Discurso no Senado Federal

HOMENAGEM PELO TRANSCURSO DO CENTENARIO DO CLUBE ESPERIA, DE SÃO PAULO.

Autor
Romeu Tuma (PFL - Partido da Frente Liberal/SP)
Nome completo: Romeu Tuma
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • HOMENAGEM PELO TRANSCURSO DO CENTENARIO DO CLUBE ESPERIA, DE SÃO PAULO.
Publicação
Publicação no DSF de 10/11/1999 - Página 30411
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM, ANIVERSARIO DE FUNDAÇÃO, CLUBE, ESTADO DE SÃO PAULO (SP).

O SR ROMEU TUMA (PFL - SP) - Sr. Presidente, Sr as e Srs. Senadores, uma sociedade desportiva e cultural que consiga alcançar cem anos de vida, em pleno vigor e mantendo em suas fileiras netos, bisnetos e trinetos de seus fundadores e dos mais antigos sócios, merece ser reverenciada como autêntica instituição nacional. Assim, pedi a palavra para, desta tribuna, enviar a saudação do Senado Federal – pois tenho certeza de nisso poder representar meus nobres pares - aos diretores, conselheiros, sócios e funcionários do Clube Esperia, no momento em que comemoram o primeiro centenário da agremiação com uma série de festividades programadas para o local onde, em 1.º de novembro de 1899, às margens do Rio Tietê, sete jovens imigrantes italianos fundaram uma entidade fadada a marcar época na história da cidade de São Paulo. Uma entidade que, em 1937, foi agraciada com o título de "A Mais Completa Agremiação Esportiva do Brasil" e ainda hoje, em modernas instalações distribuídas por 95 mil metros quadrados, congrega 16 mil famílias num quadro associativo que ostenta nomes famosos, como os de Sylvio de Magalhães Padilha, ex-Presidente do Comitê Olímpico Brasileiro, e João Havelange, ex-Presidente da FIFA, além de inúmeros campeões paulistas, brasileiros e sul-americanos. Uma escola de vida, que formou gerações de cidadãos exemplares, entre eles personalidades como o ilustre cirurgião, Prof. Dr. Adib Jatene.  

Quem conhecer agora a zona norte da Capital paulista, onde se encontra o aeródromo do Campo de Marte e o Parque Anhembi, não terá idéia de quão belo era o Rio Tietê, cem anos atrás. Historicamente, esse rio continua a ser o mais importante em solo brasileiro, pois, através de suas águas, límpidas nos idos de 1500, aventuraram-se nossos desbravadores para, com as entradas e bandeiras, alargar os horizontes nacionais, indo além, muito além dos limites impostos pelo Tratado de Tordesilhas. Depois, na época da Proclamação da República, quando as margens estavam ligadas por uma tosca versão em madeira da atual Ponte Grande, a região ribeirinha constituía o principal ponto de lazer paulistano. Vários restaurantes e campos para piqueniques atraíam homens e mulheres elegantes nas vestes da moda. Até a década de 40, a pesca amadora de barranco ou barco estendia-se às lagoas próximas, que se formavam nas várzeas com as periódicas inundações, e proporcionava muita alegria, além de quilos de lambaris, acarás, mandis, bagres, cascudos, pintados, curimbatás e, às vezes, até um ou outro dourado. Nadar no Tietê dava mais prazer que mergulhar em piscinas.  

Pois bem, o final do século XIX encontrou essa paisagem bucólica adornada por extensas florestas. À beira-rio, o Recreio "Bella Venezia" era o local preferido pelos imigrantes italianos, que, aos sábados e domingos, passeavam em barcos alugados. Entre eles, quase sempre se via Emílio Gallina, Pietro Lazzarone, Luigi Torre, Emílio Tallone, Ângelo Quaranta, Fúlvio Constanzo e Ércole Ervene, que costumavam reunir-se também numa tradicional confeitaria das imediações, a "Accasto & Lazzerone". Fervorosos adeptos da prática do remo, foi na confeitaria que discutiram e concordaram em fundar um clube dedicado àquele esporte, na época mais popular que o futebol. Dois senhores, chamados Bocchino e Nida, colaboraram na fundação sem se tornarem sócios, pois pretendiam voltar para a Itália. E três nomes para a entidade alternaram-se nas reuniões: "Club Canottieri Cerea", "Club Canottieri Tietê" e "Club Canottieri Esperia". Adotaram o último, pois alguns dos participantes haviam pertencido a uma agremiação de remadores chamada "Societá Canottieri Esperia", ou seja, Sociedade de Canoeiros Esperia, existente até hoje, em Torino. Esperia significa "país do ocidente" e referia-se à Itália, que fica a oeste da Grécia.  

