Fala da Presidência no Senado Federal

COMEMORAÇÃO DO SEPTUAGESIMO QUINTO ANIVERSARIO DA FUNDAÇÃO DOS DIARIOS ASSOCIADOS.

Autor
Antonio Carlos Magalhães (PFL - Partido da Frente Liberal/BA)
Nome completo: Antonio Carlos Peixoto de Magalhães
Casa
Senado Federal
Tipo
Fala da Presidência
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • COMEMORAÇÃO DO SEPTUAGESIMO QUINTO ANIVERSARIO DA FUNDAÇÃO DOS DIARIOS ASSOCIADOS.
Publicação
Publicação no DSF de 29/10/1999 - Página 28705
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM, ANIVERSARIO DE FUNDAÇÃO, EMPRESA, COMUNICAÇÕES, EMISSORA, RADIO, TELEVISÃO, JORNAL.
  • HOMENAGEM POSTUMA, ASSIS CHATEAUBRIAND (PR), FUNDADOR, EMPRESA, COMUNICAÇÕES.

O SR. PRESIDENTE (Antonio Carlos Magalhães) - Srªs e Srs. Senadores, Dr. Paulo Cabral, demais dirigentes dos Associados, repórteres, neste instante o Senado Federal presta homenagem aos 75 anos da fundação dos Diários Associados. Os diversos oradores salientaram, com precisão e justiça, o trabalho realizado por essa organização jornalística durante todo esse tempo. Mais ainda, fizeram questão de exaltar as figuras maiores que mantiveram viva a chama dos Diários Associados.

De certo modo, também estou sendo homenageado, porque comecei minha vida nos Diários Associados, como simples repórter auxiliar, chegando a editor da área política. Ali pude conviver algum tempo com Assis Chateaubriand. Depois, com a sua doença, visitava-o com freqüência, não mesmo por minha causa, mas por um amigo dileto que quero homenagear neste instante, Dr. Odorico Tavares, meu chefe na Bahia, pernambucano que veio de Timbaúba e foi o grande responsável pelo renascimento do espírito das artes e da cultura na Bahia. A ele me juntei fraternalmente e devo talvez os momentos principais do início da minha vida pública.

Nos Diários Associados, vivíamos como uma família que, tendo chefes severos, ficávamos intimidados quando nos visitavam. Era assim com o Dr. Assis, antes mesmo de sua enfermidade, e também com João Calmon.

A visita de João Calmon às redações causava um rebuliço tremendo. Todos procuravam pintar a casa, encerar o chão, fazendo transparecer uma condição em que não pudesse haver a crítica de João Calmon, que era um chefe exigente.

Depois, João Calmon foi guindado, em um momento difícil da vida dos Diários Associados, à Presidência da empresa. Lutou, com seu estilo, com sua competência, com sua capacidade, até mesmo com seus defeitos e virtudes, mas conseguiu a sobrevivência, a duras penas, dos Diários Associados.

Hoje, à frente dessa empresa, está Paulo Cabral, que também pertencia àquela equipe anteriormente. De modo que se percebe a sucessão de uma família, embora não esteja toda ela ligada por parentesco consangüíneo. Paulo Cabral também enfrentou problemas, e ainda os enfrenta.

Vejo esta homenagem, sobretudo, como um estímulo ao trabalho realizado pelos que estão à frente dos Diários Associados, para manter sempre em destaque a empresa e, especialmente, os princípios que a nortearam.

Fico muito feliz por participar, como Presidente do Senado Federal, dessas homenagens, tendo subscrito até, coisa que não é comum, o requerimento para a realização desta sessão. Vejo que fomos todos felizes, principalmente o primeiro signatário, Senador José Roberto Arruda, em realizá-la, porque conseguimos reunir aqui grande parte dos representantes dos Diários Associados, a quem tributamos todos as homenagens do povo brasileiro, por meio de sua Casa da Federação, que é o Senado Federal. Também está presente D. Isa Chateaubriand, sobrinha do Dr. Assis, o homem que criou tudo.

Os discursos pronunciados e os apartes dados dizem muito bem da figura do Dr. Assis. Eu o conheci, e as palavras ditas eu gostaria também de dizê-las, mas não vou repeti-las. Acrescento apenas que o Dr. Assis era um homem sobretudo singular. O problema do Dr. Assis Chateaubriand é que ele era diferente. Ele não era igual a ninguém, e ninguém até hoje foi igual a ele. Isso é que faz da sua a figura maior, que pôde realizar campanhas as mais meritórias, mesmo num dos piores períodos da vida do Brasil.

Relembro, inclusive, diálogos que tinha com o Dr. Assis, eu, jovem, Deputado ou Prefeito de Salvador, e ele, que gostava das coisas excêntricas - como, por exemplo, ser coronel da Polícia Militar do Estado da Bahia e andar fardado. Um desses diálogos foi para mim um ensinamento. Não que eu concordasse com o que foi dito. Na verdade eu tinha profunda discordância daquela idéia, mas as palavras de Assis Chateaubriand foram sábias. Em São Paulo, ele já doente, perto da morte, eu exaltava com muito gosto, e ainda hoje o faço, a figura de Juscelino Kubitschek, a quem fazia, na ocasião, um dos maiores elogios, quando ele contestou, dizendo que gostava bem mais do Jango - o Jango já havia sido deposto. Eu, aí, o interroguei, sempre por intermédio de Emília, a enfermeira que fazia a tradução. E ele me respondeu: “Não, o Jango foi melhor porque nos devolveu o Brasil. Sem ele, não voltaríamos a ter o Brasil”. Quer dizer, Assis Chateaubriand era desse tipo de gênio nas interpretações dos fatos, mesmo enfermo como se encontrava.

Hoje eu poderia falar muito mais sobre os Diários Associados, mas vou apenas subscrever as palavras dos oradores e dos aparteantes - e eram tantos os que queriam falar e não puderam, como o Senador Romero Jucá, e que deram seu discurso como lido -, porque ainda temos trabalho a realizar nesta sessão.

Peço desculpas se houver falha, que não fique sendo minha, mas da Mesa, que me deu alguns nomes para agradecer. Agradeço, em primeiro lugar, ao meu velho e querido amigo Paulo Cabral, a João Cabral, Ricardo Noblat, Ari Cunha, Maurício Dinepi, Evaristo de Oliveira, Ibanor Tartaroti, Gilberto Amaral, Mário Garófalo e tantos outros com quem convivi e alguns que não estão nesta lista.

Saúdo todos os presentes e D. Isa Chateaubriand, pedindo que continuem com a mesma luta, fazendo com que esse jornal cresça ainda mais em sua força para voltar aos tempos idos dos Diários Associados, um passado que ainda estimula as vitórias do presente. Que todos façam dos Diários Associados aquilo que o Senado Federal hoje diz que ele representa para o Brasil. É o que desejo e que, tenho certeza, acontecerá.

Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 29/10/1999 - Página 28705