Discurso no Senado Federal

HOMENAGEM A MEMORIA DO SENADOR VILSON KLEINUBUNG, PELO TRANSCURSO DE UM ANO DO SEU FALECIMENTO.

Autor
José Roberto Arruda (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/DF)
Nome completo: José Roberto Arruda
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • HOMENAGEM A MEMORIA DO SENADOR VILSON KLEINUBUNG, PELO TRANSCURSO DE UM ANO DO SEU FALECIMENTO.
Publicação
Publicação no DSF de 18/11/1999 - Página 31168
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM, VILSON KLEINUBING, SENADOR, ANIVERSARIO DE MORTE, ELOGIO, ATUAÇÃO, QUALIDADE, PREFEITO, GOVERNADOR, ESTADO DE SANTA CATARINA (SC), CONGRESSISTA, ESPECIFICAÇÃO, DEFESA, RESPONSABILIDADE, ADMINISTRAÇÃO PUBLICA.

O SR. JOSÉ ROBERTO ARRUDA (PSDB – DF) - Sr. Presidente, Srªs. e Srs. Senadores, há um ano, esta Casa perdia um de seus membros mais ilustres, um político de escol, um parlamentar extraordinário, um administrador público excepcional. Falecia, no dia 23 de outubro de 1998, no Hospital da Caridade, em Florianópolis, o Senador da República Vilson Kleinübing.  

Lembrar, hoje, a fulgurante personalidade de Vilson Kleinübing é importante não tanto no sentido de lamentar sua perda, tampouco de prestar-lhe merecida homenagem. Muito mais do que isso, trata-se de manter vivo seu legado de incalculável valor, enquanto exemplo invulgar de dedicação à causa pública, de responsabilidade no trato da coisa pública, em especial, das finanças públicas.  

Extraordinário. Excepcional. Invulgar. Por que, ao lembrarmos de Vilson Kleinübing, são esses os primeiros adjetivos que nos vêm à mente? Ora, porque ele era, indiscutivelmente, um homem público que fugia à regra. Afinal, quantos chefes de executivo – particularmente no Brasil das últimas décadas – podem contabilizar, entre suas realizações, uma redução de nada menos de 400 por cento do déficit público no seu primeiro ano de mandato?  

Não fosse essa uma informação oficial, poderia facilmente ser tomada por inacreditável, fantasiosa, absurda. Realmente, beira a fronteira do inverossímil a informação de que um Governador de Estado, no Brasil dos anos 90, cortou o déficit público em três quartas partes no seu primeiro ano de governo. Pois o autor dessa façanha não foi outro senão nosso inesquecível colega desta legislatura, o Senador Vilson Kleinübing. Ao assumir o Governo de Santa Catarina em 1991, eleito com mais de 930 mil votos, o déficit do Estado estava em 160 bilhões na moeda da época. Em 1992, havia caído para 40 bilhões.  

Não era, portanto, em nenhuma medida injustificado o orgulho de Vilson Kleinübing ao afirmar: "Como Prefeito e como Governador nunca houve um dia em que eu tenha produzido déficit. Nunca tomei um centavo emprestado para o Governo."  

Também em suas passagens pelas Casas Legislativas, a atuação de Vilson Kleinübing fugiu à regra. Muitos de nós lembramos, com certeza, seu primeiro pronunciamento nesta Casa. Ao assomar à tribuna pela primeira vez, Kleinübing admoestava que, tanto no Senado quanto na Câmara dos Deputados, era fácil identificar a bancada dos grupos religiosos, a bancada dos ruralistas, as bancadas regionais, a bancada que defende os interesses dos assalariados. A única bancada inexistente – ele apontava – era a bancada que defende os interesses do Erário, que defende a "viúva". Aqui estava ele, nesta mesma tribuna, lembrando-nos que a "viúva" é a grande desamparada, porque ela não tem bancada, mas apenas defensores isolados.  

E essa foi a grande luta de Vilson Kleinübing, tanto no Executivo, quanto no Legislativo: a luta pela seriedade, pela responsabilidade na administração das contas públicas. Aqui no Senado, essa luta teve um momento culminante na sua atuação decisiva em prol da instalação e durante os trabalhos da Comissão Parlamentar de Inquérito dos Títulos Públicos, a chamada CPI dos Precatórios, que, inicialmente objeto de ceticismo generalizado, acabou por tornar-se uma das mais produtivas já realizadas em qualquer das Casas do Congresso Nacional.  

