Discurso no Senado Federal

ESTRANHEZA COM O APOIO DO PFL AO MINISTRO RAFAEL GRECA. INJUSTA CRITICA AO JORNAL O ESTADO DE S.PAULO AO SENADOR PEDRO SIMON. CONSIDERAÇÕES SOBRE A NOMEAÇÃO DO SR. ALCIDES TAPIAS PARA O MINISTERIO DO DESENVOLVIMENTO.

Autor
Roberto Requião (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/PR)
Nome completo: Roberto Requião de Mello e Silva
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.:
  • ESTRANHEZA COM O APOIO DO PFL AO MINISTRO RAFAEL GRECA. INJUSTA CRITICA AO JORNAL O ESTADO DE S.PAULO AO SENADOR PEDRO SIMON. CONSIDERAÇÕES SOBRE A NOMEAÇÃO DO SR. ALCIDES TAPIAS PARA O MINISTERIO DO DESENVOLVIMENTO.
Publicação
Publicação no DSF de 10/09/1999 - Página 24017
Assunto
Outros > GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.
Indexação
  • QUESTIONAMENTO, DISCURSO, EDUARDO SIQUEIRA CAMPOS, SENADOR, DEFESA, MINISTRO DE ESTADO, MINISTERIO DO ESPORTE E TURISMO (MET), MOTIVO, GRAVIDADE, DENUNCIA, PERIODICO, VEJA, ESTADO DE SÃO PAULO (SP).
  • SOLIDARIEDADE, PEDRO SIMON, SENADOR, AGRESSÃO, EDITORIAL, JORNAL, O ESTADO DE S.PAULO, ESTADO DE SÃO PAULO (SP), MOTIVO, CRITICA, NOMEAÇÃO, ALCIDES TAPIAS, MINISTRO DE ESTADO, MINISTERIO DO DESENVOLVIMENTO DA INDUSTRIA E DO COMERCIO EXTERIOR (MDIC).
  • DEFESA, PROIBIÇÃO, SAIDA, POLITICO, CARGO ELETIVO, OCUPAÇÃO, CARGO PUBLICO, ADMINISTRAÇÃO PUBLICA.
  • CRITICA, IMPRENSA, DEFESA, ATUAÇÃO, ARMINIO FRAGA, PRESIDENTE, BANCO CENTRAL DO BRASIL (BACEN), LUCRO, CAPITAL ESPECULATIVO.
  • CRITICA, JORNAL, O ESTADO DE S.PAULO, ESTADO DE SÃO PAULO (SP), COBERTURA, COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), PRECATORIO, AUSENCIA, DIVULGAÇÃO, DENUNCIA, BANCO PARTICULAR, PROCEDENCIA, ALCIDES TAPIAS, MINISTRO DE ESTADO, MINISTERIO DO DESENVOLVIMENTO DA INDUSTRIA E DO COMERCIO EXTERIOR (MDIC).
  • CRITICA, PRESIDENTE DA REPUBLICA, ESCOLHA, ALCIDES TAPIAS, MINISTRO DE ESTADO, MINISTERIO DO DESENVOLVIMENTO DA INDUSTRIA E DO COMERCIO EXTERIOR (MDIC), EXCESSO, OBEDIENCIA, CAPITAL ESPECULATIVO, BANCOS, FUNDO MONETARIO INTERNACIONAL (FMI).
  • CRITICA, GOVERNO, FERNANDO HENRIQUE CARDOSO, PRESIDENTE DA REPUBLICA.

O SR. ROBERTO REQUIÃO (PMDB - PR. Para uma comunicação inadiável. Sem revisão do orador.) - Em primeiro lugar, Sr. Presidente, não poderia deixar de fazer um reparo ao pronunciamento do Senador Eduardo Siqueira Campos em defesa do Ministro Rafael Greca.  

Os denunciantes têm identidade sim. A denúncia foi clara. Pediram demissão dos cargos que ocupavam no momento que se recusaram a participar da patifaria e foram ao Ministério Público. Fica mal o PFL quando, diante das evidências, através de um dos seus Senadores, hipoteca de forma irrestrita solidariedade a um Ministro de má fama. A fama do Ministro Rafael Greca já começa na Assembléia Legislativa do Paraná, com reiteradas denúncias de apropriação de salários dos funcionários do seu gabinete e caminha vida pública adentro à medida que ele avançava nos cargos que ocupava.  

No entanto, Sr. Presidente, o que me faz ocupar a tribuna neste momento é a necessária solidariedade que quero trazer ao Senador Pedro Simon, agredido duramente por um editorial do Estado de São Paulo hoje, e por um editorial do Estado de São Paulo de ontem.  

