Discurso no Senado Federal

NECESSIDADE DA PARCERIA ENTRE OS GOVERNOS DOS ESTADOS, A POLICIA FEDERAL E A PROCURADORIA DA REPUBLICA, PARA AGILIZAÇÃO DAS INVESTIGAÇÕES LIGADAS A CORRUPÇÃO E AO TRAFICO DE DROGAS, QUE CULMINARAM NA MORTE DE DENUNCIANTES E POLITICOS. (COMO LIDER)

Autor
Marina Silva (PT - Partido dos Trabalhadores/AC)
Nome completo: Maria Osmarina Marina Silva Vaz de Lima
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
SEGURANÇA PUBLICA.:
  • NECESSIDADE DA PARCERIA ENTRE OS GOVERNOS DOS ESTADOS, A POLICIA FEDERAL E A PROCURADORIA DA REPUBLICA, PARA AGILIZAÇÃO DAS INVESTIGAÇÕES LIGADAS A CORRUPÇÃO E AO TRAFICO DE DROGAS, QUE CULMINARAM NA MORTE DE DENUNCIANTES E POLITICOS. (COMO LIDER)
Publicação
Publicação no DSF de 04/11/1999 - Página 29724
Assunto
Outros > SEGURANÇA PUBLICA.
Indexação
  • REGISTRO, INVESTIGAÇÃO, ATUAÇÃO, CRIME ORGANIZADO, CORRUPÇÃO, ESTADO DO ACRE (AC), ESTADO DO MARANHÃO (MA), ESTADO DO PIAUI (PI), ESTADO DE ALAGOAS (AL), GRAVIDADE, AUMENTO, VIOLENCIA, PREFEITO, MUNICIPIO, MUNDO NOVO (MS), ESTADO DO MATO GROSSO DO SUL (MS).
  • REGISTRO, INEFICACIA, PROTEÇÃO, CIDADÃO, AMEAÇA, MORTE, MOTIVO, DENUNCIA, CRIME ORGANIZADO, CORRUPÇÃO.
  • DEFESA, PARCERIA, MINISTERIO DA JUSTIÇA (MJ), POLICIA FEDERAL, GOVERNO ESTADUAL, PROCURADORIA DA REPUBLICA, EFICACIA, INVESTIGAÇÃO.
  • DEFESA, GARANTIA, RECURSOS ORÇAMENTARIOS, REFORÇO, POLICIA FEDERAL.

A SRª MARINA SILVA (Bloco/PT - AC. Para encaminhar. Sem revisão da oradora.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, são dois os requerimentos aqui apresentados, sendo um deles de autoria do Senador Eduardo Suplicy. Considero que os dois fazem justiça ao trabalho da nossa Prefeita Dorcelina, à sua memória e à homenagem que precisa ser feita àqueles que tiveram a coragem de acreditar que era e é possível construir um mundo, de fato, novo.

Parece-me que essa coragem começa a surgir em vários pontos do nosso País, naqueles lugares em que o desrespeito à vida, às instituições e a afronta a qualquer tipo de tentativa de dignificar a ação pública, a ação política, vem sendo levada a cabo. Identifico essas ações na pessoa da nossa Prefeita que foi brutalmente assassinada, na postura daqueles que estão fazendo a verdadeira limpeza que o meu Estado precisa que seja feita, que é desde a ação do Governo em dar suporte às ações de Justiça, ao Ministério Público Federal, a ação da Polícia Federal, da CPI do Narcotráfico, enfim, de todos aqueles segmentos que hoje se fazem presente nos diversos casos de contravenção e abuso praticado pela bandidagem, como é o caso do Maranhão, do Piauí, do Acre, enfim, de todos os rincões deste País onde ocorrem esse tipo de brutalidade.

Quanto às homenagens relativas à ação da nossa Prefeita, Sr. Presidente, infelizmente, vou deixar para fazê-las em um pronunciamento específico.

