Discurso no Senado Federal

CONSIDERAÇÕES SOBRE O RACIONAMENTO DE AGUA NA CIDADE DE RECIFE-PE.

Autor
Carlos Wilson (PPS - CIDADANIA/PE)
Nome completo: Carlos Wilson Rocha de Queiroz Campos
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
DESENVOLVIMENTO REGIONAL.:
  • CONSIDERAÇÕES SOBRE O RACIONAMENTO DE AGUA NA CIDADE DE RECIFE-PE.
Publicação
Publicação no DSF de 29/10/1999 - Página 28844
Assunto
Outros > DESENVOLVIMENTO REGIONAL.
Indexação
  • COMENTARIO, APREENSÃO, GRAVIDADE, OCORRENCIA, RACIONAMENTO, AGUA, MUNICIPIO, RECIFE (PE), ESTADO DE PERNAMBUCO (PE).
  • DEFESA, CONCLUSÃO, CONSTRUÇÃO, BARRAGEM DE PIRAPAMA, OBJETIVO, SOLUÇÃO, PROBLEMA, ABASTECIMENTO DE AGUA, MUNICIPIO, RECIFE (PE), ESTADO DE PERNAMBUCO (PE).

O SR. CARLOS WILSON (PPS - PE) - Sr. Presidente, Srªs. e Srs. Senadores, cumpro o dever de trazer ao conhecimento do Senado Federal um grave problema, problema esse que já vem se tornando crônico: o racionamento de água na cidade do Recife.  

A população do Recife vive atualmente uma situação humilhante e constrangedora: às vésperas do 3º Milênio ainda não conseguiu aquilo que os romanos já tinham há quase dois mil anos: adutoras capazes de atender à demanda de água potável de uma grande cidade.  

A cena do caminhão-pipa chegando para suprir a falta d’água, já se tornou comum nos bairros do Recife. Com a intensificação do racionamento na Região Metropolitana do Recife (RMR), é cada vez maior o número de hotéis, restaurantes e edifícios que precisam contratar serviços extras para suprir as deficiências no abastecimento.  

Sr. Presidente, Srªs. e Srs. Senadores, não podemos admitir que uma cidade do nível do Recife continue na dependência de caminhões-pipas para suprir suas necessidades sanitárias mínimas, conforme os padrões da civilização moderna, principalmente numa região em que o turismo é uma das fontes principais de renda e emprego.  

É impossível continuar atraindo turistas nacionais ou estrangeiros, quando não se dispõe nem mesmo de água potável para o atendimento dos visitantes de nossa cidade.  

É lamentável que o povo venha a pagar altos preços pelo abastecimento de água em caminhões-pipas, sem falarmos das condições de higiene precárias desse sistema.  

É profundamente lamentável, lermos nas primeiras páginas dos jornais de Recife o destaque para o assunto Racionamento de Água , com seus calendários de fornecimento e desabastecimento.  

Vemos nos calendários de racionamento publicados pela imprensa que os bairros de Mustardinha, Madalena, Torre, Mangueira, Jiquiá, Prado, San Martin, Roda de Fogo, Torrões, Ilha do Retiro e Afogados passarão 221 horas sem água, para 19 horas com água.  

O problema do abastecimento de água potável na cidade do Recife é um verdadeiro escândalo: não se pode admitir uma cidade da importância da capital do Estado de Pernambuco ser submetida a um tratamento tão degradante por parte dos administradores.  

Não se diga que é um problema complexo, imprevisível e de difícil solução: não existe impossibilidade do ponto de vista técnico e de engenharia: faltam competência administrativa e decisão política.  

Ao contrário, trata-se de problema tecnicamente equacionado, cuja solução já havia sido encaminhada, em 1990, período em que tive a honra de exercer o cargo de Governador do Estado de Pernambuco.  

A alternativa mais adequada do ponto de vista técnico foi uma escolha que contemplou a utilização das águas do Rio Pirapama, por oferecer diversas vantagens para o abastecimento de água potável da Região Metropolitana do Recife.  

A bacia do Rio Pirapama, com área aproximada de 600km², é o manancial mais importante disponível num raio de 40 km da cidade do Recife, com capacidade para dobrar a oferta de água num período relativamente curto.  

A conclusão da barragem de Pirapama ainda não ocorreu por falta de capacidade administrativa dos governos posteriores, que não foram capazes de concluir um projeto de elevado mérito social, econômico e de importância estratégica incalculável para a vida normal da cidade do Recife.  

Não se diga que não existem recursos financeiros disponíveis e que a cidade cresceu ou que o setor público não tem condições de atender à enorme demanda decorrente da aceleração do processo de urbanização.  

Basta verificarmos que muitas outras capitais nordestinas, até mesmo com menor potencial econômico do que a cidade do Recife, também passaram e passam por esse mesmo tipo de problemas e foram capazes de encontrar uma solução para o fornecimento de água potável.  

Não se trata, tampouco, de problema novo, complexo ou com alguma restrição técnica intransponível.  

A cidade do Recife é um importante pólo de desenvolvimento econômico, social e político do Nordeste brasileiro e não pode continuar nessa situação de terra abandonada, sem abastecimento de água potável de forma regular.  

Poderíamos tolerar uma solução demorada se estivéssemos numa região deserta, sem qualquer possibilidade de captação de águas pluviais, sem mananciais ou bacias hidrográficas importantes para o abastecimento de água, o que não é, absolutamente, o caso da cidade do Recife.  

O que hoje assistimos é realmente muita incompetência administrativa: os três governadores que me sucederam não foram capazes de dar continuidade à construção da barragem de Pirapama.  

Isso significa, antes de tudo, falta de sensibilidade política e perda completa da noção de urgência e prioridade, pois o abastecimento de água da cidade do Recife é problema que ultrapassa todas as prioridades administrativas sensatas e objetivas.  

Com este meu pronunciamento, estou cumprindo o meu dever, como representante, no Senado Federal, do Estado de Pernambuco, de denunciar este abuso contra a população do Recife e da Região Metropolitana, vítima de administradores incompetentes e destituídos da verdadeira noção de serviço público . 

Muito obrigado.  

 

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Este texto não substitui o publicado no DSF de 29/10/1999 - Página 28844