Discurso no Senado Federal

CONSIDERAÇÕES SOBRE O CRESCIMENTO DESORDENADO DA POPULAÇÃO MUNDIAL E O COMBATE A FOME E MISERIA.

Autor
Leomar Quintanilha (PPB - Partido Progressista Brasileiro/TO)
Nome completo: Leomar de Melo Quintanilha
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA SOCIAL.:
  • CONSIDERAÇÕES SOBRE O CRESCIMENTO DESORDENADO DA POPULAÇÃO MUNDIAL E O COMBATE A FOME E MISERIA.
Publicação
Publicação no DSF de 15/10/1999 - Página 27636
Assunto
Outros > POLITICA SOCIAL.
Indexação
  • COMENTARIO, APREENSÃO, CRESCIMENTO, FOME, MISERIA, MUNDO, IMPORTANCIA, NECESSIDADE, INICIATIVA, AMBITO INTERNACIONAL, COMBATE, POBREZA, ESPECIFICAÇÃO, BRASIL.
  • COMENTARIO, APREENSÃO, AUSENCIA, CONTROLE, CRESCIMENTO, POPULAÇÃO, MUNDO, SIMULTANEIDADE, REDUÇÃO, RIQUEZAS.

O SR. LEOMAR QUINTANILHA (PPB - TO. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Sr as e Srs. Senadores, anteontem, dois minutos depois da meia-noite, nasceu Adnan, em Sarajevo, na Bósnia Hezergovina, tendo sido escolhido como sexto bilionésimo cidadão do planeta pelo Secretário-Geral da ONU, Kofi Annan.  

Cândida, essa criança chega ao mundo – certamente por não poder fazer opção de onde nascer – num quadro desastroso, já que a Bósnia Hezergovina vive envolvida em conflitos, guerras e lutas sangrentas há muitos anos. Possivelmente, essa criança inocente – ainda sem noção dos riscos que sua vida corre, sem noção das possibilidades de ter uma vida mais longa e tranqüila, desconhecendo por inteiro tudo o que acontece ao seu derredor – talvez tivesse mais chance de ser feliz se houvesse nascido, por exemplo, no Brasil, onde, apesar das nossas dificuldades e dos nossos problemas, ainda permanece um clima de paz saudável, plural e democrata. Trata-se de um país onde as pessoas podem sonhar e materializar seus sonhos.  

Nasce Adnan num momento em que, no Brasil, toma uma posição de destaque – em virtude de uma situação diferente – o combate à pobreza. Embora a pobreza não seja privilégio do Brasil e se alastre pelo planeta, em muitos países ela se instala de forma mais acendrada e mais aprofundada e as mazelas sociais são verdadeiras feridas que não se fecham e afrontam a dignidade humana.  

O mundo que herdamos de nossos ancestrais certamente era mais ameno, menos difícil, menos problemático do que o que hoje estamos enfrentando. A fome grassa em nosso país, um país rico, de terra generosa, fértil e abundante, de maneira aviltante e de forma quase que descontrolada. Assim também na África ou na própria Bósnia. O sexto bilionésimo cidadão talvez tenha vindo a este planeta, conviver no nosso meio, para aumentar esse alerta de que precisam ater-se ao problema principalmente os países ricos. É preciso quebrar a insensibilidade das nações mais poderosas, que já começam a encontrar uma fórmula de resolver suas mazelas, os seus males.  

A população continua crescendo de forma desordenada. Interessante, Sr. Presidente, Sr as e Srs. Senadores, é que cresce de maneira proporcionalmente inversa à riqueza das nações. Os países mais ricos e desenvolvidos estabeleceram, até de forma cultural, uma maneira de conter ou de reduzir sua população. Por isso mesmo, a cada ano, têm um número menor de pessoas para dividir suas riquezas. Na outra ponta, entre os países pobres, há um número cada vez maior de seres humanos para dividir a sua escassez, as suas dificuldades, a sua pobreza.  

Veja, Sr. Presidente, na entrada do terceiro milênio, seguramente, o Brasil, de modo especial, e o mundo como um todo haveremos de discutir o assunto com profundidade, de forma a buscar efetivamente soluções para os problemas que afligem os cidadãos do planeta, notadamente a fome.  

