Discurso no Senado Federal

HOMENAGEM A MEMORIA DO SANITARISTA DR. CARLOS CHAGAS.

Autor
Tião Viana (PT - Partido dos Trabalhadores/AC)
Nome completo: Sebastião Afonso Viana Macedo Neves
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • HOMENAGEM A MEMORIA DO SANITARISTA DR. CARLOS CHAGAS.
Aparteantes
Carlos Patrocínio, Gerson Camata.
Publicação
Publicação no DSF de 10/08/1999 - Página 19825
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM, ANIVERSARIO DE MORTE, CARLOS CHAGAS (MG), OSWALDO CRUZ, MEDICO, CIENTISTA, ESTADO DE MINAS GERAIS (MG), ESTADO DO RIO DE JANEIRO (RJ).
  • ELOGIO, ATUAÇÃO, CARLOS CHAGAS (MG), OSWALDO CRUZ, MEDICO.
  • CRITICA, SITUAÇÃO, SAUDE PUBLICA, BRASIL.

O SR. TIÃO VIANA (Bloco/PT-AC. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, como entendo que um dos gestos imprescindíveis ao ser humano é o de saber reconhecer, ser grato e homenagear aqueles de direito, subo à tribuna para prestar uma homenagem àquele que julgo o maior cientista médico das Américas, aquele que marcou a História da Ciência no nosso País, quando, pela primeira vez, talvez em toda a Humanidade, alguém tenha definido e identificado uma doença, tanto no aspecto epidemiológico, na sua profilaxia, nas suas formas clínicas e na sua fisiopatogenia, como o fez o nobre cientista Carlos Chagas. Este cientista foi homenageado pelo País e pelo mundo inteiro, por seu trabalho no campo da saúde pública, no mês de julho, mês de seu falecimento. De outra parte, sendo julho um mês de recesso para os trabalhos do Congresso Nacional, só agora venho a esta tribuna para prestar esta justa homenagem, em meu nome pessoal e, acredito, de todos os membros do Senado Federal.  

No momento em que a saúde pública no Brasil, vítima do descaso, dos descaminhos das ações públicas, da má administração, da corrupção e dos desvios escandalosos de verbas, continua nos envergonhando perante o mundo inteiro, salvo evidentemente exceções de alguns gestores que procuram corresponder à responsabilidade que lhes é permitida pelo Poder Central, gostaria de dedicar este pronunciamento à memória do eminente cientista Carlos Chagas, exemplo de cidadão consciente dos gravíssimos problemas sanitários do País no momento histórico em que viveu: administrador público competente, Médico e pesquisador de primeira grandeza, reconhecido pelos mais importantes institutos e Universidades mundiais, e que dedicou praticamente toda a sua vida profissional ao desenvolvimento da ciência brasileira.  

O cientista Carlos Chagas nasceu em Minas Gerais, em 1879, e morreu no auge do cumprimento de sua missão, aos 55 anos, em 1934, na cidade do Rio de Janeiro.  

Em 1897, aos 16 anos, matriculou-se na Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro e, em 1903, concluiu o curso. A partir daí até o fim dos seus dias, foi personagem dos mais atuantes e dos mais marcantes em todas as etapas do desenvolvimento da saúde pública em nosso País.  

Durante toda a sua vida como médico sanitárista, o Dr. Carlos Chagas teve a oportunidade de conviver com as péssimas condições sociais apresentadas pelo Brasil. Assim, por onde andou, de Norte a Sul, ele pôde constatar, no exercício de sua difícil profissão, a crueldade do subdesenvolvimento e a miséria estampada nos rostos sofridos de milhares de doentes vitimados constantemente pela malária, pela febre amarela, pela peste, pela hanseníase, pela tuberculose, pelas diarréias, pelas verminoses e por epidemias diversas que eram comuns tanto nas cidades quanto nas áreas rurais brasileiras.  

Apesar do ambiente social chocante, da indiferença dos poderes públicos em relação às precárias condições de vida das populações pobres e aos programas sanitários, Carlos Chagas, ainda na faculdade, tomara a decisão de ser um missionário da medicina social.  

