Discurso no Senado Federal

COBRANÇA DE MAIOR RIGIDEZ NO TRATAMENTO DOS INTERESSES BRASILEIROS FRENTE AS IMPOSIÇÕES DOS PAISES RICOS NA ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DO COMERCIO.

Autor
Ernandes Amorim (PPB - Partido Progressista Brasileiro/RO)
Nome completo: Ernandes Santos Amorim
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
COMERCIO EXTERIOR.:
  • COBRANÇA DE MAIOR RIGIDEZ NO TRATAMENTO DOS INTERESSES BRASILEIROS FRENTE AS IMPOSIÇÕES DOS PAISES RICOS NA ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DO COMERCIO.
Publicação
Publicação no DSF de 07/12/1999 - Página 33881
Assunto
Outros > COMERCIO EXTERIOR.
Indexação
  • REGISTRO, REALIZAÇÃO, REUNIÃO, ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DO COMERCIO (OMC), PAIS ESTRANGEIRO, ESTADOS UNIDOS DA AMERICA (EUA), COMENTARIO, RESULTADO, AUSENCIA, ATENDIMENTO, INTERESSE, PAIS.
  • CRITICA, PERMANENCIA, MERCADO COMUM DO SUL (MERCOSUL), MOTIVO, REDUÇÃO, INFLUENCIA, BRASIL, BUSCA, INTERESSE NACIONAL.
  • DEFESA, IMPORTANCIA, REFORÇO, GOVERNO ESTADUAL, BUSCA, INTERESSE NACIONAL, COMERCIO EXTERIOR, OBJETIVO, MELHORIA, TRABALHADOR, PAIS.

O SR. ERNANDES AMORIM (PPB - RO. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Sr as e Srs. Senadores, ainda há pouco ouvimos o pronunciamento do Senador Pedro Simon, que falava dos grandes homens da política nacional de alguns anos atrás. Imagino se, amanhã, teremos algo a falar dos homens que ultimamente têm comandado o País.  

Sr. Presidente, faço uso da palavra, por poucos minutos, a fim de discorrer, principalmente, sobre a reunião da Organização Mundial do Comércio (OMC) que se realizou há pouco e na qual nada se definiu. E, se tivesse que haver alguma definição, seria contra os interesses do Brasil. Imagino que o Itamaraty, na pessoa do Ministro das Relações Exteriores, quando participa de reuniões desse tipo, muda de camisa. Em vez de defender os interesses nacionais, de brigar pela autonomia nacional, pelo desenvolvimento do País, aceita todas as imposições dos países ditos do Primeiro Mundo, dos países desenvolvidos. E o Brasil, de joelhos, volta para casa e aceita imposições que vêm, principalmente, de encontro aos anseios do trabalhador, do homem do campo, da agricultura, do desenvolvimento agroindustrial. E como subordinado a essa política que considero criminosa, a de dar vantagens para os países desenvolvidos, o Brasil assiste a seus agricultores saírem da área agrícola para povoarem a periferia, os túneis, os viadutos, vivendo em condições subumanas e precárias, porque as autoridades brasileiras, até hoje, ainda não tomaram posições firmes para defender os interesses de quem trabalha neste País.  

Nessas reuniões, os representantes do nosso País se submetem a todas as imposições internacionais. Os estrangeiros chegam a Brasil dizendo que não podemos desmatar e só nos emprestam dinheiro a juros altíssimos. Todavia, quando investem no País, recebem total apoio do BNDES na compra de nosso parque industrial, do qual fazem parte nossas empresas que dão lucro. Fico pasmado de ver tantos que se dizem grandes políticos, como o próprio Presidente da República, aceitando esse tipo de imposição.  

