Discurso durante a 13ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

REPUDIO A REPORTAGEM DA REVISTA ISTOE, QUE ENVOLVE O NOME DE S.EXA. A GRUPOS CRIMINOSOS NO ESTADO DO ESPIRITO SANTO.

Autor
Gerson Camata (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/ES)
Nome completo: Gerson Camata
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
IMPRENSA.:
  • REPUDIO A REPORTAGEM DA REVISTA ISTOE, QUE ENVOLVE O NOME DE S.EXA. A GRUPOS CRIMINOSOS NO ESTADO DO ESPIRITO SANTO.
Aparteantes
Amir Lando, Arlindo Porto, Eduardo Suplicy, Francelino Pereira, Gilvam Borges, Hugo Napoleão, Jader Barbalho, José Fogaça, José Roberto Arruda, Leomar Quintanilha, Luzia Toledo, Ney Suassuna, Paulo Hartung, Pedro Simon, Roberto Requião, Roberto Saturnino.
Publicação
Publicação no DSF de 27/01/2000 - Página 1051
Assunto
Outros > IMPRENSA.
Indexação
  • CRITICA, ARTIGO DE IMPRENSA, PERIODICO, ISTOE, ESTADO DE SÃO PAULO (SP), REFERENCIA, DENUNCIA, PARTICIPAÇÃO, ORADOR, CRIME ORGANIZADO, FUNDAMENTAÇÃO, DOCUMENTO, RESPONSABILIDADE, POLICIA ESPECIAL, ESTADO DO ESPIRITO SANTO (ES).
  • ALEGAÇÕES, EXISTENCIA, CARTA, AUTORIA, OSCAR CAMARGO, SUPERINTENDENTE, APOSENTADO, POLICIA FEDERAL, DESTINAÇÃO, PERIODICO, ISTOE, ESTADO DE SÃO PAULO (SP), REFERENCIA, ESCLARECIMENTOS, AUSENCIA, INDICIAMENTO, MINISTERIO PUBLICO, ESTADO DO ESPIRITO SANTO (ES), POSSIBILIDADE, PARTICIPAÇÃO, ORADOR, TRAFICO, DROGA.
  • SOLICITAÇÃO, JOSE INACIO, GOVERNADOR, ESTADO DO ESPIRITO SANTO (ES), ABERTURA, INVESTIGAÇÃO, AUTORIA, DOCUMENTO, REFERENCIA, ACUSAÇÃO, ORADOR, PARTICIPAÇÃO, CRIME ORGANIZADO.

            O SR. GERSON CAMATA (PMDB - ES. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, nós que militamos na vida pública convivemos quase que diariamente, semanalmente, mensalmente com anjos e demônios. Recebemos daqueles que representamos um elogio quando conseguimos um recurso para o Estado, quando aprovamos um projeto de lei ou melhoramos a legislação do País. Os demônios, terríveis, são aqueles que de vez em quando fustigam, atacam e, escondidos na moita, na sombra, atiram-nos injúrias mais infamantes do que podemos suportar.

            Esta semana estou convivendo com demônios. A revista IstoÉ, que ultimamente vem desfechando violentos ataques contra políticos capixabas e contra o Estado do Espírito Santo, publica uma matéria na qual me aponta para a Nação como integrante de uma organização criminosa do Estado. E me apresenta em uma fotografia em que o Ministro da Defesa leva um tiro, uma outra personalidade leva dois tiros e eu, três. E faz acusações, Sr. Presidente, Srªs. e Srs. Senadores, baseadas em um documento que não existe. Apresenta como base da execração que faz contra mim um boletim secreto que teria sido redigido pela PM2 - Polícia Secreta do Estado do Espírito Santo, em 1989.

            Segundo a revista, o boletim é baseado em informação que teria sido passada à PM2 pelo então Delegado da Polícia Federal no Espírito Santo, Dr. Oscar Camargo. A revista traz minha fotografia na capa e me ataca moralmente, e tudo é baseado nesse papel.

            Vejam V. Exas - tive acesso ao tal papel -, o documento não tem nenhuma assinatura; apenas um carimbo secreto. Ninguém o redigiu; ninguém se responsabiliza por ele. O documento, covarde, apócrifo, num determinado momento, depois de fazer as acusações, traz uma frase que revela a malícia com que a argumentação foi engendrada. O escritor desse boletim apócrifo atribui as informações sobre mim ao Dr. Oscar Carvalho, da Polícia Federal.

            Leio: “Como não apresentou nada de concreto, apenas acusações sem provas, que provocaram reações, o desgaste da figura do Superintendente da Polícia Federal é inevitável”.

            Será que aqueles que levaram esse documento ao repórter não lhe mostraram que, além de não ter assinatura e ser falso, continha a ressalva de que não havia nenhuma prova? Será que enganaram o repórter da Revista? Ou será que o repórter omitiu - e aí é grave - a existência desse parágrafo que diz que não há nenhuma prova?

            Não pára aí. Entre as inúmeras manifestações que venho recebendo durante toda a semana, de autoridades, de todo mundo, fui surpreendido por uma carta que o Delegado da Polícia Federal, Dr. Oscar Camargo, que é citado como autor do documento, manda para a revista IstoÉ. A ele é atribuída a autoria do documento falso. E o Delegado da Polícia Federal do Espírito Santo, que é aposentado e estava em São Paulo, manda uma carta para a Revista Isto É, a qual tive acesso. Passo a ler a cópia:

            “Na condição de Superintendente Regional do Departamento da Polícia Federal do Espírito Santo, fiz cumprir determinação ministerial no sentido de averiguar atividades relacionadas ao narcotráfico, furto de veículos e crimes e mandos em ocorrência naquele Estado nos idos de 1989.”

            E vai historiando:

                  “Dessa forma, todo o trabalho investigativo que resultou da notícia-crime foi imediatamente comunicado à autoridade judiciária competente, estadual e federal, através de inquéritos policiais, todos devidamente fiscalizados e acompanhados por representantes do Ministério Público, em razão do alcance e da amplitude das investigações.”

            E diz aqui o Delegado, a quem é atribuída toda essa ignomínia, essa infâmia, essa lama que atiraram sobre mim:

            “Em nenhum momento de tais investigações, amplamente divulgadas, esbarram no nome do ilustre Senador Gerson Camata, de invejável e ilibada carreira política no Estado. O nome do destacado político não constou em nenhum procedimento investigatório remetido à Justiça e a meu saber na condição ou de indiciado ou de investigado.”

            Então, vejam Vossas Excelências. Produziram um documento falso, sem assinatura, repito, baseado na declaração de um delegado que nunca fez as declarações e que foi à Revista esclarecer que são falsas, porque nunca fui sequer indiciado ou investigado, e proclamar minha vida política ilibada.

            Sr. Presidente, isso esconde, no atual regime democrático brasileiro, distorções gravíssimas. Observe V. Exª: no período dos militares, fui radialista, jornalista e político. Tive oportunidade de visitar companheiros presos nos quartéis, mas nunca um Delegado de Polícia Federal ou um Comandante Militar julgou-me terrorista porque visitei alguém acusado de terrorismo, ou acusou-me de subversivo porque visitei alguém acusado de subversão. Mas, no regime democrático, depois da Constituição de 1988, descobre-se que, nos porões do Palácio do Governo do Espírito Santo, funcionários públicos - e o pior, policiais - eram pagos com dinheiro do Governo do Estado e, portanto, do contribuinte, para produzir peça inflamatória secreta, sem nenhuma assinatura, contra adversários políticos.

            Isso é extremamente grave. Por isso, estou pedindo ao atual Governador, José Inácio - não foi no tempo dele, pois assumiu recentemente - que abra uma investigação. Temos que descobrir quem produzia esses documentos e quem era o criminoso que mandava produzir esses documentos nos porões do Palácio. Quero também que abram todos os arquivos desses documentos secretos, para que eu tenha acesso a eles, porque pode haver acusações contra mim ou outro cidadão do Espírito Santo que ficaram 20 anos escondidas.