Fora do ambiente das aulas, dedicava todo o seu tempo ao trabalho hospitalar voluntário, acompanhando doentes nas enfermarias, e, mesmo nos dias de domingo, oferecia-se para substituir seus colegas nos plantões noturnos.  

Como estudioso, interessava-se bastante pelos conhecimentos básicos da fisiopatologia e acreditava que só por eles poderia chegar-se a uma melhor compreensão das etiopatogenias das doenças, particularmente daquelas ligadas a fatores infecto-contagiosos. Nessa época, Carlos Chagas já impressionava muitos pela dedicação aos estudos, pelo brilhantismo na sala de aula e pelos conhecimentos de que dispunha.  

Em 1902, conheceu pessoalmente a também admirada e imprescindível figura na história da ciência médica brasileira, o Professor Oswaldo Cruz (a quem terei a oportunidade e a honra de homenagear em breve). O Professor Oswaldo Cruz tornou-se em seguida o orientador da sua tese chamada "Estudos hematológicos do impaludismo" defendida com mérito em 1903. Ao mesmo tempo em que deixou a faculdade, iniciou uma longa amizade com Oswaldo Cruz e no mesmo ano foi nomeado por ele para trabalhar como pesquisador no Instituto Manguinhos.  

Em 1905, uma forte epidemia de malária localizada nas Docas de Santos foi o primeiro desafio que Carlos Chagas, com apenas 26 anos, teve de enfrentar no início de sua carreira. Dessa maneira, Oswaldo Cruz, apostando na competência do jovem médico e ex-aluno, indicou-o para assumir a responsabilidade de atender aos doentes e a debelar o surto da doença. Em pouco tempo, estudando os movimentos do mosquito transmissor da doença, resolveu desinfetar as casas depois de calafetadas utilizando a queima do piretro, um produto sulfúreo que conseguia matar o mosquito. Em menos de três meses, obteve sucesso: venceu o desafio e erradicou a malária em Santos. Assim deu início ao método da desinfeção domiciliar que pouco mais tarde usaria o DDT no combate à malária em muitas as regiões do mundo.  

Apesar da grande descoberta, sua importância só veio mesmo a ser consagrada em 1923, em Roma, no Congresso Internacional de Malariologia. Na ocasião, o próprio Carlos Chagas defendeu a teoria da profilaxia domiciliar antipalúdica, teoria que foi prontamente aceita pelos especialistas ingleses, que, até então, se posicionavam contrariamente ao método.  

Em 1909, novamente pelas mãos do Oswaldo Cruz, outra grande missão desafiadora o esperava, dessa vez, nos canteiros avançados da famosa estrada de ferro Central do Brasil, projetada para ligar o Rio de Janeiro a Belém. No vilarejo chamado Lassance, um forte surto de malária causava grande mortandade nas frentes de trabalho, paralisando completamente as obras da estrada. Chegando ao seu novo posto, tratou imediatamente de improvisar um laboratório e iniciar as suas análises visando ao combate da epidemia.  

Em meio a essas pesquisas, Carlos Chagas deparou-se com uma descoberta inédita, que o consagra e consagra o Brasil perante o mundo inteiro. Encontrou um novo tripanossomo, totalmente diferente dos que havia estudado até então. Em homenagem a Oswaldo Cruz, chamou-o de tripanossoma cruzi , agente transmissor direto do que se convencionou chamar pouco mais tarde de "doença de Chagas", doença que hoje ainda aflige seis milhões de brasileiros. Com essa novidade que logo causou grande polêmica nos meios científicos mundiais, inaugurava-se uma nova página de debates nas pesquisas sobre medicina sanitária - e Carlos Chagas tinha apenas 30 anos.  

Em 1912, sempre preocupado com a saúde na hinterlândia brasileira, viajou para a Bacia Amazônica com o objetivo de realizar um diagnóstico sobre as condições médico-sanitárias em seus rios, cidades e vilarejos. Posso informar com orgulho que Carlos Chagas teve a coragem e a ousadia de enfrentar os mais longínquos lugares da Amazônia brasileira àquela época, chegando às margens do rio Envira e do rio Tarauacá. Lá identificou casos atípicos de malária, mas hoje, à luz da ciência, pode-se determinar que o que ele interpretava como complicações da malária (ascite ou barriga-d’água) era esquistossomose, doença mais comum no Nordeste. Carlos Chagas achava que era uma possível complicação da malária a ser elucidada o que hoje se sabe ser uma complicação da cirrose hepática dos doentes vítimas da hepatite.  

