Discurso no Senado Federal

CONSIDERAÇÕES SOBRE A ATUAÇÃO DO MOVIMENTO DOS TRABALHADORES SEM TERRA NO PAIS.

Autor
Mauro Miranda (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/GO)
Nome completo: Mauro Miranda Soares
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
REFORMA AGRARIA.:
  • CONSIDERAÇÕES SOBRE A ATUAÇÃO DO MOVIMENTO DOS TRABALHADORES SEM TERRA NO PAIS.
Publicação
Publicação no DSF de 26/11/1999 - Página 31806
Assunto
Outros > REFORMA AGRARIA.
Indexação
  • SOLICITAÇÃO, TRANSCRIÇÃO, ANAIS DO SENADO, ARTIGO DE IMPRENSA, AUTORIA, BATISTA CUSTODIO, JORNALISTA, PUBLICAÇÃO, JORNAL, DIARIO DA MANHÃ, ESTADO DE GOIAS (GO), ASSUNTO, TENTATIVA, SEM-TERRA, INVASÃO, PROPRIEDADE RURAL, PRESIDENTE DA REPUBLICA, PREJUIZO, LUTA, REFORMA AGRARIA.

O SR. MAURO MIRANDA (PMDB - GO. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, há tempos, ouvi de um amigo jornalista uma afirmação que não esqueci. Ele me disse que o profissional de imprensa, para ser fiel aos seus compromissos com o leitor, deve ser frio na busca da informação, mas, sem prejuízo da razão, ser apaixonado na transmissão do fatos.  

Em Goiânia, temos o exemplo de um jornalista que faz de sua coluna uma declaração diária de paixão pela verdade. Um jornalista que escreve há cerca de 40 anos e que mantém, até hoje, o mesmo ardor polêmico da juventude, a mesma intransigência na condenação do engodo e da mentira, a mesma independência ao expor as vísceras do Poder, a mesma lógica ao abordar os temas que são controversos para a maioria dos mortais.  

O nome desse jornalista, que boa parte dos nobre Colegas conhece, graças ao enorme prestígio de que desfruta em toda a Região Centro-Oeste, é Batista Custódio. Segunda-feira, na sua coluna do Diário da Manhã, esse brilhante polemista despeja em seu espaço diário o mesmo estilo denso, vigoroso, ferino, irônico, direto e sem afetações, ao abordar com a coragem de sempre a desastrada ameaça de invasão da fazenda do Presidente Fernando Henrique Cardoso, promovida pelo Movimento dos Sem-Terra.  

Meu estilo, Sr. Presidente, é outro, mas tenho uma enorme admiração pelo estilo cortante desse grande quixote da imprensa goiana. Por isso e por concordar com as suas preocupações, no sentido de que ações desse tipo podem desmoralizar a pureza da luta pela reforma agrária, solicito à Mesa que determine a transcrição nos Anais da Casa dessa peça brilhante que deve fazer parte do meu pronunciamento.  

Srªs e Srs. Senadores, tenho mantido nesta Casa uma posição permanente de defesa da reforma agrária – e ninguém poderá apontar em meus pronunciamentos um momento de renúncia aos meus princípios sempre favoráveis aos trabalhadores sem terra. Até na análise de certos exageros cometidos nas invasões, tenho sido condescendente, procurando entender que a luta contra a injustiça social tem os seus componentes passionais incontroláveis. A ameaça de invasão da fazenda do Presidente é um episódio superado, e, exatamente por isso, já podemos refletir sobre ele com alguma distância crítica, sem a pressão do noticiário. É por isso e sob a motivação do artigo oportuno e brilhante de Batista Custódio, que trago esse assunto a esta tribuna para uma reflexão da Casa.  

Para mim, Srªs e Srs. Senadores, na tentativa de invasão da Fazenda Córrego da Ponte, de propriedade do Presidente Fernando Henrique Cardoso, as lideranças do movimento pecaram por excesso, cometendo um erro estratégico, perigoso. A sociedade brasileira é pacífica, não gosta da violência e, a julgar pelas opiniões que ouvi em meu Estado, o risco de descrédito do movimento é real, se as decisões futuras do MST forem conduzidas por motivações políticas, como analisa com sabedoria o artigo assinado por Batista Custódio.  

Segundo o articulista, o fato produzido pelas lideranças "é uma molecagem ideológica contra a própria seriedade do Movimento dos Sem-Terra". Ao defender a reforma agrária como prioridade social, ele afirma que "a terra que está sobrando para a minoria da riqueza é a mesma terra que está faltando para a maioria da pobreza". No caso da invasão da fazenda do Presidente, porém, ele considera que o MST está "transformando o mastro de sua bandeira num porrete para bater em si mesmo", ao praticar a baderna que caracteriza o quadro de insubordinação civil.  

Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, é preciso ser um Batista Custódio e ter um patrimônio de credibilidade como o dele para assumir as posições corajosas que assumiu em seu artigo. Seu destemor, sua veemência, sua capacidade para reduzir os espaços da contra-argumentação merecem as nossas homenagens. Também sou a favor da reforma agrária, como ele, mas estou de acordo com suas preocupações. A violência não é boa conselheira. As lideranças do Movimento dos Sem-Terra não devem comprometer a causa nobre da reforma agrária, colocando-se contra a maioria da sociedade brasileira, que prefere as vias pacíficas para o resgate de nossa grande dívida social. Promover justiça na distribuição de nossas terras é objetivo prioritário. O Governo tem feito o possível, e em Goiás posso dar meu testemunho do esforço do Ministério da Agricultura e do Abastecimento. Pedir civilidade das partes envolvidas nessa questão não é pedir que se renuncie à luta, que deve continuar.  

Era o que eu tinha a dizer, Sr. Presidente.  

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DOCUMENTO A QUE SE REFERE O SR. SENADOR MAURO MIRANDA EM SEU PRONUNCIAMENTO:  

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Este texto não substitui o publicado no DSF de 26/11/1999 - Página 31806