Discurso no Senado Federal

INDIGNAÇÃO COM A REPRESSÃO A MANIFESTAÇÃO DE TRABALHADORES EM BRASILIA.

Autor
Heloísa Helena (PT - Partido dos Trabalhadores/AL)
Nome completo: Heloísa Helena Lima de Moraes Carvalho
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
SEGURANÇA PUBLICA.:
  • INDIGNAÇÃO COM A REPRESSÃO A MANIFESTAÇÃO DE TRABALHADORES EM BRASILIA.
Publicação
Publicação no DSF de 04/12/1999 - Página 33693
Assunto
Outros > SEGURANÇA PUBLICA.
Indexação
  • REPUDIO, VIOLENCIA, DESPREPARO, POLICIA MILITAR, DISTRITO FEDERAL (DF), REPRESSÃO, MANIFESTAÇÃO COLETIVA, TRABALHADOR, COMPANHIA URBANIZADORA DA NOVA CAPITAL S/A (NOVACAP).
  • CRITICA, AUSENCIA, RESPONSABILIDADE, GOVERNO DO DISTRITO FEDERAL (GDF), PROVOCAÇÃO, MORTE, TRABALHADOR, DESRESPEITO, DEMOCRACIA.
  • DEFESA, NECESSIDADE, COMISSÃO, DIREITOS HUMANOS, CAMARA DOS DEPUTADOS, CONVOCAÇÃO, SECRETARIO, SEGURANÇA, DISTRITO FEDERAL (DF), COMANDO, POLICIA MILITAR, ESCLARECIMENTOS, OPINIÃO PUBLICA, PAIS.

A SRª HELOISA HELENA (Bloco/PT - AL. Profere o seguinte discurso. Sem revisão da oradora.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, na manhã de hoje, eu havia me preparado para fazer um pronunciamento sobre o setor agrícola, tanto em relação à reforma agrária como em relação à perversidade e irresponsabilidade do Governo Federal para com os pequenos produtores do nosso País. Mas não falarei sobre esse assunto.  

Ocorreu um fato extremamente abominável no Distrito Federal. Estou inclusive chegando de uma manifestação de trabalhadores nesta Capital. Represento, com muita honra, os homens e as mulheres de bem e de paz do meu Estado. Já passamos por situações extremamente alarmantes, truculentas e abomináveis na minha querida Alagoas. Mas devo falar não só da surpresa, do choque, mas da minha indignação com as cenas que tive oportunidade de assistir pela televisão.  

Imagino a dor, o sofrimento e a angústia dos trabalhadores que participavam ontem de uma manifestação pacífica, como milhares de outras que já aconteceram e que continuarão a acontecer neste País. São manifestações comuns na época do acordo salarial e acontecem justamente pela incapacidade de diálogo dos que representam o patronato, o Governo do Estado ou qualquer instância de poder e de decisão política.  

Sr. Presidente, fiquei indignada com as cenas mostradas pela televisão. Hoje, pela manhã, estive com os trabalhadores, e ali estavam pessoas idosas, pessoas que choravam, pessoas sentindo-se profundamente constrangidas e humilhadas diante da ação insana, irresponsável, abominável do Governo do Distrito Federal, que mostrou a mais absoluta intolerância. Deus do céu, desde 1988 não tombava nenhuma vítima fatal em um movimento grevista, em uma paralisação por salário!  

Sr. Presidente, sinceramente, o Governo, em nota oficial veiculada em todos os jornais, dizer que a intervenção da Polícia Militar do Distrito Federal ocorreu em plena obediência e respeito à lei e aos preceitos democráticos, que a Polícia agiu com a serenidade e a eficiência que têm caracterizado a sua ação – Deus do céu! –- é uma aberração, uma irresponsabilidade!  

Sr. Presidente, milhões de pessoas deste País assistiram àquelas cenas abomináveis, que reproduzem, por si sós, a truculência e o despreparo com que foi conduzida a ação de ontem. Quando eram os trabalhadores que diziam, nós podíamos pensar que eles eram parte envolvida no processo. Mas presenciamos, pela televisão, pessoas ensangüentadas, como esta que está na fotografia do jornal, serem arrastadas pelas calçadas, pelo paralelepípedos.  

Sr. Presidente, qual é o saldo? Um assassinato. Um trabalhador morto. Dois trabalhadores cegos e vários feridos. Jesus Machado, 26 anos, motorista. Cláudio Cabral, 32 anos, carpinteiro. E José Ferreira da Silva, 33 anos, jardineiro, que tombou com dois tiros.  

É de fundamental importância o repúdio e a indignação das mulheres e homens de bem e de paz deste País. Tenho absoluta certeza de que a Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados convocará o Secretário de Segurança do Distrito Federal, o Comando da Polícia Militar, para prestarem esclarecimentos à opinião pública e ao País.  

Disse o Governador estar cumprindo a democracia. Mas entendo que democracia não é matar, democracia não é truculência, democracia não é o comportamento abominável que teve a Polícia. A democracia contém a beleza de, por meio do debate político, do confronto de idéias, poder-se chegar ao consenso, chegar a uma saída, chegar a uma alternativa.  

E mais: além da nota oficial, todos viram a tranqüilidade, a serenidade abominável do Secretário de Segurança, estampada hoje nos meios de comunicação, ao dar entrevista, dizendo que as coisas aconteceram de uma forma aceitável, que se agiu com serenidade, cumprindo a democracia. Não podemos aceitar uma coisa dessas! Portanto, a minha mais profunda indignação!  

Dizer que isso significa respeito à democracia, que isso significa uma ação serena?! Significa, sim, pisar, com muita força, nos corações machucados das famílias das vítimas e daqueles trabalhadores que lá estavam hoje pela manhã. Sr. Presidente, os sindicalistas sequer conseguiam falar, tampouco conseguiam discutir diante de sua base. Eram pessoas profundamente chocadas, humilhadas.  

Sr. Presidente, contestar esse tipo de atitude covarde e arrogante é de fundamental importância, porque essas ações individualizadas, particularizadas, ocorridas em um ou outro Estado, são justamente as que podem nos levar de volta à velha onda de truculência, de intolerância na relação com o movimento sindical.  

Portanto, o nosso abraço às famílias das vítimas e a todos os trabalhadores que ainda estão lá, que não se curvaram, que não se amedrontaram, a todos os trabalhadores que estão lá neste momento, sendo exemplo de coragem e de esperança; que lá estão, continuando a luta do trabalhador que foi assassinado e dos outros dois que estão no Hospital de Base, mutilados. Eles estão mantendo a luta, continuam a luta, enchendo os corações de seus companheiros de coragem e de esperança, para que não nos confrontemos mais com esse tipo de covardia, de arrogância, de truculência e de ignorância!  

Sr. Presidente, estamos às vésperas do ano 2000, às vésperas do Natal e do Ano Novo, como pode uma negociação salarial ter como saldo várias pessoas mortas e mutiladas? Dois trabalhadores cegos, um trabalhador assassinado! Realmente é inadmissível uma situação como essa!  

Era o que tinha a dizer, Sr. Presidente.  

 

yb


Este texto não substitui o publicado no DSF de 04/12/1999 - Página 33693