O SR. RAMEZ TEBET (PMDB - MS. Para encaminhar a votação. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, é claro que eu gostaria, no dia de hoje, depois desses feriados, de me pronunciar a respeito de outro assunto que não este que me traz à tribuna. Sempre que subo à tribuna, faço-o para falar sobre meu Estado, para reivindicar em seu nome e para mostrar ao Brasil o que é o Mato Grosso do Sul.

O sentimento que aqui me traz hoje é o da indignação, é o de pesar e luto pelo trágico acontecimento ocorrido no Município de Mundo Novo, uma das principais cidades do Estado do Mato Grosso do Sul, cuja população encontra-se entristecida, como de resto toda a população do meu Estado. Eu diria que Mato Grosso do Sul está coberto de crepe de luto pelo falecimento, de forma trágica, brutal e covarde, da Prefeita do Município de Mundo Novo, Dorcelina Folador, mulher mãe, Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores; mulher com trinta e seis anos de idade; mulher conhecida nos meios políticos de Mato Grosso do Sul pela sua garra, pelo seu destemor, pela luta que sempre travou em favor das causas sociais e dos mais necessitados, tanto assim que as pesquisas de opinião pública lhe apontavam mais de 80% de aprovação popular.

Por volta das 23 horas do dia 30 de outubro, ela se encontrava numa varanda dos fundos da sua casa, sentada, após um dia de labuta, quando, traiçoeiramente, pistoleiro ou pistoleiros profissionais, por cima de um muro que dividia a sua residência de outra, fizeram ecoar seis balaços, atingindo mortalmente a Prefeita de Mundo Novo. A notícia, Sr. Presidente, correu célere, como não poderia deixar de acontecer, e entristeceu Mundo Novo. Mais de oito mil pessoas acompanharam o féretro, dando o último adeus à Prefeita covardemente assassinada pela pistolagem que campeia desordenadamente neste País.

Cumpre ressaltar isto, nesta hora e neste momento: Dorcelina é mais uma mulher, mais uma autoridade que tomba, de forma traiçoeira e cruel, pela ação de criminosos, de homens covardes! Não sabemos, Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, a mando de quem estavam os autores dessa morte, se do narcotráfico que ela tanto combatia e repudiava, ou se do contrabando que por ali campeia de forma impune, assim como no País.

Li nos jornais, entristecidos ainda hoje, que, de três anos para cá, mais de cinqüenta Prefeitos foram assassinados neste País. Não sei quantos crimes foram desvendados e não sei dizer à população brasileira quem está na cadeia pagando por esses atos de terrorismo e covardia como o ato que ceifou a vida de Dorcelina Folador na plenitude e no vigor das suas forças de mulher dedicada ao trabalho e à população de Mundo Novo, que com tanta galhardia e entusiasmo sempre defendeu no exercício da sua missão de dirigir os destinos daquela cidade.

Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, tive oportunidade de conhecê-la, de recebê-la em meu gabinete e de, em companhia de um Deputado Federal do Partido dos Trabalhadores de meu Estado, acompanhá-la em duas entrevistas nos Ministérios de Brasília, na busca de recursos para ajudar o seu Município tão próspero, Município limítrofe com o Estado do Paraná e um país estrangeiro, Município tão carente e necessitado.

Eu sei, Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, que alguns próceres políticos lá compareceram, em solidariedade. Vejo, aqui, a figura do eminente Senador Eduardo Suplicy, que lá esteve. Também lá estiveram - conforme tive conhecimento por meio da imprensa - o Presidente de Honra do Partido dos Trabalhadores, Luiz Inácio Lula da Silva, o José Dirceu, Presidente do Partido dos Trabalhadores, e outros próceres políticos.

O Governador do meu Estado, naturalmente, colocou toda a sua polícia ao lado da Polícia Federal, para tentar desvendar o bárbaro assassinato que vitimou a Prefeita, Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, portadora de um defeito físico, que, longe de lhe tirar as forças, fazia recrudescer no seu coração o ideal de servir ao seu povo e a sua gente.

Sr. Presidente, não estou aqui em nome de algum partido político. Mesmo presidindo a Diretoria Regional do Partido do Movimento Democrático Brasileiro em Mato Grosso do Sul, aqui estou em nome do meu Estado, em nome da população de Mundo Novo e em nome do Brasil, que tem que ser sacudido nessa hora e nesse momento, pois temos que dar um basta a esse rosário interminável de crimes que têm acontecido em nosso País.

