Discurso no Senado Federal

HOMENAGENS POSTUMAS A CARLOS MARIGHELLA. (COMO LIDER)

Autor
Heloísa Helena (PT - Partido dos Trabalhadores/AL)
Nome completo: Heloísa Helena Lima de Moraes Carvalho
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • HOMENAGENS POSTUMAS A CARLOS MARIGHELLA. (COMO LIDER)
Aparteantes
Eduardo Suplicy, Geraldo Cândido, Marina Silva.
Publicação
Publicação no DSF de 05/11/1999 - Página 29830
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM, ANIVERSARIO DE MORTE, CARLOS MARIGHELLA, LIDER, COMUNISMO, EX-DEPUTADO, ESTADO DA BAHIA (BA), VITIMA, DITADURA, REGIME MILITAR.

A SRª HELOISA HELENA (Bloco/PT - AL. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão da oradora.) - Sr. Presidente, Sr as e Srs. Senadores, em primeiro lugar, agradeço à nossa querida companheira, Senadora Marina Silva, pela generosidade de conceder-me o tempo da Liderança para que possa, no dia de hoje, prestar uma justíssima homenagem.  

Claro que poderia estar fazendo hoje vários outros debates, porque os problemas do Brasil são gigantescos. Amanhã, terei a oportunidade de falar sobre mais uma das facetas do "parasitoidismo" do Fundo Monetário Internacional, com o debate da reforma da Previdência.  

Porém hoje não posso deixar de prestar uma justíssima homenagem a um grande homem: Carlos, que a vida fez Marighella.  

Carlos Marighella, que, em cartazes como este que tenho em mão, não com "Encontra-se", mas com "Procura-se", ocupou os muros deste País, vítima da ditadura militar.  

O companheiro Carlos Marighella, que saudamos hoje - que os baianos se orgulhem deste homem! -, nasceu em Salvador, na Bahia, em 05 de dezembro de 1911, filho de um imigrante italiano e de uma mulher negra, que lhe deu o orgulho de possuir sangue escravo.  

De infância humilde, ainda adolescente, desperta para as lutas sociais. Aos 18 anos, inicia o curso de engenharia na Escola Politécnica da Bahia e torna-se militante do Partido Comunista. Todo o resto de sua vida será dedicado à luta dos trabalhadores, à causa da independência nacional e do socialismo, à luta pela pátria, por uma pátria livre.  

Como represália a um poema que escrevera tecendo críticas ao interventor Juracy Magalhães, conhece, pela primeira vez, a prisão em 1932. Sua militância política leva-o à interrupção dos estudos universitários no 3º ano.  

Em 1935, desloca-se para o Rio de Janeiro.  

No dia 1º de maio de 1936, é novamente preso e enfrenta, até o dia 23, as terríveis torturas da Polícia Especial de Filinto Müller. Permanece encarcerado durante um ano. Quando solto, deixa entre os companheiros a marca de sua tenacidade impressionante. Foi libertado em 1937 com a anistia.  

É deslocado, então, para São Paulo, onde passa a agir em torno de dois eixos: a reorganização dos revolucionários paulistas, duramente atingidos pela repressão, e o combate ao terror imposto pela ditadura de Getúlio Vargas. A capital paulista foi o centro de sua vida, de sua luta, até o momento da sua morte. A capital paulista que também fez parte dos poemas de Carlos Marighella.  

Em 1939, volta aos cárceres da ditadura, sendo mais uma vez torturado de forma animalesca no presídio especial de São Paulo. Mais uma vez, diante dos torturados, negou-se a falar e a ceder qualquer informação.  

Só a anistia conquistada pelo povo brasileiro, em 1945, o traria de novo às ruas da liberdade, da liberdade que cantou em tantos momentos, em tantas poesias nascidas do cárcere.  

Nesses seis anos de prisão, esteve recolhido à ilha de Fernando de Noronha, onde dirigiu sua energia revolucionária ao trabalho de educação cultural e política de seus companheiros de cárcere.  

Na CPI que investigou as torturas do Estado Novo, uma testemunha depôs. Com referência ao Deputado Carlos Mariguella, informava um médico que depunha na CPI: "Nunca vi tanta resistência a maus tratos, nunca vi tanta bravura diante das torturas".  

