Pronunciamento de Roberto Requião em 11/11/1999
Discurso no Senado Federal
ESCLARECIMENTOS QUANTO AO ARQUIVAMENTO DO REQUERIMENTO DA CPI DOS BINGOS. REPUDIO A NOTA PUBLICADA NO JORNAL O GLOBO, EDIÇÃO DO ULTIMO DIA 9, NA COLUNA PANORAMA POLITICO, DO JORNALISTA JOÃO DOMINGOS, SOBRE S.EXA. CONSIDERAÇÕES SOBRE AS INFORMAÇÕES REQUERIDAS AO MINISTERIO PUBLICO FEDERAL SOBRE A CPI QUATRO RODAS - NORDESTE.
- Autor
- Roberto Requião (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/PR)
- Nome completo: Roberto Requião de Mello e Silva
- Casa
- Senado Federal
- Tipo
- Discurso
- Resumo por assunto
-
COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), JOGO DE AZAR.
IMPRENSA.:
- ESCLARECIMENTOS QUANTO AO ARQUIVAMENTO DO REQUERIMENTO DA CPI DOS BINGOS. REPUDIO A NOTA PUBLICADA NO JORNAL O GLOBO, EDIÇÃO DO ULTIMO DIA 9, NA COLUNA PANORAMA POLITICO, DO JORNALISTA JOÃO DOMINGOS, SOBRE S.EXA. CONSIDERAÇÕES SOBRE AS INFORMAÇÕES REQUERIDAS AO MINISTERIO PUBLICO FEDERAL SOBRE A CPI QUATRO RODAS - NORDESTE.
- Publicação
- Publicação no DSF de 12/11/1999 - Página 30616
- Assunto
- Outros > COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), JOGO DE AZAR. IMPRENSA.
- Indexação
-
- RETIFICAÇÃO, PRESIDENCIA, MESA DIRETORA, ESCLARECIMENTOS, ARQUIVAMENTO, REQUERIMENTO, COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), BINGO, MOTIVO, RETIRADA, ASSINATURA, SENADOR, POSTERIORIDADE, APRESENTAÇÃO, OSMAR DIAS, CONGRESSISTA, LOBBY, GOVERNO FEDERAL, OMISSÃO, COMBATE, CORRUPÇÃO.
- REGISTRO, AGRESSÃO, ORADOR, COMENTARIO, IMPRENSA, AUSENCIA, RETIFICAÇÃO, DESRESPEITO, DIREITO DE RESPOSTA, JORNAL, O GLOBO, ESTADO DO RIO DE JANEIRO (RJ).
- APRESENTAÇÃO, PROJETO, OBRIGATORIEDADE, ESPECIFICAÇÃO, EMISSORA, TRANSMISSÃO, TELEVISÃO, SENADO.
- PROTESTO, DECISÃO, MESA DIRETORA, SENADO, AUSENCIA, ENCAMINHAMENTO, REQUERIMENTO, AUTORIA, ORADOR, SOLICITAÇÃO, CONSULTA, PROCURADOR GERAL DA REPUBLICA, PROVIDENCIA, MINISTERIO PUBLICO, POSTERIORIDADE, CONCLUSÃO, COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), APURAÇÃO, LESÃO, PATRIMONIO PUBLICO, REGIÃO NORDESTE, ATUAÇÃO, GRUPO ECONOMICO, EDITORA.
O SR. ROBERTO REQUIÃO
(PMDB - PR. Para uma comunicação inadiável. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Sr as e Srs. Senadores, em primeiro lugar, gostaria de fazer uma observação sobre a declaração do Senador que ocupava a Presidência da Mesa anteriormente a V. Exª a respeito do arquivamento do requerimento de instalação da CPI dos bingos. S. Exª decretou o arquivamento declarando que o Senador Osmar Dias não havia conseguido número suficiente de assinaturas. Não é esta exatamente a versão do fato.
O Senador Osmar Dias, um Senador responsável, apresentou à Mesa o requerimento da CPI com 33 assinaturas, quando são necessárias apenas 27 para a instalação de uma comissão parlamentar de inquérito. No entanto, um trabalho ingente das bases do Governo, dos Senadores José Roberto Arruda, Líder do Governo, Jader Barbalho e Ney Suassuna, fez com que sete Senadores retirassem suas assinaturas.
Gostaria, assim, apenas de ressalvar a responsabilidade do Senador Osmar Dias, que apresentou o requerimento com 33 assinaturas. Não podia S. Exª imaginar que alguns Senadores, após aporem suas assinaturas no requerimento, por pressão do Governo Federal, as retirassem.