O editorialista tenta desqualificar o Senador Pedro Simon, alegando que S. Exª utiliza, em excesso, o humor nos seus comentários políticos, pretendendo tornar ridícula a forma de expressão do Senador com a sua abundante gesticulação.  

O editorialista pretende dizer que o Senador Pedro Simon, político profissional, está tentando uma reserva de mercado ao criticar a nomeação do Sr. Alcides Tápias para o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio.  

A crítica dura é o político profissional. O editorialista gostaria que os políticos fossem amadores e os lobistas fossem profissionais. Falta propor o voto distrital, que é a despolitização e a desideologização definitiva do comportamento político e a transformação do Congresso Nacional numa espécie de câmara de presidentes de associação de bairro.  

Sr. Presidente, o que significa o termo "política"? Tenho certeza que o culto editorialista do Estadão sabe o que significa. A palavra vem do grego polis - cidade - à qual se acrescenta um sufixo "ico" ou "ica" que transforma o substantivo em adjetivo. Política quer dizer "da cidade" - administração da cidade - e, por extensão, administração do Estado, administração da Nação. É preciso que existam políticos profissionais, pessoas que se interessem em tempo integral, que aprofundem os seus conhecimentos sobre a administração do País. Ridículo seria que tivéssemos lobistas profissionais, como quer o editorialista do Estadão, nos ministérios e políticos amadores sem nenhuma condição de defender o interesse público no Congresso Nacional.  

Por outro lado, como ninguém deixa de ter razão em alguma coisa, quero me somar a uma determinada visão, percebida nas entrelinhas do editorial, que é a visão de que políticos detentores de cargos eletivos não deveriam ocupar cargos na administração pública. Penso que, na verdade, a transformação de deputados, senadores, vereadores ou deputados estaduais em ministros é uma forma de cooptação do Parlamento pelos detentores dos cargos executivos. Eu até me proponho a dar início a um projeto de lei nesse sentido. Uma vez que não vivemos num regime parlamentarista, não tem por que parlamentares ocuparem cargos nos ministérios, de certa forma manietando o Congresso e viabilizando a manipulação do Congresso Nacional nas suas decisões. Os suplentes ficam sempre com uma guilhotina em cima do pescoço e o Congresso se submete ao Legislativo, além de se submeter por intermédio das famosas liberações de emendas orçamentárias, pela manipulação dos empregos, dos ministérios, das secretarias.  

O editorialista do Estadão sai ainda com mais uma gracinha, faz o elogio do Armínio Fraga. Talvez tenha pronunciado erradamente o nome desse rapaz, uma vez que a pronúncia americana se faz necessária porque, na verdade, é cidadão norte-americano com dupla nacionalidade. Faz um elogio ao Armínio Fraga, Senadora Heloisa Helena, ele diz que o Armínio Fraga está dando certo. Dando para quem e tirando de quem? O Armínio Fraga, esse gênio da raça, resolve conter a disparada do dólar, Senador Suplicy, com um artifício brilhante, interessantíssimo para os Georges Soros que atuam no mercado - George Soros é ex-patrão do Armínio Fraga. Este, para combater, a disparada do dólar, emite papéis cambiais, com equivalência em dólar, mas que são ainda premiados com os juros internos do mercado brasileiro. Papéis com equivalência em dólar, que se submetem a juros de 19,5% ao ano, que são os juros internos do mercado brasileiro.  

Ora, Sr. Presidente, qualquer empréstimo internacional em dólar, hoje, não ultrapassa os juros normais do mercado internacional que são, no máximo, de 6% . Então, na verdade, o Sr. Armínio Fraga derruba a demanda pelos dólares, emitindo dólares acrescidos dos juros internos do mercado brasileiro. Quem ganha com isso são os especuladores, os rentistas.  

Agora, o editorialista do Estadão e o nosso jornalão estão a nos dever alguma coisa a mais do que a injusta crítica que fizeram ao Senador Pedro Simon, que mostrou sua inteligência, sua cultura, seu brilho com o discurso que fez hoje neste plenário. Eles nos devem uma posição mais franca, mais aberta a respeito das coisas que acontecem no País. O editorial faz o elogio do Armínio Fraga, mas o Estadão e o seu editorial calaram quando eu denunciei o Bradesco, na CPI dos Precatórios. Ninguém teria roubado um tostão de dinheiro público, se na ponta da linha não estivesse um bancão a comprar os títulos que meia hora antes não comprou nos leilões dos Estados, 40% abaixo do preço de aquisição, muitas vezes. Comprava só depois que os títulos passassem pela ciranda da felicidade; comprava pelo preço de face e jogava nos Fundos de Renda Fixa de Curto Prazo dos seus mutuários. O Bradesco deu sustentação à patifaria dos precatórios e o jornalão, que deu ampla cobertura à CPI, jamais teve coragem de avançar na denúncia do comportamento dos bancos privados brasileiros, notadamente, o Bradesco, o maior banco e, portanto, em via de conseqüência, o banco que mais comprou títulos.  

