Discurso no Senado Federal

DEFESA DO CRESCIMENTO ECONOMICO A PARTIR DA BIODIVERSIDADE DOS RECURSOS DA AMAZONIA LEGAL. CONSIDERAÇÕES A ATUAL CONJUNTURA POLITICA NA COLOMBIA.

Autor
João Alberto Souza (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/MA)
Nome completo: João Alberto de Souza
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA DO MEIO AMBIENTE.:
  • DEFESA DO CRESCIMENTO ECONOMICO A PARTIR DA BIODIVERSIDADE DOS RECURSOS DA AMAZONIA LEGAL. CONSIDERAÇÕES A ATUAL CONJUNTURA POLITICA NA COLOMBIA.
Publicação
Publicação no DSF de 12/10/1999 - Página 27259
Assunto
Outros > POLITICA DO MEIO AMBIENTE.
Indexação
  • COMENTARIO, INSUFICIENCIA, APROVEITAMENTO, RECURSOS NATURAIS, BIODIVERSIDADE, BRASIL.
  • REGISTRO, REALIZAÇÃO, MUNICIPIO, MACAPA (AP), ESTADO DO AMAPA (AP), SEMINARIO, BIODIVERSIDADE, Amazônia Legal, CUMPRIMENTO, COMPROMISSO, CONVENÇÃO, CONFERENCIA DAS NAÇÕES UNIDAS SOBRE MEIO AMBIENTE E DESENVOLVIMENTO (ECO-92).
  • ANUNCIO, DOCUMENTO, SEMINARIO, PROPOSTA, PROGRAMA NACIONAL, DEFESA, ECOSSISTEMA, FLORESTA AMAZONICA, REIVINDICAÇÃO, AUMENTO, RECURSOS, PESQUISA, LEVANTAMENTO, INFORMAÇÕES, OBJETIVO, DESENVOLVIMENTO SUSTENTAVEL.
  • COMENTARIO, ATIVIDADE ECONOMICA, REGIÃO AMAZONICA, EXTRAÇÃO, MADEIRA, TURISMO, VINCULAÇÃO, ECOLOGIA, REGISTRO, MAPA, INSTITUTO BRASILEIRO DO TURISMO (EMBRATUR), IDENTIFICAÇÃO, PATRIMONIO TURISTICO.

O SR. JOÃO ALBERTO SOUZA (PMDB - MA) - Sr. Presidente, Srªs. e Srs. Senadores, entre nós brasileiros e em referência ao País, não é raro ouvir-se dizer que o Brasil é um gigante adormecido. Tal afirmação freqüentemente tem por base uma visão um tanto negativa em relação à caminhada para o desenvolvimento. Outras vezes, porém, e esta é acepção que assumo neste pronunciamento, quer significar um razoável grau de desconhecimento das próprias potencialidades, no campo de suas características históricas, das qualidades de seu povo, das especificidades da ecologia e da variedade da natureza.  

Esse desconhecimento é resultante em grande parte de uma herança de viés fortemente extrativista - exploratório dos recursos, de uma cultura facilmente ufanista e sofrivelmente realista diante da necessidade da construção gradual do próprio futuro, aliás, um obscuro projeto de futuro em termos de nação. Tais aspectos, se largados à inércia, tolhem a criatividade e embotam a inventividade no que diz respeito à oferta de modalidades de serviços diante das novas demandas de lazer e de interesse das sociedades modernas.  

Refiro-me explicitamente ao interesse que hoje despertam as peculiaridades da ecologia e as belezas naturais representadas pelas matas, pelos rios, pelas paisagens, pelas quedas d'água, pelos ecossistemas, pela biodiversidade, enfim, por toda essa riqueza, muita ainda sem nome e classificação, tão abundante e própria de nosso País.  

Recentemente, realizou-se em Macapá, um seminário sobre a Biodiversidade da Amazônia Legal, em cumprimento do compromisso assumido pelo Brasil há sete anos, quando da realização da convenção Eco-92 no Rio de Janeiro. Do seminário, participaram aproximadamente 200 especialistas entre biólogos, geólogos, agrônomos, sociólogos e economistas. Durante uma semana, foram debatidos resultados de pesquisas, foram apresentados dados e analisadas idéias, na tentativa de dar corpo à tarefa de traçar uma estratégia governamental para proteger os animais e as matas da Amazônia. Do encontro deverá resultar um mapa de propostas, a converter-se em um programa nacional dirigido para a diversidade biológica, com orientações sobre como operacionalizar a política e o trabalho de preservar a Amazônia, desenvolvendo-a.  

Uma reclamação foi ouvida durante todo o tempo do seminário: faltam dados sobre a região. Para conhecer a Amazônia, faltam recursos. Faltam pesquisadores. Do ponto de vista da realidade da região, porém, sobram florestas e sobram bichos desconhecidos.  

