHO, PESQUISADOR, ENERGIA NUCLEAR.
O SR. ARLINDO PORTO
(PTB-MG) - Sr. Presidente, peço a palavra como Líder.
O SR. PRESIDENTE (Carlos Patrocínio) - Concedo a palavra, como Líder, ao Senador Arlindo Porto, por 5 minutos.
O SR. ARLINDO PORTO (PTB-MG. Como Líder.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, meu pronunciamento nesta manhã tem por objetivo alertar os meus pares, o Governo e a sociedade para a indefinição sobre a política nuclear brasileira e, com ela, a situação de incerteza em que se encontram a pesquisa e o desenvolvimento nuclear nacional e, em particular, o Centro de Desenvolvimento da Tecnologia Nuclear (CDTN), instituto de pesquisa e desenvolvimento da Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN).
O CDTN tem sua origem no Instituto de Pesquisas Radioativas (IPR), fundado em 1952, em Belo Horizonte, como o primeiro instituto de pesquisas do Brasil dedicado inteiramente à pesquisa nuclear e então vinculado à Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
Em 1972, passou a chamar-se Centro de Desenvolvimento da Tecnologia Nuclear (CDTN). Ficou, então, responsável pelo licenciamento de instalações de mineração e beneficiamento de urânio de Poços de Caldas, Município de Minas Gerais, de enriquecimento de urânio e de fabricação de elementos combustíveis de Resende (RJ) e da Usina de Angra I. O Centro foi, ainda, responsável pela transferência de tecnologia nuclear, dentro do Acordo Brasil-Alemanha.
Há 11 anos, o CDTN é gestor de uma instalação nuclear e também órgão fiscalizador de instalações nucleares e radiativas.
Este Centro dispõe de uma equipe com ampla experiência nacional e internacional. Conta, ainda, com importante infra-estrutura laboratorial, fatores que o fazem apto a desenvolver tecnologias e a prestar serviços nas áreas de meio ambiente, desenvolvimento e caracterização de materiais, processos físico-químicos, saúde, proteção radiológica e reatores nucleares.
No entanto, esse Centro estará com seu funcionamento ameaçado caso não sejam tomadas providências urgentes que possam reverter o quadro atual.
O Centro de Desenvolvimento da Tecnologia Nuclear já contou com 700 funcionários, a maior parte voltada a sua atividade-fim. Hoje, são apenas 450, número que se pode reduzir ainda mais e rapidamente. Em parte, pela incerteza quanto ao regime de aposentadoria do serviço público. Mas, principalmente, diante da falta de estímulos profissionais, entre os quais salários condignos e recursos para manutenção de suas pesquisas.
Faço, Sr. Presidente, um apelo à liderança do Governo nesta Casa para que leve essa preocupação ao Sr. Ministro de Estado de Orçamento e Gestão, Dr. Pedro Parente; à Secretária de Estado de Administração e Patrimônio, Drª Cláudia Costin, e ao Ministro da Ciência e Tecnologia, Dr. Bresser Pereira, para que atentem para esse problema.
A formação de um técnico na área nuclear demanda em torno de 15 anos de estudos e grande investimento. A incerteza já afastou muitos especialistas, justamente quando estavam no auge da capacidade de produção e trabalho.
A atual situação pode acelerar aposentadorias e demissões que irão desfalcar ainda mais os nossos quadros, imprescindíveis ao desenvolvimento do País.
O Senado Federal não pode se omitir diante de uma questão estratégica como esta que, por abranger toda a Comissão Nacional de Energia Nuclear, e não apenas o Centro de Desenvolvimento de Tecnologia Nuclear, pode comprometer de vez a pesquisa nuclear brasileira.
Com a assinatura inicial do Tratado de Tlatelolco, posteriormente do Acordo de Cooperação com a Argentina para desenvolvimento nuclear conjunto e, finalmente, com a adesão ao Tratado de Não Proliferação Nuclear, o Brasil deixou claras suas intenções pacifistas. São salvaguardas suficientes para evitar qualquer tentativa de utilização bélica do átomo.
O Brasil já detém tecnologia própria para inúmeras utilizações da energia nuclear na área da saúde, na área de desenvolvimento e análise de materiais (o que é importante para o desenvolvimento industrial), assim como para outros usos, entre os quais destaco a agricultura.
A energia nuclear se configura fundamental na pesquisa voltada à biotecnologia e de enorme potencial na cadeia agroindustrial. Seu uso já se mostrou extremamente promissor na área de conservação e desinfecção de alimentos, através de processos que asseguram a sanidade e melhoria da qualidade desses alimentos, em benefício dos consumidores nacionais e abrindo grandes possibilidades às exportações, particularmente de frutas, carnes e outros produtos processados e industrializados.
Apelo, pois, à Liderança do Governo nesta Casa para que atente para essa grave questão e colabore na busca de uma solução. Nossa indústria, nossa agricultura, nossa medicina, o Brasil, enfim, não pode ficar sem a pesquisa nuclear e o desenvolvimento de equipamentos, materiais e processos. Não podemos perder mais mercados no presente e deixar de ganhar mercados no futuro pela falta de providências relativamente simples e não excessivamente onerosas.
É preciso fazer justiça: tratar de forma diferente os desiguais, como pregava Rui Barbosa. E, nesse caso, é preciso dar aos pesquisadores e tecnologistas da área nuclear o tratamento adequado e justo, ao lado de uma firme política de médio e longo prazos.
Muito obrigado, Sr. Presidente.
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