Em pequenas canoas, em lombo de burros e mesmo a pé, enfrentando os rigores da floresta tropical, percorreu longas distâncias na Amazônia. Carlos Chagas voltou impressionado com o abandono da região pelo Poder Público, com a miséria gritante do caboclo, com as condições de trabalho extremamente dolorosas do seringueiro e com o paludismo impiedoso que atacava populações inteiras. Paludismo e beribéri eram as duas grandes provas de sofrimento que os seringueiros nordestinos enfrentavam na exploração da borracha.  

Em 1917, um acontecimento triste marcou profundamente a sua vida e um novo desafio se apresentou em sua movimentada carreira. O seu mestre Oswaldo Cruz, gravemente doente, faleceu no dia 11 de fevereiro. Quatro dias depois, Carlos Chagas, escolhido pelo Presidente Venceslau Brás, assumiu o posto de Diretor do Instituto Oswaldo Cruz. Realizou profundas mudanças durante todo o tempo em que lá permaneceu.  

Em 1918, viu-se diante do quarto desafio de sua vida. Carlos Chagas foi chamado a enfrentar a "gripe espanhola", que devastava a Europa Ocidental e agora chegava ao Brasil pelos navios ingleses que atracavam em nossos portos.  

O Rio de Janeiro foi logo contaminado por uma grande epidemia que se alastrou pelo Brasil afora. O próprio Carlos Chagas não resistiu à sua força e foi por ela contaminado. Mesmo doente, o eminente cientista não se entregou e partiu para o ataque, organizando hospitais temporários e prestando socorro médico aos necessitados. Mais uma vez Carlos Chagas saía vitorioso e definitivamente convicto de que o Brasil era realmente um grande hospital, como dissera alguns anos antes com muito estardalhaço na imprensa o grande clínico Miguel Pereira. O total desaparelhamento do País mostrava sua impressionante fragilidade diante das hoje chamadas doenças de massa.  

Foi justamente em função dessa realidade caótica que o Presidente Epitácio Pessoa, temendo o agravamento das condições sanitárias do Brasil, convocou Carlos Chagas para uma nova missão, mais difícil ainda do que o combate a "gripe espanhola". Tornava-se necessário, com urgência, reformular completamente os serviços sanitários em todo o País. Para isso, foi criado o Departamento Nacional de Saúde Pública, em 1920, e, para dirigi-lo, foi indicado Carlos Chagas, que aceitou mais esse desafio e permaneceu no cargo até 1926, com a posse de Washington Luiz para Presidente da República.  

Além de ter sido o personagem mais importante de todos esses acontecimentos que marcaram o desenvolvimento da medicina social em nosso País, Carlos Chagas foi o criador do primeiro curso de Higiene e Saúde Pública, foi o formulador de um novo Regulamento de Saúde Pública para o País e fundador da Escola de Enfermagem Ana Nery. Viajou inúmeras vezes pela Europa, Estados Unidos e América Latina, onde defendeu com competência e segurança, nos anfiteatros das universidades e nos auditórios das instituições científicas, os resultados dos seus estudos, de suas pesquisas e de suas descobertas, procurando sempre engrandecer o nome da ciência brasileira, apesar das enormes dificuldades que teve de enfrentar para levar adiante todos os seus projetos.

 

Além de orgulhar o Brasil por sua dedicação, honestidade, exemplo de competência e seriedade, é importante ressaltar que Carlos Chagas enveredou por uma só estrada e dela nunca se afastou. Foi, portanto, na medicina sanitária, nos estudos científicos ligados a ela, nos laboratórios e nas salas de aulas que cumpriu a sua missão com muita dignidade e perseverança. A despeito do seu talento nato para a vida pública e seu potencial político - poderia ter sido eleito tanto Senador pelo Rio de Janeiro, como Deputado Federal por Minas Gerais - considerava seus desafios na área da saúde grandes o suficiente para se dedicar a eles de corpo e alma em tempo integral.  