As primitivas instalações, entre elas um barracão usado como "garagem" para a guarda de barcos de treinamento e corrida, foram erguidas na Chácara da Floresta, na margem esquerda do Tietê, oposta à atual localização, num terreno alugado por 50 mil réis de uma tal Sra. Batista. Do proprietário do Recreio "Bella Venezia", Sr. Caetano Martenucci, os fundadores compraram a primeira embarcação – um escaler branco, grande, que custou 250 mil réis. E mantiveram-se, até 1903, sob a Presidência do Sr. Emílio Gallina, tendo como primeiro Secretário o Sr. Fúlvio Constanzo, que redigia as atas de reuniões em italiano. Nesse ano, as instalações foram transferidas para a margem oposta, numa área cedida pelo Prefeito paulistano, Dr. Antônio da Silva Prado, quando o Presidente do Clube de Regatas São Paulo, Sr. Alípio Borba, comprou a Chácara da Floresta.  

Baixa e alagadiça, a nova área precisou ser aterrada, o que exigiu muito trabalho e despesa, pois os jovens fundadores só puderam comprar uma carroça e um burro. Finalmente, depois de quase um ano de sacrifícios, no dia 2 de outubro de 1904, a nova sede foi inaugurada com grandiosa festa esportiva, na presença de renomadas personalidades do Estado e representantes de vários clubes de São Paulo, Santos e Rio de Janeiro. O Esperia estava sob a Presidência do Sr. Menotti Falchi e apresentava um quadro social em franca expansão, da mesma forma que o número de modalidades esportivas por causa do surgimento das seções de "tamburello" (tiro ao vôo), natação e atletismo, entre outras. Na primeira década deste século, o clube já realizava e participava de importantes competições de atletismo, como a "Urbino Taccola". Em 1905, inaugurou as primeiras quadras de tênis.  

Em 1912, por influência do Presidente Marcelino Marcello, o clube mudou sua denominação para "Club Esperia Societá Italiana di Canottieri", nome que perdurou até 1929. Ainda naquele ano, embora a Federação das Sociedades de Remo estivesse sediada na cidade de Santos, o Esperia levantou o campeonato estadual. A partir de 1914, apresentou desempenho muito importante nos chamados jogos do "Atleta Completo" e, na década de 20, sagrou-se campeão várias vezes em modalidades como Bola ao Cesto, Vôlei e Polo Aquático, chegando a enviar atletas para as Olimpíadas. Participou também com brilhantismo das corridas de São Silvestre, das quais foi o primeiro vencedor, e da Travessia de São Paulo a Nado, cujas competições terminavam defronte aos seus pontões e aos do Clube de Regatas Tietê, localizado na margem oposta. Nas décadas de 20 e 30, destacou-se sobremaneira a natação feminina, especialmente com Blanche Pironnet e Scilla Venancio.  

A oficina para construção de barcos de corrida, dirigida pelo especialista Ignácio Puccia, já existia em 1917 e também realizava trabalhos para melhoria das dependências sociais. Somente 23 anos depois, as atas e os Estatutos passaram a ser escritos em português, quando a agremiação passou a chamar-se "Club Esperia Sociedade Italiana de Remo". Mais dois anos e, no dia 23 de fevereiro, durante a gestão do Dr. João de Lorenzo, acontecia festivamente o início da construção das piscinas, com a presença de jornalistas, convidados e grande número de associados. A inauguração ocorreu em 10 de dezembro de 1933 e, graças a contribuições extras dos associados, o conjunto aquático ganhou ampliações em 1936. O Esperia tornava-se, assim, o primeiro clube do Estado de São Paulo a possuir uma piscina de dimensões competitivas, com trampolins e plataformas de salto, além de outra, menor, destinada ao aprendizado.  

