Discurso no Senado Federal

CONSIDERAÇÕES SOBRE A MATERIA 'MILAGRE NA FLORESTA' PUBLICADA NA REVISTA VEJA, DESTA SEMANA.

Autor
Gilvam Borges (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/AP)
Nome completo: Gilvam Pinheiro Borges
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
IMPRENSA. ESTADO DO AMAPA (AP), GOVERNO ESTADUAL.:
  • CONSIDERAÇÕES SOBRE A MATERIA 'MILAGRE NA FLORESTA' PUBLICADA NA REVISTA VEJA, DESTA SEMANA.
Publicação
Publicação no DSF de 03/12/1999 - Página 3398
Assunto
Outros > IMPRENSA. ESTADO DO AMAPA (AP), GOVERNO ESTADUAL.
Indexação
  • COMENTARIO, INEXATIDÃO, ARTIGO DE IMPRENSA, PERIODICO, VEJA, ESTADO DE SÃO PAULO (SP), ASSUNTO, DESENVOLVIMENTO ECONOMICO, DESENVOLVIMENTO SOCIAL, ESTADO DO AMAPA (AP).
  • CRITICA, JOÃO ALBERTO CAPIBERIBE, GOVERNADOR, ESTADO DO AMAPA (AP), INEFICACIA, GOVERNO ESTADUAL, MANIPULAÇÃO, OPINIÃO PUBLICA, PROVOCAÇÃO, MIGRAÇÃO, AUMENTO, POBREZA, REGIÃO.

O SR. GILVAM BORGES (PMDB - AP) - Sr. Presidente, Srªs. e Srs. Senadores, a fidelidade da informação é o que confere crédito à notícia e contribui para solidificar o conceito de um veículo de comunicação perante a opinião pública.  

A Revista Veja é, sem dúvida, um desses veículos de grande conceito nacional, mas que acaba pecando algumas vezes ao publicar matérias inverídicas, que não condizem com a realidade. Esta semana, a revista Veja traz matéria que fala de um Milagre na Floresta, referindo-se a uma explosão de desenvolvimento no Amapá.  

Desconhecemos os motivos que levaram o repórter a escrever insanidades sobre o desenvolvimento sócioeconômico do Amapá, em cujo texto o meu Estado é denominado de o Novo Eldorado da Amazônia . 

Qual o preço dessa mentira? Onde o repórter desenterrou tais informações sobre o crescimento industrial do Estado, o aumento de postos, o decréscimo da violência urbana, o decantado canteiro de obras em que Macapá se transformou, o surgimento de novas indústrias, a abertura e o asfaltamento de estradas.  

Se esse milagre existe na floresta amazônica, com certeza ele não está acontecendo no Amapá. Isso só pode ser obra do imaginário do Governador João Alberto Capiberibe, um craque em vender ilusões para o resto do País.  

O Governador, ao insistir no seu Plano de Desenvolvimento Sustentável, que nunca saiu do papel, nenhum progresso trouxe para os amapaenses.  

O emprego cresceu. Mas esse crescimento se deu logo que Macapá implantou a sua Zona de Livre Comércio. No entanto, por falta de incentivos do Estado, da sua inoperância e ineficiência, os 2 mil estabelecimentos comerciais que surgiram com o advento da Zona de Livre Comércio, acabaram por fechar as suas portas ou mudar de ramo. Hoje, pouco mais de 500 estabelecimentos comerciais subsistem em Macapá e Santana vendendo bugingangas importadas da China e da Tailândia.  

Até mesmo os sacoleiros do Pará, Maranhão, Tocantins e Ceará, que antes compravam no mercado macapaense para revender nos seus estados, desistiram dos negócios.  

A matéria diz que a indústria cresceu 33% no ano de 1999 e que o serviço público deixou de ser o maior empregador.  