O Governador de Alagoas, Divaldo Suruagy, em depoimento na CPI, declarou de forma clara e transparente, que havia procurado, pessoalmente, o Presidente do Bradesco, Sr. Lázaro Brandão, quando emitiu os títulos de Alagoas. Mas o Presidente do Bradesco não pretendia comprar títulos de Alagoas, pelo menos não pretendia comprar no leilão original; comprava títulos públicos depois que eles passavam na corrente da felicidade. E o Sr. Alcides Tápias, tão elogiado pelo editorialista do Estadão, nada mais era do que o Vice-Presidente do Bradesco; Vice-Presidente do Bradesco, Presidente da Febraban, o organismo classista dos banqueiros, e, posteriormente, Presidente da Camargo Corrêa - aquela dos contratos dos pedágios que acabam sendo questionados, inclusive, pelo próprio Governo Federal, que não tem coragem de executá-los porque a população, os caminhoneiros e a economia não agüentariam mais os aumentos das tarifas.  

É um lobista. Mais uma vez o Presidente Fernando Henrique, tendo a possibilidade de escolher entre o Brasil e os lobbies, entre o País, o emprego, o desenvolvimento e os rentistas, cedeu aos rentistas e colocou num pífio, ministério, o Ministério do Desenvolvimento, um representante dos banqueiros que lucraram só no primeiro trimestre desse ano R$1,711 bilhão, sem terem produzido um prego, um parafuso ou gerado um emprego. É o País submetido ao Fundo Monetário Internacional. A nomeação do Sr. Alcides Tápias foi um ato de covardia do Presidente da República, porque o ato corajoso seria inverter esse processo de entrega, combater ou desistir definitivamente desse mito da globalização que está nos levando ao desespero e ao desemprego.  

Sr. Presidente, uma década atrás, o Produto Interno Bruto do Brasil tinha participação de 44% do Produto Industrial Bruto, hoje essa participação não chega a 23%, estamos crescendo para baixo, como rabo de burro, e isso é conseqüência do fato de o Brasil não está sendo governado por interesses brasileiros.  

O Presidente da República, a meu ver, já renunciou ao Governo, renunciou pelo menos a um governo que defenda o interesse dos brasileiros. O Brasil está sendo governado pelo Fundo Monetário Internacional e pelo grande capital rentista, está sendo governado pelos lobbies, Sr. Presidente, e o Presidente da República, que de fato renunciou ao Governo do Brasil, só esqueceu de se mudar do Palácio do Planalto e de avisar o povo que não é mais Presidente.  

A nomeação do Sr. Alcides Tápias é emblemática. A coisa continuará como está.  

Mangabeira Unger, numa recente publicação encartada na Carta Capital , chama a atenção ao fato de que 500 bilhões de dólares circulam nas bolsas norte-americanas e voltam ao Brasil, através do Anexo 4, que tem origem na corrupção interna do País, na sonegação de impostos, no narcotráfico e no tráfico de armas. Mas esse dinheiro pode ser aplicado nas nossas bolsas sem nenhuma tributação.  

O SR. PRESIDENTE (Nabor Júnior) - Senador Roberto Requião, a Mesa solicita a V. Exª que encerre o seu pronunciamento, porque V. Exª excedeu em sete minutos o tempo que lhe foi destinado.  

O SR. ROBERTO REQUIÃO (PMDB - PR) - Encerrarei em seguida.  

Para esses efeitos o Presidente da República nomeou o Sr. Armínio Fraga. E o ex-Ministro Rubens Ricúpero, em artigo de hoje, nos jornalões, nos chama a atenção ao fato de que, dos R$700 milhões de remessas de lucros de empresas estrangeiras para fora do País, nós tivemos um salto para R$7,700 bilhões. É Alcides Tápias, é Armínio Fraga e é Fernando Henrique Cardoso, um entreguista confesso - uma confissão feita há muito tempo. Quem tiver alguma dúvida disso leia o seu livro Dependência e Desenvolvimento na América Latina , escrito no Chile entre 1966 e 1967, em parceria com o chileno Enzo Faletto.  

 


Este texto não substitui o publicado no DSF de 10/09/1999 - Página 24017