Sr. Presidente, mais uma vez fui vítima de uma agressão irresponsável por parte da imprensa. Desta vez, isso ocorreu nas páginas do jornal O Globo , pela pena do substituto da jornalista Tereza Cruvinel, o Sr. João Domingos, na coluna Panorama Político . Isto ocorreu antes de ontem. Mandei ontem ao editor, ao colunista e ao responsável pelo jornal O Globo , em Brasília, uma nota retificando a notícia. Como ela não foi retificada e nos falta uma verdadeira lei que garanta o direito de resposta, quero retificá-la aqui deste plenário.
A notícia se constituiu numa verdadeira molecagem do jornalista João Domingos. Ele publica a barbaridade sob o título "Pit bull (1)", onde ele, primeiro, agride o Líder do Governo no Congresso, Deputado Arthur Virgílio, depois a mim, sob o título "Pit bull (2)". Diz ele:
O Ministro dos Esportes e Turismo, Rafael Greca, sofreu muito ontem, ao se encontrar pela primeira vez no semestre com seu grande rival Roberto Requião (PMDB-PR).
Requião, que costuma dizer desaforos para Greca sempre que o vê, passou o tempo todo correndo atrás do ministro, fazendo gracejos e piadinhas.
Em nenhum momento Greca respondeu às provocações de Requião.
Srs. Senadores, esse senhor é um moleque e não um jornalista. Eu mandei a seguinte nota ao jornal O Globo , ontem, para o colunista, para o editor e para o chefe da sucursal. O título da minha nota é "Molecagem – Pit Bull 2":
Registro o meu protesto contra sua nota "moleque" de quarta-feira, 10 de novembro de 1999.
É evidente a tentativa de me colocar no ridículo.
Não me lembro, nos últimos 4 anos, de ter me dirigido, uma vez sequer, ao Ministro Rafael Greca. Ao mesmo tempo que não sou dado a gracejos e piadinhas.
Durante a homenagem póstuma ao Sr. João Saad, só notei a presença do Ministro Rafael Greca por observação do Senador Pedro Simon.
Não seja moleque e contenha seu ímpeto de comentários trêfegos. Afinal não é isto que se espera de um jornalista de O Globo .
Dirigi essa resposta ao jornalista João Domingos e aos seus superiores. Não houve retificação. A irresponsabilidade do moleque da coluna se transmite aos editores e ao jornalão.
Fica aqui o meu protesto, com a utilização do único meio que um Parlamentar tem hoje para fugir da sanha da imprensa, ou seja, a tribuna do Senado Federal, amplamente divulgada pela TV Senado .
No intuito de ampliar a possibilidade de divulgação da TV Senado , encaminhei, ontem, à Mesa, um projeto que torna obrigatória a transmissão dos sinais de televisão por todos os meios de televisão paga. Esclareço que, hoje, somente as televisões a cabo estão obrigadas a essa transmissão, escapando dessa responsabilidade as televisões que emitem sinais através de satélites. Incluo todas as televisões pagas no compromisso de transmitir a TV Senado .
Fica aqui o meu registro para esse molecote, que freqüenta o Senado Federal e que tenta me responsabilizar. Pergunto a mim mesmo o que ele teria ganho: um almoço com o Ministro? Um estipêndio qualquer? É uma coluna de aluguel? Não sei, mas que é a coluna de um moleque irresponsável não tenho a menor dúvida.
Sr. Presidente, requeri à Mesa do Senado que mandasse ao Ministério Público Federal um pedido de informações sobre a CPI Quatro Rodas – Nordeste, realizada entre 1981 e 1982 no Congresso Nacional. Tal CPI responsabiliza, de forma dura, o Grupo Quatro Rodas por lesão ao patrimônio da União. Pedi à Mesa do Congresso que fizesse uma consulta ao Procurador-Geral da República sobre as providências que teria tomado o Ministério Público em relação à dita CPI.
A resposta que recebi da Mesa do Senado me deixou abismado. Está assinada pelo Senadores Antonio Carlos Magalhães e Carlos Patrocínio, Relator da minha proposta. Passo a ler:
Conforme Nota Técnica n.º 456/1995, da Consultoria Legislativa do Senado Federal, o Procurador-Geral da República não está incluído no rol das autoridade citadas no artigo 50, § 2º da Constituição Federal. Portanto, entendemos não ser possível o envio do presente requerimento ao Procurador-Geral da República, razão pela qual manifestamo-nos pelo arquivamento da proposição...