Como houve crescimento industrial no Amapá se não há sequer um único parque industrial? Se não há incentivo de qualquer natureza por parte do governo do Estado. Se não temos energia elétrica que sustente um parque industrial no Amapá. A nossa hidrelétrica do Paredão aguarda ainda a implantação de mais uma turbina.  

Se não temos parque industrial, como houve esse anunciado crescimento do emprego industrial em 33%, este ano? Que milagre amazônico aconteceu no Amapá para que a iniciativa privada esteja respondendo por quase 70% dos postos de trabalho? Onde está o canteiro de obras que só o repórter da Veja e o Governador do Estado conseguem enxergar?  

Se alguma coisa cresceu em Macapá e Santana foram os bolsões de pobreza. São brasileiros que sem opção de trabalho nos seus estados de origem recorreram ao Amapá, levados por essa propaganda mentirosa e leviana criada pela mente fantasiosa do Governador, de que o Amapá é o novo Eldorado da Amazônia.  

A situação sócioeconômica no Amapá não é diferente do resto do Brasil, com altos índices de desemprego, com bolsões de miséria e pobreza e com a falta de perspectiva de vida.  

Também não é diferente o índice de mortalidade infantil no Estado, porque não há assistência à saúde capaz de prestar atendimento à população carente que chega aos milhares no porto de Santana, em barcos procedentes de Belém, levados por propagandas como essa.  

É natural que onde haja desemprego e falta de assistência social do Estado, cresça o índice de violência.  

Segundo a reportagem a violência caiu e a polícia amapaense, totalmente desaparelhada, passou a receber aulas de cidadania, de teatro e até de tai chi chuan.  

Existem de fato bairros inteiros surgindo do nada, mas sem qualquer assistência governamental, inchados por um crescimento desordenado, muito embora o senhor Capiberibe esteja entrando em seu segundo mandato.  

Esse paraíso amazônico que só aparece aos olhos do Governador do Amapá é fictício, é fantasioso, é demagógico, é enganoso, e nós, amapaenses, sabemos disso.  

Quem dera vivêssemos esse paraíso propalado pelo Governador.  

Nossa única via de ligação com o Caribe, os Estados Unidos e a Europa, a BR-156, ainda é terra pura. Uma estrada pela qual a bancada federal do Amapá tem lutado, em Brasília, na busca de recursos para a sua pavimentação. A reportagem está certa ao dizer que no Amapá não existe estrada, porque a única que temos nunca despertou o interesse do Governador em vê-la asfaltada. Milhares de reais já foram destinados ao Estado para o início da pavimentação da BR-156 e não há apetite político e administrativo do governo do Estado para tocar a obra. Não é sem razão que já pedimos a federalização da rodovia para que o DNER assuma o compromisso de asfaltá-la.  

Há muito tempo que o senhor Capiberibe não asfalta um metro de estrada no Amapá, que beneficie a economia e o desenvolvimento de um Estado pobre como o nosso.  

De economia e de gerenciamento administrativo o Governador só entende quando é para satisfazer a sua ganância e os seus interesses pessoais.  

Queremos fazer um convite aos editores da revista Veja, para que façam uma reportagem isenta e verdadeira sobre a realidade sócioeconômica do Amapá. Isenta de tendenciosidades, de informações perniciosas, da malversação da notícia.  

Que a reportagem vá buscar as informações em fontes merecedoras de crédito, como, por exemplo, a Superintendência da Suframa de Macapá, a Federação das Indústrias, a Associação Comercial do Estado e o próprio povo assentado na periferia de Macapá. Nunca, jamais, de um vendedor de ilusão, como é o caso do Governador João Alberto Capiberibe.  

Quem paga o preço dessa deslavada mentira do Governador? Com certeza é a população do meu Estado, que ainda por muito tempo vai continuar sofrendo na pele a situação cruel e miserável em que está vivendo.  

Era o que tinha a dizer, Senhor Presidente.  

 

ão 5 F


Este texto não substitui o publicado no DSF de 03/12/1999 - Página 3398