Discurso no Senado Federal

REALIZAÇÃO DA SEGUNDA REUNIÃO ORDINARIA DA COMISSÃO ESPECIAL DO CINEMA, NO SENADO FEDERAL.

Autor
Francelino Pereira (PFL - Partido da Frente Liberal/MG)
Nome completo: Francelino Pereira dos Santos
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
SENADO.:
  • REALIZAÇÃO DA SEGUNDA REUNIÃO ORDINARIA DA COMISSÃO ESPECIAL DO CINEMA, NO SENADO FEDERAL.
Publicação
Publicação no DSF de 16/09/1999 - Página 24431
Assunto
Outros > SENADO.
Indexação
  • INFORMAÇÃO, REALIZAÇÃO, REUNIÃO ORDINARIA, COMISSÃO ESPECIAL, CINEMA, SENADO, PRESIDENCIA, JOSE FOGAÇA, SENADOR, DEBATE, SITUAÇÃO, FILME NACIONAL.

O SR. FRANCELINO PEREIRA (PFL-MG) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, no primeiro trimestre deste ano, a crise no atual surto de crescimento do cinema brasileiro despertou a atenção do Poder Executivo e do Congresso Nacional.  

O governo reagiu como devia, adotando políticas compensatórias ao problema imediato da captação, e por isso vem recebendo elogios e agradecimentos do povo do cinema.  

O Congresso reagiu, primeiro, com projetos de lei individuais. Depois, com a instalação, em 29 de junho, de uma Comissão Especial no Senado Federal, presidida pelo Senador José Fogaça e da qual sou relator.  

Os demais membros da Comissão são os Senhores Senadores Maguito Vilela, Teotônio Vilela Filho, Luiz Otávio e Saturnino Braga.  

Assinalo também que o Presidente Antônio Carlos Magalhães, sabedor de todos os passos que levaram à instalação desta Comissão, tem nos brindado com seu apoio e encorajamento.  

Venho pois, com satisfação, convidar a todos os interessados para a nossa segunda reunião ordinária, convocada para logo mais, às 17:30 horas, no plenário da Comissão de Educação, sala 15 da Ala Alexandre Costa.  

E quero também, a título de despertar vossa atenção, afirmar aqui que o acompanhamento da crise brasileira, pela ótica mais concentrada do cinema nacional, é uma experiência verdadeiramente interessante. O cinema, afinal de contas, é como um espelho!...  

Vejamos, pois, alguns assuntos e debates publicados nos últimos meses sobre as questões do ramo.  

No momento mesmo em que instalávamos a Comissão, em 29 de junho, a revista Veja publicava matéria com observações críticas sobre os filmes brasileiros e à maneira como são feitos. O título, que tudo diz, era: "Caros, ruins e você paga".  

A reação à posição da Veja não tardou.  

No dia 1º de julho, o jornal O Estado de S. Paulo saiu com um caderno especial intitulado "Fé no cinema brasileiro", com artigos assinados por gente notável como Roberto Farias, Luiz Zanin Oricchio, Paulo Thiago, Carlos Diegues, José Alvares Moisés e Jotabê Medeiros.  

Desses, o artigo de Cacá Diegues usou a metáfora do espelho para dizer que parte das elites brasileiras sempre se voltou contra os sucessos do cinema brasileiro, como se, "sempre com a cabeça muito longe daqui, tivessem receio do seu reflexo, ojeriza a ver na tela o País que tanto lhes desgosta."  

Ora, senhoras e senhores senadores, esse reflexo na tela é de fundamental importância para o País, porque o cinema, assim como a literatura, a pintura, a música, o teatro, a arquitetura, é uma forma de narrativa e nenhuma sociedade pode existir sem suas histórias.  

Por isso, o que vale mesmo é a tese de Walter Salles, a de que existe uma vontade visceral de se filmar no Brasil. A despeito de todos os tropeços, sempre filmamos e continuaremos a filmar, como bem mostra a nossa história.  

E essa necessidade visceral não é exclusivamente nossa, mas aparece refletida também na alma dos outros povos, dos amigos ou dos contendores.  

Isso é o que deixa entrever o livro de Robert Stam, professor de cinema na Universidade de Nova York, intitulado Multiculturalismo tropical, que será publicado, até o final do ano, pela Funarte e Editora Papyros.  

Robert Stam já escreveu vários livros e textos sobre o cinema brasileiro e em Multiculturalismo tropical traça paralelos entre as produções do Brasil e a dos Estados Unidos, numa interessantíssima abordagem comparada.  

Dou esse exemplo para mostrar que o cinema brasileiro não é importante somente para nós ou para os mais botocudos entre nós. Ele é importante também para os outros ou para os mais desenvolvidos entre eles.  

E nós realmente não temos do que temer nem do que nos envergonhar. Pelo contrário. Já existe uma estética e uma narrativa brasileiras que nos distinguem da estética e da narrativa estadunidenses.  

Assim, defender a nossa estética e desenvolver a nossa narrativa com sua potencialidade universal é o grande desafio.  

Na pauta da nossa reunião de hoje temos três itens: 1) Cronograma de trabalho e atividades para o mês de setembro; 2) indicação dos suplentes da Comissão, e 3) assuntos diversos.  

Venham participar desse assunto verdadeiramente empolgante!  

Muito obrigado.  

 

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Este texto não substitui o publicado no DSF de 16/09/1999 - Página 24431