Discurso durante a 177ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

REFLEXÕES SOBRE O PARTIDO DA FRENTE LIBERAL E AS TENDENCIAS PARA O FUTURO.

Autor
Francelino Pereira (PFL - Partido da Frente Liberal/MG)
Nome completo: Francelino Pereira dos Santos
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA PARTIDARIA.:
  • REFLEXÕES SOBRE O PARTIDO DA FRENTE LIBERAL E AS TENDENCIAS PARA O FUTURO.
Publicação
Publicação no DSF de 10/12/1999 - Página 34427
Assunto
Outros > POLITICA PARTIDARIA.
Indexação
  • REGISTRO, ENCONTRO, AMBITO INTERNACIONAL, PROMOÇÃO, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DA FRENTE LIBERAL (PFL), REUNIÃO, BRASILIA (DF), DISTRITO FEDERAL (DF), PARTICIPAÇÃO, REPRESENTANTE, AMERICA LATINA, PAIS ESTRANGEIRO, ESPANHA, PORTUGAL, OBJETIVO, REFORÇO, POLITICA PARTIDARIA.

O SR. FRANCELINO PEREIRA (PFL - MG) - Sr. Presidente, Srªs. e Srs. Senadores, daqui a 10 mil anos, o idioma inglês já não existirá ou, na melhor das hipóteses, será mais uma das chamadas línguas mortas.  

Essa previsão transformou-se em notícia, faz alguns anos nos Estados Unidos, ao ser anunciado um novo tambor para enterrar detritos nucleares, cuja durabilidade poderia chegar exatamente a 10 mil anos, quando, então, os dizeres de alerta nele impressos, em inglês, não seriam entendidos pelas gerações vindouras.  

Essa imagem, que aparentemente nada tem a ver com política, foi usada pelo lider do meu partido, Senador Hugo Napoleão, nessa última sexta-feira, por ocasião da Reunião Preparatória para o Seminário Os Novos Modelos Partidários da Europa e Ibero-America, realizado em Brasília.  

A alusão, ainda segundo o Senador Hugo Napoleão, tem procedência.E, para reforçá-la, lembrou que " o meu idioma, o português, como o sonoro espanhol de muitos dos presentes a este encontro, além do italiano, eram Latim há 2 mil anos. Hoje, o Latim é uma mera lembrança."  

Tais referências serviram para ilustrar o significado do encontro internacional que o meu partido promoveu no final de semana, reunindo em Brasília representantes de partidos da América Latina, da Espanha e de Portugal, ao todo 12 países, com vistas a estruturar nossas agremiações de forma a torná-las fortes, modernas, vanguardistas e sempre em atualização. Em outras palavras, instituições permanentes, em contínuo processo de modernização.  

De fato, como todos sabemos, nossos partidos políticos precisam se preparar para os desafios do novo milênio e, assim, evitar que, no futuro, não sejam entendidos.  

Isso é exatamente o que começa a fazer o Partido da Frente Liberal, pelo seu Instituto Tancredo Neves. Primeiro, o Seminário de Brasília, a que estou fazendo menção. Na següência, já estão programados outros encontros semelhantes, a se realizarem ao longo do ano 2000, em nível nacional e internacional.  

Desse encontro participaram representantes de 11 países, além do Brasil. Ali estiveram para essa troca de experiências dirigentes partidários e parlamentares do Brasil, Portugal, Espanha, Argentina, Uruguai, Chile, Equador, Costa Rica, Colômbia, Paraguai, Bolívia e México.  

Eis aí, pois, o PFL em sua arrancada para o amanhã, que começa daqui a pouco, no terceiro milênio, uma fase que deverá se caracterizar por gigantescas exigências e de desafios ainda maiores.  

O Encontro de Brasília significa a conscientização de que nos novos tempos será necessário, mais do que nunca, voltarmos nossas atenções para o terreno do social. E bem sabemos que a preocupação com o social é uma forte característica do liberalismo. E por isso somos sociais-liberais.  

Nesse primeiro encontro, o Presidente de meu partido, Senador Jorge Bornhausen, lembrou que o PFL ali se fazia presente, com representantes de 12 países, com o intuito de buscar parcerias para trilhar nos tempos futuros,  

O objetivo é comum a todos os demais partidos, isto é, tornar-se uma agremiação política habilitada para a nova vida internacional decorrente de um mundo globalizado.  

