Discurso no Senado Federal

HOMENAGEM DE PESAR AO POLITICO MINEIRO PIO SOARES CANEDO, FALECIDO NO ULTIMO DIA 21. (COMO LIDER)

Autor
Arlindo Porto (PTB - Partido Trabalhista Brasileiro/MG)
Nome completo: Arlindo Porto Neto
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • HOMENAGEM DE PESAR AO POLITICO MINEIRO PIO SOARES CANEDO, FALECIDO NO ULTIMO DIA 21. (COMO LIDER)
Publicação
Publicação no DSF de 26/08/1999 - Página 22146
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM POSTUMA, PIO SOARES CANEDO, POLITICO, ESTADO DE MINAS GERAIS (MG).

O SR. ARLINDO PORTO (PTB - MG. Como Líder. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, estamos de luto, em Minas Gerais, pelo falecimento, no dia 21, quando completava 90 anos, de uma figura ímpar de nossa terra. Um político habilidoso, um mestre na arte da articulação, patriota, autêntico mineiro, amigo sempre disponível, dono de uma sensibilidade e de uma formação humanística exemplares, enfim, um homem digno, íntegro, mestre de pelo menos duas gerações de homens públicos politicamente corretos.  

O nome dessa personalidade que marcou e será sempre lembrado nas terras mineiras é Pio Soares Canedo, que foi Vereador em sua cidade natal, Muriaé, pelo PRM (Partido Republicano Mineiro), e chegou a Prefeito, em 1943, depois de formar-se em Direito. Pouco depois, elegeu-se Deputado Estadual e foi nomeado Secretário de Estado de Interior e Justiça, no Governo Júlio Ferreira de Carvalho, em 1946, e, mais tarde, guindado para a Secretaria da Agricultura, Indústria, Comércio e Trabalho, já no Governo Noraldino Lima. Com Juscelino Kubitschek no Palácio da Liberdade – que, coincidentemente, tem, no dia de hoje, o 23º aniversário de morte e que também foi um dos luminares do velho PSD – o Doutor Pio, como era tratado pelos correligionários, amigos e companheiros do antigo Partido Social Democrático, o PSD, foi levado ao Conselho Consultivo do Banco Mineiro da Produção. Terminado o Governo JK no Estado, reelegeu-se para a Assembléia Legislativa, que presidiu, tornando-se também Líder do PSD, Líder da Maioria e também da Minoria, ficando como Deputado até 1966, quando tornou-se vice-governador do Dr. Israel Pinheiro (1966-1971). Impelido pelo artificialismo político do regime militar e suas mudanças de regras, Pio Canedo acabou por participar da criação da Arena, em Minas Gerais, até sua extinção, quando, mantendo o vínculo aos antigos correligionários, filiou-se ao PDS e ao PFL.  

Conhecido como um homem de hábitos modestos, Dr. Pio Canedo era um gigante na política, mas marcou todas as suas posições políticas como homem de bastidores, culto, capaz de refletir com habilidade e segurança a média da opinião pública e a opinião dos mineiros. Nos últimos anos, mesmo afastado dos cargos públicos, esteve presente em todos os momentos da política mineira, sempre bem informado, equilibrado, sensato, pronto a ouvir e aconselhar-se, predisposto para o entendimento e a conciliação.  

Quando um político desse quilate nos deixa, depois de ter marcado a sua vida com dosagens equilibradas de ousadia, destemor, sagacidade e muito mineiridade, não há como deixarmos de registrar essa lacuna na tribuna do Senado da República, em nome do Estado de Minas Gerais.  

Este registro ultrapassa o dever cívico de louvar aqueles que se dedicaram com altivez ao bem comum. É também o lamento pela perda de um amigo, amigo e conselheiro sempre disponível e afável, a quem recorri com freqüência, principalmente durante os quatro anos em que exerci o cargo de vice-governador do meu Estado de Minas Gerais.  