            Observem que quem toma tais atitudes não aparece, não mostra o rosto, não tem nome. Os repórteres do Espírito Santo conhecem a vida do Estado; por isso não recebem documentos apócrifos. Levam-nos para os jornalistas de fora que vão ao Estado. Na verdade, quando tentam infamar-me dessa maneira fazem uma campanha contra o Estado do Espírito Santo. Tratam os cidadãos Estado como se todos fossem assassinos, narcotraficantes, envolvidos em crimes, prejudicando-os economicamente e em seu relacionamento com a autoridades federais. Fiquei sabendo que o Ministro Velloso, depois da infâmia que fizeram contra sua pessoa, afirmou que não voltará ao Estado, onde é querido e possui um apartamento onde passava suas férias de verão. Na tentativa de atingir-me, na ânsia de fazer carreira política, de destruir-me, de infamar-me, acabam prejudicando também o Estado do Espírito Santo. Lá aparecem, entre as acusações, uma agenda falsa que, segundo consta, foi tirada da casa de um industrial do Espírito Santo acusado por um crime. Até a presente data, no inquérito original, tal agenda não aparece. Só existe na mão de alguns jornalistas de fora do Estado. Na agenda consta que, em 1988, um industrial do Espírito Santo ajudou candidatos do PMDB que eram ligados à minha pessoa. Claro, os candidatos do PMDB normalmente são ligados a mim. Agora, não aparece em nenhum momento que fui pedir um recurso. Ora, em 1988 - época em que eu não era candidato, e as eleições eram municipais -, contribuiu para alguns candidatos do PMDB, em 1993 ele foi acusado, mas não foi ainda condenado. E ainda levanto dúvidas sobre a veracidade da agenda, já que provei que esse documento é falso. Então que tipo de ligação se pode fazer numa horas dessas?

            Vejam V. Exªs que rui por terra e se transforma aquilo que parecia um libelo numa verdadeira infâmia. Os criminosos são aqueles que tentaram jogar sobre mim uma culpa, produzindo esses documentos falsos. Eles são covardes, não aparecem, se escondem, não têm coragem de acusar, porque sabem que tudo não passa de uma infâmia, uma mentira. E não têm coragem de dizer aos repórteres do Espírito Santo que me conhecem e conhecem outras figuras. Hoje o tradicional jornal A Gazeta, do Espírito Santo, de maior circulação em todo o Estado, e apoiado pela Rede Globo, com mais de dez emissoras de rádio, lança um repto a esses infamantes num magistral editorial, diga-se de passagem. Diz ele:

            “Não sendo a campanha apenas contra Elcio, parece mais uma escalada para a desmoralização dos políticos do Espírito Santo, com acusações apressadas, sem o devido embasamento e conseqüentemente irresponsáveis. Algum pequeno grupo estaria querendo limpar o terreno, atirando todos os concorrentes ao mesmo monte de entulho, de sorte que só ele, apenas ele, o pequeno grupo, sobrevivesse incólume ao mar de lama que está construindo com as suas denúncias”.

            Mas o jornal vai mais longe. Vejam que repto que o jornal lança aos homens de vida pública no Espírito Santo. Diz aqui o jornal A Gazeta, com a responsabilidade do jornal mais respeitado do Estado:

            “Está na hora de pedir um basta e de cobrar responsabilidades. Não é possível que se continue impunemente a lançar mais e mais carne aos leões. Homens de bem estão sendo ultrajados, desmoralizados, postos em uma penitência de sofrimentos sem limites.

            Será necessário descobrir a quem interessa essa desordem institucional. Quem pretende ser o herdeiro de terra arrasada que hoje se planta? Faremos isso” - vejam o que diz o jornal - “convocando todos os políticos influentes do Estado a reagir contra tanta iniqüidade. Os que calarem a sua palavra de apoio à condenação desses atos poderão ser incluídos no rol dos principais suspeitos”.

            É esse o repto que o jornal lança e que, na verdade, penso que é o Estado inteiro que o faz.

            Ainda há outros aspectos aqui. Não fica nisso. A Federação do Comércio do Estado do Espírito Santo faz também um libelo violento contra isso ao exigir que os autores dessas denúncias apareçam. O PMDB do Paraná me envia matéria, assim como a Federação da Agricultura do Estado do Espírito, que diz:

            “A Federação da Agricultura do Estado do Espírito Santo, manifestando a opinião de toda a sua diretoria, de todos os sindicatos e, acreditamos, de todos os seus milhares de associados, deseja manifestar a V. Exª o mais irrestrito apoio contra a injuriosa publicação feita pela revista.

            Lamentamos profundamente que alguns irresponsáveis aproveitem-se das liberdades democráticas em que vivemos para denegrir a imagem de figuras do mais elevado respeito, como V. Exª”.

            De modo que tenho da Federação do Comércio do Estado do Espírito Santo um libelo contra essas pessoas que covardemente praticam tais atos.

            Numa hora como esta, fico impotente. Sou levado à execração pública nacional com dados falsos. Todas as entidades do meu Estado me manifestam apoio.

            Qual o reparo que posso obter dessa revista? Primeiro, para processá-la, tenho de ir a São Paulo. V. Exªs sabem que, em São Paulo, estão os melhores advogados do Brasil, mas também os que cobram mais caro. Um, por exemplo, pediu-me R$60 mil para fazer a primeira interpelação. É o equivalente a oito salários meus. Vivo desse salário.

            Tornamo-nos, então, impotentes diante das pessoas que nos infamam. A lei precisa ser mudada. Se moro no Espírito Santo e a revista que me ofendeu circula naquela cidade, poderia ter o direito de processá-la naquele local ou de pedir publicamente, neste Senado, que ela tenha um ato de consciência pública, que, diante da demonstração de que os documentos não são verdadeiros, ela diga: “Fomos enganados por esses pescadores de águas turvas, por esses infamantes. Levamos seu nome à execração e estamos lhe pedindo desculpas. Reconhecemos a carta do delegado.” Mas V. Exªs sabem, eles publicam as desculpas na Carta ao Leitor, que ninguém lê. Daqui a 10 ou 20 anos pode ocorrer isso.

            Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, recentemente ganhei uma ação contra a Federação Nacional dos Jornalistas. Fui diretor dessa federação que, há 13 anos, publicou, em um pequeno jornal, um artigo infamante contra mim. Entrei com uma ação e agora a ganhei. O Supremo Tribunal Federal já mandou para execução à sede da Federação: R$77 mil pedindo desculpas.

            Isso demorou 13 anos, porque eles têm um sistema interessante: eles arranjam uma testemunha no Acre, uma testemunha no Rio Grande do Sul - temos que ver na legislação, porque isso não pode continuar a existir - e uma testemunha no Pará. V. Exª sabe: vai a carta precatória para ouvir a testemunha no Rio Grande do Sul, passam-se dois anos e acabou. Preclusão. Mas a nossa honra tem preclusão?

            É a pergunta que devemos fazer a todos nós, porque ocorreu comigo, já ocorreu com muitos colegas aqui e pode ocorrer com outros.

            A Srª. Luzia Toledo (PSDB - ES) - Permite-me V. Exª um aparte?

            O SR. GERSON CAMATA (PMDB - ES) - Ouço com prazer a Senadora Luzia Toledo, minha colega de representação.

            A Srª. Luzia Toledo (PSDB - ES) - A minha indignação é tão grande, Senador Gerson Camata, que não quero, neste momento, demonstrá-la sentada. Quero ficar em pé, porque o que aconteceu com V. Exª, com o Ministro Elcio Alvares e com o Ministro Velloso é uma campanha que estão fazendo contra o Estado do Espírito Santo.

            Difamar Senador Gerson Camata, que já foi aprovado nas urnas como Vereador pelo povo capixaba, pelo povo de Vitória; foi aprovado pelo povo do Estado como Deputado Estadual; aprovado como Deputado Federal, Governador do Estado; com uma história no Espírito Santo - até hoje, V. Exª tem o nome de Governador Gerson Camata no Estado do Espírito Santo -, Senador por duas vezes, e vem uma campanha apenas porque o nome de V. Exª apareceu numa agenda.

            O SR. GERSON CAMATA (PMDB - ES) - Falsa, Excelência.

