Discurso no Senado Federal

HOMENAGEM AOS CENTO E CINQUENTA ANOS DE NASCIMENTO DE JOAQUIM NABUCO E O CINQUENTENARIO DA FUNDAÇÃO JOAQUIM NABUCO.

Autor
José Jorge (PFL - Partido da Frente Liberal/PE)
Nome completo: José Jorge de Vasconcelos Lima
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • HOMENAGEM AOS CENTO E CINQUENTA ANOS DE NASCIMENTO DE JOAQUIM NABUCO E O CINQUENTENARIO DA FUNDAÇÃO JOAQUIM NABUCO.
Publicação
Publicação no DSF de 22/10/1999 - Página 28106
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM, ANIVERSARIO DE NASCIMENTO, JOAQUIM NABUCO (PE), ESCRITOR, POLITICO, DIPLOMATA, INTELECTUAL, ESTADO DE PERNAMBUCO (PE).
  • HOMENAGEM, ANIVERSARIO DE FUNDAÇÃO, FUNDAÇÃO JOAQUIM NABUCO (FUNDAJ), OPORTUNIDADE, RECONHECIMENTO, IMPORTANCIA, ATUAÇÃO, TRABALHO, ENTIDADE.

O SR. JOSÉ JORGE (PFL - PE. Pronuncia o seguinte discurso.) - Sr. Presidente, Antonio Carlos Magalhães; Sr. Vice-Presidente da República, Marco Antonio Maciel, Srs. Ministros do Tribunal de Contas da União, Marcos Vinicios Rodrigues Vilaça e Guilherme Palmeira; Srs. membros da família Nabuco, netos de Joaquim Nabuco aqui presentes, Afrânio de Mello Franco Nabuco e José Tomás Nabuco de Araújo; Srªs Senadoras, Srs. Senadores, Sr. Everardo Maciel, Secretário-geral da Receita Federal; Sr. Fernando de Mello Freyre, Presidente da Fundação Joaquim Nabuco; Srs. Deputados, minhas senhoras e meus senhores, demais autoridades presentes, reúne-se a Câmara Alta do País para tributar mais uma das homenagens, nunca excessivas ou indébitas, a Joaquim Nabuco. Desta feita, desejamos dele recordar, em breves palavras, uma parte da vida construtiva, da obra perene e inexcedível, ao ensejo das comemorações do sesquicentenário de nascimento do insigne brasileiro e dos cinqüenta anos de existência da Fundação que leva e honra o seu ilustre nome.  

A Fundação Joaquim Nabuco nasceu da iniciativa de Gilberto Freyre, outro notável pernambucano. Considerando o hoje patrono da cultura do nosso Estado "um exemplo a seguir", propôs ao Legislativo Federal, que então integrava, a criação de um instituto de estudos e pesquisas com o nome do famoso abolicionista, que ora completa meio século de produtiva existência. O Instituto, criado no centenário de Joaquim Nabuco, nascido em 19 de agosto de 1849, e patrono dos numerosos eventos que em nosso Estado comemoram o Dia da Cultura Pernambucana, foi idealizado para "estudar as condições de vida do trabalhador brasileiro da região agrária do Nordeste e do pequeno lavrador, visando ao melhoramento dessas condições".  

Sua primeira pesquisa sociológica, realizada em 1951, abrangeu as condições de habitação da Região Norte do País, por solicitação do Governo Federal. Com o passar do tempo, os trabalhos desenvolvidos nessa área contribuíram para erguer e consolidar o nome da entidade, atraindo uma corrente de financiamentos direcionados à expansão de suas atividades científicas e culturais. Com a Lei nº 4.209, de 1963, modificou-se a sua denominação para Instituto Joaquim Nabuco de Pesquisas Sociais, mantendo a atribuição de produtor de ciência na área de sociologia e o encargo de promover a formação de pesquisadores no Nordeste. E, pela Lei nº 6.687, de 1979, alterou-se a natureza jurídica do Instituto, uma autarquia federal, para uma fundação de direito privado, a Fundação Joaquim Nabuco, que ora completa cinqüenta anos de profunda e extensa dedicação ao País.  

Portanto, congratulo-me com o Presidente da Fundação, Fernando Mello Freyre, filho do sociólogo e grande pernambucano Gilberto Freyre, que foi o criador da Fundação, tendo sido seu presidente e também presidente do conselho durante muitos anos, até a sua morte. Obrigado pela presença de V. Sª.  

A Joaquim Nabuco pertenceu, até 1910, a cadeira 27 da Academia Brasileira de Letras, patrocinada pelo conterrâneo Maciel Monteiro, justificado orgulho da gente pernambucana. Sucederam-se, de então a esta parte, Dantas Barreto, Gregório Fonseca, Levi Carneiro e Otávio de Faria, sendo Eduardo Portella o seu atual ocupante.  

A academia, com inteira justiça, dedicou a Joaquim Nabuco a edição de sua Revista Brasileira , correspondente ao segundo trimestre do corrente ano. Reportando-se a Luís Viana Filho, com o seu "Rui & Nabuco", de 1949, estabeleceu comparação segundo a qual, partindo de dois princípios essenciais, num encontra-se Nabuco, um reformador, e noutro Rui, mais radical, "que se definia pela vocação de político enquanto Nabuco seria, ao revés, um literato".  