Entendo que as autoridades precisam agir diante dessa onda de violência, nunca vista, em tão grande escala, no Brasil. O meu Estado tem sido vítima dessa violência e dessa impunidade que a sociedade brasileira não aceita mais. Refiro-me à impunidade que grassa por todo o Brasil.

Sr. Presidente, hoje ninguém vê ninguém na cadeia. Presido a CPI do Judiciário, e, com profunda indignação, afirmo à Casa que até mesmo aqueles que têm a responsabilidade de punir criminosos, até mesmo aqueles que têm responsabilidade de sentenciar, muitas e muitas vezes, desvirtuam as suas elevadas funções e contribuem para tirar da cadeia aqueles que deveriam lá permanecer, porque estão a serviço do crime, estão a serviço do narcotráfico.

O Sr. Casildo Maldaner (PMDB - SC) - Permite-me V. Exª um aparte?

O SR. PRESIDENTE (Nabor Júnior) - A Mesa lembra ao nobre Senador Casildo Maldaner que em encaminhamento de votação não é permitido aparte.

V. Exª poderá inscrever-se para encaminhar a seguir.

O SR. RAMEZ TEBET (PMDB - MS) - Sr. Presidente, prefiro falar menos e ceder um aparte ao Senador Casildo Maldaner, se V. Exª permitir.

O SR. PRESIDENTE (Nabor Júnior) - Nesse caso, o Senador Casildo Maldaner poderá fazer o seu aparte, já que o orador desistiu do restante do tempo que lhe é devido.

O SR. RAMEZ TEBET (PMDB - MS) - Pergunto a V. Exª: de quantos minutos ainda disponho, Sr. Presidente?

O SR. PRESIDENTE (Nabor Júnior) - V. Exª tinha direito a cinco minutos e já ultrapassou esse prazo.

O SR. RAMEZ TEBET (PMDB - MS) - Então, vou encerrar.

O SR. CASILDO MALDANER (PMDB - SC) - Sr. Presidente, já que estamos na fase de encaminhamento da votação do requerimento, gostaria de inscrever-me para encaminhá-lo, ocasião que poderei manifestar-me. No entanto, mesmo contrariando o Regimento, presto minha solidariedade ao Senador Ramez Tebet, que, da tribuna do Senado, faz alusões à ilustre Prefeita de Mundo Novo, tragicamente assassinada.

Sr. Presidente, no momento do encaminhamento, regimentalmente abordarei esse tema.

O SR. RAMEZ TEBET (PMDB-MS) - Senador Casildo Maldaner, agradeço a V. Exª.

Sr. Presidente, ao encerrar, quero dizer a todo o Senado da República que estão soando gritos de alerta neste País. A população brasileira não agüenta mais isso que está aí. É preciso haver medidas - e medidas sérias - contra a violência.

Portanto, ao assomar à tribuna quero lamentar, em nome de Mato Grosso do Sul e em nome do meu Partido, o sentimento do mais profundo pesar que trago dentro do meu coração, pesar que também é da sociedade sul-mato-grossense, pelo falecimento, de forma trágica e brutal, de Dorcelina Folador, uma das duas Prefeitas do Partido dos Trabalhadores em Mato Grosso do Sul - ela, em Mundo Novo, e a parenta do Governador na cidade de Pôrto Murtinho.

Sr. Presidente, que este requerimento de pesar seja endereçado à Câmara Municipal de Mundo Novo, aos representantes do povo na Câmara Municipal, aos familiares, ao marido, aos filhos pequeninos da Prefeita Dorcelina Folador, ao Governo do Estado de Mato Grosso do Sul, que está fazendo todo o esforço para descobrir, desvendar o autor ou os autores desse bárbaro assassinato.

Portanto, estendo, em nome do meu Partido, em meu nome pessoal e em nome de Mato Grosso do Sul manifesto o nosso sentimento de profundo pesar ao Partido dos Trabalhadores que, sem dúvida nenhuma, perde um dos seus membros mais eficientes, mais idealistas. Digo isso porque conheci Dorcelina Folador - se não a conheci pessoalmente, conheci-a pelo seu trabalho em favor da população de Mundo Novo - e sei que ela representava esperança para a população daquela cidade e daquela região.

Era o que tinha a dizer.

Muito obrigado, Sr. Presidente e Srs. Senadores.