            A Sr.ª Luzia Toledo (PSDB - ES) - Falsa! Numa suposta agenda falsa! A mídia trouxe para o Brasil inteiro a figura do Senador Gerson Camata. Solidarizo-me com V. Exª, Senador Gerson Camata, o que já fiz na nossa imprensa local. Neste Senado Federal, a Casa mais democrática deste País, digo-lhe que o povo potiguar, neste momento, está indignado. Tenho pena dos que fizeram isso com V. Exª, cujos nomes todos sabem. Esse episódio não veio à tona de graça, como também não vieram à baila os nomes do ex-Ministro Elcio Alvares e do Ministro Velloso, amigo do Espírito Santo e que, embora mineiro, dizia ser do nosso Estado, porém hoje diz claramente que para lá não volta. Então, temos um Governador que está mostrando gerenciamento, que restabeleceu aquilo de que mais precisávamos, e agora o Espírito Santo está no rumo certo. Mas como fazê-lo, Senador Gerson Camata, nobre Presidente, se o nosso nome e o do Estado do Espírito Santo, abençoado até na sua denominação, só estão hoje nas páginas difamatórias deste País inteiro. Solidarizo-me com V. Exª, Senador Gerson Camata. Voltarei à tribuna para falar sobre o assunto. Senador Gerson Camata, quanto mais eles falarem, mais V. Exª será querido no nosso Estado, porque lá V. Exª é um mito, e todos sabem disso. Muito obrigada.

            O SR. GERSON CAMATA (PMDB - ES) - Agradeço a V. Exª, Senadora Luzia Toledo. Se eu tiver que pedir que a revista corrija a calúnia feita contra mim, tenho que me qualificar: nome, carteira de identidade, residência. Eles não; pegam um papel apócrifo e podem fazer o diabo contra mim. Está errado isso. Penso que as pessoas deveriam ter documentos também e usá-los corretamente, não como fazem. Para ir contra, tenho que me qualificar; eles, para virem contra mim, não precisam se qualificar, saber de onde veio a informação - e tem a tal de fonte secreta, que não fala. Isso me magoa muito, ficamos impotentes diante de algo que atinge todo o Brasil. No Espírito Santo as pessoas riem, não acreditam, mas fora de lá, aqueles que não me conhecem podem acreditar, e eu só tenho esta tribuna para me defender.

            O Sr. Paulo Hartung (PSDB - ES) - Senador Gerson Camata, solicito um aparte a V. Exª.

            O SR. GERSON CAMATA (PMDB - ES) - Ouço, com muito prazer, meu companheiro de Bancada, Senador Paulo Hartung.

            O Sr. Paulo Hartung (PSDB - ES) - Senador Gerson Camata, quero dar um depoimento que considero importante, primeiramente transmitindo minha solidariedade a V. Exª, em meu nome e em nome de um imenso contingente de capixabas que tenho a honra de representar. Solidariedade em função dos episódios que V. Exª acaba de descrever na tribuna do Senado. Penso que devo dar um depoimento da minha trajetória pessoal. Convivo com V. Exª - acredito eu - desde o início da década de 80.

            O SR. GERSON CAMATA (PMDB - ES) - Já fomos aliados e, depois, adversários.

            O Sr. Paulo Hartung (PSDB - ES) - Já estivemos em campanhas no mesmo palanque, como em 1982, num processo importante da renovação política do nosso Estado, depois de um período longo sem eleições para Governador do Estado, e já estivemos em palanques separados, como agora mesmo, nesse último pleito eleitoral, quando V. Exª optou por apoiar um outro candidato ao Senado. Em todos esses anos de convivência - e na vida pública, normalmente, há muita informação, conversa-se com diversas pessoas, recebem-se muitas denúncias apócrifas, anônimas e inominadas -, em nenhum momento dessa trajetória, vi o nome de V. Exª envolvido em algo relativo a problemas de crime organizado no nosso Estado, de violência ou de qualquer tipo de ação nesse sentido. Acredito ser importante dar este depoimento, mas sem sofismar a realidade. Temos problemas no Espírito Santo.

            O SR. GERSON CAMATA (PMDB - ES) - Em todo Estado.

            O Sr. Paulo Hartung (PSDB - ES) - Não podemos tapar o sol com a peneira. Temos problemas no Espírito Santo. Somos representantes do nosso Estado; acabei de ser eleito, há um ano, Senador, com uma belíssima votação, e temos responsabilidades. Há problemas graves no Espírito Santo, e eles precisam ser corrigidos. Há impunidade no Espírito Santo? Há. Se não houvesse, os indicadores de homicídio na região da grande Vitória não seriam os maiores do País, superando a cidade do Rio de Janeiro, e assim por diante. Temos problemas, precisamos superá-los, mas não os superaremos nunca, permitindo aquela cena que eu aprendi ainda no movimento estudantil: que alguém suba no prédio mais alto da Cidade de Vitória, com um saco de penas, e jogue essas penas pela Cidade de Vitória afora e pelo Espírito Santo - penas da calúnia, da difamação. Com isso nós não podemos ser coniventes; com isso eu não sou conivente. Não podemos ser coniventes nem com os erros que existem no Espírito Santo e nem com as injustiças praticadas. Estou aqui desde cedo, sabia que V. Exª ia usar a tribuna; por isso fiz questão de estar aqui para aparteá-lo. Creio que a minha palavra é bastante credenciada para contribuir com o discurso de V. Exª. Muito obrigado, Senador Gerson Camata.

            O SR. GERSON CAMATA (PMDB - ES) - Agradeço, Senador Paulo Hartung. V. Exª pode prestar esse depoimento, pois foi meu aliado e meu adversário. E não faltaram pessoas que vieram a mim dizer que V. Exª estava envolvido nisso. Mas V. Exª vem para o claro e proclama que me conhece, que nunca ouviu - eu ouvi bem V. Exª dizer - nenhuma mancha sobre a minha conduta política nessas acusações que me são feitas.

            Agradeço; o seu testemunho é importante. Sabe V. Exª que as pessoas que, por trás de documentos falsos, induzem policiais a praticar atos violentos contra cidadãos são as mesmas que desmontaram a polícia do Espírito Santo. Enquanto ficam assacando acusação contra mim, levam a culpa de terem desmontado a polícia e os pobres estão morrendo. Todo fim de semana, os jornais noticiam a carnificina que levou Vitória a ser considerada uma das capitais mais violentas do Brasil. Os pobres estão morrendo e a polícia dizendo que são os narcotraficantes do Rio de Janeiro que estão indo para lá. Eles não tomam providência, não fazem uma denúncia, mas contra o Camata têm que fazer; é impressionante a insensibilidade. Se eles quisessem faturar politicamente com o povo, diriam: vamos levantar a polícia e melhorá-la, para que não haja tantos crimes contra os pobres. Mas não; eles querem destruir alguém que está na frente, para que eles sigam atrás, solapando o terreno.

            É muito interessante como conclui o editorial da Gazeta: “Se permitirmos que os nossos Senadores e Deputados sejam igualmente ultrajados por denúncias inconsistentes, mais pobres ficaremos. Os poucos sobreviventes herdarão uma terra sem honra e sem homens.”

            Esse libelo do jornal é muito importante e levanta o povo do Espírito Santo contra isso. E quero aqui lançar um repto a essas pessoas que acusam e não aparecem. Se algum dia, Senador Paulo Hartung - e V. Exª sabe disso, assim como o Deputado Aloísio e o Deputado Ricardo Ferraz -, alguém provar que eu levantei a mão para praticar uma indignidade dessas, que eu procurei um juiz para obstruir uma investigação, que eu pedi a um policial que não investigasse, se alguém bem-intencionado provar, eu abro mão de qualquer imunidade e vou responder por isso. Todavia, quero pedir a essas pessoas que apareçam, ponham a cara na reta, não sejam covardes, mostrem provas verdadeiras, não falsifiquem documentos e vamos, juntos, melhorar o aparelho policial do Estado do Espírito Santo para que se apurem todas as mazelas que existem. Não somos perfeitos. As mazelas que há no Amazonas, no Piauí ou em Minas existem lá também, talvez até mais graves. São graves, porque desde 1989 estão dizendo que há crime e não apuram nada; só ficam aproveitando para jogar infâmia em cima de alguns políticos adversários deles.

            Então, creio que está na hora de a polícia apurar.

            O Sr. Gilvam Borges (PMDB - AP) - Permite-me V. Exª um aparte?

