Discurso durante a 181ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

CONSIDERAÇÕES SOBRE OS EMPRESTIMOS CONCEDIDOS A EMPRESAS ESTRANGEIRAS PELO BNDES E KFW - BANCO ALEMÃO.

Autor
Ernandes Amorim (PPB - Partido Progressista Brasileiro/RO)
Nome completo: Ernandes Santos Amorim
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
BANCOS.:
  • CONSIDERAÇÕES SOBRE OS EMPRESTIMOS CONCEDIDOS A EMPRESAS ESTRANGEIRAS PELO BNDES E KFW - BANCO ALEMÃO.
Publicação
Publicação no DSF de 16/12/1999 - Página 35173
Assunto
Outros > BANCOS.
Indexação
  • ANALISE, CRITICA, PROJETO DE LEI, AUTORIZAÇÃO, UNIÃO FEDERAL, GARANTIA, EMPRESTIMO, BANCO NACIONAL DO DESENVOLVIMENTO ECONOMICO E SOCIAL (BNDES), BANCO ESTRANGEIRO, FINANCIAMENTO, EMPRESA MULTINACIONAL, AQUISIÇÃO, EMPRESA ESTATAL, SETOR, ENERGIA ELETRICA, BRASIL.

O SR. ERNANDES AMORIM (PPB - RO) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, hoje, termina o prazo de emendas em Projeto que autoriza a União garantir empréstimo de 150 milhões de dólares entre o BNDES e o KFW - Banco Alemão.  

Sobre essa questão, lembro que há poucos dias o Presidente do BNDES justificou empréstimos da instituição a empresas multinacionais, para financiar a aquisição de empresas públicas do setor elétrico, dizendo que o Banco teria disponibilidade porque a captação de recursos no exterior estaria favorável.  

Quer dizer, na verdade, estamos autorizando a captação de recursos para o BNDES continuar emprestando a multinacionais interessadas na compra de empresas públicas.  

Eu não sou economista. Na verdade, já vendi banana na feira, comprei e vendi feijão, madeira, café, cacau. Comprei minério e vendi estanho, e agora tenho comprado boi e vendido carne. Mas tem algo nessa política que não está certo.  

A idéia da privatização foi vendida com argumento de que permitiria investimentos externos. O que era necessário, pois não tínhamos poupança interna, e era preciso reservas de dólares para assegurar a estabilidade do real, no primeiro momento. Até a adoção das reformas que modificariam a estrutura da economia brasileira.  

Então, colocamos o patrimônio nacional à venda.  

Mas agora, para realizar essa venda, estamos precisando de emprestar dinheiro às empresas multinacionais, e tomar esse dinheiro emprestado no exterior, em dólar.  

Qual o custo dessa operação? Não estou dizendo da diferença entre o juro pago pelo BNDES, e o juro recebido. Não é isso.  

Mas o custo para o Brasil.  

Primeiro, o desemprego dos técnicos qualificados, substituídos por outros, que essas empresas trazem de seus países de origem.  

Segundo, o aumento da dívida externa. Ao invés da multinacional tomar o dinheiro emprestado no exterior, quem faz a operação é um banco oficial. Então, a dívida em dólares é desse Banco, com garantia do Governo. Não daquela empresa, que ficou devendo em real.  

Aí, esse dólar fica disponível nas reservas cambiais do Brasil, e é usado pela própria empresa beneficiada, para enviar seus lucros à matriz. Lá fora.  

Mas vamos precisar pagá-los. Então tomaremos mais dólares emprestados, subordinando nossa economia às regras de desemprego e recessão do FMI. E mantemos a política de juros altos para atrair os investidores internacionais, aumentando cada vez mais o percentual do orçamento no pagamento da dívida pública.  

Quer dizer, continuar essa atitude, esse comportamento, é cavar a sepultura do Brasil. Nada justifica tomar dólares emprestados no exterior para emprestar a empresas do exterior comprarem as empresas nacionais.  

O custo não é só o juro. Tem todo o impacto na economia para viabilizar o ingresso da moeda que vai sair no pagamento do principal, dos encargos, e dos lucros que o empréstimo propiciar à empresa beneficiada.  

Sei que não adianta querer impedir a operação. Sei que ainda está arraigada a visão simplista de que todo empréstimo externo é bom, porque possibilita o ingresso de dólares.  

Mas quero deixar minha manifestação, e lembrar que ainda em 1995 e 1996, quando reclamava da facilidade com a qual se rolava a dívida dos Estados, fui criticado. E depois, quando essas dívidas foram refinanciadas pela União, e viram o tamanho do estrago, me deram razão. E, da mesma forma, se hoje minha posição não é entendida, tenho certeza que o futuro dirá que estou certo.  

Muito Obrigado.  

 


Este texto não substitui o publicado no DSF de 16/12/1999 - Página 35173