Discurso no Senado Federal

REFLEXÕES SOBRE O MOMENTO POLITICO E ECONOMICO BRASILEIRO.

Autor
Iris Rezende (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/GO)
Nome completo: Iris Rezende Machado
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.:
  • REFLEXÕES SOBRE O MOMENTO POLITICO E ECONOMICO BRASILEIRO.
Aparteantes
Agnelo Alves, Carlos Bezerra, José Fogaça, Romero Jucá, Romeu Tuma.
Publicação
Publicação no DSF de 27/08/1999 - Página 22268
Assunto
Outros > GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.
Indexação
  • ANALISE, HISTORIA, PAIS, AMBITO, LUTA, DEMOCRACIA, IMPORTANCIA, RESPEITO, MANIFESTAÇÃO COLETIVA, ATUALIDADE.
  • CRITICA, SETOR, OPOSIÇÃO, UTILIZAÇÃO, MANIFESTAÇÃO COLETIVA, PROVOCAÇÃO, AMEAÇA, ESTABILIDADE, ECONOMIA.
  • DEFESA, PRESIDENTE DA REPUBLICA, ACUSAÇÃO, RESPONSABILIDADE, CRISE, ELOGIO, ATUAÇÃO, GOVERNO FEDERAL, RECUPERAÇÃO, ECONOMIA.

O SR. IRIS REZENDE (PMDB - GO. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, tenho procurado, nos últimos dias, refletir com mais profundidade sobre a situação do País. Conclui que, na verdade, temos vivido momentos difíceis, como difíceis têm sido os anos que nos antecederam, desde que o País veio a perder a estabilidade política, vivendo no decorrer deste século que se finda dois longos períodos de regimes políticos autoritários.  

Antes mesmo da morte de Getúlio Vargas, implantou-se a democracia, estando à frente da Presidência da República o Presidente Eurico Gaspar Dutra, ocasião em que o Brasil viveu momentos de tranqüilidade, de confiança e de certeza de um futuro melhor. Getúlio Vargas chegou à Presidência da República pelo voto popular, acossado durante todo o seu governo justamente por políticas que mudavam a estrutura socioeconômica do Brasil, valorizando, sobretudo, os trabalhadores, ele não resistiu e buscou no suicídio o final de um mandato. Sr. Presidente, desde aquela época, o Brasil tem enfrentado sérias dificuldades.  

A renúncia de Jânio Quadros, eleito com uma maioria extraordinária à presidência da República, trouxe uma grande e profunda frustração para a população brasileira. A eleição de Fernando Collor de Mello, também eleito com uma maioria extraordinária, foi a segunda e grande frustração social, quando o povo que o elegeu se viu obrigado a ir às praças e às ruas colocar um paradeiro na corrupção que campeava neste País, solicitando o seu impeachment.  

Sr. Presidente, tivéssemos tempo, ficaríamos aqui horas e horas a demonstrar que realmente a população brasileira tem vivido momentos realmente inquietantes. Revivemos um longo período de ditadura militar, 20 anos em que o povo não tinha oportunidade de se manifestar, de protestar, nem a imprensa de falar e expor as suas idéias de mostrar aquilo que se passava nos porões da ditadura.  

Bem, fui um dos autores, com muita glória para mim, de, insurgindo-me contra a ditadura, ter a coragem de me candidatar ao governo de Goiás como candidato de oposição à ditadura. E, no governo, cumpri aquele compromisso solene assumido nas praças de que, se eleito, faria do governo um instrumento forte, vivo, na busca pela redemocratização do nosso País. E realizamos naquele Estado a primeira manifestação pública pela anistia ampla, geral e restrita. Ainda com os nossos direitos políticos suspensos, realizamos em Goiás a primeira grande concentração popular, onde se reuniram mais de 500 mil pessoas na busca das Diretas-já. Não alcançando sucesso no Congresso Nacional, foi também em Goiás, na praça pública, com a presença de mais de 200 parlamentares da Oposição, Deputados Federais e Senadores, novamente diante de uma multidão de mais de 600 mil pessoas, que procuramos legitimar a participação das oposições no colégio eleitoral, quando se elegeu Tancredo Neves e José Sarney, Presidente e Vice-Presidente da República, respectivamente.  