Em 1946, foi eleito Deputado pelo Estado da Bahia à Assembléia Nacional Constituinte que se seguira à deposição de Getúlio. É por isso, minha querida Senadora, que estamos hoje prestando esta homenagem a Carlos Marighella. Uma homenagem legítima que, infelizmente, o Congresso não proporcionou. Como Deputado Constituinte, merecia ser homenageado aqui no Congresso Nacional.  

Aproveito a oportunidade e agradeço ao Senador Bernardo Cabral, que, além dos companheiros do Bloco de Oposição e juntamente com os Senadores Amir Lando e Iris Rezende, assinou comigo um requerimento para que Carlos Marighella fosse homenageado aqui, onde fez parte, legitimamente eleito como Deputado Constituinte. Foi eleito pelo povo baiano à Assembléia Constituinte e será apontado como um dos mais aguerridos Parlamentares de todas as Bancadas, proferindo, em menos de dois anos, 195 discursos. Invariavelmente, sua fala era de denúncia das condições de vida do povo, da crescente penetração imperialista no País e em defesa das aspirações operárias. Com certeza, as falas e falas do companheiro Marighella seriam ainda absolutamente atuais nos dias de hoje.  

Em 1948, a repressão do Governo Dutra cassa seu mandato parlamentar e reinicia a perseguição, que mais uma vez obriga Marighella à clandestinidade. E, nessa condição, permanece até a sua morte, em 1969.  

Na longa noite de 04 de novembro de 1969, Carlos Marighella é surpreendido por uma emboscada na Alameda Casa Branca, em São Paulo, e tomba varado pelas mesmas balas que derrubaram centenas de outros brasileiros que, em diferentes trincheiras, assumiram o mesmo combate pela liberdade.  

O Sr. Geraldo Cândido (Bloco/PT - RJ) - Permite-me V. Exª um aparte, Senadora Heloisa Helena?  

A SRª HELOISA HELENA (Bloco/PT - AL) - Um instante, Senador Geraldo Cândido. Concederei, em seguida, o aparte a V. Exª, meu querido companheiro.  

Hoje, na Alameda Casa Branca, em São Paulo, dezenas de militantes, e a sua companheira Clara, estarão depositando flores - flores para Marighella -, flores que, certamente, todos teríamos a obrigação de depositar também, quer seja a chuva das flores amarelas dos ipês das avenidas da nossa Brasília, as flores amarelas das caraibeiras de Alagoas, as flores que dão serenidade aos cactos do Nordeste, as flores exóticas da Amazônia, as belíssimas orquídeas das nossas matas brasileiras. Todas essas flores serviriam hoje para homenagear o nosso Carlos Marighella, um guerrilheiro fervoroso, um homem aguerrido que se dobrava às poesias. Cantou o amor e certamente beijou milhares de mulheres por meio de seus poemas. Na "Balada do Amor" ele dizia:  

"Eu canto o amor por exaltar a vida,  

a liberdade, a humanidade e o belo.  

Mas que o amor seja como a natureza  

simples, real e nunca fantasia.  

E que eu possa viver amando sempre,  

iluminado pelo teu amor  

resplandecente como a luz do dia.  

Eu canto o amor por exaltar a vida."  

Cantou a Bahia, cantou a cidade de Salvador, cantou a cultura de Salvador, cantou o branco das baianas. Cantou os lírios:  

"Eu canto a vida,  

eu canto a liberdade,  

como os lírios crescem em nossos campos,  

livres e selvagens.  

Se já não crescem como antes,  

existe algo sombrio,  

e é preciso abrir uma clareira no bosque..."  

Cantou de uma forma belíssima, com seu poema "Rondó da Liberdade":  

"É preciso não ter medo,  

é preciso ter a coragem de dizer.  

Há os que têm vocação para escravo,  

mas há os escravos que se revoltam contra a escravidão."  

Não ficar de joelhos,  

que não é racional renunciar a ser livre.  

Mesmo os escravos por vocação  

devem ser obrigados a ser livres,  

quando as algemas forem quebradas.  

