Discurso no Senado Federal

APELO AO GOVERNADOR DO DISTRITO FEDERAL PELA DEMISSÃO DO SECRETARIO DE SEGURANÇA PUBLICA. SR. PAULO CASTELO BRANCO, EM VIRTUDE DA AÇÃO DA POLICIA MILITAR, ONTEM, DURANTE MANIFESTAÇÃO DE TRABALHADORES.

Autor
Ademir Andrade (PSB - Partido Socialista Brasileiro/PA)
Nome completo: Ademir Galvão Andrade
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
SEGURANÇA PUBLICA.:
  • APELO AO GOVERNADOR DO DISTRITO FEDERAL PELA DEMISSÃO DO SECRETARIO DE SEGURANÇA PUBLICA. SR. PAULO CASTELO BRANCO, EM VIRTUDE DA AÇÃO DA POLICIA MILITAR, ONTEM, DURANTE MANIFESTAÇÃO DE TRABALHADORES.
Publicação
Publicação no DSF de 04/12/1999 - Página 33709
Assunto
Outros > SEGURANÇA PUBLICA.
Indexação
  • SOLICITAÇÃO, JOAQUIM RORIZ, GOVERNADOR, DISTRITO FEDERAL (DF), DEMISSÃO, PAULO CASTELO BRANCO, SECRETARIO, SEGURANÇA PUBLICA, GOVERNO DO DISTRITO FEDERAL (GDF), RESPONSAVEL, VIOLENCIA, POLICIA MILITAR, REPRESSÃO, MANIFESTAÇÃO COLETIVA, PROVOCAÇÃO, MORTE, TRABALHADOR, COMPANHIA URBANIZADORA DA NOVA CAPITAL S/A (NOVACAP).

O SR. ADEMIR ANDRADE (Bloco/PSB - PA. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, lamento profundamente o ocorrido ontem nesta Capital.  

Sr. Presidente, faço um apelo ao Governador Roriz no sentido de que S. Exª demita, imediatamente, o Sr. Secretário de Segurança Pública. do Governo do Distrito Federal, o Sr. Paulo Castelo Branco. Caso contrário, o Governador terá efetivamente de assumir a responsabilidade pelo episódio ocorrido.  

O Secretário de Segurança Pública foi o responsável pelo ato de estupidez que se transformou no assassinato de um pai de família, que deixa mulher e dois filhos. Um funcionário público pacato, correto, cumpridor de seus deveres foi barbaramente assassinado pela polícia porque faltou diálogo, faltou entendimento, faltou compreensão. É preciso que o Governo Federal e os Governos Estaduais desta República compreendam o momento que estamos vivendo: momentos de indignação, de dificuldades, de salários baixos e sem reajuste há cinco anos. E é justo que as pessoas protestem; é justo que as pessoas se manifestem; e às vezes é justo até que as pessoas se excedam, desde que não agridam ninguém.  

O que não é certo é um Secretário de Segurança Pública da Capital da República do Brasil, esse Sr. Paulo Castelo Branco, dizer que o seu programa e a sua proposta de trabalho é "Segurança sem Tolerância". Seu programa deveria ser sem tolerância com criminosos e contrabandistas, mas não com funcionários públicos que lutam pelo justo direito de ter aumento salarial, ainda que façam piquete na porta da Novacap, como estavam fazendo os servidores que foram violenta e estupidamente agredidos pela Polícia Militar de Brasília.  

Nesse episódio, Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, dois funcionários perderam um olho. As balas, as monstruosas balas de borracha, colocadas em cartucho 12mm, atingiram os olhos de dois funcionários que tiveram, cada um, um olho extraído, colocando-se próteses no lugar. Um foi morto, assassinado barbaramente pela Polícia; vários foram feridos, tiveram membros atravessados por balas de borracha e até por bala real. Segundo manifestação do médico que atendeu o servidor que morreu, este teria sido atingido por bala de metal e não de borracha. Essas balas de borracha são verdadeiros canhões. Imaginem V. Exªs uma bala de borracha atirada com um cartucho 12mm, com mais de um centímetro de espessura! É a espingarda que se usa para matar onça na Amazônia ou elefante na África. Foi o que se usou para atingir trabalhadores honestos, pais e mães de família, que nada mais queriam senão aumento salarial, pois estão há cinco anos sem reajuste.  

E esse cretino Secretário de Segurança Pública de Brasília ainda diz na televisão que isso é democracia, é respeito à lei. A obrigação dele era dialogar até o último instante, o que não fez. Comandou pessoalmente a ação da polícia, ordenando que os policiais atirassem nos manifestantes. Nesse episódio houve a morte de um pai de família, dois servidores perderam um olho e vários foram feridos. O Governador Joaquim Roriz, sob pena de ser considerado responsável, de ser considerado um algoz, um assassino, não pode permitir que o Secretário de Segurança Pública continue à frente da Secretaria.  

Existem queixas de que em governos da Esquerda – mencionaram o Governo Cristovam Buarque – houve ações, por determinação judicial, contra manifestantes, para desalojar trabalhadores que ocupavam áreas indevidas. Não se têm notícias, no entanto, de que em um governo da Esquerda a polícia tenha assassinado um trabalhador. Desafio qualquer um a provar isso. Sempre, até a última instância, houve a possibilidade de entendimento, de diálogo, para que não se chegasse a um ato de estupidez como o ocorrido em Brasília ontem.  

O Secretário de Segurança Pública deve ser exonerado. Contra ele deve ser instaurado um inquérito. Ele deve pagar pela morte de um pai de família, pela perda da visão de um olho de dois servidores da Novacap, por ter causado vários ferimentos e pelo constrangimento que sofreram os servidores daquele órgão pertencente ao Governo do Distrito Federal.  

Sr. Presidente, era essa a minha manifestação, trazendo, naturalmente, a minha indignação e revolta diante do acontecido.  

Muito obrigado.  

 


Este texto não substitui o publicado no DSF de 04/12/1999 - Página 33709