Hoje, Sr. Presidente, quando vejo em Brasília milhares de produtores rurais, de maneira ordeira e serena, trazendo suas reivindicações, fazendo seus protestos, nós sabemos que esse é o resultado de muitas lutas e da participação de milhares de lideranças.  

Quando vejo hoje, em Brasília, milhares de pessoas manifestando-se contra o Governo reeleito para a Presidência da República, encaro com respeito essas manifestações, tenho que fazê-lo, tenho que entender que movimentações como essas representam o ponto alto da democracia no País.  

Sei, Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, que, com a minha experiência de 40 anos de vivência política, em manifestações como a de hoje estão aqueles preocupados com o desemprego, com possíveis erros praticados pelo Governo - porque todo governo erra, pois constituído de pessoas, imperfeitas, muitas vezes incorre em erros -, no meio dessas pessoas, também estão aqueles autores de uma política, conhecida ao longo dos anos, do "quanto pior melhor". Aqueles que muitas vezes, aqui e alhures, buscam o poder nos momentos de dificuldade. E o povo, muitas vezes sem rumo e sem coordenação, se entrega nas mãos daqueles que saem primeiro aproveitando os descontentamentos, as incertezas e se apoderam do poder. Isso aconteceu em muitos países. Em quantos países foram implantados regimes de direita ou de esquerda em momentos de dificuldades? Ao longo dos anos, a História nos mostra que, ao final, era o povo a pagar caro, a sofrer o resultado de ações irresponsáveis, inconseqüentes, por parte daqueles que têm - eu repito - o lema "quanto pior melhor".  

Sr. Presidente, respeito essas manifestações, mas devo aqui salientar que elas nos preocupam. A minha presença nesta tribuna é justamente para fazer lembrar àqueles que se preocupam com manifestações mais aceleradas, mais radicais que, na Presidência da República - felizmente e graças à sabedoria do povo -, está um brasileiro equilibrado, prudente, competente, consciente de sua missão, principalmente quando se inicia um segundo mandato presidencial.  

E é nessa hora que venho ressaltar, como representante de um Estado central do Brasil, Goiás, que as coisas não parecem ser tão caóticas, tão difíceis como querem apregoar. Não. Essa dificuldade vivida hoje pelo Brasil não é resultado de um mandato presidencial. É o resultado de anos e anos de desacertos, de erros, de inconseqüências, de irresponsabilidades de muitos que governaram este País.  

Sr. Presidente, não apoiei o Presidente Fernando Henrique Cardoso na sua primeira eleição para Presidente da República, mas o fiz agora no segundo mandato, porque senti - e manifestei na Convenção Nacional do PMDB - que ele, realmente, é um homem preparado para o momento. Caso o Presidente Fernando Henrique Cardoso, quando assumiu o governo, num clima de dificuldades, inflação galopante, dívida interna e externa aumentando a cada dia, tivesse deixado de voltar suas atenções para essa situação e administrasse o País apenas fazendo concessões aos segmentos que formam a opinião pública, Sr. Presidente, eu não o teria apoiado, porque o País, em hora de dificuldade, precisa de estadista que realmente tenha coragem de contrariar, de tomar atitudes momentaneamente antipáticas, difíceis, mas que, no futuro, trará tranqüilidade ao País.  

Sr. Presidente, fiz aqui algumas anotações, durante esses últimos três dias: onde está, por exemplo, a recessão de 5% e até 7% do PIB, proclamada há poucos meses pelos autores da política do "quanto pior melhor"? Onde está a inflação desgovernada, que alcançaria de 50% a 70%, anunciada por eles, em todas as tribunas dos parlamentos e em todas as entrevistas que davam quando medidas foram tomadas, medidas duras, porém necessárias, pelo Presidente da República, na mudança do rumo da nossa economia? Onde estaria o País, se nós, no início do ano, tivéssemos dado ouvidos a tais profetas do precipício, que muitas vezes desacreditam o País? Mas nós, aqui no Senado, no Congresso Nacional, não vacilamos, porque havia, na verdade, razões definitivas para perseverar no rumo anteriormente traçado.  

