Discurso no Senado Federal

HOMENAGEM DE PESAR PELO FALECIMENTO DO EMPRESARIO DA COMUNICAÇÃO DR. JOÃO SAAD, FUNDADOR E PRESIDENTE DA REDE BANDEIRANTES DE RADIO E TELEVISÃO.

Autor
Alvaro Dias (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/PR)
Nome completo: Alvaro Fernandes Dias
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • HOMENAGEM DE PESAR PELO FALECIMENTO DO EMPRESARIO DA COMUNICAÇÃO DR. JOÃO SAAD, FUNDADOR E PRESIDENTE DA REDE BANDEIRANTES DE RADIO E TELEVISÃO.
Publicação
Publicação no DSF de 12/10/1999 - Página 27240
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM POSTUMA, JOÃO SAAD, PRESIDENTE, EMISSORA, RADIO, TELEVISÃO, ESTADO DE SÃO PAULO (SP).

O SR. ÁLVARO DIAS (PSDB - PR. Para encaminhar a votação. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, é uma história exemplar de luta, ousadia, competência administrativa e visão de futuro. Deixa, realmente, o Sr. João Saad um legado extraordinário, que certamente haverá de ser conduzido com as mãos firmes e competentes do seu filho Johnny Saad, para que essa extraordinária rede de televisão possa continuar cumprindo seu importante papel de meio de comunicação de massa, relevante para o desenvolvimento do nosso País.

É justo registrar alguns fatos que marcaram essa trajetória de 80 anos, especialmente - embora não seja o único setor da atividade empresarial de João Saad - no setor de comunicação, de fundamental importância para o desenvolvimento do País:

Às dezenove horas e quarenta e cinco minutos do dia 9 de setembro de 1977, era inaugurada a TV Guanabara, canal 7, hoje TV Bandeirantes, um investimento que, na época, custou cerca de 70 milhões de cruzeiros. Era a realização de mais um sonho de João Jorge Saad, filho pobre de imigrantes de Damasco, na Síria, que se tornou um empreendedor do rádio e da televisão.

No início dos anos 40, João Saad deixou o balcão da loja do pai, em plena Rua 25 de março, em São Paulo - onde trabalhava desde menino - e tornou-se caixeiro-viajante. De volta à capital, em 1947, casou-se com Maria Helena Mendes de Barros, filha de Adhemar de Barros, então Governador de São Paulo. Na época, João Saad partiu para o ramo imobiliário, ajudando a construir bairros em São Paulo, mas envolveu-se com a Rádio Bandeirantes, no nº 181 da Paula Souza, que pertencia ao genro. A rádio cresceu e formou uma rede de rádios por todo o País, sendo pioneira na programação ininterrupta. Mas Saad queria mais: a concessão de uma emissora de tevê. E conseguiu. Em 13 de maio de 1967, fundou o canal 13 de São Paulo. A estação ficava num prédio do Morumbi, apelidado por seus funcionários de “palácio encantado”.

Em 1979, um incêndio na emissora obrigou os Saad a recomeçar praticamente do zero. Na época, a emissora não pôde transmitir o lançamento da nave Apolo XI. Mas nem o fogo, que destruiu todo o prédio e seus equipamentos, fez o empresário esmorecer. Depois do incêndio, João Saad investiu em equipamentos, e o canal fez a primeira transmissão em cores do País. Aos poucos, a rede expandiu-se, inaugurando emissoras nas principais cidades brasileiras.

Para garantir melhor qualidade nas transmissões, o empresário mandou construir uma grande torre, a fim de instalar uma antena mais moderna e mais potente. Com isso, São Paulo ganhou um novo cartão postal, um marco na paisagem da cidade, que leva o nome de Maria Helena de Barros Saad. A programação do canal, como a dos outros integrantes da Rede Bandeirantes de Televisão, era repleta de filmes e musicais e dava ênfase ao esporte e ao jornalismo. Até o fim da década de 70, não entrava novela na grade da Band simplesmente porque Saad não gostava desse tipo de programa.

Em 1981, Saad imprimiu mais pioneirismo à emissora. Num acordo assinado com a Embratel, a Bandeirantes passou a ser a primeira emissora brasileira a transmitir sua programação em rede nacional via satélite. Mas o surgimento do SBT, a emissora de Silvio Santos, abalou a audiência da Bandeirantes. Depois, a disputa ficou ainda mais acirrada com a entrada da hoje extinta Rede Manchete no mercado. Os milhões gastos com a transmissão do satélite Intelsat também foram prejudiciais à emissora. Para se reerguer, a Band contratou nomes fortes, como Walter Clark e Chacrinha e investiu na produção de novelas com estrelas como Fernanda Montenegro.

É importante destacar, a exemplo do que fez o Senador Pedro Simon, a presença relevante de João Saad num período triste da história brasileira, quando a censura implacável impedia que oposicionistas tivessem acesso aos meios de comunicação para pregar a redemocratização do País.

Naquele momento, no Programa Ferreira Neto, nas noites de domingo ou de segunda-feira, Parlamentares eram convidados para o debate político. Participei, como o Senador Pedro Simon e tantos outros, de inúmeros debates coordenados pelo jornalista Ferreira Neto. Sem dúvida, foi o primeiro espaço de maior expressão que a imprensa brasileira concedia àqueles que postulavam a redemocratização do País, que deveria passar por uma anistia ampla, geral e irrestrita, pela convocação de eleições diretas e pela realização da Assembléia Nacional Constituinte. Também era por intermédio desse debate que se denunciava a tortura nos cárceres políticos deste País, que se denunciava a corrupção, que, acobertada pelo manto ditatorial, não podia ser colocada à luz para ser combatida no País.

É preciso registrar a presença histórica e corajosa desse empresário da comunicação, João Saad, que certamente cumpriu uma trajetória de ousadia e de competência, que fez escola, que é exemplo e certamente tem, agora, na figura do seu filho, Johnny Saad, o seguidor a acompanhar os passos exemplares do pai na direção da consolidação de uma extraordinária estrutura de comunicação implantada pela Rede Bandeirantes no Brasil.

Acompanhei de perto os esforços e o empenho do Sr. João Saad para a instalação de uma emissora de TV na cidade de Curitiba, no Paraná, quando tive a honra de governar aquele Estado. Conheci-o, portanto, na intimidade. Por diversas vezes, recebemo-lo no Paraná, visitamo-lo em São Paulo e testemunhamos o comportamento de cordialidade, de transparência e de simplicidade desse grande empresário João Saad, que, sem dúvida, fará falta. Mas esperamos que seu exemplo possa ser inspiração para os caminhos que haverão de ser trilhados doravante pelo seu filho, no comando dessa grande rede de televisão e de rádio do País.

Era o que tinha a dizer, Sr. Presidente, associando-me às palavras do Senador Pedro Simon e Lúcio Alcântara, na aprovação desse justo requerimento que registra, nos Anais do Senado, a presença extraordinária de João Saad, como empreendedor e homem de comunicação deste País.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 12/10/1999 - Página 27240