Discurso no Senado Federal

HOMENAGEM AOS CINQUENTA ANOS DE FUNDAÇÃO DA LEGIÃO DA BOA VONTADE - LBV.

Autor
Romero Jucá (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/RR)
Nome completo: Romero Jucá Filho
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • HOMENAGEM AOS CINQUENTA ANOS DE FUNDAÇÃO DA LEGIÃO DA BOA VONTADE - LBV.
Publicação
Publicação no DSF de 10/12/1999 - Página 34336
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM, ANIVERSARIO DE FUNDAÇÃO, ENTIDADE, ASSISTENCIA SOCIAL, REGISTRO, AMPLIAÇÃO, ATUAÇÃO, BRASIL, MUNDO, ATENDIMENTO, POPULAÇÃO CARENTE.

O SR. ROMERO JUCÁ (PSDB - RR) - Sr. Presidente, Srªs. e Srs. Senadores, "Promover a fraternidade real em bases cristãs universalistas", esse o lema que orientou Alziro Zarur a fundar, na cidade do Rio de Janeiro, no dia 1º de janeiro de 1950, a Legião da Boa Vontade, a LBV, uma entidade religiosa que se caracteriza fundamentalmente pelo ecumenismo e pelo zelo ao próximo, de modo especial ao mais necessitado. Iniciada com a sopa dos pobres distribuída à população carente da antiga Capital da República, essa instituição cresceu sem cessar, expandindo e ampliando sua atuação. Isso ocorreu, podemos ter certeza, por valorizar o ser humano pelo que é – independentemente de credo, de cor, de raça e de nível social – e por colocar-se ao lado dos excluídos, lutando contra as várias formas de injustiça.  

Impulsionada por esse lema, e a ele sendo permanentemente fiel, a LBV encontrou campo fértil para executar a nobre tarefa a que se impôs. Isso não ocorreu apenas no Brasil; mercê da universalidade de sua mensagem e de seus propósitos, sua atuação ganhou o mundo. Sua presença já pode ser sentida em países como Argentina, Bolívia, Paraguai, Uruguai, Portugal e Estados Unidos.  

Especialmente neste final de século – quando a crise de valores ganha contornos monumentais, fazendo que a individualidade seja sufocada pelo exacerbado individualismo e que a ânsia pelo êxito material a tudo suplante – a doutrina legionária mais precisa ecoar. Em meio a tantas incertezas e perplexidades que caracterizam o mundo contemporâneo, uma entidade como a LBV desempenha papel de absoluto relevo e de valor exponencial: ajuda as pessoas a encontrarem não os atalhos, mas o caminho que leva à transcendência, ao mesmo tempo em que alicerça os princípios cristãos da solidariedade, da fraternidade e do amor ao próximo, humanizando-as.  

Ao completar seu primeiro cinqüentenário de existência, a Legião da Boa Vontade rejuvenesce-se a cada dia. Julgo que isso se deva à permanência de seus princípios. Como falam à alma dos "homens de boa vontade", isto é, aos que se dispõem a viver em comunhão com o Pai e com todos os irmãos, esses princípios são eternos. Ao manter rigorosa fidelidade a esse ideário que justificou sua criação, a LBV agiganta-se pela coerência em sua ação. Daí, o respeito e o reconhecimento públicos, vindos de todas as camadas da população, que granjeou ao longo de todos esses anos.  

Sob a lúcida e luminosa liderança de José de Paiva Neto, seu Diretor-Presidente, a Legião da Boa Vontade persevera em sua trajetória, construindo uma obra notável, especialmente voltada para a Educação, a Cultura, a Saúde e o Trabalho. Em todos esses setores, em todos os seus ramos de atividade, uma só base de sustentação: a Espiritualidade.  

Exatamente por sempre ter tido uma visão global da Humanidade, a LBV, conquanto genuinamente brasileira e visceralmente comprometida com nossa gente, cedo percebeu que seus objetivos maiores – justificadores, enfim, de sua existência – somente poderiam ser alcançados se tivesse a capacidade de vencer fronteiras. Assim o fez, assim o faz.  