Não menos definitivas são as razões que nos levam hoje a manter a mesma atitude de obstinada determinação. Há muito tempo, os fundamentos da economia brasileira não eram tão sólidos quanto agora. O IPCA, por exemplo, Índice de Preços ao Consumidor, adotado para fins da política de metas de inflação, deverá ficar em torno de 8%, dentro portanto do intervalo de variação estabelecido pelo Banco Central para este ano. Os juros também não explodiram, pelo contrário, estão sendo reduzidos com freqüência. Aliás a taxa de juros declinou entre março e agosto nada menos do que 25 pontos percentuais. Em termos reais, trata-se de taxa de juros básica mais baixa dos últimos cinco anos. E vai continuar caindo, estou certo. Mais importantes ainda são as medidas determinadas pelo Presidente Fernando Henrique Cardoso ao Banco Central, que brevemente resultarão na queda dos juros na ponta do crédito para os consumidores e para as empresas, numa demonstração inequívoca de confiança nas perspectivas de longo prazo da economia brasileira. Dezoito bilhões de dólares já entraram neste País este ano. A previsão é de que, até dezembro, o ingresso de investimentos externos some US$23 bilhões, superando, até por larga margem, as expectativas iniciais.  

Esse fluxo considerável de investimento direto nos confere uma situação muito tranqüila no financiamento de nossas contas externas. O déficit em transações correntes está se reduzindo; de cerca de US$34 bilhões, em 1998, passou para US$23 bilhões este ano e vem sendo financiado inteiramente por capital de longo prazo. No próximo ano, com um volume menor de amortização, estou certo, e a geração de um superávit comercial mais expressivo, haverá ainda maior tranqüilidade no setor externo. Ninguém duvida de que a mudança do câmbio resultará em significativo incremento das exportações, que terá reflexo fundamental na geração de empregos.  

Todos esses indicadores explicam e dão sustentação ao surpreendente processo de recuperação da economia. Não temos o direito, portanto, de acreditar na ladainha daqueles que, por falta de rumo, procuram convencer o povo pregando o pior. Não. Sou favorável, Sr. Presidente, às manifestações. Fui autor delas, como disse aqui no início do meu pronunciamento, mas não podemos nos calar quando observamos que querem criar no subconsciente do povo brasileiro um sentimento caótico, para provocar incerteza e insegurança.  

O Brasil é um País difícil de ser governado, é um país de 165 milhões de habitantes, é um país onde a fome ainda campeia em vasta área da sociedade, é um país que ainda tem muitas famílias sem moradia, mas não será de um dia para o outro que todos esses problemas serão solucionados.  

Sr. Presidente, o que observo é o caráter, é o sentimento, é a formação, é a determinação do nosso Presidente. Tenho certeza de que Sua Excelência, no decorrer do seu mandato, vai trazer soluções para esses problemas; vai solucionar os problemas dos produtores rurais; vai enfrentar e solucionar, em grande parte, o problema do desemprego no Brasil; vai promover o nosso crescimento, o desenvolvimento econômico brasileiro; vai realmente encontrar os caminhos que estão sendo buscados com muita responsabilidade, caminhos que nos levem à segurança. O Presidente enfrenta problemas criados por Governos décadas e décadas passados. Não podemos admitir que, com tanta facilidade, venham dizer: "Bota fora. Não mais. Não é assim"!

 

Temos que fazer política com responsabilidade, indicando soluções, indicando o caminho. Nunca pensando que, com protestos, conclamando para que o Presidente renuncie, para que o Congresso, diante de uma manifestação, se impressione e busque impedir o Presidente, vamos conduzir o País àquela posição tão desejada, tão sonhada pelos antepassados, mas que, tenho certeza, será conduzida pela sociedade brasileira no presente e no futuro.  

O SR. PRESIDENTE (Carlos Patrocínio) - Nobre Senador Iris Rezende, não quero interromper V. Exª, mas apenas alertá-lo sobre o tempo, porque vejo vários Srs. Senadores querendo aparteá-lo. Peço a S. Exªs que sejam breves, pois o tempo do orador está esgotado. Ainda há cinco oradores querendo fazer uso da palavra.  

