Discurso no Senado Federal

COMENTARIOS AO PLEBISCITO SOBRE A INDEPENDENCIA POLITICA DO TIMOR LESTE, A REALIZAR-SE NO PROXIMO DIA 30, POR INICIATIVA DA ONU.

Autor
Carlos Patrocínio (PFL - Partido da Frente Liberal/TO)
Nome completo: Carlos do Patrocinio Silveira
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA EXTERNA. MOVIMENTO TRABALHISTA.:
  • COMENTARIOS AO PLEBISCITO SOBRE A INDEPENDENCIA POLITICA DO TIMOR LESTE, A REALIZAR-SE NO PROXIMO DIA 30, POR INICIATIVA DA ONU.
Publicação
Publicação no DSF de 28/08/1999 - Página 22372
Assunto
Outros > POLITICA EXTERNA. MOVIMENTO TRABALHISTA.
Indexação
  • SOLICITAÇÃO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, AUTORIDADE, ITAMARATI (MRE), GARANTIA, CONTRIBUIÇÃO, BRASIL, PROCESSO, PLEBISCITO, EFETIVAÇÃO, INDEPENDENCIA, AUTONOMIA, PAIS ESTRANGEIRO, TIMOR LESTE.
  • CUMPRIMENTO, PARTICIPANTE, MARCHA, BRASILIA (DF), DISTRITO FEDERAL (DF), PROTESTO, SITUAÇÃO, DIFICULDADE, BRASIL, TENTATIVA, OBTENÇÃO, ATENÇÃO, GOVERNO FEDERAL, EFICACIA, SOLUÇÃO, PROBLEMAS BRASILEIROS.

O SR. CARLOS PATROCÍNIO (PFL - TO. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, eu não gostaria de deixar passar esta sexta-feira sem fazer um apelo às autoridades diplomáticas do nosso País no que concerne ao plebiscito que deverá ser realizado no próximo dia 30, no Timor Leste. Povo irmão, de origem lusófona, ou seja, de língua portuguesa, que desde a invasão da sua província, em 1975, pela Indonésia, vem passando por várias crises, vem tentando libertar-se do jugo da Indonésia, mas a situação é tão difícil, Sr. Presidente, que hoje, no Timor Leste, irmãos estão brigando contra irmãos. Existem milícias de timorenses contrárias ao processo de independência devido à pobreza daquele país e aos favores que recebem do governo da Indonésia.  

Há poucos dias, mais de dez mil timorenses foram às ruas na manifestação mais importante até então ocorrida naquele país. Houve choque dos timorenses favoráveis à libertação, à autonomia e à independência com milícias contrárias e com a polícia da Indonésia.  

O plebiscito patrocinado pela ONU, Sr. Presidente, conta com o apoio de vários chefes de Estado, inclusive o do Presidente Fernando Henrique Cardoso, que quando esteve em Portugal asseverou que o Brasil estaria participando, com os irmãos timorenses, desse processo de libertação.  

Apelo às autoridades diplomáticas do nosso País, ao Itamaraty, no sentido de que envidem esforços com o objetivo de contribuir para que esse plebiscito se processe na mais absoluta lisura. Assim fazendo, estaremos ajudando o povo timorense a, efetivamente, conquistar o direito a sua autodeterminação.  

Líderes importantes como a ativista Zoana Víctor, presa durante muito tempo na década de 70, reacendem a sua esperança na independência daquele país. Na última manifestação, desfraldaram a bandeira do Timor Leste, nas cores branca, verde e azul, o que era proibido até então. Sabemos que pelo menos três pessoas morreram nas últimas manifestações e pessoas vêm morrendo ao longo destes quase 25 anos de jugo do Timor Leste.  

Portanto, Sr. Presidente, eu gostaria de fazer este apelo às autoridades diplomáticas do nosso País e ao Presidente Fernando Henrique Cardoso, para que, através da ONU, assegurem a contribuição do Brasil para que o processo de plebiscito se processe na mais absoluta harmonia e que possa o povo timorense, depois de tanto sofrimento, conseguir a sua autonomia política. A propósito, em sua última audiência da semana passada, o Papa João Paulo II também se manifestou favorável à liberdade sem traumas para o povo do Timor Leste.  

Já tivemos oportunidade de enaltecer aqueles bravos lutadores, como é o caso de Xanana Gusmão, que passou mais tempo de sua vida no presídio, mas continua firme nesta luta para a independência do Timor Leste. Nessa última manifestação, o seu retrato aparecia em todos os locais.  

Tenho a certeza de que o Brasil haverá de dar a sua contribuição para que se assegure a lisura que se espera nesse processo e, assim, ajudar o bravo povo, os irmãos de língua portuguesa do Timor Leste, a lutar pela sua autodeterminação.  

Eu gostaria também, Sr. Presidente, de cumprimentar os manifestantes que estiveram ontem em Brasília - não se sabe quantos estiveram presentes, pois as estimativas são díspares: fala-se em 100 mil, 75 mil, 40 mil, 60 mil, mas não se sabe o número exato. O movimento que presenciamos ontem na Capital Federal, a marcha de protesto contra uma série de dificuldades por que passa o Brasil, foi ordeiro, pacífico, e merece a atenção do Congresso Nacional e do Governo Federal.  

Quero dizer que não concordamos de maneira nenhuma com tentativas de golpe, pois o que temos de mais legítimo neste País é a vitória do Presidente Fernando Henrique Cardoso, que tem envidado todos os esforços para que o Brasil possa, efetivamente, competir com uma certa igualdade neste processo moderno de globalização.  

Globalização para mim, Sr. Presidente, é uma maneira nova, moderna de colonização. Os países periféricos, os países em desenvolvimento e em dificuldade têm que se preparar para enfrentar esse perverso processo que nada mais é do que a tentativa das grandes nações de engolir as nações menos poderosas e mais fracas.  

Portanto, a grande virtude do movimento de ontem foi chamar a atenção das autoridades constituídas deste País, principalmente porque a manifestação se processou dentro da mais absoluta ordem, paz e cordialidade. Temíamos que pudesse haver choque entre as autoridades policiais e os participantes desse movimento, mas, conforme se observou, tudo transcorreu dentro da mais absoluta normalidade.  

O movimento é válido, como é válido também o movimento dos produtores rurais do nosso País. Acho que gente com barriga cheia não estaria disposta a enfrentar essas viagens tão longas para fazer manifestação contra o Governo Federal. Essa manifestação, principalmente por ter se processado dentro da mais absoluta ordem e harmonia, deve ser observada atentamente pelo Congresso Nacional, pois o que se ouve dizer é que novas manifestações virão. Nós, enquanto parlamentares, enquanto representantes dos nossos Estados e do povo brasileiro, temos que estar atentos para essas manifestações, aplaudindo aquelas que efetivamente tiverem substrato, tiverem consistência, e repelindo aquelas que tiverem cunho meramente ideológico - o que a meu ver não foi o caso da manifestação pacífica e ordeira de ontem.  

Era o que tínhamos a registrar nesta manhã de sexta-feira.  

Muito obrigado, Sr. Presidente.  

 


Este texto não substitui o publicado no DSF de 28/08/1999 - Página 22372