A Mesa do Senado não quis perguntar ao Ministério Público sobre os desdobramentos de uma Comissão Parlamentar de Inquérito, realizada pela Câmara dos Deputados, que penalizou o Grupo Abril.
Não entendo como pode ser tão tíbio, tão débil e tão fraco este Senado da República, que enfrenta o Poder Judiciário convocando juízes e quebrando seu sigilo bancário e telefônico.
Não entendo principalmente porque, de forma extraordinariamente simples e direta, o art. 5º, inciso XXXIII, da Constituição Federal, dispõe:
XXXXIII – todos têm direito a receber dos órgãos públicos informações de seu interesse particular, ou de interesse coletivo ou geral – frise-se: todos, não só a Mesa do Congresso, não só o Plenário do Senado, mas todos os cidadãos –, que serão prestadas no prazo da lei, sob pena de responsabilidade, ressalvadas aquelas cujo sigilo seja imprescindível à segurança da sociedade e do Estado;
Mas a Mesa do Congresso Nacional se recusou a dar prosseguimento a um requerimento de minha autoria que, simplesmente, indagava ao Procurador-Geral da República o que havia ocorrido com o resultado de uma CPI realizada para investigar as atividades ilícitas do Grupo Abril e do Sr. Roberto Civita. Não vou recorrer da decisão da Mesa. Num primeiro momento, cheguei a pensar nisso, mas quem se desmoraliza com isto, quem mostra a sua fraqueza e a sua ineficiência é o Senado da República.
Vou pedir, como Senador e como cidadão, diretamente ao Dr. Geraldo Brindeiro as informações que pretendia fossem solicitadas pela Mesa do Senado, em nome da Casa. Não vou insistir nisso e tenho certeza de que o Procurador-Geral me dará a informação, para o que não se necessitará sequer da previsão constitucional, porque para isso serve o Miistério Público, para informar do andamento dos processos, das suas atividades e para defender os interesses públicos no Brasil.
Fica aqui o meu protesto e a observação: este Senado, que enfrenta o Judiciário, que tem um Presidente que, com palavras duras, condena o Judiciário quando acha que aquele Poder desrespeita o Plenário do Senado e as prerrogativas do Congresso Nacional, negou-se a fazer uma consulta sobre um processo que investigava as ilicitudes e irregularidades cometidas pelo Sr. Roberto Civita e pelo Grupo Abril
Sinto-me desamparado no plenário do Senado pela decisão da Mesa, mas recorro diretamente ao Dr. Geraldo Brindeiro, Procurador-Geral da República e lavro aqui o meu protesto.
Fatos estranhos acontecem no Senado da República. Trinta e três Senadores assinam o requerimento de uma comissão parlamentar de inquérito que investigaria o comportamento da máfia italiana e, de repente, sete retiram suas assinaturas.
Sr. Presidente, por que comissão parlamentar de inquérito, no caso do bingo? Bastava quebrar os sigilos telefônico e bancário dos envolvidos para sabermos exatamente quem recebeu dinheiro das máfias italiana, espanhola, dos bicheiros e dos bingueiros de São Paulo.
No entanto, de repente, o Líder do meu Partido, Senador Jader Barbalho, o Vice-Líder, Senador Ney Suassuna e o Líder do Governo no Plenário do Senado, o Exmº Sr. Senador José Roberto Arruda, pressionam os Senadores para retirarem suas assinaturas. Um dos Senadores informa ao Senador Osmar Dias que o Presidente da República ligou a ele diretamente para solicitar que retirasse sua assinatura do requerimento da CPI dos Bingos.
Ora, Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, o Presidente da República fala em acabar com a impunidade no Brasil. Que comece Sua Excelência a acabar com a impunidade no seu próprio Governo: a impunidade no DNER, a dos bingos e a que grassa num processo de corrupção que desmoraliza o Governo. Mais do que isso, desmoraliza as instituições: a República, o Congresso Nacional e o Poder Judiciário, que, em função de um legislação atrasada, tem dificuldades para agir.
Fica o meu protesto e a observação: o Senado da República recusou-se a pedir informações ao Ministério Público sobre uma CPI que investiga as barbaridades, as ilicitudes do Sr. Roberto Civita e do Grupo Abril, louvando-se em dispositivos regimentais completamente superados pelo art. 5º, inciso XXXIII da Constituição Federal, que garante não só à Mesa do Senado, como a qualquer cidadão, o direito a essas informações. Vou insistir nesse processo. É assim que se acaba com a impunidade. Não é se submetendo aos interesses de um governo afundado em corrupção.
e É