Discurso no Senado Federal

PROPOSTA DE FORTALECIMENTO DE CENTROS PARA RECUPERAÇÃO DE DROGADOS, COM BASE NA PROFISSIONALIZAÇÃO E NO TRABALHO.

Autor
Maria do Carmo Alves (PFL - Partido da Frente Liberal/SE)
Nome completo: Maria do Carmo do Nascimento Alves
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
DROGA.:
  • PROPOSTA DE FORTALECIMENTO DE CENTROS PARA RECUPERAÇÃO DE DROGADOS, COM BASE NA PROFISSIONALIZAÇÃO E NO TRABALHO.
Publicação
Publicação no DSF de 01/12/1999 - Página 32407
Assunto
Outros > DROGA.
Indexação
  • ELOGIO, ATUAÇÃO, COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), CAMARA DOS DEPUTADOS, INVESTIGAÇÃO, TRAFICO, DROGA, PAIS.
  • COMENTARIO, ARTIGO DE IMPRENSA, JORNAL, FOLHA DE S.PAULO, ESTADO DE SÃO PAULO (SP), DIVULGAÇÃO, PESQUISA, PAIS ESTRANGEIRO, ITALIA, APREENSÃO, QUANTIDADE, CONSUMO, DROGA.
  • REGISTRO, IMPORTANCIA, TRABALHO, ENTIDADE, RECUPERAÇÃO, VICIADO EM DROGAS, MUNICIPIO, GUARATINGUETA (SP), ESTADO DE SÃO PAULO (SP).
  • DEFESA, REFORÇO, PROJETO, REINTEGRAÇÃO, VICIADO EM DROGAS, FUNDAMENTAÇÃO, TRABALHO.

A SRª MARIA DO CARMO ALVES (PFL - SE. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão da oradora.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, o País tem despertado diariamente com notícias sobre a CPI do Narcotráfico. O assunto tem provocado o interesse geral da Nação e trazido grandes preocupações a todos nós. A CPI vem desmascarando policiais, empresários, advogados e políticos envolvidos com o tráfico de narcóticos.  

Mas não quero alongar-me nesse tema tão debatido e tão explorado nos últimos meses. Quero chamar a atenção deste Plenário para o outro lado da corda, o lado do mais fraco, o lado que acaba se partindo. Refiro-me aos dependentes, aos viciados em drogas. São eles jovens ou adultos, homens ou mulheres, brancos ou pretos, pobres ou ricos – a droga não faz distinção. Para o traficante, o dinheiro não tem pátria nem classe social. Quanto maior o número de dependentes maior o retorno financeiro. Nas famílias, assistimos à tragédia do filho perdido, do pai desorientado, do irmão desamparado. A sociedade é atingida tanto pela desagregação da família como pelo aumento da criminalidade.  

Há poucos dias, a Folha de S. Paulo publicou uma pesquisa realizada na Itália, divulgada pelo Secretário Nacional Antidrogas, Walter Maierovitch, que informava que em cada 100 notas da moeda italiana, a lira, escolhidas aleatoriamente, 82 tinham resíduos de cocaína, o que significa que foram usadas por consumidores de drogas como canudos para a aspiração. É um dado estarrecedor. Segundo o Secretário Maierovitch, a pesquisa revela que há um boom de cocaína no mundo.  

E todos nós sabemos que a droga é uma chaga social, é patológica e atinge a sociedade inteira. Está em todos os lugares, penetra em todas as camadas sociais. Ataca nas capitais e no interior, espalha-se por todos os Estados do Brasil. Invade o lugar mais preocupante para todos nós, que é a escola, além de salões de festas, clubes, residências, empresas, enfim, todos os locais públicos.  

Tenho ouvido algumas propostas do Governo e do próprio Presidente da República no sentido de criar centros para a recuperação de jovens envolvidos com drogas.  

Quero trazer ao conhecimento da Casa uma experiência que se faz há uns 15 anos no Brasil. O núcleo inicial dessa experiência foi São Paulo. Falo da Fazenda da Esperança, dirigida pelo Frei alemão Hans Stopel e outros brasileiros.  

Na Fazenda da Esperança, localizada no interior de São Paulo, em Guaratinguetá, voluntários ajudam na recuperação de jovens dependentes de drogas. Seguem o mesmo princípio que norteia o Título da Ordem Social da nossa Constituição: a base da recuperação é o trabalho. O trabalho é ponto de honra na busca do bem-estar e da justiça social. A fé e a força de vontade levam rapazes e moças a se reencontrarem com a família. Eles ficam durante um ano na fazenda, onde produzem de tudo: artesanato, queijo, pão, pizza e até água sanitária. Cuidam da lavoura, do gado, inclusive de búfalos. Os produtos são comercializados na região. A idéia é que a Fazenda seja auto-sustentável.  

No Brasil existem 11 casas em 11 Estados da Federação. No próximo mês, em dezembro, será inaugurada a 12ª casa na cidade de Florianópolis. Também foi inaugurada no ano passado uma filial em Berlim, na Alemanha, terra natal do Frei Hans, um dos fundadores da Fazenda, junto com Nelson Giovanelli, há mais de 15 anos.  

Hoje, a Fazenda da Esperança tem muitos jovens que lutam contra o vício. Todos trabalham para se recuperar. Algumas pessoas fazem doações. Os Governos Federal, Estadual e Municipal têm tido uma participação muito pequena. E, hoje, pela primeira vez, o BNDES já está financiando uma fábrica de massas na fazenda.  

Sabemos que são muitas as iniciativas desse tipo que vêm lutando com dificuldades para cumprir sua missão. Por isso, Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, antes de pensar em promover novos projetos, precisamos dar apoio a esses já existentes. Não podemos esperar uma ação isolada. É necessário o envolvimento de todos, o comprometimento da sociedade, dos Governos Federal, Estadual e Municipal, cada um com o que pode oferecer, mesmo que seja um mínimo. Precisamos acolher projetos de profissionalização para todos os jovens que ingressam na Fazenda da Esperança, como projetos de atendimento a dependentes de drogas e projetos de combate à exploração de menores. Carecemos de campanhas intensas, extensas, permanentes, de conscientização, de convencimento e, sobretudo, de esclarecimento.  

Enfim, jovem não é futuro, não deve ser pensado como futuro. O jovem é presente, tem de ser pensado como presente. Por isso, ele precisa da família, da escola e de oportunidades. Só assim estaremos fazendo um Brasil melhor.  

Muito obrigada.  

 

rais,P


Este texto não substitui o publicado no DSF de 01/12/1999 - Página 32407