Pronunciamento de Nabor Júnior em 25/10/1999
Discurso durante a 147ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal
FORTALECIMENTO DO MERCOSUL COM ELEIÇÃO, NA ARGENTINA, DE FERNANDO DE LA RUA.
- Autor
- Nabor Júnior (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/AC)
- Nome completo: Nabor Teles da Rocha Júnior
- Casa
- Senado Federal
- Tipo
- Discurso
- Resumo por assunto
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MERCADO COMUM DO SUL (MERCOSUL).:
- FORTALECIMENTO DO MERCOSUL COM ELEIÇÃO, NA ARGENTINA, DE FERNANDO DE LA RUA.
- Publicação
- Publicação no DSF de 26/10/1999 - Página 28453
- Assunto
- Outros > MERCADO COMUM DO SUL (MERCOSUL).
- Indexação
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- COMENTARIO, VITORIA, FERNANDO DE LA RUA, PRESIDENTE DE REPUBLICA ESTRANGEIRA, PRIMEIRO TURNO, ELEIÇÕES, PAIS ESTRANGEIRO, ARGENTINA, POSSIBILIDADE, REFORÇO, MERCADO COMUM DO SUL (MERCOSUL).
- DEFESA, NECESSIDADE, REFORÇO, DIALOGO, ESTADOS MEMBROS, IMPEDIMENTO, DISPUTA, OBSTACULO, DESENVOLVIMENTO, MERCADO COMUM DO SUL (MERCOSUL).
O SR. NABOR JÚNIOR
(PMDB - AC Pronuncia o seguinte discurso.) - Sr. Presidente, Srs. Senadores, a Argentina elegeu ontem seu novo Presidente, para substituir Carlos Menem, que cumpriu dois mandatos consecutivos.
Os números oficiais ainda não estão fechados, mas as últimas pesquisas preconizam a obtenção da maioria absoluta pelo candidato Fernando De La Rúa ainda em primeiro turno, com pouco mais de 50% dos votos. Essa vitória foi reconhecida pelo próprio governante atual, que ligou a seu provável sucessor ontem mesmo, à noite, dando-lhe os parabéns pelo resultado.
No próximo dia 31, será a vez de o Uruguai também eleger um novo governante, concluindo as sucessões na região platina.
Ambos os eventos têm grande interesse para o Brasil, pois Argentina e Uruguai são países importantes dentro do contexto do Mercosul, instituição na qual repousam todos os projeto de progresso social e desenvolvimento econômico do continente. E existem, de fato, problemas sérios, carentes de soluções profundas e urgentes, para reavivar o sonho de integração do chamado Cone Sul e países vizinhos, sonho que tem na Comunidade Européia sua máxima inspiração.
Todos os despachos das agências internacionais e as matérias dos jornalistas brasileiros, especialmente enviados à Argentina pelos grandes jornais e emissoras de TV, falam da tranqüilidade que marcou o processo eleitoral, não apenas na capital, mas também no interior do país, onde praticamente não se registraram distúrbios ou atos de violência por parte das facções em disputa.
A campanha culminou com a ausência de bandeiras e de panfletos nas principais ruas de Buenos Aires, e o reforço da vigilância policial representou apenas um ato de cautela e de prudência.
Isso denota o amadurecimento das instituições naquele país, tão maltratado pelas contradições internas nas três décadas passadas. O povo já se acostumou a votar — e o fez em ordem e tranqüilidade, imbuído da importância do momento vivido pela Argentina e toda a América do Sul.
O Presidente do Brasil foi o primeiro Chefe de Estado a cumprimentar o novo governante argentino. Fernando Henrique Cardoso passou o domingo recebendo informações do Itamaraty sobre a votação e as pesquisas de boca-de-urna e telefonou para Fernando de La Rúa pouco após as 20horas , hora oficial de Brasília, tão logo se confirmou a sua tendência de vitória já no primeiro turno.
Nessa presteza, vemos uma demonstração do interesse devotado à parceria com os vizinhos do sul, a qual tem sido dificultada em virtude de algumas atitudes assumidas pelo Presidente em final de mandato, Carlos Menem, de priorizar as relações de seu país com os Estados Unidos. Com isso, o Sr. Menem tentou furar o bloqueio do Nafta e entrar, sozinho, no mercado norte-americano, canadense e mexicano.
A diplomacia brasileira, considerando todos esses aspectos, espera ver concretizados os compromissos do Sr. Fernando de La Rúa de não prosseguir na política de alinhamento automático com Washington e de voltar-se para a integração regional , indo além do simples intercâmbio mercantil, para desenvolver os projetos de infra-estrutura comuns, como as conexões rodoviárias, além da redução de barreiras protecionistas que tanto prejudicam o livre intercâmbio de produtos essenciais.
Ou seja, existem perspectivas concretas de que as divergências não mais se converterão automaticamente em crises; ao contrário, todas as palavras do futuro Presidente indicaram sua intenção de fortalecer o diálogo, impedindo que disputas em torno de questões específicas se transformem em impasses litigiosos.
Em contrapartida, se efetivamente abandonar o alinhamento automático com os Estados Unidos, Fernando de La Rúa terá de enfrentar os portentosos desafios de resolver o grande impasse: manter a estrutura dolarizada de todos os fatores econômicos em seu país, onde a paridade entre o peso e o dólar garantiu o fim da inflação, por meio do chamado Plano Cavallo , e, ao mesmo tempo, devolver aos produtos e serviços argentinos uma competitividade há muito perdida, principalmente depois que, no primeiro semestre de 1999, o Brasil promoveu a maxidesvalorização do Real e, com isso, provocou uma inegável alteração nos sentidos do fluxo comercial entre nossos dois países.
Não basta gritar ameaças, nem prometer retaliações; deve-se ter paciência, objetividade e espírito construtivo para desatar os nós que tanto têm embaraçado o desenvolvimento do Mercosul. É imperiosa a união em torno das identidades e daquilo em que nos complementamos; existem mais aproximações que rejeições, nos dois lados da fronteira.
Sr. Presidente, Sr as e Srs. Senadores, a eleição argentina é um fato novo, ainda em processo de consolidação, o que exige, portanto, muita cautela em suas análises. O chamado "efeito Orloff", que prevê a repetição no Brasil de tudo o que ocorre no vizinho platino, tem sido uma constante nos últimos anos; por isso, devemos estar atentos às primeiras atitudes do novo Presidente, pois o que tivemos até agora deve ser tratado apenas como manifestação de intenções e promessas de campanha.
A partir de hoje, tudo o que o Sr. Fernando de La Rúa disser terá o respaldo que lhe conferiu seu povo — e deverá ser examinado pelo Brasil conforme seus próprios interesses e projetos. Da mesma forma, até o próximo domingo, acompanharemos os últimos passos da campanha e a realização das eleições uruguaias, que, tradicionalmente, são mais apaixonadas e emotivas que as de seus vizinhos.
Jamais esqueçamos que o futuro do Brasil está vinculado, indissoluvelmente, aos destinos da Argentina, Uruguai e demais parceiros do Mercosul, porque, sem uma comunidade econômica forte, a América do Sul continuará sendo a região do desencontro, da estagnação econômica e do atraso social.
Era o que tinha a dizer, Sr. Presidente.
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