Discurso no Senado Federal

COMEMORAÇÃO, AMANHÃ, DO DIA DOS PROFESSORES. ANALISE DA EDUCAÇÃO NO BRASIL.

Autor
Geraldo Cândido (PT - Partido dos Trabalhadores/RJ)
Nome completo: Geraldo Cândido da Silva
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM. EDUCAÇÃO.:
  • COMEMORAÇÃO, AMANHÃ, DO DIA DOS PROFESSORES. ANALISE DA EDUCAÇÃO NO BRASIL.
Publicação
Publicação no DSF de 15/10/1999 - Página 27625
Assunto
Outros > HOMENAGEM. EDUCAÇÃO.
Indexação
  • HOMENAGEM, DIA NACIONAL, PROFESSOR, ANALISE, EDUCAÇÃO, BRASIL, DESVALORIZAÇÃO, SALARIO, MAGISTERIO.
  • COMENTARIO, DOCUMENTO, REIVINDICAÇÃO, CONFEDERAÇÃO SINDICAL, TRABALHADOR, EDUCAÇÃO, MANIFESTAÇÃO COLETIVA, MARCHA, BRASILIA (DF), DISTRITO FEDERAL (DF).
  • HOMENAGEM POSTUMA, PAULO FREIRE, PROFESSOR, CONTRIBUIÇÃO, DIDATICA, ALFABETIZAÇÃO.
  • CRITICA, GOVERNO, POLITICA, DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL, REGISTRO, PROPOSTA, SOCIEDADE CIVIL, PLANO NACIONAL DE EDUCAÇÃO, AUMENTO, RESPONSABILIDADE, ESTADO, AMPLIAÇÃO, DEMOCRACIA, AUTONOMIA, CIDADANIA.

O SR. GERALDO CÂNDIDO (Bloco/PT - RJ. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Sr as e Srs. Senadores, amanhã, 15 de outubro, é o Dia Nacional do Professor, uma categoria que, no nosso País, tem sido desvalorizada, aviltada nos seus salários. O professor, para sobreviver e conseguir a manutenção da sua família, em geral, tem que ter três ou quatro matrículas.  

Temos que nos referir ao dia do mestre com muito carinho. Estou me antecipando ao fazer essa homenagem, porque foi aprovado o requerimento da Senadora Emilia Fernandes, que destina o Expediente do dia 19 à comemoração desta data.  

Quero me referir à questão da educação em âmbito nacional. Na semana passada, tivemos em Brasília a Marcha Nacional em Defesa e Promoção da Educação Pública, promovida pela Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação - CNTE.  

Tenho aqui uma nota do Ministério da Educação. Sobre as medidas já tomadas nas diferentes áreas, afirmou que o MEC está empenhado na aprovação pelo Congresso do Plano Nacional de Educação e que este é o momento oportuno para unir forças em defesa da afirmação da educação pública brasileira.  

Se é isso, estamos de pleno acordo com o Ministério da Educação. O fato é que nem sempre as coisas acontecem dessa forma. Existe um programa, um projeto, recurso, mas, na hora da execução, sempre sai de maneira diferente.  

O documento da CNTE contém informações sobre condições físicas das escolas e contratação temporária de professores, reivindica aumento de salário e qualificação dos docentes, além de ampliação da oferta de matrículas em todos os níveis e apresenta uma série de experiências pedagógicas bem-sucedidas em diversas partes do País.  

Em homenagem ao Dia do Professor, Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, quero aqui lembrar de um educador brasileiro falecido em 1997, que tinha a convicção de que, mesmo sem escolaridade, nenhuma pessoa é vazia de conhecimentos.  

Para este sábio chamado Paulo Freire, qualquer processo de educação deveria começar a partir da realidade de cada um, a partir do que cada um já sabe. Paulo Freire apontou a raiz social e não a pedagógica do sucesso da alfabetização. Para este ilustre pensador, o analfabetismo é resultante da própria forma de ser do País. O autoritarismo da sociedade brasileira, colocando muitas pessoas em uma posição social de constante obediência, interferia, segundo o educador, no processo de aprendizagem. As pessoas seriam, portanto, desmotivadas a pensar, a acreditar em si mesmas e a tomar decisões. Nesse sentido, a contribuição de Paulo Freire para restabelecer os laços de confiança na relação educador/educando talvez tenha sido o grande legado do mestre.  