O problema torna-se ainda mais grave quando se trata das áreas não ribeirinhas, aquelas áreas distantes dos rios, vastas e de difícil acesso, sobre as quais não existem informações, lacuna já diagnosticada há muito e toda vez que a abordagem é a Amazônia.  

Os recursos são sempre parcos. Os programas, insuficientes, embora o País tenha técnicos em condições de ocupar-se da problemática amazônica com dedicação e competência.  

Parece inacreditável, mas aproximadamente 70 % da Amazônia nunca foram inventariados no sentido de descobrir novos tipos de aves. No que diz respeito a mamíferos, acredita-se que o percentual seja ainda maior. No caso, por exemplo, dos primatas, os especialistas já catalogaram 65 espécies na região, das quais 22 estão ameaçadas de extinção. Mas há mais espécies, pois, nessas paragens, cada ecossistema tem tipos diferenciados desses animais.  

O domínio do conhecimento sobre a Amazônia daria hoje oportunidade ímpar para a região explorar de forma mais agressiva a grande demanda por ecoturismo. Atualmente, esse filão de serviço e lazer propicia para a Amazônia apenas 50 milhões de dólares por ano, uma importância irrisória diante da potencialidade existente. Apenas o setor da pesca esportiva, por exemplo, nos Estados Unidos, movimenta aproximadamente 65 bilhões de dólares no mesmo período. A Amazônia tem muito mais peixe e muito mais floresta natural do que os Estados Unidos!  

Já estamos acostumamos a ouvir e a fazer críticas ao desmatamento da Amazônia. Em grande parte essa questão é realmente um grave problema e está a exigir correções e controles severos.  

De acordo com as informações apresentadas no seminário, a exploração da madeira é fundamental na região. Em 1998, produziram-se ali 28 milhões de metros cúbicos de madeira. As serrarias empregaram aproximadamente 5 % dos trabalhadores locais e responderam por 13 % do produto interno bruto regional, perfazendo quase 70 bilhões de dólares.  

O problema obviamente não é de proibição pura e simples do funcionamento das serrarias, mas de planejamento e controle, para que a exploração seja racional e componha com uma gama mais vasta de alternativas possíveis no âmbito da ecologia local. Paralelamente a uma exploração racional da madeira, faz-se necessário, sem tardança, implantar alternativas, para alargar o benefício do progresso, abrangendo o maior número possível dos que moram na Amazônia. Nessa tarefa, o conhecimento é imprescindível. Dele nasce a consciência e a criatividade.  

Nessa linha, faço referência ao ecoturismo. A revista V eja da primeira semana de outubro trouxe importante comentário sobre "As Paisagens Intocadas" do Brasil. A matéria detalha que "O Brasil tem paisagens deslumbrantes, grandes vastidões desabitadas, cachoeiras e rios de dar inveja. Abriga 22 % da flora, 10 % dos anfíbios e mamíferos e 17 % das aves do mundo. Paraísos ecológicos espalham-se por 43 % do território nacional, mas, ainda assim - continua a revista - o país é um anão no ramo do ecoturismo, uma modalidade que rende fortunas a países sem tantos atrativos".  

É alvissareiro saber que, desde 1998, a Empresa Brasileira de Turismo e o Instituto de Ecoturismo do Brasil estão trabalhando no levantamento e mapeamento do potencial do Brasil nesse setor. Esse trabalho já possibilitou a descoberta de mais de cem possíveis roteiros ecológicos com potencialidade para exploração turística.  

Nesse contexto, sinto-me feliz pela importância existente em alguns fenômenos naturais no meu Estado do Maranhão, também catalogados pelo mapeamento da EMBRATUR e do Instituto de Ecoturismo. Menciono de modo particular as Reentrâncias Maranhenses, feitas de baías e ilhas localizadas num estuário de dimensão e beleza extraordinárias, a apenas 170 quilômetros de São Luís, e o fantástico cenário materializado no recanto da Pedra Caída, com sua queda d'água de 50 metros de altura, no Município de Carolina. O Governo do Estado, dirigido pela sensibilidade e competência da Governadora Roseana Sarney, está firmemente voltado para o desenvolvimento de estruturas e ações destinadas à exploração turística das riquezas naturais e culturais do Estado.  

Sr. Presidente, Srªs. e Srs. Senadores, não há negar que as dificuldades encerram aspectos positivos, na medida em que são transformadas em ocasiões propícias para descoberta e criatividade. O País passa por momentos que lhe exigem atenção. Uma atenção, no entanto, que deve ser constituída de vivacidade para criar, criar a partir da exuberância das riquezas que possui, riquezas feitas do trabalho e da natureza.  

Este presente de desafios para todos os povos não admite sonos prolongados. Há muito que construir. Há espaço para realizar. Sem crises, o gigante continuará adormecido.  

Era o que tinha a dizer!  

 

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Este texto não substitui o publicado no DSF de 12/10/1999 - Página 27259