            O SR. GERSON CAMATA (PMDB - ES) - Com muito prazer, ouço o aparte do Senador Gilvam Borges. Em seguida, ouço os Senadores Roberto Requião e, por fim, o meu Líder, Senador Jader Barbalho, pedindo à Mesa que tenha um pouco de consideração.

            O Sr. Gilvam Borges (PMDB - AP) - Senador Gerson Camata, sem sombra de dúvida, essa é uma campanha sórdida, covarde, cujos métodos utilizados pelos algozes de V. Exª são de causar repugnância. Estive, a convite da Senadora Luzia Toledo, caminhando pela costa do Espírito Santo. Fiz os 100 quilômetros dos passos de Anchieta. Nessa caminhada, aproveitei para contactar as pessoas dos Municípios que eu ia atravessando. Vi, em depoimentos, que V. Exª é um mito.

            O SR. GERSON CAMATA (PMDB - ES) - Obrigado. Não é tanto assim.

            O Sr. Gilvam Borges (PMDB - AP) - V. Exª é uma pessoa querida e estimada. Ontem mesmo, V. Exª ia passando e, sem ler a reportagem, eu disse a um colega do meu Estado, não da Casa: este homem é um dos mais fortes da política do Espírito Santo. Estive lá e ouvi testemunhos de pessoas do povo. Senador Gerson Camata, não interessam os meios, o que justifica são os fins, a busca do objetivo. É o maquiavelismo puro. É a forma da blasfêmia, a forma vil de atingir os homens de bem, um crime hediondo. Eu, pelo menos, considero dessa forma. Lamentavelmente, há aqueles que tentam destruir homens públicos da envergadura de V. Exª e de Elcio Alvares. Quando abri a revista e vi a reportagem sobre tráfico de drogas, percebi o absurdo e a violência do serviço de inteligência das forças, dos que têm acesso a esses veículos de comunicação de impacto nacional. Isso é terrível. Observem essas denúncias. Senador Gerson Camata, solidarizo-me com V. Exª. Não sou homem de jogar confetes. Nas casas políticas, são comuns os elogios e a troca de gentilezas. Não sou dado a essa prática. Sempre procuro manifestar-me com espirituosidade, com a avaliação intelectual da minha consciência. V. Exª é um homem de bem, simples e de caráter, que hoje paga por não se curvar, por permanecer imponente. O seu povo, a sua sociedade, a sua gente, o seu Estado e os colegas de outros Estados da Federação reconhecem isso. V. Exª é um gigante. Essas são as palavras do seu amigo, Senador Gilvam Borges, que não tem intimidade com V. Exª, mas que o admira à distância.

            O SR. GERSON CAMATA (PMDB - ES) - Agradeço-lhe muito, mas gigante é V. Exª, que andou 100 Km a pé pelas terras do Espírito Santo.

            O Sr. Roberto Requião (PMDB - PR) - Permite-me V. Exª um aparte?

            O SR. GERSON CAMATA (PMDB - ES) - Ouço V. Exª com prazer.

            O Sr. Roberto Requião (PMDB - PR) - Senador Gerson Camata, parte da minha família viveu durante muito tempo no Espírito Santo. Tenho raízes no Estado. Durante esses últimos dois dias, mantive bastante contato com personalidades capixabas. A exclamação é uma só: “O Camata, não”. Essa expressão está na boca dos seus amigos e dos seus inimigos. A infâmia não lhe atinge em seu Estado. Conheço-o há mais de uma dezena de anos, e aqueles que o conhecem há décadas não têm dúvida alguma sobre seu comportamento. Trago ao conhecimento do Plenário documento expedido pela Executiva do PMDB do Paraná e dirigido a V. Exª e a sua esposa, Deputada Rita Camata: “Nesse momento de infâmia, recebam nosso apoio irrestrito, respaldado pela convicção da integridade que sempre pautou suas vidas públicas. O consolo para a calúnia é o pensamento lúcido do poeta: ‘Seu prestígio é medido pelo número de inimigos que você tem’. O PMDB do Paraná está com vocês”. Sou Presidente do Partido, recebi o texto da Executiva, assinei-o e encaminhei-o a seu Gabinete.

            O SR. GERSON CAMATA (PMDB - ES) - Muito obrigado.

            O Sr. Roberto Requião (PMDB - PR) - No momento em que V. Exª é atingido dessa forma dura, como também fui atingido por outra revista de circulação nacional, é importante que não se cogite agredir um valor maior que as nossas honras pessoais: a liberdade de imprensa. No entanto, está na hora de termos um instrumento de resposta. Este Senado aprovou, por unanimidade, um texto de minha autoria, um projeto de lei garantindo o quase imediato direito de resposta no mesmo espaço e da mesma forma. A velocidade é essencial nesse processo. De nada vale um julgamento treze anos depois, uma resposta igualmente prolongada no tempo. O Senado aprovou o projeto por unanimidade, mas a Câmara Federal o engavetou. Apelo à Liderança do meu Partido, o PMDB, e à Liderança dos outros Partidos no Senado da República para que esse texto seja colocado em votação pelo Presidente da Câmara Michel Temer. Não é possível que uma matéria aprovada há mais de três anos, por unanimidade, no Senado da República dormite nas gavetas da Câmara Federal. A V. Exª e à Deputada Rita Camata a minha solidariedade pessoal e a dos paranaenses.

            O SR. GERSON CAMATA (PMDB - ES) - V. Exª, Senador Roberto Requião, me conforta com as suas palavras e com a nota do PMDB.

            Fala-se agora na Câmara da lei da mordaça, que não resolveria no caso, porque todos esses documentos não são oficiais de inquérito, são falsos. Se quiserem infamar, não adianta impedir que o juiz forneça informações. Eles buscam documentos falsos, apócrifos e fazem a infâmia que quiserem.

            O Sr. Jader Barbalho (PMDB - PA) - Concede-me V. Exª um aparte?

            O SR. GERSON CAMATA (PMDB - ES) - Ouço meu querido Líder com prazer.

            O Sr. Jader Barbalho (PMDB - PA) - Senador Gerson Camata, tive, como tantos outros companheiros, o privilégio de ser seu colega na Câmara dos Deputados e fui Governador do Pará na mesma época que V. Exª era Governador do Espírito Santo. Hoje, somos colegas no Senado. Nesse momento, em nome de todos os companheiros do PMDB do Brasil, solidarizo-me com a sua justa indignação por esse episódio que lamentavelmente não é apenas V. Exª a vítima. Freqüentemente, os homens públicos deste País são vítimas de episódios como o que vive V. Exª. O Brasil e o Espírito Santo principalmente conhecem V. Exª, e não tenho dúvida de que sobreviverá a esse episódio. Além da solidariedade que merece de todos que o conhecemos, esse é o momento para meditação. Como disse bem o Senador Roberto Requião, não admitimos - nós que lutamos contra o arbítrio, contra a ditadura - a possibilidade de cercear o direito da imprensa. De forma alguma! Os Parlamentares têm imunidade, e, em alguns casos, a imprensa tem o direito à irresponsabilidade. Não quero absolutamente generalizar, até porque o Congresso, o Parlamento e a Democracia têm a imprensa como companheira na representação dos interesses populares. O Senador Roberto Requião referiu-se a algo mais do que justo. O direito de resposta na mesma dimensão é um dever da imprensa. O Senador Edison Lobão foi à tribuna por ter sido divulgado em um jornal que S. Exª era um dos maiores devedores do Banco do Brasil. Recordo-me bem que, num final de tarde, assisti ao discurso do Senador Edison Lobão, mostrando o jornal que trazia, na primeira página, a sua fotografia, colocando-o como um dos maiores devedores do Banco do Brasil. Fez um discurso indignado, provando que não tinha financiamento no Banco do Brasil. Na manhã seguinte, curioso, fui ler o jornal. E, nos dias que se sucederam, não havia nenhuma linha do discurso do Senador Edison Lobão, nem da carta que S. Exª leu e enviou ao jornal. Pergunto: Será que isso é justo? Será que é ético? Quer dizer, o jornal pode colocar que o Senador Edison Lobão é um dos maiores devedores do Banco do Brasil, ou seja, que não paga ao Banco do Brasil. O Senador vem à tribuna, manda uma carta para o jornal, e este se acha com direitos. Pergunto: quem tem imunidade ou irresponsabilidade? É o Senador Edison Lobão ou o jornalista e o jornal que publicou a matéria? Logicamente, não é o Senador Edison Lobão. Evidentemente, não foi S. Exª, que não teve a retratação solicitada e justa. Assim, espero que o Congresso Nacional não cuide, com relação à imprensa, de colocar jornalista em cadeia.