É preciso não ter medo,  

é preciso ter a coragem de dizer.  

O homem deve ser livre...  

O amor é que não se detém ante nenhum obstáculo,  

e pode mesmo existir até quando não se é livre.  

E no entanto ele é em si mesmo  

a expressão mais elevada e bela do que houver de mais livre  

em todas as gamas do humano sentimento.  

É preciso não ter medo,  

é preciso ter a coragem de dizer."  

Portanto, a esse que cantou o amor, a esse que cantou a liberdade, a esse que fez da sua própria vida a defesa da Pátria, a defesa da Pátria livre, Carlos Marighella, a nossa homenagem. O nosso abraço aos seus familiares, à nossa companheira Clara e a todos os que lutaram como você, às famílias dos que tombaram como você e a todos aqueles que hoje ainda fazem da sua trajetória de vida uma representação da vida do nosso companheiro Carlos Marighella.  

O Sr. Geraldo Cândido (Bloco/PT - RJ) - V. Exª me permite um aparte?  

A SRª. HELOISA HELENA (Bloco/PT - AL) - Senador Geraldo Cândido, com muita satisfação, concedo o aparte a V. Exª.  

O Sr. Geraldo Cândido (Bloco/PT - RJ) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, quero parabenizar a Senadora Heloisa Helena por essa bonita e singela homenagem ao grande lutador, ao grande combatente e revolucionário que foi Carlos Marighella. Está no Jornal do Brasil de hoje: "Marighella homenageado no aniversário da morte." Reafirmando a importância do resgate da importância de Marighella, o jornal diz o seguinte: "A trajetória do guerrilheiro, marcada por 37 anos de intensa atividade política, vem sendo resgatada agora com a publicação de vários livros, teses acadêmicas, uma exposição em São Paulo, documentários e um filme que está sendo rodado, produzido no Brasil pelo cineasta Diego de la Texera." Isso mostra a importância de Carlos Marighella no nosso País - o militante, patriota, revolucionário -, assassinado de forma brutal e covarde. O poder econômico, a burguesia, a classe dominante costuma sempre resgatar os seus heróis. Aqui nesta Casa, fazemos homenagens constantes a várias personalidades da classe dominante, e seria importante que fizéssemos uma homenagem maior e mais ampla ao grande lutador Carlos Marighella. Temos de resgatar a imagem dos que lutaram ao nosso lado. Temos, por exemplo, Zumbi dos Palmares, Antônio Conselheiro e João Cândido, um marinheiro que comandou a Revolta da Chibata, em 1910, desconhecido da grande burguesia, da classe dominante; temos, por exemplo, outro revolucionário, Gregório Bezerra, e ainda Mário Alves, assassinado na época da ditadura, Rubens Paiva e tantos outros que acabam sendo esquecidos. Portanto, compete a nós não esquecer essas pessoas que foram lutadoras, combatentes, revolucionárias, pessoas patriotas e que foram assassinadas de forma brutal e covarde pelo regime autoritário que governou este País. Quero parabenizar V. Exª pela homenagem e solidarizar-me com a família de Marighella, com os militantes do Partido dos Trabalhadores e com aqueles que estão, hoje, em São Paulo, fazendo uma homenagem em frente à Alameda Casa Branca, onde Marighella foi assassinado no dia 04 de novembro de 1969. Hoje, faz exatamente 30 anos do seu assassinato. Portanto, parabéns a V. Exª. Não podemos esquecer os nossos heróis, os lutadores do povo. Muito obrigado.

 

A Srª Marina Silva (Bloco/PT - AC) - Permite-me um aparte, Senadora?  

A SRª HELOISA HELENA (Bloco/PT - AL) - Senadora Marina Silva, ouço V. Exª com muito prazer.  

