Discurso no Senado Federal

EXPECTATIVA QUANTO AO CUMPRIMENTO DO REFERENDO POPULAR SOBRE A INDEPENDENCIA DO TIMOR LESTE.

Autor
Eduardo Suplicy (PT - Partido dos Trabalhadores/SP)
Nome completo: Eduardo Matarazzo Suplicy
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA INTERNACIONAL.:
  • EXPECTATIVA QUANTO AO CUMPRIMENTO DO REFERENDO POPULAR SOBRE A INDEPENDENCIA DO TIMOR LESTE.
Publicação
Publicação no DSF de 03/09/1999 - Página 23176
Assunto
Outros > POLITICA INTERNACIONAL.
Indexação
  • APOIO, REALIZAÇÃO, ELEIÇÕES, PAIS ESTRANGEIRO, TIMOR LESTE, IMPORTANCIA, REFERENDO, DECISÃO, INDEPENDENCIA.
  • DEMONSTRAÇÃO, APREENSÃO, VIOLENCIA, GRUPO, OPOSIÇÃO, INDEPENDENCIA, PAIS ESTRANGEIRO, TIMOR LESTE.
  • COMENTARIO, IMPORTANCIA, MANIFESTAÇÃO, FERNANDO HENRIQUE CARDOSO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, APOIO, GOVERNO BRASILEIRO, INDEPENDENCIA, PAIS ESTRANGEIRO, TIMOR LESTE, REALIZAÇÃO, REFERENDO.

O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT - SP. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, gostaria de expressar meu apoio à realização das eleições no Timor Leste e ressaltar a importância do referendo popular ocorrido no dia 31 de agosto último, cujo resultado será divulgado oficialmente na próxima segunda-feira.  

Por outro lado, expresso também a preocupação de toda a opinião pública mundial e, como Senador, de todo o povo brasileiro com respeito à violência que está acontecendo, infelizmente com certa complacência da polícia da Indonésia.  

Conforme imagens de ontem mostradas pelos meios de comunicação, as milícias do movimento pró-autonomia, mas que são contrárias à independência, estão agindo com extraordinária violência, matando timorenses do leste, favoráveis à independência.  

Três Parlamentares brasileiros - os Deputados João Herrmann Neto, do PPS, Pedro Valadares, do PSB, e Paulo Delgado, do PT - estiveram presentes por ocasião do referendo, no dia 31 de agosto, e estão voltando hoje, devendo chegar amanhã no Brasil, quando poderão nos relatar a preocupação que lá tiveram, porque foram testemunhas das violências ocorridas nas ruas de Dili, Capital do Timor Leste, e mesmo no interior.  

Ainda hoje, o câmera da Associated Press Television News , Dan Furnad, relatou o episódio ocorrido ontem em Dili:  

Olhando sobre seu ombro, o rapaz correu rua abaixo, tentando escapar de seus perseguidores. Um dos integrantes das milícias antiindependência tentou bater nele com um rifle, mas errou. Depois atingiu-o com um golpe de fuzil, derrubando-o na rua. Quando ele tentava se levantar, um tiro o atingiu e o miliciano saltou sobre ele. Alguns bateram com a coronha dos seus rifles no corpo que se contorcia. Outros aproximaram-se com seus machados, atingindo várias vezes o corpo já inerte.  

Horas depois, o rapaz, de 19 anos, foi declarado morto numa clínica das vizinhanças. Uma bala foi encontrada no seu corpo mutilado. Mas enquanto eu desviava do corpo o foco da minha câmera de TV, o ataque nas imediações da sede da ONU de repente voltou-se contra mim e outros jornalistas. Um dos milicianos atirou uma pedra na nossa direção. Outras foram jogadas. Fugi para a construção de concreto nas redondezas e esperei. A sede ocupada pela ONU fica num bairro habitado por timorenses que simpatizam com a independência. Conflitos de rua têm ocorrido ali e em outras áreas desde o referendo de segunda-feira.  

 

E assim prossegue a descrição do jornalista que filmou as cenas a que pudemos assistir ontem pelos telejornais.  

O líder independista Xanana Gusmão propôs a realização de uma reunião entre os grupos pró e antiindependência depois do anúncio do resultado do referendo, que se dará na segunda-feira. O encontro ganhou o apoio do Governo da Indonésia, cujo porta-voz disse que "todo o povo do Timor Leste terá de aceitar o resultado. Para isso é necessário um encontro de reconciliação".  

Contudo, existe o temor de que o resultado do referendo seja desrespeitado por parte dos que não querem a independência, e que poderão recorrer às armas. Nesse caso, será importante a ação da própria polícia do Governo da Indonésia, dos observadores da ONU que estão lá.  

Na semana passada, informou-nos o Ministro Luiz Felipe Lampreia que 28 brasileiros, além dos 3 Parlamentares, acompanharam em Dili, no Timor Leste, e possivelmente no interior, como foi o referendo.  

O Presidente Fernando Henrique Cardoso, em sua entrevista ao jornalista Boris Casoy no último domingo à noite, expressou publicamente o apoio do Governo brasileiro à independência do Timor Leste e a este referendo, demostrando também sua preocupação. Ressaltamos quão importante é o apoio do Governo brasileiro - do Executivo e do Congresso Nacional - a este povo irmão que também fala a língua portuguesa. O Timor Leste foi colonizado por Portugal, razão por que seu povo possui laços especiais de fraternidade para com os brasileiros. Muitos dos que lá estiveram, tais como o Frei João Xerri e diversos grupos brasileiros a favor da independência do Timor Leste, têm se referido a essa fraternidade no conhecimento da nossa música, da nossa literatura, da nossa cultura. Daí a importância de mostrarmos a nossa solidariedade aos leste-timorenses em sua luta pela independência.  

Muito obrigado, Sr. Presidente.  

 


Este texto não substitui o publicado no DSF de 03/09/1999 - Página 23176