Também a coluna "Prosa & Verso", de O Globo , assinada por Wilson Martins, comenta, a respeito, o acaso que "reúne na morte dois homens que viveram grande parte da existência unidos nas idéias", Rui Barbosa e Joaquim Nabuco. Personalidades diferentes, pela origem, temperamento ou destino, ambos se reencontraram em múltiplos níveis de aproximação, confirmando o agrupamento consagrado pela posteridade nas comemorações oficiais.  

Não se recusa a Nabuco, escritor, político, diplomata, intelectual, o Nabuco do abolicionismo, o cidadão, o fato de ingressar na história como exemplo de homem invulgar, pela aguda inteligência e "inestimáveis serviços que prestou à nacionalidade" e, acima de tudo, "pelas proporções admiráveis com que a natureza o dotou". É uma legenda, nunca ignorada, embora falte à posteridade a condição de avaliá-lo em toda a sua dimensão.  

É incontroverso o reconhecimento de seu rigor ético e de sua substância cultural, de suas lições permanentes e insubstituíveis da melhor política, no pregar, já na sua época, o combate à exclusão social. É certo, por igual, que a "vocação política de Nabuco aparecia na tendência irresistível que o levou aos temas da História, quando abandonou a política militante, porque na História era ainda a política que o buscava". Demonstra-o Um Estadista do Império , uma obra-prima da literatura política.  

O sempre citado Ministro Marcos Vinicios Vilaça, aqui presente, sintetiza essa peculiaridade com o costumeiro acerto e brilhante texto, identificando dois Nabucos ou muitos Nabucos, todos convergentes e "apenas aparentemente contraditórios: o renaniano e o católico, o conservador e o reformador social, o embaixador refinado e o amigo de escravos que se arrojaram a seus pés, o cidadão do mundo e o homem da província que se declara escravo da sua terra e brada: "Esse é o torrão sagrado e agora tudo que se refere à sua história é objeto de meu culto filial".  

Sempre será muito pouco o que se disser sobre a vida, o pensamento e a obra de Joaquim Nabuco, "a esperança da Pátria, o futuro da família, o filho do coração, orgulho de seu pai", o Senador Nabuco de Araújo. O Jornalista e Presidente da Associação Brasileira de Imprensa, ABI, Barbosa Lima Sobrinho, também ex-Governador do Estado que aqui representamos, enfatizou, em conferência pronunciada no Teatro Santa Isabel, que "longe de ser um sibarita descuidado ou um saudosista deslumbrado com a poesia do passado, teve Joaquim Nabuco o senso, a decisão, a bravura dos reformadores, defendendo ardentemente as classes humildes, os escravos como os lavradores, os rendeiros como os moradores dos mocambos do Recife", num País de classes sociais reduzidas ao "opulento senhor de escravos e os proletários".  

Pioneiro do trabalhismo, a atualidade de Joaquim Aurélio Barreto Nabuco de Araújo pode ser considerada pela observação, há tanto e até hoje, de suas notórias qualidades de reformador social, inscritas em seguidos pronunciamentos favoráveis às reformas complementares à abolição da escravatura. À época, defendia uma lei agrária, expressando o entendimento de que "a propriedade não tem somente direitos, tem também deveres, e o estado de pobreza entre nós, a indiferença com que todos olham a condição do povo, não faz honra à propriedade, como não faz honra ao Estado". Juntava, dessa forma, a questão da emancipação dos escravos à democratização do solo, considerando uma complemento da outra, e que, não bastando acabar com a escravidão, era preciso destruir a sua obra.  

Em Suplemento ao Diário do Estado de Pernambuco , a Secretaria de Cultura disserta sobre "o mundo e o pensamento de Joaquim Nabuco", lembrando o período de "reclusão voluntária que se seguiu à causa da Abolição", do qual surgiram "algumas das suas páginas mais belas, e que imprimirão um traço de imortalidade à obra do escritor". Produtos desse fecundo período, Um Estadista do Império e a Minha Formação , tão diferentes em gênero, dão bem a medida do estilista, que alcança a um só tempo a simplicidade da forma, a segurança da frase e a beleza da imagem.  

Na idade madura, o apogeu do escritor apontava o termo da missão do político, substituída pela vez do "observador, ensaísta e escritor, que, através da pena, deixava para a posteridade a história dos dias por ele vividos", junto, complementamos, à riqueza de um legado de tantos e inestimáveis valores.  

Estamos concluindo, Sr. Presidente, esta breve participação consignando a nossa especial admiração e o nosso reconhecimento à obra que vem sendo desenvolvida pela Fundação Joaquim Nabuco, no cinqüentenário de sua profícua existência, e registrando a nossa homenagem a Joaquim Nabuco, festejando-lhe a vida, pontilhada de êxitos, e exaltando-lhe a memória, plena de edificantes exemplos.  

O ilustre brasileiro fez por merecer a reverência e o aplauso dos seus pósteros, mercê de se haver inscrito, com inexcedível mérito e invulgar talento, não apenas no rol dos pernambucanos mais notáveis, mas também no seleto elenco dos vultos maiores da edificação política nesta ainda jovem Nação.  

Era o que tínhamos a dizer.  

Muito obrigado. (Palmas!)  

 


Este texto não substitui o publicado no DSF de 22/10/1999 - Página 28106