Pronunciamento de Romeu Tuma em 23/09/1999
Discurso no Senado Federal
VOTOS DE PESAR PELO FALECIMENTO, NO ULTIMO DIA 15, DO DR. ROBERTO COSTA DE ABREU SODRE.
- Autor
- Romeu Tuma (PFL - Partido da Frente Liberal/SP)
- Nome completo: Romeu Tuma
- Casa
- Senado Federal
- Tipo
- Discurso
- Resumo por assunto
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HOMENAGEM.:
- VOTOS DE PESAR PELO FALECIMENTO, NO ULTIMO DIA 15, DO DR. ROBERTO COSTA DE ABREU SODRE.
- Publicação
- Publicação no DSF de 24/09/1999 - Página 25113
- Assunto
- Outros > HOMENAGEM.
- Indexação
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- HOMENAGEM POSTUMA, ROBERTO COSTA DE ABREU SODRE, EX GOVERNADOR, EX PRESIDENTE, ASSEMBLEIA LEGISLATIVA, ESTADO DE SÃO PAULO (SP).
O SR. ROMEU TUMA
(PFL - SP) - Sr. Presidente, Srªs. e Srs. Senadores, fomos abalados, dia 15 último, pelo desaparecimento de uma figura marcante da vida pública brasileira, um homem que dedicou sua existência ao labor político em prol da defesa e do fortalecimento da democracia. Refiro-me ao ex-Governador e ex-Presidente da Assembléia Legislativa de meu Estado, que também deixou sua marca pessoal em nossa diplomacia, como Ministro das Relações Exteriores. Falo do inesquecível Dr. Roberto Costa de Abreu Sodré, falecido em São Paulo, aos 81 anos de idade, e ali sepultado com honras de chefe de Estado.
Homem polêmico, combativo, que acreditava na divergência de idéias para alimentar o dinamismo democrático e não tergiversava ao condenar todas as formas de corrupção como sendo os mais insidiosos venenos para o Estado de direito, Abreu Sodré partiu produzindo um consenso de lamentações provindas de segmentos político-ideológicos díspares, mas unânimes em reconhecê-lo como democrata, íntegro, realizador e corajoso.
Paulistano, Abreu Sodré nasceu em uma família de produtores rurais, aos 21 de junho de 1918. Era o 12.º filho do Deputado Francisco de Paula de Abreu Sodré e da Sra. Idalina de Macedo Costa Sodré. Bacharelou-se pela Faculdade de Direito do Largo de São Francisco, pertencente à Universidade de São Paulo, em 1942, após concluir o Primário e o Secundário no Liceu Rio Branco, também na capital paulista.
Casou-se com a Sra. Maria do Carmo Mellão de Abreu Sodré e teve duas filhas, Maria do Carmo e Ana Maria. As raízes familiares terminaram por inseri-lo desde jovem na política e transformá-lo num dos mais importantes cafeicultores e pecuaristas de meu Estado. Sua paixão pela cafeicultura ficou patente no último desejo: pediu para ser sepultado com um ramo de café.
Tive a honra de trabalhar sob as ordens desse ilustre homem, durante toda sua gestão como Governador, de 1967 a 1971, cargo para o qual fora eleito pela Assembléia Legislativa paulista, onde exercera três sucessivos mandatos de Deputado, de 1950 a 1958, e elegera-se Presidente para o biênio 1960-1962.
Sou testemunha, portanto, da limpidez que sempre pautou sua administração, caracterizadora de um período de realizações em todos os campos, como a criação da Faculdade de Educação e dos institutos de Geociências e Astronomia da USP, o início de implementação da Rodovia dos Imigrantes que liga São Paulo ao litoral, a ampliação da rede escolar oficial e marcantes conquistas nos setores de energia, saneamento, segurança e transporte.
Deve-se a ele também a criação da TV Cultura, de São Paulo, pertencente à Fundação "Padre Anchieta", cujo Conselho Curador sempre presidiu. Outro conselho que presidiu durante anos foi o Deliberativo do Museu de Arte de São Paulo (MASP), importante entidade cultural da qual era um dos mais antigos sócios.
Em 1986, Abreu Sodré pode dedicar-se, no mais alto nível, a uma de suas maiores paixões: a diplomacia. O insigne Senador José Sarney, então Presidente da República, levou-o para o Itamaraty, onde o novo chanceler pregou uma política externa que chamou de "pragmatismo de resultados", o que, no seu dizer, significava "uma diplomacia voltada para auxiliar o País no seu esforço de desenvolvimento econômico". Assim, participou da implantação do embrião do Mercosul.
Também criticou a discriminação racial então praticada oficialmente na África do Sul e participou do reatamento de relações diplomáticas com Cuba. Aliás, em seu livro de memórias ("No Espelho do Tempo - Meio Século de Política"), publicado em 1995, narrou pormenorizadamente sua viagem de 12 horas com o líder cubano Fidel Castro, na qual, de automóvel, ambos percorreram plantações e instalações nos arredores de Havana.
Ninguém melhor que nosso preclaro colega José Sarney para qualificar Abre Sodré, seu amigo de 40 anos. E o fez, lembrando que "ele era um dos últimos daquela geração heróica que resistiu e conheceu os cárceres do Estado Novo". Suas palavras, ainda durante o velório realizado no Palácio dos Bandeirantes, completaram-se com a afirmação de que "ele tinha muita força de suas convicções e uma personalidade inconfundível, vivacidade intelectual, o gosto da vida e o sentimento de lealdade às pessoas".
Por sua vez, o excelentíssimo Governador Mário Covas, após decretar luto oficial por sete dias, asseverou que Abreu Sodré "fez história desde os bancos escolares, quando propugnou pela luta contra o Estado Novo", e ressaltou: "Ele tinha seus pontos de vista. Havia os que concordavam e os que discordavam dele, nesta ou naquela circunstância, mas, sem dúvida nenhuma, é um homem que fica gravado nos anais de São Paulo como um nome muito significativo."
Senhor Presidente, Senhoras e Senhores Senadores, uma nação é moldada pelo exemplo de seus líderes. E poucos destes personificaram tão bem os ideais da ética, honradez e dedicação à causa pública quanto nosso inesquecível Governador Roberto Costa de Abreu Sodré.
Muito obrigado.