Discurso no Senado Federal

COMEMORAÇÃO DO SEPTUAGESIMO QUINTO ANIVERSARIO DA FUNDAÇÃO DOS DIARIOS ASSOCIADOS.

Autor
Romero Jucá (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/RR)
Nome completo: Romero Jucá Filho
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • COMEMORAÇÃO DO SEPTUAGESIMO QUINTO ANIVERSARIO DA FUNDAÇÃO DOS DIARIOS ASSOCIADOS.
Publicação
Publicação no DSF de 29/10/1999 - Página 28706
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM, ANIVERSARIO DE FUNDAÇÃO, EMPRESA, COMUNICAÇÕES, EMISSORA, RADIO, TELEVISÃO, JORNAL, ELOGIO, CONTRIBUIÇÃO, DIFUSÃO, COMUNICAÇÃO SOCIAL, IMPRENSA, PAIS.
  • HOMENAGEM POSTUMA, ASSIS CHATEAUBRIAND (PR), FUNDADOR, EMPRESA, COMUNICAÇÕES.

O SR. ROMERO JUCÁ (PSDB - RR) - Sr. Presidente, Srªs. e Srs. Senadores, os Diários e Emissoras Associados acabam de completar 75 anos de fundação. É um feito que merece nossas homenagens e cumprimentos. Afinal, trata-se de décadas de serviços prestados ao setor de comunicação no Brasil por um conglomerado que soma hoje mais de 40 empresas espalhadas por uma dezena de Estados da Federação.  

Compõem o vasto império dos Associados seis emissoras de televisão, treze rádios, doze jornais, três produtoras de vídeo, três provedores de acesso à Internet, uma empresa de informática, uma agência de notícias, uma fundação, um teatro, e muitos outros empreendimentos. Dele fazem parte os mais antigos jornais brasileiros, entre os quais cabe mencionar o Correio Braziliense , fundado em 1908, em Londres, e reinstalado em Brasília em 1960; o Diário de Pernambuco , fundado em 1825, e o Jornal do Commercio , no Rio de Janeiro, fundado em 1827.  

O grupo dos Associados constitui parte significativa da história brasileira deste século. É inegável sua contribuição à causa maior da disseminação da informação, fundamento da vida democrática de qualquer país. Em seus vários órgãos associados, estão registradas décadas da história nacional. Na verdade, muito mais do que isso: parte da nossa história é marcada pela influência e ação das emissoras desse formidável complexo de comunicação, pujante e arrojado ainda hoje.  

Nesses longos anos, passaram pelos Diários Associados gerações de jornalistas, artistas e radialistas que ali adquiriram e aperfeiçoaram sua formação. Muitos deles marcaram indelevelmente a cultura nacional, como Austregésilo de Athayde, que escreveu, por décadas, um artigo diário que era publicado em todos os jornais da rede. Outro a merecer menção é o incansável senador João Calmon, paladino das causas da educação, com atuação destacada na expansão da rede de comunicação, e um de seus principais executivos por longos anos. À frente do Condomínio Acionário encontra-se hoje o jornalista Paulo Cabral de Araújo, que vem perpetuando com muita dignidade e competência os ideais norteadores da fundação dos Diários Associados.  

Mas falar dos Diários Associados, Senhor Presidente, implica necessariamente falar de seu fundador, um dos brasileiros mais extraordinários e exuberantes de nosso século, fundador, na verdade, não apenas de um império das comunicações, mas fundador de uma concepção renovada de Brasil moderno. Todos sabem que me refiro a Assis Chateaubriand.  

Francisco de Assis Chateaubriand Bandeira de Mello, imortalizado com o nome abreviado de Assis Chateaubriand, e conhecido na intimidade como Chatô, foi um homem singular, único, raro. Suas múltiplas facetas davam-lhe um ar de tal exuberância, que se tinha logo a impressão de que era impossível caber, numa pessoa só, todas as dimensões de seus múltiplos empreendimentos. Além disso, parecia também não caber em sua contemporaneidade, tal a largueza de sua antevisão. Em tudo o que fez, superou seu próprio tempo, trazendo o futuro para dentro de seu presente.  

Jornalista combativo e lúcido, teve presença assinalada nos momentos de maior significado para o País, entre as décadas de 20 e 60. Isso já seria um fato notável, não soubéssemos ter sido ele responsável pela fundação de uma das maiores organizações jornalísticas de todos os tempos no Brasil, uma rede de emissoras e jornais associados, verdadeiro instrumento de integração e desenvolvimento nacional.  

A vocação para o jornalismo estava impregnada em todas as células de seu corpo. De todas as atividades que exerceu, a mais visceral sempre lhe foi o jornalismo. Dizia de si mesmo ter sido sempre um repórter. Afirmou certa vez: " Em toda a minha vida, tenho sido apenas um repórter. Jamais abdiquei da condição de sê-lo. E orgulho-me de ser o que fui. " Aos 14 anos de idade, vivenciou sua primeira experiência jornalística, escrevendo para o jornal O Pernambuco . Aos 20, bacharelou-se na Faculdade de Direito do Recife, da qual tornou-se professor alguns anos depois, vencendo concurso para a cátedra de Direito Romano.  