Ainda dentro dessa sua preocupação fundamental, Vilson Kleinübing deixou-nos uma outra contribuição que merece ser lembrada de forma especial: a Resolução do Senado Federal n.º 78, de 1998, da qual foi relator, e que foi aprovada por unanimidade por este egrégio Plenário. Com essa Resolução, ficaram estabelecidas condições muito rígidas para conter o endividamento desmedido e irresponsável de nossos Estados e Municípios.  

Sr. Presidente, Srªs. e Srs. Senadores, esta foi, mais do que qualquer outra, a qualidade que se destacava na personalidade do político Vilson Kleinübing: o acendrado espírito público, o compromisso com o Estado, com a sociedade, cujos interesses colocava acima de quaisquer interesses individuais ou grupais.  

E foi graças a esse seu notório e evidente espírito público que Kleinübing conquistou a admiração e, ainda mais importante, o respeito de todos os seus Pares nesta Casa. Não foi à toa que, na sessão dedicada a reverenciar sua memória, nada menos do que 17 Srs. Senadores fizeram questão de vir a esta tribuna deixar registrada nos anais da Casa sua homenagem pessoal, em nome de suas bancadas e em nome de seus Estados ao insigne homem público, além dos inúmeros outros que apartearam os oradores.  

Com efeito, Vilson Kleinübing deixou saudade no coração de todos que tiveram oportunidade de conhecê-lo. Presente a seu funeral em Florianópolis, juntamente com diversos outros Senadores de todos os partidos e com o ilustre Presidente Antonio Carlos Magalhães, tive oportunidade de testemunhar o carinho que lhe era devotado não apenas por familiares, amigos e correligionários, mas também pelos adversários e pela gente simples de Santa Catarina, que manifestava seu reconhecimento pelo trabalho desprendido e competente de seu ex-Governador.  

Acometido de um insidioso câncer que, resistente às mais modernas terapias, acabou por roubar-lhe a vida após um penoso período de dois anos, Vilson Kleinübing nunca se deixou abater, nunca se permitiu a autocomiseração. Atento aos eventos políticos, dedicado a suas atividades parlamentares enquanto teve forças para colocar-se em pé, a determinação e coragem de Kleinübing sensibilizaram quantos com ele tiveram contato naquele período.  

Gaúcho de Montenegro, engenheiro mecânico formado pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, pós-graduado em Engenharia Econômica pela Universidade Federal de Santa Catarina, Vilson Kleinübing teve uma ascensão meteórica na vida pública. Eleito Deputado Federal em 1982, foi chamado para exercer a Secretária de Agricultura e Abastecimento de seu Estado. Em 1988, elegeu-se Prefeito de Blumenau e, dois anos depois, Governador de Santa Catarina. Em 1995, chegou ao Senado Federal, onde foi escolhido Vice-Líder do Governo, cargo que ocupou até a sua morte. Teve atuação especialmente destacada na Comissão de Assuntos Econômicos e foi também membro titular da Comissão de Serviços de Infra-Estrutura. Na condição de suplente, trabalhou na Comissão de Educação, na de Relações Exteriores e Defesa Nacional e na de Fiscalização e Controle. Numa merecidíssima homenagem pela sua brilhante atuação naquele órgão colegiado, a sala de reuniões da Comissão de Assuntos Econômicos desta Casa ostenta hoje o seu nome: "Sala Senador Vilson Kleinübing".  

Sr. Presidente, Srªs. e Srs. Senadores, não são todos os políticos que têm a coragem suficiente para tomar as medidas mais conformes ao interesse público, mesmo quando isso represente prejuízo à sua popularidade. Assim foi Vilson Kleinübing em sua luta incansável e intransigente em defesa do equilíbrio das contas públicas. Guardava ele a firme convicção de que o endividamento irresponsável viria, mais cedo ou mais tarde, a inviabilizar por completo a administração pública, com conseqüências catastróficas. Firmado nessa convicção, definia suas posições e traçava o rumo de sua atuação – quer no Executivo, quer no Legislativo –, e daí não se afastava um milímetro sequer. Era de absoluta firmeza e intransigência na defesa do erário. Foi com essa retidão de conduta na vida pública que granjeou a admiração e o respeito de companheiros e adversários. No transcurso do primeiro aniversário de sua morte, nada mais justo e oportuno do que relembrar seu legado de probidade e coerência.  

Era o que tinha a dizer.  

Muito obrigado.  

 

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Este texto não substitui o publicado no DSF de 18/11/1999 - Página 31168