O SR. LEOMAR QUINTANILHA (PPB - TO. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, venho à tribuna desta Casa, nesta manhã, para render homenagem a um dos mais ilustres brasileiros deste século, pelos seus feitos, pela sua contribuição ao desporto e à paz mundial. Refiro-me ao ex-Presidente da CBD e ex-Presidente da FIFA, Dr. João Havelange.  

A Câmara dos Deputados realizou, recentemente, uma sessão solene em homenagem ao Dr. João Havelange, pela sua contribuição em favor da paz entre os povos, por intermédio do futebol. O gesto da Câmara dos Deputados, por sua singularidade, reveste-se da maior relevância se considerarmos a enorme contribuição que esse ilustre brasileiro prestou e tem prestado ao esporte, mediante suas ações à frente da entidade máxima do futebol mundial e como membro do Comitê Olímpico Nacional.  

Durante os vinte e quatro anos em que presidiu a FIFA, João Havelange granjeou respeito e prestígio internacionais. Foi o responsável pela internacionalização e popularização do futebol muito antes de se falar no fenômeno da globalização. Sob o seu comando, o futebol experimentou extraordinário crescimento, tornando-se um império que exibe números astronômicos. A indústria do futebol movimenta, anualmente, US$250 bilhões na economia mundial, aí incluídos salários de jogadores, bilheteria de estádios, publicidade, transmissões de televisão, venda de material esportivo, passagens aéreas, ocupação de hotéis, turismo, indústria paralela e outros. Calcula-se que o futebol emprega, direta e indiretamente, cerca de quatrocentos e cinqüenta milhões de pessoas. Os direitos das Copas do Mundo de 2002 e 2006, por exemplo, já estão comercializados por U$4 bilhões.  

Ao deixar a presidência da FIFA, logo após a Copa da França de 1998, João Havelange entregou a entidade com um saldo de U$4,2 bilhões, realidade bem diferente da de quando a assumiu, em 1974. Naquela época, a FIFA recebia empréstimos da UEFA - União Européia de Futebol - para sobreviver. Promovia apenas duas competições: a Copa do Mundo, com dezesseis participantes, e o torneio de futebol nos Jogos Olímpicos. Hoje, a FIFA tem duzentos e quatro filiados - diga-se de passagem, Sr. Presidente, que a FIFA tem mais filiados que a Organização das Nações Unidas - e promove dez competições, sendo que a última Copa do Mundo registrou a participação de trinta e duas seleções, sem contar com a fase preliminar, que envolveu cento e sessenta e sete países. Antes mesmo do sucesso obtido à frente da FIFA, João Havelange já se destacava como Presidente da CBD - Confederação Brasileira de Desportos. Exerceu a presidência da entidade entre 1958 e 1974, período em que o Brasil conquistou três campeonatos mundiais, ficando em definitivo com a Taça Jules Rimet.  

Os números evidenciam a seriedade e a competência com que esse brasileiro obstinado, nascido no Rio de Janeiro em 1916, administrou a organização por mais de duas décadas, período em que foi sucessivamente reconduzido ao cargo por aclamação. Reconhecido e admirado no mundo inteiro, João Havelange é dono de mais de quarenta condecorações estrangeiras, de países que vão da França e Itália a Qatar e Senegal. Já foi recebido com honras de Chefe de Estado por mandatários de diversos países. Fui testemunha, Sr. Presidente, de um desses episódios, em 1993, na Austrália, quando o Brasil, na categoria Sub-20, disputava o campeonato mundial. Ali se fez presente João Havelange e foi, efetivamente, recebido com honrarias de Estado; ali, o povo, não somente australiano, mas das diversas regiões do mundo que participavam da competição, rendia a esse brasileiro ilustre as mais efusivas homenagens. Ali, depois de uma disputa acirrada e uma bela jornada, o Brasil conquistou o tricampeonato mundial de juniores, ou seja, de Sub-20. O seu impressionante currículo e a sua longa folha de serviços prestados distinguem-no como uma das mais importantes personalidades mundiais deste século.  

É exatamente dentro desse contexto que a homenagem da Câmara dos Deputados se insere. Ninguém pode olvidar que João Havelange efetivamente contribuiu para a paz mundial por intermédio da prática do futebol, modalidade esportiva que encanta os quatro cantos do mundo pela sua beleza plástica e pela emoção que provoca. Países em conflito foram aproximados pelo futebol. Lembrem-se todos do encontro memorável do Irã, do Iraque e dos Estados Unidos numa partida amistosa de futebol. Regiões longínquas e, muitas vezes, beligerantes foram alcançadas pela magia desse esporte.  

Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, o Sr. Jean-Marie Faustin Godefroid Havelange, o "cidadão do mundo" João Havelange, tem recebido as mais diversas e merecidas homenagens, sejam de iniciativa de organismos oficiais, sejam de iniciativa de entidades não governamentais. A sua figura emblemática é quase uma unanimidade. Recentemente, teve o seu nome lançado pela Associação Comercial do Rio de Janeiro para concorrer ao Prêmio Nobel da Paz. Agora, a Câmara dos Deputados presta-lhe tributo pela sua contribuição à paz mundial.  

Para nós, brasileiros, que estamos vivendo um processo de recuperação da nossa auto-estima depois de anos despertando a atenção mundial apenas para as mazelas sociais e econômicas aqui produzidas, o momento é singular. Temos ídolos brilhando em diversas modalidades esportivas. Obtivemos resultados recordes nos últimos jogos panamericanos, disputados no Canadá. Somos o único país do mundo tetra campeão de futebol.  

Os responsáveis por essas conquistas, as pessoas que, de alguma foram, contribuíram para que elas fossem possíveis merecem o nosso justo reconhecimento. É por esse motivo que hoje ocupo a tribuna desta Casa, para que fique registrada, nos Anais do Senado Federal, essa singela homenagem ao Dr. João Havelange pela inestimável contribuição à causa da paz mundial, por intermédio do esporte.  

Era o que tinha a dizer.  

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