Às 19h30min do dia 9 de novembro de 1934, vitimado por um edema pulmonar agudo em sua residência, o eminente cientista brasileiro Carlos Ribeiro Justiniano Chagas viria a repousar eternamente ao lado de outros homens dignos, que construíram com muita garra e fervor a história do nosso País neste século que termina.  

Para os que estão organizando a galeria dos homens ilustres que fizeram o Brasil, de 1900 até o ano 2000, Carlos Chagas já tem o seu lugar de honra, junto com Gaspar Viana, Oswaldo Cruz e Santos Dumont, no campo da aviação, como de outros eminentes cientistas da história do século do Brasil.  

O Sr. Carlos Patrocínio (PFL-TO) - Senador Tião Viana, V. Exª me permite um aparte?  

O SR. TIÃO VIANA (Bloco/PT-AC) - Com imenso prazer, eminente Senador e Colega do Estado de Tocantins.  

O Sr. Carlos Patrocínio (PFL-TO) - Nobre Senador Tião Viana, gostaria de parabenizar V. Exª por trazer um assunto tão bonito e fazer uma homenagem tão sincera a esse cientista que foi um dos maiores luminares da medicina sanitária no País: o Dr. Carlos Chagas. E àquela época, conforme V. Exª descreve, Carlos Chagas trabalhava enfrentando todas as adversidades, contraindo as moléstias que combatia. E parece que há muito tempo não ouvimos falar no nome dele. Até a doença que leva seu nome e que, graças a ele, está diminuindo sua ocorrência no País, parece que está fazendo com que o povo esteja se esquecendo de seu nome. Portanto, gostaria de cumprimentar V. Exª quando revive a memória desse grande brasileiro que honrou nossa querida profissão, um dos que mais a honraram, juntamente com outros que V. Exª cita: Oswaldo Cruz, Gaspar Viana e tantos outros cientistas brasileiros que deram, por assim dizer, suas vidas a fim de que o povo brasileiro pudesse ser amparado dessas enfermidades e endemias que tanto acometiam o País. E infelizmente, talvez por falta de homens dessa envergadura, estamos vendo várias doenças já praticamente banidas recrudescerem. Talvez seja isso mesmo que V. Exª esteja fazendo neste exato momento. Talvez tenhamos que chamar novamente Carlos Chagas, Oswaldo Cruz, os grandes homens da medicina brasileira. Parabéns a V. Exª.  

O SR. TIÃO VIANA (Bloco/PT-AC) - Agradeço, de modo muito sincero, o nobre Senador Carlos Patrocínio, que, como médico também, carrega a emoção de ouvir falar em Carlos Chagas, uma figura da história da humanidade, seguramente.  

Da minha formação médica, tenho a honra de afirmar que pode até ser uma ousadia, mas não conheço história tão bonita, em toda a história da ciência médica da América inteira, como a de Carlos Chagas: alguém que, com quatro anos de idade, ficou órfão de pai, que foi fundamental no sustento de sua família, que tinha uma influência forte e firme de sua mãe para ser engenheiro, como era o sonho da mãe dele, mas, aos 16 anos, já encontrava maturidade para traçar o seu destino no campo da ciência médica e da saúde pública. E é a figura mais admirável da nossa história da saúde.  

O Sr. Gerson Camata (PMDB-ES) - Senador Tião Viana, V. Exª me permite um aparte?  

O SR. TIÃO VIANA (Bloco/PT-AC) - Ouço com muita honra o eminente Senador Gerson Camata.  

