Discurso no Senado Federal

NECESSIDADE DE ABERTURA DE UMA CPI PARA ANALISAR A ATUAÇÃO DO GRUPO ABRIL.

Autor
Roberto Requião (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/PR)
Nome completo: Roberto Requião de Mello e Silva
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
IMPRENSA.:
  • NECESSIDADE DE ABERTURA DE UMA CPI PARA ANALISAR A ATUAÇÃO DO GRUPO ABRIL.
Publicação
Publicação no DSF de 25/09/1999 - Página 25186
Assunto
Outros > IMPRENSA.
Indexação
  • COMENTARIO, ARTIGO DE IMPRENSA, AUTORIA, SEBASTIÃO NERY, JORNALISTA, DENUNCIA, GRUPO ECONOMICO, EDITORA, RECEBIMENTO, DOAÇÃO, TERRENO, GOVERNO ESTADUAL, ESTADO DO MARANHÃO (MA), ESTADO DA BAHIA (BA), DESCUMPRIMENTO, CONTRAPRESTAÇÃO, CONSERVAÇÃO, PARQUE, LOTEAMENTO, PATRIMONIO PUBLICO.
  • DENUNCIA, CHANTAGEM, GRUPO ECONOMICO, EDITORA, BANCO PARTICULAR, ESTADO DO PARANA (PR).
  • SOLICITAÇÃO, CIDADÃO, INFORMAÇÃO, IRREGULARIDADE, ATUAÇÃO, GRUPO ECONOMICO, EDITORA, EXPECTATIVA, CRIAÇÃO, COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), INVESTIGAÇÃO, ASSUNTO.

O SR. ROBERTO REQUIÃO (PMDB - PR. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, trago ao plenário do Senado algumas informações que, somadas a outras trazidas por mim mesmo a esta Casa, desaguarão, mais cedo ou mais tarde, necessariamente, numa CPI da Editora Abril, do Grupo Civita.  

Sr. Presidente, numa forma breve, quero trazer ao conhecimento dos Senadores um texto do jornalista Sebastião Nery, publicado na Tribuna da Imprensa , em que se diz:  

"Os Senadores José Sarney e Antonio Carlos Magalhães estão chateados e preocupados. Quando Sarney era governador do Maranhão, doou o belo parque urbano de São Luís, na beira da praia, para o Grupo Abril construir um Hotel 4 Rodas e conservar o parque. Antonio Carlos, quando governador da Bahia, também doou o lindo parque de Itapoã para o Grupo Abril construir um Hotel 4 Rodas e conservar o parque.  

O Grupo Abril vendeu os hotéis ao grupo espanhol Sofitel. Mas só vendeu e entregou os prédios dos dois hotéis. Os parques, patrimônios públicos das duas cidades, foram loteados, e estão construindo lá centenas de casas."  

Ou seja, o Grupo desmembrou o parque. Como V. Exª percebe, Sr. Presidente, não se trata de um grupo empresarial, mas de um grupo de gângsteres a espoliar o patrimônio público.  

Informa-nos o jornalista Sebastião Nery que o Ministério Público já se debruça sobre os dois casos citados, para providenciar a devida reparação. Na verdade, essa é uma questão de polícia, não é nem uma questão de direito.  

Por outro lado, aqui neste Senado, já contei um episódio que ocorreu entre mim, quando Governador do Estado do Paraná, e o Sr. Civita, e vou novamente relatá-lo para avivar a memória dos Senadores. Assumi o Governo do Estado e resolvi processar o Bamerindus por comportamentos que julguei extremamente danosos ao patrimônio do Paraná, ao Banco do Estado do Paraná e à seguradora pública do Paraná.  

O Sr. José Eduardo de Andrade Vieira era meu adversário. Tomei, então, o cuidado de acioná-lo judicialmente, sem transformar o processo que eu movia em uma questão pública, para não me utilizar da condição de Governador e das informações que, por essa condição, eu tinha, no sentido de desgastar um adversário político. Deixei que a Justiça resolvesse o problema.  