A Srª Marina Silva (Bloco/PT - AC) - A homenagem que V. Exª faz a Marighella nesta tarde, no espaço da Liderança, é mais do que oportuna, e fico feliz porque talvez só V. Exª pudesse dar a devida ênfase ao que significa a memória de Marighella. Sempre que me encontro com a Clara, sinto a poesia de Marighella andando pelas ruas de São Paulo. Ela é um pouco a poesia expressando-se na vida de uma pessoa que acredita em ideais e que, muitas vezes, com os olhos inocentes de quem vive a verdade, tenta fazer com que esta Casa faça uma homenagem oficial, como tem feito a tantos outros, de forma também merecida, ao guerreiro da paz Marighella. Eu ia falar sobre o requerimento que fiz com relação à vinda do Ministro Eliseu Padilha - infelizmente não foi possível -, mas sinto-me inteiramente contemplada com as palavras de V. Exª e do Senador Geraldo Cândido. Durante a resistência que se estabeleceu a favor de uma sociedade justa e democrática, em que os direitos sociais pudessem ser respeitados e as pessoas pudessem ter as mesmas bases materiais, culturais, sociais, bases mínimas para se desenvolver com dignidade humana, durante esse período de resistência pudemos contar com figuras como a de Marighella, que fez da sua vida um sacrifício vivo na defesa dos ideais em que acreditava. Então, hoje que vivemos a democracia e não vivemos mais as torturas da ditadura, tanto do ponto de vista de aviltar a democracia e a cultura e desprezar tudo aquilo que é digno, num País que respeita o contraditório e que tem o direito e a liberdade de construir seu próprio destino, contamos com a luta de pessoas como Marighella. Tantos foram citados pelo Senador Geraldo Cândido. Acho que, simbolicamente, ele representa toda essa resistência e a busca desse mundo ideal, desse mundo novo. Até hoje, pessoas são assassinadas por acreditar nele, seja pelos chacais da ditadura que torturavam, seja por aqueles que ainda acreditam que a melhor forma de fazer prevalecer seus interesses particulares é fazendo a sua realização em detrimento dos interesses dos outros, como ocorreu recentemente em Mundo Novo com a nossa Prefeita. Então, esses idealizadores da paz social, da paz dos direitos, da paz da justiça e da democracia devem ser, a todo momento, relembrados, e devemos pagar a eles sempre um tributo, mesmo que em forma de uma singela homenagem, como estamos fazendo nesta tarde. Parabéns a V. Exª por essa iniciativa. Faço minhas as palavras de V. Exª.  

A SRª. HELOISA HELENA (Bloco/PT - AL) - Obrigada, Senadora Marina Silva.  

O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - Senadora Heloisa Helena, por favor, leia mais uma poesia.  

A SRª HELOISA HELENA (Bloco/PT - AL) - O Senador Eduardo Suplicy está pedindo que eu leia mais uma poesia. Vou ler para a juventude de nosso País, para a juventude não se entregar às drogas, para a juventude não se deixar seduzir pela violência, para que a juventude pense como Marighella e diga:  

"Se já não crescem como antes os lírios  

em nossos campos,  

existe algo sombrio,  

é preciso abrir uma clareira no bosque."  

Que a juventude do nosso País possa ser exemplo de coragem e esperança e seguir o exemplo de Carlos Marighella e ser motivadora para a esperança, para a coragem, para a construção de um mundo rico de pão e de solidariedade para todos.  

O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - V. Exª me permite um aparte?  

A SRª HELOISA HELENA (Bloco/PT - AL) - Ouço, com prazer, o Senador Eduardo Suplicy.  

O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - Senadora Heloisa Helena, por ocasião dos 30 anos da morte de Marighella, V. Exª traz aqui uma reflexão de grande relevância, sobretudo trazendo esta face da alma da Marighella, a sua face de carinho, de amor, de dedicação à causa da justiça e a maneira tão sensível que ele tinha de dirigir-se aos brasileiros e brasileiras. Também quero me referir a Clara Charf, nossa companheira no Partido, que hoje certamente está nas homenagens prestadas a Carlos Marighella ali na Alameda Casa Branca, rua onde eu morava quando, infelizmente, ocorreu a tragédia. Nasci na Alameda Casa Branca com a Alameda Santos e, ali, morei até 1964, quando me casei - então, de 1941 a 1964. Conheço muito bem essa rua, portanto, onde houve a emboscada em que apanharam Carlos Marighella. Fico pensando nas razões que o levaram a se tornar um revolucionário. E ele tinha tantas razões para se indignar com a injustiça que continua ainda, infelizmente, a prevalecer no Brasil.  