Nesse sentido, como ficou definido, o PFL inscreve-se já agora e no amanhã de meu País como partido de centro-reformador, formando parcerias com a linha da Democracia Cristã Popular. E internacional.  

A idéia que o meu partido adota, coerente com esses novos tempos, é a de somar, integrar e aprender, para que, a partir desse trabalho, se estabeleça uma política comum em favor das populações do continente.  

Quanto aos debates propriamente ditos, que se desenvolveram ao longo de toda a sexta-feira, o Senador Bornhausen manifestou a convicção de que aquele era um encontro extremamente válido para a troca dessas opiniões que ora comento, entre parlamentares de todos os países ibero-americanos.  

Como resultado, todos os participantes certamente dali sairam mais irmanados, para trabalhar juntos, visando a um mundo mais justo.  

Na ocasião, o presidente do Instituto Tancredo Neves, Deputado Vilmar Rocha assinalou que, somente agora, superado o último ciclo autoritário, se tornou possível a criação de condições para a vida partidária no Brasil.  

Como lembrou o representante de Goiás, de 1979 - quando o País reiniciou um novo ciclo partidário - até hoje, foram anos de intenso aprendizado político e de provação para a própria estabilidade institucional brasileira.  

Nesse contexto, o PFL trilhou papel decisivo, iniciando-se como Frente Liberal para, a seguir, transformar-se no atual PFL, na verdade realizando uma obra de engenharia política e, assim, contribuir para o retorno mais efetivo do Brasil à democracia.  

O momento, como foi lembrado, sugere uma reciclagem que nos leve a uma identidade política baseada no eixo programático centro-reformista, cuja estruturação cabe ao Instituto Tancredo Neves.  

A tarefa a que se propõe o Partido da Frente Liberal é ousada, árdua e exige muita dedicação de seus integrantes, sobretudo diante do fantástico avanço da tecnologia, cujos reflexos de imediato influem sobretudo no comportamento da vida econômica e na própria vida do cidadão.  

Nosso partido está alerta e consciente de que ficar inerte significaria decretar sua falência, com o conseqüente descrédito da atividade partidária como um todo.  

O imobilismo fatalmente tornaria o partido irreconhecível no amanhã do País e do mundo globalizado. Daí porque, ao contrário, muito ao contrário, a tarefa para qual o PFL se volta é a da busca de meios para que o Partido logre inserir-se como ente indispensável e atue como interlocutor no imprescindível diálogo entre as populações e o Estado.  

Com o pensamento firmemente voltado para a realidade construída pelos novos tempos, a orientação do Partido da Frente Liberal é essa, da democrática via da troca de experiências com agremiações partidárias ibero-americanas. São agremiações de países, em sua maioria, com inquietações assemelhadas às nossas.  

Nesse primeiro contato, foi possível constatar que os problemas, as angústias e as expectativas dos partidos do continente, como, numa escala ampliada, os de toda a comunidade ibero-americana, são os muito parecidos. A crise parece ser a mesma, pelo que as soluções igualmente devem ser compartilhadas.  

Como notou, a propósito, o Presidente do Partido da Democracia Popular Cristã do Equador, Ramiro Molina, o atual questionamento que se coloca diante da atividade política envolve uma demanda permanente de novos conteúdos e de uma sólida ética, do contrário a política jamais chegará a ser o que verdadeiramente desejam os cidadãos.  

Como outros representantes latino-americanos, Ramiro Molina traçou as linhas gerais que devem compulsoriamente ser abraçadas pelos partidos políticos, para que, ao chegar ao poder, ofereçam às comunidades serviços públicos eficientes, boa gestão e um compromisso democrático caracterizado pela transparência e por princípios que orientem corretamente a ação dos homens e dignifiquem a convivência social.  

Palavras de conteúdo assemelhado e em sintonia com a realidade presente, foram proferidas pelo Deputado José Maria Robles Fraga, Secretário-Geral da Fundação Popular Iberoamericana, que copatrocinou o encontro de Brasília.  

O parlamentar espanhol (Partido Popular) indicou que a linha de centro-reformador tem como característica principal a construção de regimes políticos e econômicos estáveis para a geração de empregos.  

Aliás, não é por acaso que o meu partido adotou, como bem define seu Presidente Jorge Bornhauseun, o binômio crescimento e empregos . 