O Sr. Gerson Camata (PMDB-ES) - Senador Tião Viana, sem interromper a linha do seu discurso, gostaria também de cumprimentá-lo. O Brasil se esquece muito das pessoas que vão fazendo a sua história; rapidamente elas se perdem na poeira do tempo. E V. Exª está resgatando a memória de um grande brasileiro exatamente numa época em que vemos os pobres brasileiros morrendo nos corredores dos hospitais. Aliás, a situação no Brasil está muito complicada, porque se paga muito tributo, muito imposto, mas, se não se pagar um plano de saúde privado, não haverá saúde; paga-se muito tributo e muito imposto, mas, se um filho não for para uma escola privada, particular, ele não vai aprender para conseguir passar no vestibular; paga-se muito tributo para que haja segurança, mas, ou contratamos um serviço de segurança, ou escondemo-nos e fechamos a porta de nossas casas, como uma prisão, para o bandido ficar solto do lado de fora praticando atos criminosos. É época de refletirmos sobre a biografia desse grande brasileiro que foi Carlos Chagas. Quando vemos essas medalhas que o Brasil conquistou nos Jogos Pan-Americanos, constatamos que foram conquistadas por filhos de pobres brasileiros. Os ricos brasileiros não competem, porque estão muito acomodados, talvez. Mas a classe média baixa e o pobre brasileiro foram dar essa lição de luta, de garra, de coragem. E nos chamam a refletir sobre a situação dessa camada da população brasileira que precisa agora de não ter que pagar um plano de saúde, mas ter assistência pública tanto na educação quanto na saúde e na segurança. Cumprimento V. Exª, que não deixou que se perdesse a memória de Carlos Chagas, esse grande brasileiro a quem todos nós veneramos por meio da sua fala.  

O SR. TIÃO VIANA (Bloco/PT-AC) - Agradeço o nobre Senador Gerson Camata, que há pouco tempo demonstrou um enorme apreço pelo Brasil, quando afirmou que os gringos de Detroit estavam rindo do Brasil por dar incentivos a algumas empresas internacionais, quando deveríamos defender mais o nosso País. Com certeza, seu apelo no sentido de uma segurança pública mais eficiente para o Brasil, uma educação à altura do povo brasileiro e acesso à saúde com dignidade é uma afirmativa fundamental para homenagear também a figura de Carlos Chagas. Eu gostaria de dizer que Carlos Chagas extrapola seu próprio tempo em função disso, porque é o exemplo de alguém humilde que, com quatro anos de idade, perdeu o pai, enfrentou todas as dificuldades da vida e, aos 16 anos – e hoje afirmamos que um jovem de 16 anos não tem condições de trilhar seu próprio destino –, Carlos Chagas afirmava segurança em um caminho, com responsabilidade, e trocava seus finais de semana pela luta para construir uma sociedade nova no campo da saúde pública.  

Penso que o Ministério da Saúde poderia incorporar exemplos dessa natureza e entender que a saúde pública pode ser feita com muita simplicidade, muita objetividade, como exemplificou Carlos Chagas. Não é preciso muito dinheiro. Cuba, com US$20 per capita , está entre os oito primeiros indicadores de saúde do mundo; a Inglaterra gasta 5,5% do seu PIB em saúde, tem os melhores indicadores da Europa Ocidental, numa saúde estatizada; o governo americano, que possui a saúde essencialmente privatizada, gasta 11,1% do seu PIB e possui indicadores piores dos que os da Inglaterra. O que falta é o senso de prioridade, de objetividade. Sem grandes mistérios, o Brasil poderia sair de uma condição de referência desconfortável na história da saúde e, quem sabe, afirmar-se, como fez nos Jogos Pan-Americanos. Nossos atletas, com simplicidade e humildade, acreditaram e lutaram muito para entrar para a história de nosso País.  

Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, é lastimável que, após o exemplo de Carlos Chagas e depois de toda a sua luta, nenhum governante brasileiro tenha tido a sensibilidade de declarar uma guerra final contra as doenças sociais e contra a miséria humana, que não têm qualquer sentido para existir em nosso País. Infelizmente, o Estado continua manobrado pelos poderosos e é em benefício deles que as instituições realmente funcionam. Aos pobres e marginalizados resta apenas a remota esperança de receberem algum benefício ou de que suas vidas mudem porque um milagre, quem sabe, possa acontecer um dia nos céus do Brasil.  

Era o que eu tinha a dizer.  

 

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Este texto não substitui o publicado no DSF de 10/08/1999 - Página 19825