As circunstâncias da ditadura militar fizeram com que Carlos Marighella não visse outra alternativa, porque já não tinha a possibilidade de estar no Parlamento, como quando aconteceu na Constituinte de 1946. Os registros da História mostram que ele era um Deputado extremamente combativo, como, por exemplo, é V. Exª. Diz a biografia dele - livro que V. Exª tem em mãos - que Marighella, em cerca de dois anos, fez 195 pronunciamentos - um ritmo quase igual ao de V. Exª, porque penso que V. Exª vai superar esse registro, pois se pronuncia diariamente sobre temas que são, inclusive, semelhantes aos escolhidos por Carlos Marighella, que também procurava sempre denunciar as injustiças que ocorriam contra o povo brasileiro, a violência social que acontecia. O mesmo pode ser dito quanto às proposições para construir um mundo de justiça, de fraternidade, em que não se precisasse mais estar vivendo com tantos problemas, diante de situações como a que levou ao assassinato da Prefeita Dorcelina. Fico pensando por que razão pessoas acabaram ordenando alguém a dar aqueles oito tiros, seis dos quais mataram Dorcelina. Fico pensando nos seus ideais, no sonho que ela estava colocando em prática e que era a concepção que Carlos Marighella tinha da construção de uma nação justa: governar os recursos do povo com honestidade, com transparência. É triste, Senadora Heloisa Helena, chegar lá na praça e ver aquela placa onde estava o demonstrativo das despesas, segundo as diversas finalidades, de janeiro até outubro deste ano, com tudo sempre esclarecido para a população, a prática do orçamento participativo, a instituição de uma renda mínima às famílias carentes através da bolsa-escola, a Casa da Gestante, a Casa da Terceira Idade. Disse-me o marido César que, quando Dorcelina chegava na Casa da Terceira Idade, ali cantava e dançava com as pessoas idosas. Não foi à-toa que havia tantos idosos no velório e no enterro, chorando a morte de Dorcelina, cujos ideais eram também os de Carlos Marighella. Cumprimento V. Exª por aqui estar fazendo uma homenagem a alguém que resolveu dedicar a sua vida à causa da transformação das instituições brasileiras no caminho da justiça. Não fiz, em minha vida, a opção de pegar em armas. Procuro canalizar toda a minha energia, o meu potencial, se possível, para palavra, o gesto, as ações, conforme V. Exª tem aqui testemunhado. No entanto, compreendo as razões que levaram Carlos Marighella a seguir aquele caminho e espero que os caminhos do aperfeiçoamento da democracia possam inspirar o Brasil. Muitos que hoje estão no Partido dos Trabalhadores, por exemplo, um dia também tiveram uma ação revolucionária como a de Carlos Marighella, mas hoje avaliam que, se conseguirmos efetivamente aperfeiçoar a democracia, restringir o abuso do poder econômico que por vezes caracteriza o processo eleitoral, dar voz e vez a todo o povo, estaremos mais próximos de construir o Brasil dos sonhos de todos aqueles que, como Marighella, resolveram empreender uma revolução.  

A SRª HELOISA HELENA (Bloco/PT - AL) - Muito obrigada.  

Queríamos nós, Senador Eduardo Suplicy, poder viver em um país onde as armas não habitassem o sonho dos revolucionários. Mais do que isso, queríamos viver num País onde as armas também não habitassem as mãos das crianças, que na sua miséria se armam de canivetes e outros instrumentos para serem notadas por uma sociedade tão injusta.  

Para concluir, Sr. Presidente: que a juventude da Bahia, a juventude brasileira não se entregue à violência, não se entregue às drogas! Que rememorem a imagem de Carlos Marighella, com a sua suavidade, com a sua firmeza, com a sua coragem, com a sua esperança. Que possa a juventude de nosso País ser como lírios nos campos, cheios de coragem e de esperança, para que possamos, um dia, construir a nossa Pátria livre.  

Muito obrigada, Sr. Presidente.  

 

T -


Este texto não substitui o publicado no DSF de 05/11/1999 - Página 29830