Infelizmente, não mais contamos com a companhia de Paulo Freire e verificamos que dois anos após a sua morte vivemos submetidos à lógica da propaganda e do marketing, por parte do Governo, na educação.  

"Nenhuma criança fora da escola"; "1998, o ano da educação". Enquanto produzia slogans para se reeleger, chegando até a se utilizar da popular figura de Pelé, como garoto propaganda, o Governo FHC, na prática, tratava de destruir a escola pública.  

Nesse sentido, encaminhou no ano passado ao Congresso Nacional o seu Plano Nacional de Educação, que ficou conhecido como PNE/MEC. Feito nos gabinetes, sem qualquer participação da sociedade e das entidades representativas de professores, estudantes e pais de alunos, o PNE/MEC pretende consolidar o neoliberalismo na área educacional.  

Pela proposta do Governo, o Estado se desresponsabiliza do financiamento da educação pública, reduz a democracia e centraliza ainda mais as decisões pedagógicas.  

Em contraposição ao PNE/MEC, professores, estudantes, pais e funcionários técnico-administrativos, governantes e políticos comprometidos com a defesa da educação pública, gratuita, democrática e de boa qualidade, para todos e em todos os níveis, apresentaram um projeto alternativo de Plano Nacional de Educação para ser debatido nesta Casa e na Câmara dos Deputados. É o Plano Nacional de Educação - Proposta da Sociedade Brasileira -, conhecido como PNE da Sociedade Brasileira. Projeto que foi fruto de discussões democráticas realizadas em todo o Brasil e nos mais amplos setores.  

Dois Congressos Nacionais de Educação - Coneds - foram realizados, reunindo milhares de representantes de todo o País em Belo Horizonte, nos anos de 1996 e 1997, estando o próximo marcado para dezembro deste ano, em Porto Alegre.  

Feito por muitos daqueles que vivem e que sofrem a educação brasileira, o PNE da Sociedade Brasileira pretende o inverso do projeto do Governo: a responsabilização do Estado com o financiamento da educação, a ampliação da democracia e a autonomia pedagógica das escolas e universidades. As entidades que integram o Fórum Nacional em Defesa da Educação Pública, entre elas a ANDES, UNE, CNTE, MST e CNBB, estão encaminhando um abaixo-assinado em nível nacional para transformar o PNE da Sociedade Brasileira em Projeto de Lei de Iniciativa Popular.  

Enquanto o MEC quer formar mão-de-obra barata para o mercado, a proposta dos setores populares é formar cidadãos para a sociedade. Enquanto o MEC quer aprofundar a exclusão de amplos setores sociais, o PNE da Sociedade Brasileira quer uma educação que prepare as pessoas para construir, coletivamente, um projeto de inclusão e de qualidade social para o País.  

Solidariedade, justiça, honestidade, autonomia, liberdade e cidadania são valores que embasam a alternativa dos setores envolvidos com a educação.  

Uma escola garantida e financiada pelo Estado, construída por alunos, pais, professores e funcionários técnico-administrativos, que seja um espaço público de participação e decisão, que tenha por objetivo o desenvolvimento de todos. Essa escola é a meta do PNE da Sociedade Brasileira.  

Enquanto o PNE/MEC concebe a gestão do ensino apenas na forma de gerenciamento e fiscalização de recursos, a proposta do PNE da Sociedade Brasileira quer a construção, de baixo para cima, de um Sistema Nacional de Educação verdadeiramente democrático.  

A escola de que o Brasil precisa é aquela capaz de garantir uma educação voltada para os interesses da maioria da sociedade e que vai dos primeiros ensinamentos na creche até a universidade.  

Essa escola pode se tornar realidade se os governos entenderem educação como um investimento social na construção de um futuro melhor para todos, e não apenas um custo, como direito e dever do Estado, e não como um privilégio de poucos.  

Concluindo o meu pronunciamento, deixo aqui o meu abraço, a minha homenagem e a minha solidariedade a todos os professores pelo dia 15 de outubro. Muito obrigado, Sr. Presidente.  

 


Este texto não substitui o publicado no DSF de 15/10/1999 - Página 27625