            O SR. GERSON CAMATA (PMDB - ES) - Absolutamente.

            O Sr. Jader Barbalho (PMDB - PA) - Ou de cercear a imprensa de fazer as suas investigações e de publicá-las. Agora, nesta Casa, devemos ter a coragem, em nome da própria liberdade de imprensa e da democracia, de estabelecer um tipo de legislação que fixe responsabilidade. Como Presidente e Líder do PMDB, orientarei o Partido nesse sentido. Não tenho o direito, como Parlamentar, de assacar contra a honra de ninguém, da mesma forma que ninguém tem o direito de assacar contra a minha, nem contra a de V. Exª ou de qualquer cidadão. Há o episódio da Escola Base em São Paulo, em que destruíram a vida daquele casal de educadores, e ficou por isso mesmo. Isso não é possível! Isso não é liberdade de imprensa! Isso não é imunidade de imprensa! Isso é irresponsabilidade! Esse episódio que V. Exª vivencia não é apenas seu, mas do Congresso Nacional e da sociedade brasileira. Democracia implica responsabilidade, necessariamente. Portanto, a solidariedade não é apenas a V. Exª, mas à democracia. E este é o apelo que faço como Líder, recebendo o apoio do Senador Roberto Requião: que cuidemos disso com responsabilidade. E tenha certeza de que a imprensa e os jornalistas responsáveis não ficarão nem um pouco amuados com o Congresso Nacional, se este estabelecer uma legislação pertinente a respeito da matéria. A solidariedade, companheiro Gerson Camata, não é apenas minha; seguramente é da sociedade brasileira em relação a V. Exª.

            O SR. GERSON CAMATA (PMDB - ES) - Meu querido Líder Jader Barbalho, a manifestação de V. Exª me conforta nesta hora. V. Exª é o Líder do PMDB, foi Deputado e Governador à mesma época que eu, acompanhou minha vida toda, logo pode prestar esse depoimento com a consciência tranqüila. V. Exª sabe o que diz. Observou que em minha fala fiz uma única reclamação. Primeiro, fiz um apelo à revista para que dissesse que realmente lhe havia sido entregue um documento apócrifo que mencionava a falta de provas; que tinha omitido tal informação ou sido enganada. É normal, todos erram. A segunda reclamação é a respeito da impotência em que nos encontramos, pois devemos processar em São Paulo, o que é caro. Deveria haver outro sistema para que a pessoa fosse à Justiça. Por exemplo, se a revista é de circulação nacional, a ofensa não foi só em São Paulo, onde fica a sede; eu suponho que chegou ao Maranhão, ao Espírito Santo, onde seria mais acessível a Justiça.

            Reclamei também da demora. Quanto à outra causa, receberei agora R$77 mil, mas isso demorou 13 anos. E se eu tivesse morrido? Teria morrido difamado, porque a causa teria acabado. Graças a Deus, fui preservado para ver isso.

            Sr. Presidente, gostariam de falar ainda o Senador Pedro Piva, o Senador José Roberto Arruda e o Senador Iris Rezende, assim como o Senador José Fogaça e o Líder do PFL, Hugo Napoleão. Talvez S. Exas pudessem fazer uma manifestação mais rápida. Isso é muito importante para mim, Sr. Presidente, pelo momento que atravesso, diante dessa tempestade criada com infâmia, calúnia e documentos falsos.

            O SR. PRESIDENTE (Geraldo Melo) - É importante para a Casa, também, Senador Gerson Camata. Apenas registraria, para conhecimento dos aparteantes, a necessidade, dentro do possível, de que abreviem as suas intervenções. De modo algum a Mesa poderia, nesta hora, limitar o tempo de que V. Exª necessita para a defesa de sua honra e de sua dignidade.

            O SR. GERSON CAMATA (PMDB - ES) - Agradeço a V. Exª, Sr. Presidente.

            Ouço o Senador Pedro Piva e, posteriormente, o Senador José Roberto Arruda.

            O Sr. Pedro Piva (PSDB - SP) - Senador Gerson Camata, infelizmente, não tive o prazer, durante a minha vida, de conhecê-lo há décadas, como diversos dos nossos companheiros aqui presentes. No entanto, durante os cinco anos em que o conheço, aprendi a admirá-lo cada dia mais. E a sua postura nesta tribuna dá bem o exemplo disso. Em nenhum momento V. Exª alterou sua voz; em nenhum momento se irritou com essas acusações falsas, levianas e absolutamente fora de propósito. É essa sua postura que o dignifica, que o engrandece e dá a V. Exª o respeito que tem de toda a sociedade, de todo o País. Não é só o Espírito Santo que se revolta e repudia as acusações feitas a V. Exª, mas todo o Brasil. Em meu nome e no do PSDB, como Vice-Líder do Partido, bem como no dos Senadores Álvaro Dias e Osmar Dias, que me pedem para ser seu intérprete devido ao adiantado da hora e ao apelo do Sr. Presidente, quero dizer que jamais, Senador Gerson Camata, qualquer pessoa aqui presente ou mesmo aqueles que o conhecem pelos seus atos como Vereador, Deputado Estadual, Deputado Federal, Governador e, agora, Senador, depois de 30 anos de serviços prestados à Nação, deixarão que alguma página de jornal venha manchar sua dignidade, seu currículo! Jamais, Senador Camata! V. Exª estará sempre no topo do respeito de todo o País.

            O SR. GERSON CAMATA (PMDB - ES) - Muito obrigado a V. Exª. Acolho o seu aparte e quero guardar como recordação da minha vida esse momento de solidariedade que V. Exª me presta.

            Sr. Presidente, se V. Exª me permite, quero ouvir, pela ordem em que percebi os microfones levantados, o Senador Roberto Arruda, o Líder do PFL, Hugo Napoleão, o Senador José Fogaça e, logo após, o Senador Arlindo Porto. Então, eu encerraria, porque sei que as matérias da Ordem do Dia devem ser apreciadas ainda na sessão de hoje.

            O Sr. José Roberto Arruda (PSDB - DF) - Senador Gerson Camata, em primeiro lugar, faço minhas as palavras de todos aqueles que tiveram a oportunidade de aparteá-lo antes. Em segundo lugar, quero dizer a V. Exª, como Líder do Governo nesta Casa, que sou testemunha do apreço, da consideração, do respeito e da amizade pessoal que tem por V. Exª o Presidente Fernando Henrique e o Governo que represento aqui, neste instante. Em meu nome pessoal, Senador Gerson Camata, desejo expressar a admiração que tenho por V. Exª, por essa sua maneira ao mesmo tempo firme e simpática de ser, por essa maneira simples, humilde até, de emprestar a todos nós, que privamos de sua convivência, a sua experiência parlamentar e de homem público. V. Exª foi Deputado, Governador e é Senador, e todos que conhecem a vida pública de V. Exª são unânimes em colocar como uma de suas características principais a honestidade de caráter, de posicionamento e de atitude como homem público. Portanto, ao me solidarizar com V. Exª, quero, por último, acrescer a esta solidariedade, se me permite, em um momento tão difícil, uma pequena nota de bom humor, que é outra característica de V. Exª e que apenas tomo emprestado. V. Exª ganhou a causa anterior, referente à difamação que sofreu, treze anos depois, por via judicial. Portanto, mais do que a recompensa material, V. Exª tem a recompensa da decisão. V. Exª notou que, graças a Deus, está podendo assistir, no gozo pleno de sua saúde física e mental, ao resultado dessa decisão. Tenho dois desejos: o primeiro é o de que V. Exª, também desta vez, possa assistir ao pleno reconhecimento do reparo desta injustiça. O segundo é que esta causa demore muito.