Segunda-feira, foi publicado, em um artigo da nossa jornalista, muito competente, Eliane Catanhêde, uma feliz homenagem à Prefeita. Ela coloca esse assassinato como um problema do Brasil; não se trata de um problema do Mato Grosso do Sul, não se trata de mais um assassinato de prefeitos, como ocorre neste País, por disputa entre vice e titular, por aqueles que acham que poderiam ter o comando local nos velhos e tradicionais moldes de disputas políticas, como o antigo coronelato que ainda ocorre no nosso País. Esse caso é diferente. A diferença é que a Prefeita teve coragem de traduzir um Mundo Novo em que acreditava, combatendo muitas frentes de contravenção, como o contrabando de carros, de drogas e de crianças - para a retirada de órgãos, além da prostituição infantil. São muitas as ações que a Prefeita vinha levando à cabo, além dos conflitos de terra. Só aqui identifico cinco, Sr. Presidente. Talvez ela tenha pago com sua própria vida a coragem e a ousadia que teve em não se calar, em ser radical. Muitas vezes, as pessoas acham que quando se entra em confronto com práticas dessa natureza se está sendo muito radical, abrindo muitas frestas, muitos flancos. O radicalismo das ações da nossa Prefeita era no sentido de tentar atacar os males pela raiz, raiz que hoje está sendo denunciada e vindo de dentro para fora da terra, no Maranhão, no Piauí, no Acre, no Mato Grosso do Sul.

Eu, lamentavelmente, com muita tristeza, não consigo falar sobre esse caso sem lembrar-me do assassinato de Chico Mendes, bem próximo a este mês, pois foi em 22 de dezembro. Encontrava-me em uma cidade do interior do Estado de São Paulo fazendo um tratamento quando, às 10 horas da noite, recebi um telefonema de uma pessoa no Acre que dizia o seguinte: “Assassinaram...” Quando falou a primeira palavra “assassinaram” eu completei a frase: “o Chico Mendes!”. Eu sabia que alguém iria matar o Chico Mendes, porque quando eu viajei ele havia me dito que isso estava acontecendo.

Da mesma forma, lembro-me que a nossa Prefeita Dorcelina, na reunião do Partido dos Trabalhadores com os Prefeitos, aqui no nosso auditório, no Congresso Nacional, da Câmara dos Deputados, dizia ao Senador Eduardo Suplicy, a mim e ao Deputado Nilmário Miranda que, desde que ela começou a subir nas pesquisas, ela estava sendo ameaçada de morte; que se ela ganhasse as eleições ela seria assassinada. E ela pedia segurança de vida para ela e sua família. Lamentavelmente, a segurança dada não foi a suficiente, porque se concretizou o que ela disse. Se concretizou no bojo de uma série de realizações que deu a ela mais de 80% de aprovação pelo trabalho que vinha realizando, muito bem relatado pelo Senador Eduardo Suplicy, que apresentou esse voto de pesar.

Lamento termos que ficar aqui lastimando os nossos heróis mortos, porque o Brasil precisa de pessoas que estejam trabalhando, vivas, fazendo o enfrentamento com o narcotráfico, com o desvio do dinheiro público, com todas essas coisas que pervertem a nossa realidade social e política; vivas, trabalhando efetivamente nas funções públicas que ocupam. Portanto, creio que esta homenagem é mais do que justa.

Espero sinceramente que a parceria agora feita entre a Polícia Federal, a Polícia Civil, a Polícia Militar e todos os que estão investigando esse caso possa trazer a lume os verdadeiros assassinos, os que foram os mandantes desse crime, para que sejam punidos com o rigor da lei. Não se pode admitir que pessoas de bem sejam eliminadas para que prevaleçam aqueles que afrontam as instituições.

Um provérbio bíblico, dito pelo próprio Jesus Cristo, afirma que o joio pode até crescer junto com o trigo, para que se saiba discernir quem é o joio e quem é o trigo. Mas, nesse caso, começa a prevalecer o joio, que começa a destruir o trigo. São eles que, até agora, estão ganhando, pois assassinaram Josimo, Margarida Alves, Chico Mendes, Ivair Igimo, Calado, Wilson Pinheiro, Dorcelina e o Elias, lá no meu Estado, o Acre. São muitos. Eu poderia citar um rosário de pessoas que foram assassinadas no confronto com o narcotráfico, no confronto com aqueles que fazem da força a forma pela qual irão, por cima da lei, fazer valer e prevalecer os seus pressupostos maléficos sobre a sociedade e as instituições públicas.

É mais do que justa a homenagem. Lamento pela mãe, lamento pela Prefeita e pela companheira - ela era do meu Partido. Acima de tudo, por ser uma mulher de bem que estava tentando fazer um mundo novo no pedacinho de mundo que ocupava em Mato Grosso do Sul.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 04/11/1999 - Página 29724