O Sr. Roberto Civita, de uma forma ou de outra, soube do processo e passou a me procurar para obter os dados. Eu argumentava com ele exatamente neste sentido: "Espere o julgamento dos processos!".  

Fui a São Paulo, e o Sr. Roberto Civita me convidou para um almoço e acabou me convencendo de que a questão era pública. Ele dizia: "Governador, o senhor não pode ocultar da opinião pública o comportamento do Sr. José Eduardo de Andrade Vieira e do Bamerindus em relação ao patrimônio do Paraná. É uma informação que deve ser divulgada". Acabou me convencendo disso. O meu cuidado era muito grande e, talvez, excessivo do ponto de vista ético, se é que existe ética excessiva. Cedi, e o Sr. Civita mandou três ou quatro jornalistas especializados em assuntos econômicos ao Paraná, onde, por 15 dias, examinaram os problemas do conflito entre aquele Estado e o Grupo Bamerindus em relação ao Banestado e à Companhia Paranaense de Energia Elétrica.  

Numa bela quarta-feira, Sr. Presidente, recebi, no Palácio do Iguaçu, um telefonema do Sr. Civita. Ele me disse: "Governador, o senhor achava que não publicaríamos notícia alguma". Eu havia dito a ele exatamente isso, pelo fato de o Bamerindus ser um dos grandes anunciantes do Brasil. Disse ainda: "Compre a Veja no final da semana, que o senhor verá o que é uma revista independente".  

No fim da semana, a Veja chegou às minhas mãos, com quatro ou seis páginas de propaganda do Bamerindus, o que se repetiu durante seis meses a um ano, e nenhuma linha foi publicada sobre a denúncia. As informações obtidas junto ao Estado do Paraná, à Copel e ao Banco do Estado tinham servido para o Sr. Roberto Civita - já que quem fez o contato comigo foi ele e não o editor da revista ou os jornalistas isoladamente - para que o Bamerindus fosse chantageado.  

São dois casos seriíssimos: a chantagem que o Bamerindus sofreu e pagou, na época, em forma de publicidade; e, agora, essa denúncia do jornalista Sebastião Nery.  

Quero conseguir mais informações. Inclusive, quero colocar à disposição de todas as pessoas que tiverem notícias sobre o comportamento dessa quadrilha editorial o meu site na Internet, a minha home page no Senado e o meu gabinete. Estou disposto a receber informações e correspondências, afinal não é possível que a imprensa marrom domine a opinião pública nacional.  

Recebi, na semana passada, uma retaliação das denúncias que fiz em relação ao Sr. Roberto Civita e ao Grupo Abril. Calhordamente, canalhamente, tentaram passar uma informação absolutamente errada, equivocada e de má-fé no sentido de que a minha mulher teria mandado dólares para o exterior. É evidente que isso não ocorreu. Levei documentos e provas definitivas para a reportagem do Grupo Abril, da revista Veja, e de nada isso bastou. A prática infamante foi levada à frente numa operação casada com a Secretaria de Comunicação do Governo do Estado do Paraná. E, suportados em reprints da Veja, tentaram convencer a opinião pública do meu Estado e do País de que eu, o Senador que iniciou a investigação sobre remessa de dólares para o exterior, teria na minha família um caso de remessa de dólares. Acusação sórdida, canalha, safada, característica do comportamento editorial desse grupo de gângsteres! Realmente, esse grupo não é um grupo econômico, mas sim um grupo de gângsteres que atua na editoria e na publicação de revistas no País.  

Quero receber, por parte do público que assiste à TV Senado , informações sobre o comportamento do Grupo Abril. Quero somar essas informações para dar consistência a essas duas primeiras denúncias e ampliar a consistência, porque consistentes são de sobejo. Vou me preparar para, mais cedo ou mais tarde, com o convencimento dos Colegas Senadores, iniciar a abertura de uma Comissão Parlamentar de Inquérito que termine pondo na cadeia os gângsteres da Editora Abril!  

Muito obrigado, Sr. Presidente.  

 

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Este texto não substitui o publicado no DSF de 25/09/1999 - Página 25186