Não por acaso, foi a primeira organização brasileira a associar-se ao Departamento de Informação Pública das Nações Unidas. Não por acaso, ela é hoje uma das mais ativas lideranças na proposta de criação do Fórum Espiritual da ONU. Nada mais lógico, pois, que esteja presente em diversos países, mantendo, na atualidade, mais de 550 seções de atendimento ao público de várias nacionalidades. Assim, falar agora em "LBV Mundial" é algo que soa com naturalidade e pertinência.  

Como bem lembrou Paiva Neto, em texto recentemente publicado, a milenar cultura chinesa, com sua serena sabedoria, de certa maneira foi incorporada pela LBV e sustenta seu trabalho. A esse respeito, Paiva Neto referia-se à máxima de Confúcio, segundo a qual "não basta dar o peixe, é preciso ensinar a pescar". Lembro-me de outra, que Mao Tsé Tung gostava de repetir: "Por maior e mais longa que seja a marcha, tudo começa com o primeiro passo."  

Pois bem, Sr. Presidente, Srªs. e Srs. Senadores, eis aí a razão de ser da Legião da Boa Vontade. Teve a coragem e a ousadia de dar o passo inicial, há cinqüenta anos, no sublime esforço de arrancar da miséria material e da indigência espiritual milhões de irmãos brasileiros. Indo muito além, teve clareza quanto à metodologia do trabalho que iria executar: pela assistência educacional e cultural – espargindo luzes sobre as trevas do analfabetismo –, pelo atendimento à saúde e, muito especialmente, pelo esforço redobrado de oferecer a necessária preparação para o trabalho, a LBV não tem feito outra coisa senão "ensinar a pescar" em vez de oferecer o peixe; formar cidadãos, com plena consciência de seus direitos e dos deveres que têm para com a sociedade.  

Esse compromisso nuclear da LBV não a impede, por exemplo, de atuar de forma emergencial. Quem de nós não se recorda da desoladora paisagem nordestina do segundo semestre de 1998, impiedosamente marcada pelo flagelo de uma seca prolongada? Pois bem, lá estava a LBV, assumindo papel de frente na coleta de alimentos que pudessem aplacar a fome de tantos e tantos brasileiros. Refiro-me à campanha por ela conduzida, em parceria com a Rede Bandeirantes de Rádio e Televisão, que sensibilizou o País por inteiro. Em pouco tempo, a Campanha SOS Nordeste arrecadou e distribuiu a milhares de famílias carentes atingidas pela forte estiagem mais de quatro milhões e cem mil quilos de gêneros alimentícios.  

Sr. Presidente, Srªs. e Srs. Senadores, há, nessa trajetória de cinqüenta anos da Legião da Boa Vontade, um aspecto que me parece essencial, referência básica de todo seu trabalho, e que, por isso mesmo, vejo-me na contingência de ressaltar. Refiro-me ao seu princípio filosófico matricial, em função e a partir do qual se enquadram todas suas atividades: a Espiritualidade Ecumênica, que tem no Templo da Boa Vontade, erigido aqui em Brasília, provavelmente sua mais perfeita tradução.  

Conhecido como Templo do Ecumenismo Irrestrito, por transcender as fronteiras religiosas e por permear os mundos material e espiritual, tem o Templo da Boa Vontade uma função muito especial. Nas palavras de seu idealizador e construtor, José de Paiva Neto, " a missão do Templo da Paz é infinitamente mais ampla, porque adentra o território do Invisível, o Mundo Espiritual, não como algo abstrato, mas como realidade concreta, cuja aceitação resultará numa extraordinária renovação da Humanidade".  

Ao finalizar este pronunciamento, faço minhas as palavras de Paiva Neto, quando se refere ao simbolismo do Templo da Boa Vontade: "Na elevada ambiência do Templo do Ecumenismo Irrestrito, as nossas orações não são movidas pela fé cega, mas, sim, pela convicção plena de que o exercício da prece vai preparar-nos, colocando-nos em sintonia com o Governo Invisível da Terra, para melhor atuar em cada um desses campos de vida humano-espiritual, transformando o mundo, de acordo com a soberana vontade de Deus, que a tudo dirige."  

Essa, a síntese da LBV. Uma LBV de amor, fraternidade, solidariedade e espiritualidade ecumênica. A LBV que admiramos e que o Brasil tanto reconhece!  

Muito obrigado.  

 


Este texto não substitui o publicado no DSF de 10/12/1999 - Página 34336