O SR. IRIS REZENDE (PMDB - GO) - Muito obrigado, Sr. Presidente, pela condescendência de V. Exª. Concederei, então, os apartes aos nossos ilustres Senadores, que, já pela posição de seus respectivos microfones, manifestam esse interesse.  

O Sr. Romeu Tuma (PFL - SP) - V. Exª me permite um aparte?  

O SR. IRIS REZENDE (PMDB - GO) - Com muito prazer, Senador Romeu Tuma.  

O Sr. Romeu Tuma (PFL - SP) - Senador Iris Rezende, eu até tinha a pretensão de me inscrever para fazer um curto pronunciamento. V. Exª é um Senador que tem a minha admiração desde a primeira hora em que assumi o meu cargo como Senador; antes também, quando, com tanta competência, com tanta dedicação ao seu povo de Goiás, soube governar nos momentos difíceis que o País atravessava. Agora V. Exª vem a esta tribuna com a inteligência e com a experiência que Deus lhe deu, nesses vários anos de militância política, e faz uma descrição clara da história deste País, dos momentos que V. Exª, participando dessa história, soube atravessar com dignidade, com respeito e com coragem. Eu não diria que esses momentos se repetem. A história normalmente se repete ao longo do seu giro natural, mas esse não é um momento de sua repetição. O Presidente Fernando Henrique, assim como V. Exª, participou da história com o objetivo de trazer ao País uma democracia livre, onde pudesse haver as manifestações que hoje se estão realizando no Planalto. Os manifestantes aqui comparecem, livremente, para mostrar o seu desagrado em relação a alguns aspectos da política do Presidente Fernando Henrique. Ainda hoje, num artigo da Folha, escrito pelo Ministro da Justiça, Sua Excelência diz o que se espera dos governantes: "Que saibamos celebrar a anistia garantindo o direito de reunião e livre manifestação do pensamento, o respeito ao poder legitimamente constituído pelo povo. Dos opositores, que sejam conseqüentes, zeladores da democracia, demonstrando como expectantes do Poder a responsabilidade para o seu virtual exercício". É isso o que se espera. Às vezes tem-se a oportunidade de conversar com o Presidente da República - quisera eu que fossem mais vezes, mas sei das grandes dificuldades do Presidente no seu dia-a-dia. Verificamos que 100 mil é um número de marketing, elaborado pelos organizadores dessa manifestação. V. Exª, como eu, que já participou de conversas abertas, de coração livre com o Presidente da República, sabe que, se um brasileiro está amargurado; se um brasileiro passa necessidade, se tem fome, isso gera uma profunda angústia no coração do Presidente - como V. Exª sempre sentiu na sua gestão como Governador. Tivemos quatro anos de luta para equacionar o problema, o equilíbrio econômico - como V. Exª demonstra com números, com clareza em seu pronunciamento. Houve recentemente terríveis terremotos físicos na Turquia, maremotos e na economia também, Sr. Senador Iris Rezende. Também houve terremotos na Ásia, na Rússia, em vários países, cujo epicentro refletiu nos países em desenvolvimento. O que o Governo fez desde a primeira hora em que participávamos da sua base de apoio não alterou o seu projeto. Os fatos que vêm acontecendo ao longo deste período fizeram com que Sua Excelência procurasse um gerenciamento para não perder tudo o que fez nesses últimos quatro anos, no seu primeiro mandato. Temos que entender que o Presidente precisa de apoio. Sozinho não conseguirá resolver o momento difícil que o País atravessa. Há vários temores, há vários segmentos com dificuldade. Como V. Exª disse, se não continuarmos com o processo de apoio irrestrito ao Presidente da República, liberando àqueles que queiram protestar, mas fazendo-o contar com a base e apoio, numa luta incessante para alcançar os objetivos que traçou no início de seu Governo, logo após sua reeleição, e que V. Exª, com deslumbramento, com visão política, com amor ao seu povo e com a proteção de Deus, tão bem está sabendo esclarecer a população.  