Sendo ele analista sereno de homens, de situações e de movimentos políticos, sempre me vali de seus juízos e orientações e ele as dava de forma humilde e despretensiosa.  

Minas e o mundo político perdem um luminar, um exemplo; eu, o amigo dileto e conselheiro de todas as horas, desde que lhe descobri a amizade e a capacidade de acertar na avaliação das coisas e dos homens. Mesmo agora, no Sendo Federal, nunca me furtei a recorrer ao velho mestre, pelo que ele tinha de bom senso, de espírito pacificador, pela sua visão do mundo, do Brasil e da nossa querida Minas Gerais, Estado pelo qual devotava tal amor que jamais aceitou cargos federais que o levassem para longe de suas montanhas. Era lá que o Dr. Pio era feliz, era lá que gostava de receber os amigos, para quem tinha palavras de sabedoria e sagacidade.  

Símbolo da tolerância e da sensibilidade política, o Dr. Pio também foi conselheiro e bom amigo do nosso ex-governador Hélio Garcia, originário da antiga UDN e um dos seus grandes líderes em Minas. Hélio Garcia nutria pelo Dr. Pio Canedo amizade e admiração. Com ele tinha uma identidade que nunca foi arranhada pelas filiações a Partidos, já que qualquer ação junto com o Dr. Pio Canedo representava a defesa intransigente dos mais altos interesses do povo mineiro, via conciliação e busca do entendimento político, grande arma para a conquista dos ideais maiores dos brasileiros.  

Hoje, posso dizer que todos que vivemos a política mineira nos últimos 40 ou 50 anos, em algum momento importante ou desafiador, buscamos ouvir o Dr. Pio Canedo, seguir seus históricos e indispensáveis ensinamentos ou adotar o método que ele adotou por toda sua vida: a busca do diálogo e do aconselhamento, desde que a tolerância fosse a arma principal quando se desejasse construir.  

Viúvo de Dona Marilza e, posteriormente, de Dona Mariângela, pai exemplar de quatro filhos, Dr. Pio Canedo deixou como seus herdeiros Pio Canedo Júnior, Ângela, Cândida e Auta Isla. Nosso ex-governador marcou com fatos históricos sua passagem importante pela política mineira. Citada por todos que o conheceram é a conciliação política que conseguiu fazer, quando da retomada democrática do Brasil, em 1946, quando ocupava o cargo de Secretário de Interior e Justiça do Governo estadual. No advento do Ato Institucional nº 2, que extinguiu os partidos políticos e criou a Arena, onde o Governo militar obrigava a se abrigarem políticos e parlamentares de origens e formação partidária as mais divergentes e diferentes, estava presente O Dr. Pio nesse momento nacional. Ousou enfrentar o então todo-poderoso general Arthur da Costa e Silva, Presidente da República eleito pelos militares, em Belo Horizonte, quando representava o Governador Israel Pinheiro, de quem era vice. Ao exigir que os oficiais da Polícia Militar de Minas cumprissem ordens dos oficiais do Exército, Costa e Silva mandou que o Governador desse voz de prisão ao policial militar que se negasse a subordinar. O Dr. Pio Canedo respondeu: "Presidente, já vi muito militar prender militar e até prender civil; mas civil prender militar, nunca vi", frase que acabou provocando a gargalhada do general e o fim das ameaças.  

Assim foi Pio Canedo: humanista, simples, ousado. Político mineiro autêntico, de poucos discursos e de muita ação política, marcou cinqüenta anos, pelo menos, da vida recente de Minas Gerais; jamais interessou-se pelo Parlamento Nacional ou por cargos federais, mas ocupou todos os espaços na política de Minas.  

Morreu Pio Canedo, mas suas idéias, experiências e ensinamentos ficarão eternamente para a atual e para as futuras gerações de políticos e representantes do povo, pois soube valorizar essas funções e agigantar-se na modéstia dos mandatos populares.  

Muito obrigado.  

 

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Este texto não substitui o publicado no DSF de 26/08/1999 - Página 22146