O que, porém, seria necessário para esse fim ? Quem responde ainda é o Secretário-Geral da Fundação Popular Iberoamericana, ao sustentar que, para vencer os desafios do mundo globalizante, os partidos precisam ter idéias e dispor de uma sólida estrutura para defendê-las e aplicá-las.  

Um partido moderno , diz ele, não deve resistir às mudanças, mas guiá-las !  

Sim, Senhoras e Senhores Senadores, precisamos adotar as boas idéias, acolher as mudanças e guiá-las para o bem do povo.  

Isto significa traçar os caminhos pelos quais devem as mudanças percorrer.  

Só assim estaremos efetivamente interpretando adequadamente a nova realidade global. É´ preciso, pois, interpretar – e interpretar bem - os projetos nacionais e internacionais.  

Para atingir esse objetivo, a democracia dos partidos apresenta-se como uma democracia que devemos preparar.  

Saúdo, assim, com entusiasmo, a iniciativa do Partido da Frente Liberal, solidamente apoiada pelo Instituto Tancredo Neves, por essa moderna e mais do que nunca necessária incursão na modernidade.  

E, ao expressar essa saudação, recorro a uma frase proferida no encontro de sexta-feira pelo Vice-Presidente do Partido Popular Democrático de Portugal, Diogo Vasconcelos.  

Disse ele: O que diferencia os países mais ricos dos países mais pobres chama-se Cultura Política . 

Ele ainda complementa:  

"E uma cultura política liberal, sem dúvida, vai ajudar a criar riquezas."  

Para esse fim, no entanto, precisamos encontrar propostas concretas, adaptadas ao mundo de hoje. Que funcionem a contento e correspondam aos anseios do povo.  

Um partido, como, por último, notou o representante de Portugal, tem que acompanhar as mudanças e, assim, habilitar-se a dar respostas às populações. O caminho não é difícil: precisamos apenas exercitar nossas atividades partidárias com transparência e democracia, características fundamentais para um partido moderno.  

Srªs. e Srs. Senadores, o encontro internacional que o PFL, em boa hora, realizou em Brasília é uma demonstração de que nossa agremiação rejeita o imobilismo e não se satisfaz apenas com as atividades publicitárias que antecedem as eleições.  

Ao buscar parceiros para aclarar idéias e formular projetos coerentes com a atualidade nacional e mundial, meu partido deixa evidente que também não nos conformamos apenas em ter bancadas expressivamente numéricas na Câmara dos Deputados e no Senado Federal.  

Os debates dessa sexta-feira foram abertos, transparentes, com autocrítica da nossa trajetória, mas também com afirmações de fé e confiança no futuro. Foi, por exemplo, o que assinalou o deputado Vicente Martinez, do Partido Popular da Espanha, ao declarar que "

os partidos sempre ofereceram as melhores soluções no passado e, também, as tem para o futuro."  

Ao reconhecer que a globalização não é apenas econômica, mas também social e humana, Martinez afirmou que, se lhe perguntam se os partidos políticos são capazes de buscar soluções, responde que sim. 

E, para arrematar, sustentou que os partidos políticos não devem se limitar a usar palavras boas ou otimistas. Afinal, o que há no seio da sociedade são inquietações e nós, políticos, somos partícipes dessas inquietações...  

O momento escolhido pelo PFL para se lançar a esses estudos avançados é o mais oportuno, uma vez que já divisamos as luzes do novo milênio.  

A parceria, a troca de experiências, como a que nosso partido começa a alavancar, remetem-nos a um futuro mais radiante, tão iluminado como o que promete o novo milênio. Nele, as nossas estruturas partidárias devem se mostrar aptas a interpretar as reivindicações sociais, oferecendo à Nação as melhores soluções. Mas, além disso, também guiar as mudanças.  

Como ficou muito claro no encontro de Brasília, devemos ser menos teóricos e mais executivos, para saber o que o povo deseja !  

Os partidos precisam estar em sintonia com as realidades, para que, mudando-se a si próprios, eles possam conduzi-las.  

Andar em caminho contrário seria correr o mesmo risco que os cientistas norte-americanos revelaram ao temer o desaparecimento do idioma inglês daqui a 10 mil anos.  

 

Muito obrigado.  

 

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Este texto não substitui o publicado no DSF de 10/12/1999 - Página 34427