No Brasil, um país extraordinário, de dimensões continentais, com um clima favorável e saudável, com terras férteis, o setor produtivo poderia ser ativo, exuberante. O País poderia estar resolvendo de pronto as suas necessidades internas e podendo contribuir para mitigar a fome que grassa de forma mais acentuada, acelerada e de forma mais aviltante em outras partes do mundo.  

Mas a nossa agricultura ainda patina, a nossa agricultura ainda enfrenta dificuldades. E diga-se, Sr. Presidente, Sr as e Srs. Senadores, que a responsabilidade não cabe aos nossos produtores. Muito pelo contrário, no quadro atual, os nossos produtores relutam por permanecer na atividade. Quase que pagam para produzir, como se a atividade agrícola não fosse uma atividade econômica das mais importantes, das mais significativas, indispensáveis, porque trata de prover a mesa de elemento essencial à vida, que é o alimento.  

Represento, Sr. Presidente, nobre Senador Jonas Pinheiro, um Estado mediterrâneo, um estado interiorano, o Estado do Tocantins, com muito orgulho, como V. Exª representa um Estado vizinho meu. O meu Estado tem dificuldades naturais para desenvolver a organização da sua economia e aproveitar esse extraordinário potencial que a natureza nos concedeu.  

Políticas equivocadas ou logísticas de transporte neste País privilegiam os grandes centros urbanos, as grandes regiões, principalmente as litorâneas, mais desenvolvidas; e, ao longo da história do Brasil, para elas foram direcionados volumes substantivos de recursos, enquanto a nossa região capenga e, com um potencial enorme latente, tem dificuldades de produzir.  

No meu Estado, estamos fazendo um esforço hercúleo, estamo-nos superando. Sob a condução de um grande estadista, de larga visão, o Governador Siqueira Campos, estamos construindo as obras estruturantes do Tocantins, promovendo uma alteração na sua logística de transporte que vai estimular o País todo a promover essa mudança de matriz no transporte brasileiro, preparando-nos, certamente, Sr. Presidente, para esse desafio do terceiro milênio. Nós, no Brasil, queiramos ou não, seremos concitados a dar essa contribuição que o planeta precisa para mitigar a fome de tantos irmãos nossos que não tiveram a sorte, o privilégio de nascer nesta terra dadivosa, como já dizia Pero Vaz de Caminha, que, em se plantando, tudo dá. Talvez Adnan Nevic, o sexto bilionésimo cidadão do mundo, repito, se pudesse escolher um lugar onde nascer, onde ficasse livre dos conflitos, das guerras, das atrocidades que ali são praticadas, onde seres humanos, parentes seus, inclusive, são permanentemente eliminados, assassinados, tivesse escolhido, se pudesse fazê-lo, este maravilhoso torrão brasileiro para nascer. Se pudesse essa criança, Adnan Nevic, o sexto bilionésimo cidadão do mundo, imaginar as restrições impostas ao sistema produtivo do seu país, talvez ainda escolhesse o Brasil para nascer, já que, aqui, as condições são extremamente favoráveis.  

Portanto, Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, com o crescimento ainda desordenado da população do planeta; pressão maior exercida principalmente pelos países mais pobres que ainda não têm uma política de controle da natalidade, o crescimento populacional do planeta continua em progressão geométrica. não pensemos nós que vamos ficar imunes à pressão da fome. Seguramente, os países mais ricos, os países melhor aquinhoados, como é o caso do Brasil, serão levados a contribuir para matar a fome de irmãos nossos que nascem além-fronteiras. E estamos nos preparando para isso no Tocantins, Sr. Presidente. Com essas obras de infra-estrutura, com as condições que a dadivosa natureza concedeu ao Tocantins, certamente estamos nos preparando para dar a nossa colaboração para que o Brasil possa contribuir, juntamente com aqueles países que terão condição de fazê-lo, para que crianças como Adnan Nevic, na Bósnia Herzegovina, ou na sofrida Índia, ou na sofrida África, sejam atendidas, no mínimo, na sua condição de ser humano, de ter o alimento para sobreviver.  

Era esse o registro que gostaria de fazer nesta sessão, Sr. Presidente, que entendo ser o alerta trazido ao Brasil e ao planeta por essa criança, o sexto bilionésimo cidadão do mundo.  

Obrigado. 

 

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Este texto não substitui o publicado no DSF de 15/10/1999 - Página 27636