Ainda estudante, trabalhou no Jornal de Recife e no Diário de Pernambuco, como redator auxiliar, escrevendo sobre a política nacional e internacional. Mesmo depois de bacharelar-se, continuou a exercer o jornalismo, agora na condição de editor e redator-chefe do jornal Estado de Pernambuco.  

Mas o grande salto em sua vida ocorreria em 1917, quando se deslocou para o Rio de Janeiro, onde montou banca de advocacia. Exerceu a atividade jurídica, por certo. Mas nunca sentiu seu coração pulsar mais forte por essa atividade. A paixão pelo jornalismo, contudo, moveu seus passos ao longo de toda a vida.  

No Rio, vamos encontrá-lo colaborando no Jornal do Commercio e na folha Época. Tornou-se redator de assuntos internacionais do Correio da Manhã , do qual foi também correspondente em vários países europeus. Chefiou, por algum tempo, a redação do Jornal do Brasil , de onde saiu para ser advogado da Light. E aí começa a se desenrolar a história de sua obsessão por adquirir um jornal.  

Com a ajuda dos diretores da Light, organizou um grupo destinado a levantar capital para adquirir um diário. Comprou, em 1924, por 5.800 contos de réis, o matutino O Jornal , no Rio de Janeiro e, seis meses mais tarde, o Diário da Noite , em São Paulo. Estava aí formada a base para o surgimento de um dos mais bem estruturados grupos empresariais da área de comunicação, que veio a ser conhecido como Diários Associados.  

Não demorou para que a rede associada viesse a somar 30 jornais diários em todo o Brasil, várias revistas, uma agência de notícias e outra de publicidade.  

Mas Chateaubriand não era homem de parar. Empreendedor incansável, logo percebeu que era chegada a hora de dar mais um grande passo, desta vez em direção à área da radiodifusão. Diante do inventor da telegrafia sem fio, Guglielmo Marconi, de quem se tornou amigo, Chateaubriand inaugura, em 1935, a Rádio Tupi do Rio de Janeiro. Não muito tempo depois, adquire uma emissora em São Paulo, também chamada de Rádio Tupi. Pouco tempo mais tarde, é a vez da Educadora do Rio, que se tornou a Rádio Tamoio. Ao todo, cobriu o País com 25 potentes emissoras.  

É interessante notar que Chateaubriand ia dando às emissoras do Grupo Associados nomes indígenas, o que revela o tratamento privilegiado que devotava à causa indígena, bem como a valorização que atribuía às tradições históricas e regionais.  

Chateaubriand foi o pioneiro da televisão no Brasil. Em 1950, inaugura a TV Tupi de São Paulo, a primeira estação de televisão da América Latina, e seis meses depois, faz surgir a TV Tupi do Rio. Em pouco tempo, 18 emissoras estavam em atividade. Formava-se, definitivamente, a rede associada, comandada pelo velho e respeitado Capitão. Seu ideal de promover, por intermédio da imprensa, um elo de unidade da Pátria – razão maior de todo seu empenho na formação do grupo associado – ganhava corpo e adquiria robustez.  

As emissoras associadas, no conjunto de uma cadeia de rádios, televisões e jornais, prestaram significativo papel no desenvolvimento da imprensa brasileira, em todas as suas modalidades. Sua presença marcante no cenário das comunicações no Brasil é reconhecida e atestada ainda hoje. Muitos dos principais veículos de comunicação da atualidade fazem parte desse formidável conglomerado.  

Esse homem de múltiplas facetas não permaneceu indiferente à vida política. Tendo exercido sempre forte influência no panorama político nacional, foi-lhe natural exercer a senatoria por duas vezes. Autor de quase 26 mil artigos, nos quais se desvenda boa parte da história recente do Brasil, foi eleito membro da Academia Brasileira de Letras.  

Mas seu feito maior no campo cultural foi, sem dúvida, ter fundado o Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand, que leva seu nome em reconhecida e justa homenagem. O acervo do Museu é de extraordinária qualidade. Consta em algumas de suas biografias que o fundador do MASP comprava quadros " com dinheiro que arrancava dos milionários – dizia-se mesmo ‘cobrador de impostos da burguesia’".  

Conta-se ainda que comprava jornais e emissoras sem dinheiro, que acabava afinal sempre arranjando. Teria dito, certa vez: " Comprar com dinheiro qualquer português compra. A competência está em comprar sem dinheiro."  

Chateaubriand não foi homem de passar pela vida em brancas nuvens. Ao contrário, passou pela vida intensamente. Viveu-a em toda plenitude. E nos legou uma obra incalculável. A esse grande homem presto minha homenagem, que é também a de todo o povo de Roraima, pelo transcurso de mais um aniversário de seu nascimento. Aos continuadores de sua obra rendo meus cumprimentos, por terem sabido fazê-la chegar aos 75 anos, completados neste ano, como uma jovem anciã que preserva os traços e os valores de seu nascimento.  

Era o que tinha a dizer.  

Muito obrigado.  

 


Este texto não substitui o publicado no DSF de 29/10/1999 - Página 28706