            O SR. GERSON CAMATA (PMDB - ES) - Muito obrigado, Senador. Pelas palavras de V. Exª, a minha manifestação de gratidão.

            O Sr. Hugo Napoleão (PFL - PI) - Senador Gerson Camata, V. Exª me concede um aparte?

            O SR. GERSON CAMATA (PMDB - ES) - Ouço o Líder do PFL, Senador Hugo Napoleão.

            O Sr. Hugo Napoleão (PFL - PI) - Prezado amigo, Senador Gerson Camata, precisamente dentro de cinco dias, vamos completar, V. Exª e eu, 25 anos de conhecimento. Eis que no dia primeiro de fevereiro de 1975, tomamos ambos posse como Deputados Federais de nossos respectivos mandatos.

            O SR. GERSON CAMATA (PMDB - ES) - Senador, não fale muito alto, senão vão desconfiar que não somos tão jovens.

            O Sr. Hugo Napoleão (PFL - PI) - Não são 25 meses nem 25 dias; são 25 anos. Conquanto tenha falado até sobre um aspecto de razoável longevidade, refiro-me ao tempo para demonstrar que no curso desses anos, V. Exª sempre foi um ardoroso e impecável Deputado. Fomos Governador de Estado juntos, na virada da História do Brasil e no apoio a Tancredo Neves. Depois, Senadores por duas vezes.

            O SR. GERSON CAMATA (PMDB - ES) - E das Diretas.

            O Sr. Hugo Napoleão (PFL - PI) - Sempre. Fomos Senadores em 1986 e 1994; continuamos juntos. Em nenhum momento, V. Exª foi questionado sobre quaisquer circunstâncias. Suas contas foram aprovadas no Tribunal de Contas Estadual e no Tribunal de Contas da União. Veio a CPI do Orçamento, e o nome de V. Exª não passou sequer à margem. Mais uma vez, resta-me transmitir-lhe minha solidariedade. Assim o fiz quando cedi o tempo generosamente concedido pelo Senador Leomar Quintanilha. Gostaria de dizer a V. Exª e à sua digna e respeitada esposa, Deputada Rita Camata, que a solidariedade da Bancada do PFL se traduz por meu intermédio e pelo que ouvi do Senador Romeu Tuma - que dá o testemunho, quando foi Diretor-Geral da Polícia Federal, da questão que V. Exª sempre fez em apurar os crimes onde quer que acontecessem -, dos Senadores Edison Lobão, Bernardo Cabral e, por que não dizer, de todos os Senadores. Receba a nossa solidariedade.

            O SR. GERSON CAMATA (PMDB - ES) - Muito obrigado, Senador Hugo Napoleão. Efetivamente, começamos em 1975 - eu já vinha de dois mandatos: quatro anos como Vereador e quatro anos como Deputado Estadual.

            Brincando com amigos, eu dizia o seguinte: podem bater, porque já apanhei tanto que a couro das costas já está duro, já não dói mais. Mas essas coisas acontecem na nossa vida.

            O Sr. José Fogaça (PMDB - RS) - V. Exª me concede um aparte, Senador Gerson Camata?

            O SR. GERSON CAMATA (PMDB - ES) - Ouço o meu querido companheiro de Bancada, Senador José Fogaça.

            O Sr. José Fogaça (PMDB - RS) - Senador Gerson Camata, sinto-me na obrigação de dar também um depoimento. Sou Colega de V. Exª aqui no Senado nestes dois últimos mandatos. Fui eleito no mesmo evento eleitoral de V. Exª, em 1986, e ambos fomos reeleitos em 1994. Quem acompanhou V. Exª, ao longo de tanto tempo, não pode se furtar a um depoimento. Fui Presidente Nacional do PMDB e estive no Espírito Santo, Colatina, Vitória, acompanhado principalmente a participação política de V. Ex.ª naquelas comunidades. A palavra usada aqui talvez seja a única que sintetize o apreço, o amor, o quase fanatismo do povo capixaba por V. Exª: V. Exª é um mito no Estado do Espírito Santo. E, quando vemos esse tipo de denúncia, ficamos pensando o seguinte: essa denúncia deve está sendo feita por alguém que passa as noites tramando, nas sombras, destilando ódio contra seus inimigos. Supostamente, esse é o alvo de alguém que fica urdindo traições, montando armadilhas, preparando casca de banana, articulando difamações. Mas de V. Ex.ª não vi outro comportamento que não o de transparência absoluta, de leveza no trato, de respeito aos seus Colegas e aos seus adversários. Jamais ouvi uma palavra de V. Exª que ferisse a honra de qualquer um dos seus mais frontais adversários, nesses anos todos. V. Exª é um poço de simplicidade, apesar de ser um mito para o povo de seu Estado. Não posso deixar de me indignar com isso e também não posso deixar de registrar aqui que sinto muito falta, Senador Gerson Camata, a cada dia me convenço disso, para o bem e para o mal, da Lei de Imprensa que, em 1992 - não foi no ano passado ou há dois anos, mas em 1992 -, o Senado aprovou e está engavetada na Câmara. Sinto muita falta. E tenho certeza que ela, pelo seu conteúdo profundamente democrático, visceralmente democrático, faz duas coisas: é proibido proibir, não se pode proibir nada - juiz, promotor público, qualquer um pode dar informação; mentiroso pode mentir; denunciante falso pode falsificar. É proibido proibir, diz a Lei de Imprensa. Mas quem comete crime de difamação, injúria, calúnia apenas tem de assumir a responsabilidade pelo que fez. É simples! Agora, na verdade, V. Exª me convence: este é um País da impunidade. Impunidade pela qual V. Exª não tem nenhuma responsabilidade, porque também votou a favor da Lei de Imprensa. Senador Gerson Camata, nesta hora, é impossível deixarmos de lembrar isso, Senador Gerson Camata. Minha solidariedade a V. Exª.

            O SR. GERSON CAMATA (PMDB - ES) - Agradeço a V. Exª, com quem convivi todos esses anos, por esse depoimento, que me engrandece e me conforta muito.

            Sr. Presidente, agradeço ao Senador Roberto Saturnino, que me cedeu seu tempo na Hora do Expediente. Vim do Espírito Santo e não pude me inscrever a tempo. Disse-lhe que precisava me defender e o Representante do Rio de Janeiro ajudou-me, num gesto de atenção e compreensão que enobrece sua figura magistral de amigo e companheiro.

            O Sr. Arlindo Porto (PTB - MG) - V. Exª me permite um aparte?

            O SR. GERSON CAMATA (PMDB - ES) - Concedo o aparte a V. Exª.

            O Sr. Arlindo Porto (PTB - MG) - Senador Gerson Camata, estamos acompanhando o pronunciamento de V. Exª, bem como o dos nossos companheiros do Senado. Difamação, calúnia, injustiça e até ingratidão são palavras vividas no dia-a-dia, especialmente, por nós, homens públicos. Difícil, às vezes, de acolher, difícil de aceitar, principalmente quando se tem a consciência tranqüila daquilo que se realiza. V. Ex.ª vem, com esse equilíbrio, com essa ponderação, com essa tranqüilidade de consciência, expor o que aconteceu, apresentando alguns documentos, algumas mensagens recebidas do seu Estado, acolhendo, aqui, sem dúvida, a solidariedade dos Pares que me antecederam, os quais tivemos oportunidade de ouvir. V. Ex.ª, seguramente, tem uma folha de serviço prestada ao seu Estado que transcende este momento. Tive oportunidade de conhecê-lo, por intermédio do nosso amigo comum, Governador Hélio Garcia, na década de 90, eu e o seu Vice, e pudemos então acompanhar de perto o desempenho de seu trabalho ao longo desse tempo. O nosso Estado de Minas Gerais se considera uma extensão do Espírito Santo. Não são apenas dois Estados da Federação, mas são dois Estados intimamente ligados, com uma convivência muito fraterna, uma convivência muito próxima. Os capixabas e mineiros constituem, sem dúvida, uma união de pensamento, de ação e de busca de dias melhores para o nosso povo e para o nosso País. Vários Senadores, seguramente, gostariam de fazer uso da palavra e, por isso, alguns que estão mais próximos - os Senadores José Alencar, Luiz Pontes, Luiz Otávio, Geraldo Althoff, Carlos Wilson, Agnelo Alves -, em função da exigüidade de tempo, pediram-me que registrasse, mais do que a solidariedade, o respeito à sua pessoa, à dignidade da sua pessoa, à ação da sua pessoa. Que este momento seja mais uma oportunidade para reforçar a sua determinação de lutar pelo seu Estado, pelo povo do Espírito Santo, de honrar esta Casa. Isso deve servir-lhe de estímulo para que continue valorizando o Senado da República, o Poder Legislativo. V. Ex.ª, a Deputada Rita Camata e seus familiares indubitavelmente enfrentam momentos difíceis, que, porém, hão de passar não apenas numa mensagem de sua memória, mas também na consciência daqueles que hoje buscam sobremaneira denegrir a sua imagem. Que V. Ex.ª continue ponderado, equilibrado, mas firme e digno, como deve ser um homem público. Esperamos todos nós que os autores dessa calúnia possam ler o poema de Malba Tahan - Calúnia -, a fim de que saibam avaliar quanto mal puderam fazer com esse gesto, que, embora aparentemente pequeno, cala fundo não apenas em V. Ex.ª, mas em todos nós, seus amigos e colegas. Que V. Ex.ª tenha força para superar este momento, e, mais do que nunca, que o povo potiguar saiba valorizar o seu grande ídolo, herói e homem público, o Senador Gerson Camata