Imagine, Sr. Presidente, que na agricultura os países estrangeiros procuram incentivar o plantio da soja, desmatando os sertões para produzi-la. Mas, produzir a soja para quê? Para exportar barato para o Canadá e outros países com a única finalidade de alimentar porcos e vacas. Às vezes, de lá exportam para o Brasil o leite subsidiado do gado que come a soja brasileira. Desmata-se escancaradamente para atender aos interesses internacionais. Para criar as vacas e os porcos dos gringos podemos desmatar, não há problemas. Não se vê as autoridades brasileiras, por exemplo o Itamaraty, exigirem que os recursos sejam investidos no País, que se plante a soja e que esta seja industrializada aqui mesmo. A soja deve alimentar nosso gado. Devemos ter condições de exportar leite, carne e seus derivados. Não podemos exportar matéria-prima para alimentar uma minoria em detrimento de milhares de trabalhadores que não conseguiram oportunidade de produzir. Por que não conseguiram produzir? Porque o dinheiro é caro, a agiotagem que a área econômica suporta é criminosa para o agricultor. É necessário que haja mudanças. Devemos ter coragem para mudar. Precisamos chegar às mesas de negociação e dizer que o Brasil não vai aceitar imposições e que nós vamos desmatar a Amazônia - por que não? Não vamos aceitar leis ambientais que só atendem aos interesses internacionais.  

Sr. Presidente, para plantar feijão, milho e arroz na Amazônia não se pode desmatar. Todavia, desmatar todo o cerrado para plantar soja a fim de atender aos interesses dos americanos, mecanizar tudo, aí sim, pode, pois assim eles ficam satisfeitos porque alimentam os seus porcos e as suas vacas. Nós, quando queremos um pouco mais de leite, temos de comprá-lo da Argentina, dos países vizinhos.  

Quanto ao Mercosul, é uma vergonha mantê-lo. O Brasil está sendo subserviente aos interesses dos países vizinhos, principalmente as Regiões Norte e Nordeste que não participam do pacote de negociação como os que moram em São Paulo. O Mercosul só interessa aos grandes empresários de São Paulo porque estão negociando com argentinos e uruguaios, que vendem o que interessa a quem mora em São Paulo e às grandes empresas. Na realidade, a nossa Rondônia está abandonada, o Nordeste tem capacidade de produzir e não tem recebido o apoio necessário.  

Penso que está na hora de o Governo brasileiro, por intermédio do Itamaraty, do Ministério das Relações Exteriores, principalmente, quando estiver defendendo os interesses brasileiros, vestir a camisa brasileira para somar e apoiar quem trabalha. Do contrário, criando a renda mínima e a possibilidade de dar alimentação a quem não está trabalhando, a tendência será aumentar o número de pessoas interessadas em não trabalhar. Será uma minoria trabalhando para dar comida a uma maioria.  

Este Brasil precisa ser repensado. Não sou economista, não sou letrado, mas qualquer cidadão pode olhar este País e ver que está tudo errado.  

O BNDES dará 400 bilhões para uma empresa de telefonia, mais outros bilhões para a Ford fabricar carros. Já temos carros demais para poucas estradas. O BNDES, em vez de vender empresas de energia que dão lucro, que não precisam ser vendidas, tem de investir, sim, na geração de mais energia. O BNDES tem de mudar urgentemente sua política, apoiando outros projetos para gerar emprego.  

Sr. Presidente, são essas as observações que desejava fazer. Oxalá amanhã o Governo Fernando Henrique Cardoso, sua área econômica e seu Ministro das Relações Exteriores sejam valentes mesmo, brigando pelas cores deste Brasil, e que imponham respeito lá fora para que tenhamos possibilidade de trabalhar. Do contrário, só há uma saída, pedir empréstimos externos apenas com a finalidade de comprar comida para alimentar os desempregados que aumenta a cada dia. As falências ocorrem a cada minuto. Desse jeito, o Brasil está a caminho, sim, do buraco e não do desenvolvimento.  

Muito obrigado.  

 


Este texto não substitui o publicado no DSF de 07/12/1999 - Página 33881