A primeira quadra de bola ao cesto foi inaugurada em maio de 1933, ano em que surgiram o parque das crianças e amplo espaço dedicado à cultura física. Em 1937, quando recebeu o título de "A Mais Completa Agremiação Esportiva do Brasil", o Esperia ganhou seu campo de atletismo, que veio juntar-se a instalações destinadas aos seguintes esportes: bola ao cesto, esgrima, ginástica sueca, natação, pugilismo, remo, tênis e voleibol, todas sob a direção de técnicos especializados.  

Em 1938, em decorrência da instauração do Estado Novo, todos os clubes de origem estrangeira deveriam ter seus nomes nacionalizados. Assim, a agremiação passou a chamar-se Clube Esperia Sociedade de Esportes Gerais. Quatro anos depois, acontecia nova mudança de nome, pois, a 21 de setembro de 1942, em conseqüência da entrada do Brasil na II Guerra Mundial, foi promulgada lei, reafirmando a obrigatoriedade de nacionalização das sociedades originárias de países do Eixo. Por isso, o nome "Associação Desportiva Floresta", numa alusão às primeiras instalações, na margem oposta. Mas, 23 anos depois, em 1965, graças a um movimento deflagrado pelos associados e endossado pelo Conselho Deliberativo, a entidade passou a chamar-se Clube Esperia, nome que fora lembrado durante almoço oferecido à crônica esportiva.  

Hoje, suntuoso em diversas instalações, como o imponente salão social em mármore, com capacidade para acolher três mil pessoas, e pródigo em áreas especializadas, como o novo campo de futebol, o Conjunto Sócio-Esportivo, os ginásios de Basquete, Bocha, Poliesportivo e Futebol de Salão, e as quadras, muitas quadras destinadas a 12 modalidades esportivas federadas e 17 recreativas, o Esperia dispõe de biblioteca, museu, bares, restaurantes e salões, onde oferece festas, bailes, cursos, palestras, exposições, recreação infantil, gincanas, apresentações do coral esperiota, numa atividade social e cultural febril que se estende por toda a semana. Extensas áreas verdes marcam o visual do clube, rodeando "escolinhas" de diversas modalidades esportivas, recreativas e educacionais, que agrupam mais de quinhentos associados. Entre os 95 mil metros quadrados da área total, milhares de sócios desfrutam de 36 mil metros quadrados destinados a quadras, lazer e estacionamento de veículos. Os edifícios ocupam 23 mil metros quadrados e há ainda 9 mil metros quadrados de construção em andamento, o que dimensiona a pujança daquela agremiação centenária. O parque aquático, que tem o nome do eminente sócio João Havelange, já viu concretizar-se uma melhoria presente nos sonhos do corpo associativo, ou seja, a cobertura da piscina aquecida semi-olímpica, outra obra que orgulha a comunidade esperiota.

 

Senhor Presidente, Senhoras e Senhores Senadores, domingo último, dia 8 do corrente, tive a honra de participar das primeiras festividades que marcarão as comemorações no Clube Esperia. Desfiles de atletas novos e veteranos seguiram-se ao descerramento de bela placa de bronze em homenagem aos fundadores e precederam a entrega de distintivos de ouro a sócios com cinqüenta anos ou mais de clube, entre eles os queridos amigos Benedicto Veneziani, Presidente da Diretoria, e Francisco Giannoccaro, Presidente do Conselho Deliberativo. Senti-me, então, como se presenciasse um capítulo da novela "Terra Nostra", porém, um capítulo sem lágrimas e tristeza, só de alegria. Um capítulo festivo, dedicado à brilhante família esperiota no transcurso do seu centenário.  

Muito obrigado.  

 

e. l þ


Este texto não substitui o publicado no DSF de 10/11/1999 - Página 30411