            O SR. GERSON CAMATA (PMDB - ES) - Senador Arlindo Porto, V. Ex.ª é generoso. Agradeço-lhe e a todos os companheiros que, por suas palavras, manifestaram também a sua solidariedade. V. Ex.ª se lembra de quando fizemos campanha nas fronteiras de Minas e Espírito Santo, pelas Diretas, depois a favor de Tancredo Neves, com o Senador Paulo Hartung, os Deputados Rita Camata e Aloízio Santos, então do PMDB. Ricardo Ferraço era garoto, e não participou daquela campanha. Mas V. Ex.ª me conhece desde aquela época e este depoimento é muito importante para mim.

            O Sr. Roberto Saturnino (Bloco/PSB - RJ) - Concede-me V. Ex.ª um aparte, eminente Senador Gerson Camata?

            O SR. GERSON CAMATA (PMDB - ES) - Com muita satisfação.

            O Sr. Roberto Saturnino (Bloco/PSB - RJ) - Nobre Senador Gerson Camata, confesso que estava aflito, tinha um compromisso e o estava levando a termo e receoso de não ter oportunidade de aparteá-lo neste momento, que, se é importante para V. Exª e para toda esta Casa, é, acredite, importante para mim também. Dou este depoimento também em nome dos Senadores Sebastião Rocha e Ademir Andrade, pois o tempo não permite que nos estendamos. Serei breve. Quero dizer a V. Exª que conheço sua biografia, a história de sua vida de homem público e particular. V. Exª é um brasileiro muito acima de todas essas tentativas tolas e malvadas de calúnias. V. Exª tem serviços prestados ao País, ao seu Estado e a esta Casa. Realmente tem o preito de admiração e de respeito de todos nós. Faço questão de prestar este depoimento. Conheço a vida de V. Exª, que acompanho há muito e não queria deixar de participar dessa soma de testemunhos e de depoimentos que V. Exª, com muita justiça, colhe a seu favor e contra essas tentativas vãs de atingirem sua pessoa. Como disse, V. Exª está muito acima disso tudo. Tenho minha admiração renovada e muito respeito pelo trabalho e pela figura de V. Exª.

            O SR. GERSON CAMATA (PMDB - ES) - Senador Roberto Saturnino, se V. Exª não tivesse conseguido chegar, já teria, por meio da cessão de seu tempo, feito esse grande aparte que me enche o coração de alegria.

            O Sr. Leomar Quintanilha (PPB - TO) - V. Exa concede-me um aparte, Senador?

            O SR. GERSON CAMATA (PMDB - ES) - Com prazer, Senador.

            O Sr. Leomar Quintanilha (PPB - TO) - Nobre Senador Gerson Camata, quando V. Exª me procurou ontem, buscando a permuta na inscrição para se manifestar no dia de hoje, me dei conta então da notícia veiculada na revista IstoÉ. Procurei inteirar-me do teor das informações nela contidas. Encheram-me de indignação a denúncia vazia, infundada e a tentativa vã de procurar denegrir a imagem de um dos maiores expoentes da vida pública nacional, que é V. Exª.

            O SR. GERSON CAMATA (PMDB - ES) - Obrigado.

            O Sr. Leomar Quintanilha (PPB - TO) - Tenho o privilégio de conviver com V. Exª nesta Casa e aqui, pelos seus atos, pela firmeza e coerência das suas ações, aprendi a admirá-lo e a respeitá-lo. Aliás, V. Exª, com esse tipo de comportamento, conquistou esse sentimento da totalidade da Casa. Veja a manifestação unânime, o desejo de todos de registrarem solidariedade pelo momento por que passam V. Exª e sua família. Em meu nome pessoal e em nome do PPB, quero lhe trazer, mais do que a solidariedade, a convicção de que esse tipo de tentativa, de denúncia vazia, fraca, jamais conseguirá atingir o homem público que V. Exª é. Portanto, continue contando com o respeito e a admiração não só dos seus colegas da Casa, mas, seguramente, de todo o povo brasileiro.

            O SR. GERSON CAMATA (PMDB - ES) - Ilustre Senador Leomar Quintanilha nos conhecemos a tanto tempo por intermédio do Deputado Antônio Jorge, seu conterrâneo lá de Tocantins, através do Governador Eduardo Siqueira, nosso amigo comum, foi nosso companheiro também da Câmara dos Deputados.

            De modo que agradeço muito as colocações que V. Exª faz e as guardo no coração pelo resto da minha vida.

            Muito obrigado.

            O Sr. Ney Suassuna (PMDB - PB) - Permite V. Exª um aparte?

            O SR. GERSON CAMATA (PMDB - ES) - Com muito prazer.

            O Sr. Ney Suassuna (PMDB - PB) - Senador Gerson Camata, quando li a matéria o meu sentimento foi de revolta, mas, logo a seguir, procurei analisar o que poderia ter gerado um assunto como aquele. Dois fatos me afloraram a mente: a política em letra minúscula, “politicagem”, que deve ter dado a origem àquela matéria, e o mau repórter, porque só mesmo um mau repórter, desconhecendo o passado e o comportamento de V. Exª, poderia noticiar ou ecoar ou exponenciar uma notícia como aquela. Isso ocorre em qualquer profissão: há bons e maus repórteres, bons e maus padres, bons e maus políticos. Lembrei-me de que, na semana passada, estive em um jantar e levei uma caixa de bombons para a Dona Ruth Cardoso. Um repórter disse que eu levava um corte de tecido e de mau gosto. Então, há pessoas que distorcem a verdade e fazem uma inverdade parecer verdadeira. Com V. Exª não vai “colar” isso. É o meu segundo mandato convivendo com V. Exª. Sei, bem como o povo do Espírito Santo e o Brasil sabem, da lisura do comportamento de V. Exª. Em nome da Bancada da Paraíba, em nome dos paraibanos, o nosso desagravo e o nosso pedido de desculpas por esses que não sabem o que estão fazendo.

            O SR. GERSON CAMATA (PMDB - ES) - Ilustre Senador, conheço o repórter. Suponho que ele foi iludido, enganado. Quando mostraram os documentos falsos e apócrifos a ele, não devem ter apresentado tudo, porque, apesar de apócrifos, os documentos ainda diziam que não havia prova nenhuma daquela acusação. Ele deveria ter ouvido o Delegado da Polícia Federal - que foi Delegado no Espírito Santo -, que agora manda carta para a revista, dizendo que nunca o meu nome foi apontado, reconhecendo a minha reputação como ilibada. Este é o delegado a quem todo o documento apócrifo é atribuído. Não existe. Inventaram.

            Assim, agradeço a V. Exª pela solidariedade. Sabe V. Exa que esse fato é comum em nossa vida, mas, às vezes, fere e nos causa dor. A indignação da Casa me alegra também, porque vejo que aqueles que me conhecem sabem que nunca participaria de uma organização de narcotráfico, do crime organizado.