O SR. IRIS REZENDE (PMDB - GO) - Muito obrigado, Senador Romeu Tuma, pelo seu rico aparte, que integrará o meu pronunciamento, com muita honra para mim. Gostaria de observar que estivesse o Presidente da República hoje, como em determinados momentos de ações interessantes, com 60% ou 70% de aprovação, eu não estaria fazendo este pronunciamento. Faço-o justamente para mostrar ao povo brasileiro que esse descontentamento é absolutamente aceitável e deve ser respeitado, mas que existe em virtude de ações político-administrativas extremamente necessárias ao País. E, nesta hora, os Líderes que se prezam não podem faltar com o seu apoio a um Governo que considero responsável e sério.  

O Sr. Romero Jucá (PSDB - RR) - Permite-me V. Exª um aparte?  

O SR. IRIS REZENDE (PMDB - GO) - Com muito prazer, Senador Romero Jucá.  

O Sr. Romero Jucá (PSDB - RR) - Meu caro Senador Iris Rezende, eu gostaria de tecer comentários sobre o discurso de V. Exª, mas, infelizmente, o prazo é curto. Contudo, eu não poderia deixar de louvar e aplaudir o seu pronunciamento, pelo equilíbrio, pela maturidade, pela clareza e pela competência com que descreveu o quadro que o País vive. Sem dúvida, a experiência de V. Exª, a sua história política e o seu passado de lutas corroboram o seu discurso de uma forma muito forte. Dentro em pouco também usarei da palavra para tratar dessa questão, mas, seguramente, V. Exª foi de uma competência extrema ao clarificar o quadro e ao demonstrar o esforço e o caminho que o País está traçando. O Brasil tem rumo, tem dificuldades, e devemos ter a responsabilidade de ajudá-lo a fazer essa transposição, levando-o para o destino que todos queremos. Meus parabéns!  

O SR. IRIS REZENDE (PMDB - GO) - Muito obrigado, Senador Romero Jucá, pelo aparte de V. Exª.  

Devemos salientar - porque muitas vezes temos a memória curta e isso não pode acontecer, principalmente no universo político - que há poucos meses, quando a crise desabou sobre países da Ásia e sobre a Rússia, colocou-se o Brasil como a bola da vez, e o Presidente Fernando Henrique está dando a volta por cima. A nossa situação não é tão grave quanto a de outros países por onde passou o vendaval que deixou grandes destroços em suas economias.  

Muito obrigado pelo aparte de V. Exª, Senador Romero Jucá.  

O Sr. Carlos Bezerra (PMDB - MT) - Permite-me V. Exª um aparte?  

O SR. IRIS REZENDE (PMDB - GO) - Com muita honra, Senador Carlos Bezerra.  

O Sr. Carlos Bezerra (PMDB - MT) - Nobre Senador Iris Rezende, estou acompanhando atentamente o pronunciamento de V. Exª e acho que ele está correto. Somos do mesmo Partido, apoiamos o Governo, nunca deixamos de votar a favor das propostas governamentais, mas estou preocupado, apesar de torcer pelo sucesso do Governo do Presidente Fernando Henrique Cardoso e de ajudá-lo no que for possível. Existem algumas anomalias que precisam ser corrigidas logo pelo Governo. V. Exª disse que o Governo vai achar um caminho para os agricultores, e espero que sim, porque nossa agricultura está diante de um impasse: o custeio agrícola, que era de R$400,00 por hectare, passou para R$800,00, e o preço do produto diminuiu. Assim, não há como produzir e nossa agricultura irá à bancarrota. O Brasil espera aumentar as suas exportações com a produção primária. Essa é a política do Governo, pois o setor industrial não vai muito bem e não há condições de se aumentarem as exportações imediatamente. Por outro lado, o Brasil negociou mal a abertura econômica. Abriu as portas do País à importação e não negociou a colocação de nossa produção lá fora. O que aconteceu? Veio o produto de fora, e hoje temos dificuldades de colocar nossa produção no exterior. A Europa, a Ásia, os Estados Unidos, todos estão defendendo a sua economia, a sua agricultura, o seu setor industrial, dando-lhes subsídios, o que não fazemos aqui. Assim, alguns pontos da política econômica governamental devem ser repensados, como a questão da dívida, que é gravíssima, e a questão da agricultura, que é urgente e imediata. Senador Iris Rezende, não sei se o mesmo ocorre em Goiás, mas no Mato Grosso o consumo de adubo, já nesta época de início de plantio, está muito menor do que no ano passado. No que diz respeito a essa marcha que acontece hoje em Brasília, penso que é mais do que democrática e é um direito da Oposição promovê-la. Torcemos pelo sucesso do Governo, mas alguns reparos na atual política econômica devem ser feitos. O País está melhorando, o índice de emprego se estabilizou - o que, pelo menos, é uma boa notícia -, mas há gargalos que precisam ser resolvidos imediatamente. Parabéns a V. Exª pelo pronunciamento.  

O SR. IRIS REZENDE (PMDB - GO) - Muito obrigado, Senador Carlos Bezerra, pelo aparte. A manifestação de preocupação de V. Exª é um alento para todos nós, porque, em situação complexa e difícil, triste seria se ninguém se preocupasse. Ao ver V. Exª preocupado, líder responsável que é, estou certo de que o Presidente Fernando Henrique também estará, assim como todos nós, preocupado com a busca desse caminho que devemos perseguir.  

O Sr. Agnelo Alves (PMDB - RN) - Permite-me V. Exª um aparte?  

O SR. IRIS REZENDE (PMDB - GO) - Com muita honra, concedo o aparte ao digno Senador Agnelo Alves.  

O Sr. Agnelo Alves (PMDB - RN) - Muito obrigado a V. Exª. Eu queria fixar alguns aspectos, se o Presidente permitir. Ressalto o erro tático, ou estratégico, da Oposição: primeiro, faz uma crítica ou adota uma posição populista, quando estamos num regime democrático, presidencialista, que deve ter o seu curso normal. Qualquer alteração nesse curso poderá significar uma interrogação, e não estamos em condições de saber qual será esse rumo. Em segundo lugar, manifesta-se numa quinta-feira. E amanhã, sexta-feira? E no dia seguinte? Senado e Câmara, sábado, domingo, segunda, uma tremenda pausa para se ganhar tempo, tempo, tempo, e as coisas se amainarem. Por último, anuncia cem mil pessoas na caminhada. Pode ser que não venham, não por falta de descontentamento, mas pelas difíceis condições para que esse descontentamento se manifeste. Nós, democratas, devemo-nos acostumar com as manifestações - que podem ser de cem mil, de dez mil, de quinze mil, de uma pessoa, duas ou três pessoas -, que devem ser encaradas com absoluta normalidade, como agora. A manifestação está ocorrendo lá fora, e nós estamos aqui reunidos, trabalhando, desempenhando o nosso papel. Muito obrigado a V. Exª. Transmito-lhe os meus parabéns pelo seu discurso.

 

O SR. IRIS REZENDE (PMDB - GO) - Muito obrigado.  

O SR. PRESIDENTE (Carlos Patrocínio) - Nobre Senador Iris Rezende, a Mesa adverte V. Exª para que seja o mais breve possível, uma vez que gostaria de ouvir todos os aparteantes e os outros oradores inscritos.  

O SR. IRIS REZENDE (PMDB - GO) - Sr. Presidente, V. Exª foi extremamente generoso.  

O Sr. José Fogaça (PMDB - RS) - Permite-me V. Exª um aparte?  

O SR. IRIS REZENDE (PMDB - GO) - Vou conceder o aparte, que para mim é sempre motivo de muita honra, ao nosso digno Senador José Fogaça.  