            O Sr. Amir Lando (PMDB - RO) - V. Exª me concede um aparte?

            O SR. GERSON CAMATA (PMDB - ES) - Concedo um aparte a V. Exª.

            O Sr. Amir Lando (PMDB - RO) - Nobre Senador Gerson Camata, não convivi com V. Exª no Espírito Santo, mas o nosso convívio amistoso e respeitoso, no Senado, sempre me fez admirá-lo por sua conduta ilibada, séria e honesta. Mas tenho o testemunho do povo de Rondônia, talvez o Estado mais capixaba além do Espírito Santo. De lá, a notícia que sempre me foi passada do político Gerson Camata, em todos os cargos que ocupou, foi um homem sério, trabalhador e de reputação ilibada. E é esse testemunho que os rondonienses, em parte também seus conterrâneos, fazem-me trazer a esta tribuna, reafirmando a lisura de sua conduta. Sabemos que, nesta hora, quando a honra está em jogo, ninguém pode ficar calado, sobretudo quando assacadas injúrias, difamações e calúnias dessa ordem, as quais, além de ferir o foro íntimo, não há dúvida, agridem muito mais a imagem do homem público. Ser grande, como dizia Shakespeare, não é empenhar-se em grandes causas; é lutar até por uma pena quando se trata da honra. Eis a luta de V. Exª. E veja a situação adversa: uma acusação falsa, uma imputação sem fundamento lhe obriga a ir à tribuna e dizer que não fez o que nunca foi feito. Esta, a situação de desvantagem do acusado nessa circunstância. Por isso, o dano a ser reparado, sabemos, seguirá uma rota tortuosa, mas a verdade há de triunfar e a reparação então pelo reconhecimento público também há de ocorrer.

            O SR. GERSON CAMATA (PMDB - ES) - Senador Amir Lando, agradeço muito a V. Exª, que, como bem disse, tem em seu Estado, Rondônia, cerca de 20% de capixabas que lá vivem e trabalham. V. Exª certamente muitas vezes ouviu desses capixabas simples, lavradores, que foram para lá, algum depoimento sobre a minha vida.

            Sr. Presidente, quero agradecer primeiramente a tolerância de V. Exª, agradecer novamente ao Senador Roberto Saturnino, que me cedeu a vez para este pronunciamento, agradecer as manifestações da Casa, aos Deputados do Espírito Santo, Aloízio Santos, Ricardo Ferraço e Rita Camata, que aqui vieram também, aos apartes de todos, principalmente, o do Senador Paulo Hartung e o da Senadora Luzia Toledo, que me conhecem e são do meu Estado.

            Confesso a V. Exª que cheguei aqui com um pouco de ódio, mas os apartes dos meus companheiros transformaram esse ódio em indignação. Não levo ódio, não desejo vingança, mas quero que se apure, por exemplo, quem produz esses documentos no Estado do Espírito Santo. É preciso que haja a apuração de todos os documentos secretos que existem no Estado, pois pode haver infâmia contra todos, inclusive contra a Senadora Luzia Toledo, o Senador Paulo Hartung e contra os Deputados Aloízio Santos e Ricardo Ferraço. É realmente necessário que se apure a responsabilidade para saber quem produz tais documentos e quem manda produzi-los, porque a polícia recebe ordens de alguém.

            Tais fatos não podem acontecer. Nós já nos indignávamos ainda quando isso acontecia no tempo dos militares. Entretanto, estamos em uma democracia, onde isso não pode ocorrer de jeito nenhum. Se abrimos todos os arquivos da ditadura, por que não abriremos os arquivos da democracia?

            De modo que essas pessoas também deveriam aparecer e assumir as suas injúrias. Por outro lado, esse editorial do jornal A Gazeta, escrito hoje com um primor de língua portuguesa, bem como todos os apartes, as manifestações da Federação da Agricultura, do Comércio e da Indústria do meu Estado e também as do PMDB, tudo isso faz com que aumente em mim a vontade de corrigir esses fatos para que não aconteçam com nenhum dos companheiros, porque, repito, lá no Estado as pessoas não acreditam. No entanto, cheguei ao aeroporto de Brasília outro dia meio constrangido, porque é natural ficarmos chateados com essa situação, que fere o coração, o sentimento e a dignidade, deixando-nos impotentes diante dos acontecimentos.

            Faço um apelo à revista: poderiam publicar uma nota, informando que houve um engano, que o repórter foi iludido e que não foi bem assim que tudo ocorreu. A revista aumentaria a admiração do povo brasileiro pelo seu trabalho. Seria um gesto de dignidade, como muitas vezes ocorre conosco neste Congresso: quando algum companheiro se excede, pedimos desculpas, para que a Casa prossiga com seus trabalhos num ambiente de cordialidade.

            O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - Permite-me V. Exª um aparte?

            O SR. GERSON CAMATA (PMDB - ES) - Ouço V. Exª com prazer.

            O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - Considero muito importante a sua atitude franca de, com muita tranqüilidade, trazer os mais completos esclarecimentos sobre essa matéria, a qual, pelo que pude depreender, não apresenta, até o momento, pelo volume de informações ali apresentadas, uma consistência que possa levar os eleitores a uma convicção bastante clara dos acontecimentos. V. Exª, com muita sinceridade, procurou esclarecer, da melhor maneira possível, os fatos, contribuindo para que a verdade venha inteiramente à tona. Ainda que muitas vezes, Senador Gerson Camata, tenhamos opiniões diversas, nosso relacionamento sempre foi baseado em respeito mútuo e correção, apesar de ora concordarmos, ora divergirmos. É muito importante que V. Exª venha à tribuna com essa franqueza para dizer o que aconteceu.

            O SR. GERSON CAMATA (PMDB - ES) - Muito obrigado, Senador Eduardo Suplicy. O depoimento de V. Exª é muito relevante. Embora mais discordemos do que concordemos em nossas teses, sempre nos respeitamos. V. Exª pode ter divergido inúmeras vezes das minhas idéias e eu das suas; no entanto, sempre o respeitei e V. Exª sempre me respeitou. Divergimos nas idéias, mas nos respeitamos mutuamente. Assim, tenho por V. Exª uma profunda admiração, que, espero, seja também recíproca.

            Muito obrigado.

            Sr. Presidente, se V. Exª me permitir, gostaria ainda de ouvir o Senador Francelino Pereira, ex-Governador de Minas, Governador do Estado fronteiriço. Logo após encerro.

            O SR. PRESIDENTE (Geraldo Melo) - A Mesa ouve com prazer o aparte do Senador Francelino Pereira e tem certeza de que, após esse aparte, o discurso estará encerrado.

            O Sr. Francelino Pereira (PFL - MG) - Governador do Estado fronteiriço e muito identificado com a história, com a vida e com a beleza do Espírito Santo. A única inveja que temos em relação ao Espírito Santo é o uso indiscriminado das praias, sem que Minas Gerais possa ter qualquer privilégio a esse respeito. Porém, tudo isso é compensado pela admiração, pelo respeito - e falo em nome de Minas Gerais - que todos os mineiros têm por V. Exª, um homem jovem...

            O SR. GERSON CAMATA (PMDB - ES) - Nem tão jovem.

            O Sr. Francelino Pereira (PFL - MG) - ... talentoso, trabalhador, como Deputado Federal, como Governador, como Senador. V. Exª é um homem singular, de caráter - e esta, a expressão melhor para levar para sua casa, para sua esposa e para sua família. Continue assim. Continue amigo de todos e que todos possam respeitá-lo sempre. O nosso respeito.

            O SR. GERSON CAMATA (PMDB - ES) - Muito obrigado, Senador Francelino Pereira. Continuamos estudando aquela proposta famosa, feita pelo Governador Tancredo Neves na presença de V. Exª, qual seja, a de juntarmos Minas Gerais a Espírito Santo e, depois, fazemos um plebiscito para escolher a capital, que certamente não seria Vitória.

            Sr. Presidente, peço escusas e agradeço a V. Exª e a todos. Espero que eu volte aqui muitas vezes, mas nunca mais para ter que me pronunciar contra injúrias, calúnias e difamações.

            Muito obrigado a V. Exª pela tolerância.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 27/01/2000 - Página 1051