O Sr. José Fogaça (PMDB - RS) - Caro Senador Iris Rezende, quero fazer o registro da satisfação que tenho em ver V. Exª, desta tribuna, assumir uma posição de liderança, de responsabilidade, de vanguarda, eu diria, no sentido de chamar o País, o Senado Federal, os Parlamentares, Senadores e Deputados, para o bom-senso, para uma perspectiva de história. V. Exª enfatizou, com uma veemência comovente, que os problemas do País hoje não foram construídos agora e não são resultado de erros recentes. Isso é um acúmulo da história, isto é uma herança dos tempos. Exigir que um Governo, recém-completando seis meses do seu segundo mandato, já, desde logo, tenha tomado todas as iniciativas para todas as soluções é uma demasia, é uma forma completamente equivocada de conduzir a legítima situação das Oposições no Brasil. Ao longo dos últimos 75 anos, Senador Iris Rezende, só dois presidentes da República, somente dois, em 75 anos, tiveram o privilégio de ser eleitos pelo voto e de poder entregar o governo para outro presidente eleito pelo voto: somente o General Eurico Gaspar Dutra, que foi eleito pelo voto e passou o governo a Getúlio Vargas, também eleito pelo voto, e Juscelino Kubitschek, eleito também pelo voto, que passou o mandato para Jânio Quadros, também eleito pelo voto. À exceção desses dois, em três quartos de século, não há exemplo de outro presidente da República que possa ter tido esse privilégio da seqüência da normalidade democrática. O que o Presidente Fernando Henrique Cardoso quer, eleito pelo povo, é poder encerrar o seu mandato e entregá-lo para qualquer outro presidente - da Oposição, da Situação, seja quem for -, também eleito pelo voto. A única vez em que houve no País essa mobilização por renúncia foi em 1954 com o Movimento Lacerdista contra Getúlio Vargas que redundou, como sabemos, no suicídio de Getúlio, e, 10 anos depois, no golpe militar de 64. Relembro aqui, Senador Iris Rezende, uma outra parte da nossa história. Na história da República, todos os movimentos pró-renúncia levaram a golpes militares. Não há outra experiência em outra direção, em outro sentido. Não estou dizendo que este é um movimento golpista, porque não o é. Não estou dizendo que a intenção é derrubar o Presidente, até porque não podem. Um democrata tem de pensar dez mil vezes antes de iniciar um movimento como este, se ele é responsável perante a história e perante o seu país. E só não é golpista porque temos um Governo que tem um projeto, que tem uma visão de futuro ordenada, seqüenciada, prevista. É por isso, porque há um Governo que tem um projeto econômico, que não há golpismo. Não é por ponderação ou moderação das Oposições. Nesse sentido é que eu quero fixar essa parte tão importante do pronunciamento de V. Exª. V. Exª, tão cheio de autoridade, tão cheio de história em sua vida pessoal, testemunha de momentos importantes da história do Brasil, quero dizer que V. Exª acertou no ponto fulcral, hoje, no seu pronunciamento.  

O SR. IRIS REZENDE (PMDB - GO) - Muito obrigado, Senador José Fogaça. É com muita honra que vejo integrando o meu pronunciamento esse aparte muito importante de V. Exª.  

Sr. Presidente, agradeço a paciência que teve para conosco, nos permitindo debater, mesmo avançando no tempo que nos é dado, o momento político-administrativo atual.  

Quero encerrar as minhas palavras salientando que, se quisesse o Presidente Fernando Henrique Cardoso buscar, de imediato, uma popularidade fácil, preocupar-se Sua Excelência com o índice de aceitação desses momentos do seu Governo, bastaria que voltasse a permitir a estabilidade dos funcionários públicos, bastaria que permitisse que os funcionários, sem quaisquer arranhões, continuassem com a Previdência como estava; bastaria que o Presidente escancarasse o Tesouro, momentaneamente, para distribuir favores aqui e ali e Sua Excelência teria, imediatamente, uma mudança radical. Mas aí seria o caos, seria o fim, porque seria Governo alimentado pela irresponsabilidade e pela inconseqüência. No entanto, vem o Presidente da República, desde o seu primeiro mandato, tomando medidas antipáticas, bulindo, tocando nos interesses muitas vezes ilegítimos de segmentos do País, que sempre pensaram que o Governo existe em função deles, e o povo que vá às favas! Não. O Presidente, hoje, fere interesses de grupos, de segmentos, mas consciente de que está buscando, com essas posições, justiça social para o Brasil, para que as gerações futuras não se envergonhem diante da miséria, da fome, da pobreza que campeia neste País.  

Muito obrigado, Sr. Presidente.  

 

Î Ë @ 


Este texto não substitui o publicado no DSF de 27/08/1999 - Página 22268